sábado, 1 de fevereiro de 2020

I Congresso Internacional da Pastoral dos Idosos


Realizou-se, de 29 a 31 de janeiro, no Centro de congressos “Augustinianum”, em Roma, perto da Praça São Pedro, o I Congresso Internacional da Pastoral dos Idosos em torno do tema “A riqueza dos anos”, com a participação de 550 pessoas de todo o mundo – representantes das Conferências episcopais, congregações religiosas, associações e movimentos leigos de 60 países de todos os continentes, empenhados na Pastoral da Terceira Idade – a fim de refletir sobre o papel dos idosos na Igreja e na família, contra a cultura do descarte.
O evento foi antecipadamente apresentado pelo cardeal Kevin Joseph Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, reconhecendo que, na Igreja, os idosos foram, às vezes, esquecidos (vivem uma vida muito solitária) ou considerados quase um peso – um peso para as famílias, um peso para a sociedade e um peso para a Igreja – quando “devem ser protagonistas, em virtude da grande experiência que têm, graças aos muitos anos de vida”. Assim, o encontro foi organizado “para olhar o mundo e verificar o que exatamente está a acontecer na Igreja”.
Foi um congresso que pretendeu aprofundar algumas reflexões sobre os idosos, propostas pelo Papa Francisco desde o início do seu pontificado, sublinhando o papel deles na transmissão da fé, no diálogo com os jovens e na proteção das raízes dos povos. E é de lembrar que, para responder aos pedidos do Papa, foi criado, no dicastério, uma repartição que tratará da Pastoral dos Idosos nas relações com as conferências episcopais, conforme o que emergir no congresso.
Na verdade, face ao prolongamento da média de vida e do envelhecimento da população, o Papa Francisco enfatizou que “até a espiritualidade cristã foi surpreendida um pouco”, pelo que esperava uma reflexão eclesial renovada sobre o que definiu como “bênção de uma vida longa”. Aos idosos o Papa pediu que sejam protagonistas e não puxem “os remos no barco” porque “devemos inventar um pouco a velhice”. E o congresso, promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, focalizou a atenção na Pastoral dos Idosos e iniciou uma reflexão sobre a presença substancial de avós nas paróquias e sociedades.
Os congressistas tentaram encontrar modos de combate à cultura do descarte e construir com tenacidade uma sociedade diferente, mais acolhedora, mais humana e mais inclusiva, que não precisa de descartar os que são vulneráveis no corpo e na mente. Uma sociedade que mede o seu próprio “passo” nessas pessoas. E o comunicado divulgado pelo dicastério frisa que “a Igreja não pode aceitar que os idosos permaneçam privados de um contexto familiar” e, quando ele falta, a Igreja sente-se chamada a tornar-se uma família para quantos vivem na solidão. Com efeito, “os idosos precisam de uma família e as famílias precisam dos idosos”.
Por outro lado, segundo o dicastério, “o aumento da expectativa de vida e a melhoria generalizada das condições de saúde deram a muitas pessoas uma estação de vida a mais: livres de compromissos de trabalho, mas ainda em boa saúde”, e anos para viver de maneira cristã, porque “nunca se aposenta do Evangelho”. Os trabalhos tentaram responder a perguntas como:
Existe uma vocação específica para a velhice? Qual a contribuição dos idosos na família? E qual é a sua vocação particular na Igreja?”.
O cardeal Farrell sublinha que temos de cuidar dos idosos, tendo, para o efeito, em todas as paróquias, programas voltados para o seu cuidado e apoio. Na verdade, as famílias estão dispersas pelos quatro ventos, as pessoas deslocam-se constantemente de um país para outro, os jovens vão embora de suas famílias e os idosos ficam isolados.
Por isso, ainda segundo o purpurado, é importante aproveitar dentro da Igreja os muitos anos de experiência de vida que os idosos têm. E, como as gerações das pessoas que têm atualmente trinta, quarenta e até mesmo cinquenta anos não possuem um grande conhecimento da fé, as pessoas que viveram a fé católica por muitos anos têm muito para oferecer, pelo que têm de ganhar um novo protagonismo na Igreja, não no sentido de “importância”, mas no de encontrar um sentido da vida na realidade do mundo de hoje. Por isso, a tarefa do dicastério a que o cardeal preside é trabalhar com as conferências episcopais e com cada bispo no mundo para promover um apostolado e conscientização em relação aos idosos, começando por promover o cuidado deles e ajudá-los a encontrar o seu espaço no mundo e na Igreja.  
O programa do Congresso foi distribuído por três sessões – “A Igreja ao lado dos idosos”, “A família e os idosos” e “A vocação dos idosos” – e incluiu palestras de Giuseppe De Rita, presidente do Censis, dos presidentes da Comunidade de Santo Egídio, Marco Impagliazzo, e do Movimento dos Focolares, Maria Voce, do cardeal José Tolentino de Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé, de Donatella Bramanti, da Universidade Católica do Sagrado Coração, e da responsável pela Pastoral do Adulto da Conferência Episcopal Argentina, Maria Elisa Petrelli. As conclusões foram confiadas ao padre Alexandre Awi Mello, secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
