quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O 29.º Curso Anual para os Bispos do Brasil


Realizou-se entre os dias 27 e 31 de janeiro, no Centro de Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro/RJ, organizado pela respetiva arquidiocese, o 29.º Curso Anual para os Bispos do Brasil, sob o tema “A dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”, com 119 participantes, sendo 66 arcebispos e bispos titulares de dioceses, bispos auxiliares e eméritos e vigários episcopais do Rio.
Neste ano, assinala-se também o centenário de nascimento de Dom Eugénio Sales, criador e incentivador da proposta, que, segundo o Cardeal Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, tem como marcas o zelo presbiteral, a coerência, a santidade e a unidade com o magistério de Pedro.  
Os participantes aprofundaram as temáticas concentradas em dois documentos: Ratio Fundamentalis, publicada em 8 de dezembro de 2016 pela Congregação para o Clero, e Ratio Nacionalis, aprovada pela Assembleia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e publicada em 12 de outubro de 2019, como Documento n.º 110. 
O tema da formação dos presbíteros fora debatido na 56.ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), de 11 a 20 de abril de 2018, em torno do tema “Diretrizes para a formação dos presbíteros na Igreja no Brasil”, passando a vigorar em 12 de outubro de 2019.
O Documento, lançado no ano passado, traz orientações para a formação de novos presbíteros no Brasil e a necessidade de formação permanente e refere que o novo presbítero precisa de ter características como “coragem de alcançar todas as periferias geográficas e existenciais que precisam da luz do Evangelho, em uma atitude acolhedora e misericordiosa”. Trata-se de um texto inspirado na Ratio Fundamentalis – O dom da vocação presbiteral e suas quatro características que devem ser destacadas: a formação deve ser única, integral, comunitária e missionária. Publicado no dia 8 de dezembro de 2016, atualiza as orientações de 1985. As atuais diretrizes visam enriquecer a formação espiritual, humana, intelectual e pastoral dos futuros sacerdotes “com novos impulsos vitais, consoantes com a índole peculiar do nosso tempo”.
O Cardeal Dom Orani Tempesta, aquando da programação do encontro, exprimia este voto:
Que o nosso Encontro de Bispos seja inspirado para que na maturidade da formação presbiteral e na vivência de uma espiritualidade do serviço sacerdotal pleno possam os nossos presbíteros verdadeira e coerentemente viver e testemunhar a dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”.
Os conferencistas deste ano foram Dom Jorge Carlos Patrón Wong, Arcebispo secretário da Congregação para o Clero; Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e 1.º vice-presidente da CNBB e membro da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica; o padre Stanislaw Morgalla, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e diretor do Centro de St. Peter Favre, para formadores do Sacerdócio e da Vida Consagrada; o padre Luiz Fernando Ribeiro Santana, do clero do Rio de Janeiro, e mestre em Teologia pela PUCRio, onde é professor; e a doutora Luciana Campos, professora do seminário São José, de Niterói, e autora de livros como “Resiliência e Habilidades Sociais”, “A dor invisível: A Síndrome de Burnout e depressão entre os Religiosos” e a “A Dor Invisível dos Presbíteros”.
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Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro e anfitrião, esclareceu que “o curso não é uma assembleia para decisões, mas um tempo em que os bispos aproveitam o período de férias para descansar, rezar e partilhar, num clima de muita fraternidade, sendo os temas de cada ano “relacionados com a vida da Igreja” e havendo conferencistas de renome internacional e do Brasil que ajudam a pensar e ver como aplicar o conteúdo nas dioceses.
Segundo o mesmo cardeal, o Curso dos Bispos, nos seus 30 anos de existência, tem uma história de serviço à Igreja. Esta é apenas a 29.ª edição, porque não se realizou o curso em 1991, devido à proximidade do curso anterior e, em 2007, devido à Conferência de Aparecida. Neste período, levando em consideração a presença, em média, de cem bispos em cada um, o curso já reuniu 2.900 bispos, embora muitos tenham participado várias vezes.
O curso que, tal como foi referido, é iniciativa de Dom Eugenio de Araujo Sales, na sua primeira edição, contou com a presença do então Cardeal Joseph Ratzinger. Desta feita, foi organizado por Dom Karl Josef Romer, bispo emérito da Arquidiocese do Rio, e Dom Joel Portela, bispo auxiliar do Rio e secretário-geral da CNBB, aos quais Dom Orani agradeceu todo o trabalho de organização e condução.
Dom Joel Portela vincou que, após a publicação da “Ratio Fundamentalis”, a CNBB foi a primeira a fazer as diretrizes em âmbito nacional, a “Ratio Nacionalis”. Recordou que a formação permanente é um processo muito amplo, eminentemente catecumenal, e que os dois documentos contemplam com destaque o princípio antropológico. E observou:
Dois princípios que sempre estiveram presentes na vida da Igreja, mas que agora sobressaíram nesses dois documentos. A formação é um processo que deve percorrer a vida toda. Não é apenas o tempo de seminário, que é intenso, mas é um tempo curto, levando em consideração que se exerce o sacerdócio, em média, por 60 anos. A formação começa do nascer e vai até ao último suspiro. A pessoa humana é mais importante do que qualquer concretização. Antes de ser seminarista ou padre, é um ser humano.”.
Dom Jorge Carlos Patrón Wong, na sua primeira conferência, abordou “O discipulado como processo de configuração com o Cristo Bom Pastor – sobre a formação e o acompanhamento nos seminários”; na segunda, sobre “Espiritualidade, vida e ministério do presbitério diocesano junto ao povo de Deus e ao lado do seu bispo”, fez um resgate de elementos da espiritualidade cristã, comuns a todos os batizados, que estão na base da espiritualidade episcopal e sacerdotal, e que constituem passos na caminhada até o chamado de Deus; e, na terceira, falou sobre “O processo de acompanhamento dos sacerdotes durante a formação permanente”, que tem um caráter comunitário e se desenvolve com a colaboração de um inteiro presbitério e seu pastor.  
Dom Jaime Spengler apresentou o processo de elaboração do Documento 110 em três tópicos: o histórico, os elementos a considerar na aplicação e considerações gerais sobre formação.
O Padre Stanislaw Morgalla proferiu três conferências durante o curso. Na primeira, sobre “Antropologia da vocação cristã”, abordou o paradoxo da vida cristã no seu contexto antropológico, espiritual e aspetos psicológicos; na segunda, sobre “Celibato e obediência do sacerdote, em meio aos desafios da vida quotidiana”, refletiu sobre o modo de viver a afetividade (sexualidade), em virtude da opção vocacional; e, na terceira, sobre “A formação inicial e permanente, uma realidade unitária”, sustentou que não é possível separar a formação permanente do presbítero da sua formação inicial.
Na sua conferência sobre “O esgotamento existencial dos presbíteros: causas e pistas para ação das dioceses na prevenção e tratamento”, a psicóloga Luciana Campos partilhou a sua experiência no atendimento a sacerdotes de todo o Brasil, salientando a Síndrome de Burnout como “o esgotamento emocional, psíquico e laboral” originado pelo excesso de trabalho e referindo que “as pessoas em geral não imaginam que os sacerdotes são acometidos por esses problemas”, do que decorre “a importância de dar visibilidade à temática”. Contou que procura ajudar os sacerdotes a serem menos centralizadores, a aprenderem a delegar e a confiarem nos outros, porque é impossível uma pessoa só dar conta de tudo. E observou:  
Preparado para ser pastor 24 horas por dia, o sacerdote é sugado todo o tempo e dá-se desmedidamente, até que começa a sentir os efeitos dessa doação desacerbada. Muitas vezes, ele começa a sentir-se frustrado, irritado e perdido a ponto de se isolar, a ter crise de fé e de questionar a própria vocação.”.
Segundo a psicóloga, a Síndrome de Burnout é uma doença silenciosa e, para não deixar que ela se instale, é preciso proceder a mudanças, ter uma agenda com horários específicos que incluam momentos de descanso, lazer e, sobretudo, de socialização. A socialização entre pares é útil para discutir “problemas comuns e caminhos para o resgate da saúde emocional”.
Nesta linha, Dom Orani referiu que o sacerdote também tem as suas necessidades e limitações, chegando a irritar-se às vezes e a ficar tenso com algumas situações que enfrenta, pelo que precisa de alguém que o compreenda e o ajude a dar passos. E frisou:
Só seremos perfeitos no céu. Enquanto estamos aqui, precisamos de nos ajudar mutuamente. Por isso, a necessidade de rezar, compreender e acompanhar a vida e a missão do sacerdote, e neste aspeto, a comunidade paroquial pode ajudar a transformar a realidade.”.
Por fim, o padre Luiz Fernando Ribeiro Santana apresentou a última conferência do curso, sobre “A escuta e a direção espiritual como partes da formação permanente dos novos e dos atuais presbíteros”. Firmado na sua experiência de quase três décadas na direção espiritual de leigos, religiosos e, de modo particular, com presbíteros, assegurou que a direção espiritual é parte integrante da formação permanente e sustentou:
É importante redescobrir o valor da direção espiritual na formação permanente dos presbíteros, sobretudo, na dimensão da escuta. Tem sido um desafio e um treinamento de colocar-se disponível no acolhimento, em cada encontro inteiramente único.”.
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Acresce referir que, no dia 29 de janeiro, os bispos visitaram o túmulo do Servo de Deus Guido Schäffer, instalado na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Durante a visita, que foi concluída com a Oração de Vésperas, presidida por Dom José Luiz Majella Delgado, Arcebispo de Pouso Alegre (MG), os bispos ouviram o testemunho de Nazareth Schäffer, mãe do Servo de Deus, médico e seminarista, e o andamento do processo a cargo do delegado arquidiocesano para a causa dos santos, Dom Roberto Lopes, OSB.
E foi agendado o próximo curso dos Bispos para  25-29 de janeiro de 2021, também no Sumaré, cujo tema gravitará em torno da catequese, sendo um dos conferencistas Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
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Está visto que os bispos não podem e não devem reunir-se apenas para tomar decisões; devem também reunir para aprenderem uns com os outros e com especialistas nas diversas matérias. Aliás como podem ser o núcleo duro da função docente da Igreja se não estão disponíveis para continuar a aprender, ou seja, para o discipulado contínuo? Se calhar, a CNBB é um exemplo!
2020.02.06 – Louro de Carvalho

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