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Francisco, ao receber os congressistas na Sala Regia, no Vaticano, no dia 31 de janeiro, disse que devemos acostumar-nos a incluir os idosos “em nossos horizontes pastorais e a considerá-los como uma das componentes vitais de nossas comunidades”, pois “a velhice não é uma doença, mas um privilégio” e os idosos podem ser protagonistas duma pastoral evangelizadora, sendo indispensáveis na educação das crianças e dos jovens na fé.
Para o Santo Padre, “a riqueza dos anos é riqueza das pessoas, de cada pessoa que tem muitos anos de vida, experiência e história; é o tesouro precioso que toma forma no percurso da vida de cada homem e mulher, qualquer que seja a sua origem, a sua proveniência, as suas condições económicas ou sociais” – pois “a vida é um dom e, quando é longa, é um privilégio, para si e para os outros”.
Como a pirâmide demográfica, que se referia a um grande número de crianças e jovens e tinha no ápice poucos idosos, foi invertida – dantes, os idosos povoavam um pequeno estado, hoje enchem um continente inteiro – a grande presença de idosos é uma novidade para o ambiente social e geográfico do mundo. Depois, a velhice hoje corresponde a estações diferentes da vida: para alguns é a idade em que cessa o compromisso de produzir, as forças declinam e aparecem os sinais de doença, da necessidade de ajuda e o isolamento social; para outros é o início de um longo período de bem-estar psicofísico e liberdade das obrigações de trabalho.
Face a estas duas situações, que deviam ser olhadas com atenção, Francisco denuncia “a desorientação social, a indiferença e a rejeição que as nossas sociedades têm pelos idosos” e exorta, não apenas a Igreja, mas a todos “a uma reflexão séria a fim de se aprender a acolher e apreciar o valor da velhice”. De facto, “se de um lado os Estados enfrentam a nova situação demográfica no plano económico, de outro, a sociedade civil precisa de valores e significados para a 3.ª e a 4.ª idade”. E a comunidade eclesial pode dar a sua contribuição.
Assim, Francisco pediu que este congresso “não se torne uma iniciativa isolada, mas que seja o início de um caminho de aprofundamento pastoral e de discernimento” e gere uma grande mudança nos nossos hábitos pastorais a fim de respondermos à presença de muitas pessoas idosas nas famílias e comunidades”.
A seguir, o Papa recordou que a longevidade na Bíblia é uma bênção que nos ajuda “a confrontar-nos com a nossa fragilidade, com a dependência recíproca, com os nossos laços familiares e comunitários, mas sobretudo com a nossa filiação divina”. Ao conceder a velhice, “Deus doa tempo para aprofundarmos o nosso conhecimento sobre Ele, a intimidade com Ele a fim de entrarmos sempre mais em seu coração e abandonarmo-nos a Ele”. Por outro lado, a velhice é um tempo de fecundidade renovada”, já que “o plano de salvação de Deus também se realiza na pobreza dos corpos frágeis, estéreis e sem força”
Consciente deste papel insubstituível das pessoas idosas, “a Igreja torna-se o lugar em que as gerações são chamadas a partilhar o projeto de amor de Deus, numa relação de troca recíproca dos dons do Espírito Santo” – partilha que “nos obriga a mudar o nosso olhar em relação aos idosos” para aprendermos a olhar o futuro junto com eles. E o Papa vai mais longe ao vincar:
Os idosos são o hoje e o amanhã da Igreja. Sim, eles são também o futuro de uma Igreja que, junto com os jovens, profetiza e sonha. Por isso, é importante que  idosos e jovens conversem entre si.”.
Segundo o Pontífice, “a profecia dos idosos realiza-se quando a luz do Evangelho entra plenamente em suas vidas” e, como Simeão e Ana, pegam Jesus nos braços e anunciam a ‘revolução da ternura’, a Boa Nova Daquele que trouxe ao mundo a luz do Pai”.
Por consequência, Francisco convidou todos a irem “ao encontro dos idosos com o sorriso no rosto e o Evangelho nas mãos”, a sair pelas ruas das paróquias, procurando os idosos que vivem sozinhos, porque “a velhice não é uma doença, mas um privilégio” e “a solidão pode ser uma doença que pode ser curada com a caridade, a proximidade e o conforto espiritual”. E, falando dos avós, assegurou:
Deus tem um povo numeroso de avós em todas as partes do mundo. Hoje, nas sociedades secularizadas de muitos países, as gerações atuais de pais não têm, na sua maioria, a formação cristã e a fé viva que os avós podem transmitir aos seus netos. Eles são o elo indispensável na educação das crianças e dos jovens na fé.”.
Em conclusão, o Papa preconiza que “devemos acostumar-nos a incluí-los em nossos horizontes pastorais e a considerá-los como uma das componentes vitais de nossas comunidades”, pois “não são apenas pessoas que somos chamados a ajudar e a proteger, mas podem ser protagonistas de uma pastoral evangelizadora, testemunhas privilegiadas do amor fiel de Deus”.
2020.02.01 – Louro de Carvalho

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