sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Fátima, Lisboa e Juranda celebram centenário de Santa Jacinta


Ocorreu, a 20 de fevereiro, o centenário da morte de Santa Jacinta Marto, dia da memória litúrgica dos dois santos irmãos Jacinta e Francisco, efeméride assinalada no Santuário de Fátima, em Lisboa e em Juranda.
O programa celebrativo do Santuário foi inaugurado no dia 16, domingo, com o VI Concerto Evocativo dos Três Pastorinhos de Fátima, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pelo “ensemble Moços do Coro(sediado na cidade do Porto), sob a direção de Nuno Miguel de Almeida (também autor dos textos declamados por José Simões), com a estreia de duas obras inéditas encomendadas pelo Santuário e compostas por Rui Paulo Teixeira e Gonçalo Lourenço, a partir de dois poemas inéditos sobre Santa Jacinta de Pedro Valinho Gomes e José Rui Teixeira.
Às 21,30 horas do dia 19, realizou-se a vigília de oração, iniciada com o Rosário na Capelinha das Aparições, seguindo-se a procissão para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde os túmulos dos Pastorinhos foram venerados pelos muitos peregrinos presentes.
Nas meditações apresentadas, a Irmã Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Beatificação da Irmã Lúcia e ex-postuladora da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta, falou do que é “ser comunidade e viver em comunidade”, porque ninguém existe “sozinho, nascemos numa família de sangue e pertencemos a outra onde nos unem os laços de fé em Cristo”. De facto, na Jacinta, há um “apelo à unidade nesta família que somos, porque se um irmão meu sofre, eu também sofro”, pelo que Ângela Coelho desafiou cada peregrino a aprender com a pastorinha, que “foi íntima Daquele que nunca desistiu de ninguém”, a “sustentar com oração e amizade, a unidade na construção desta família humana e cristã”.
Falando à Sala de Imprensa do Santuário, Ângela Coelho considerou que a compaixão “é a caraterística da Jacinta que mais nos continua a desafiar”: “compaixão por todos os tipos de sofrimento, porque de facto, a Jacinta foi uma menina que viu o sofrimento dos outros e teve várias visões pessoais sobre o sofrimento, como é o caso daquela frase  ‘tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar com fome’, ou seja, é este sentido da paixão e do sofrimento que a marca de tal forma e que nos faz perceber que ela se sentia mesmo responsável pela história que lhe era dada a viver”. E a ex-postuladora observou:
A Jacinta gostava de partilhar a merenda com os pobres, a oração que fazia pelos outros, mas ela gostava também de partilhar o seu tempo com aqueles que sofrem, e é algo que hoje podemos partilhar, e que é muito difícil, mas é o que as pessoas mais sentem falta na solidão, alguém que esteja disposto a partilhar o seu tempo, conversar, fazer companhia”.
Na manhã do dia 20, pelas 10 horas, o Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima procedeu à bênção das imagens dos santos Francisco e Jacinta, da autoria de Sílvia Patrício, ora expostas à veneração dos fiéis na Capelinha das Aparições, após o que se rezou o terço do Rosário, seguindo-se a procissão com os ícones dos Santos Francisco e Jacinta até à Basílica da Santíssima Trindade, onde se celebrou a Eucaristia pelas 11 horas, sob a presidência do Cardeal Marto. Entre as 14 e as 16 horas foram desenvolvidas várias atividades com crianças. E, pelas 17,30 horas, procedeu-se à oração de vésperas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário.
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O presidente da celebração eucarística, pedindo “que ninguém seja suprimido à vida sob pretexto de aliviar a dor”, confessou ter o “Coração em Festa” por esta tão “bonita” efeméride, pois o testemunho de vida destes dois santos Pastorinhos, que personificam a ideia do que é entrar no Reino dos Céus, “é o melhor comentário vivo do evangelho hoje proclamado”. E António Marto destacou o primeiro amor de Jacinta: “o encanto e o fascínio pela beleza de Deus, que ela experimentou juntamente com o Francisco e a Lúcia sob forma daquela luz ardente que saía das mãos de Nossa Senhora e que penetrava o seu mais íntimo”. E vincou:
O testemunho da Jacinta é tão simples e tão belo que nos interpela a tomar consciência de que a relação amorosa com Jesus está no início, no crescimento e na meta da nossa fé, e da nossa vida Cristã, porque é um amor que nos envolve”.
Segundo o prelado, Jacinta “convida a uma descoberta que mostra que Jesus Cristo é o centro da nossa vida espiritual” e que, sem esta relação, não há fé que aguente este tempo, em que se vive “uma espécie de eclipse de Deus ou do sentido da presença de Deus, que se nota na cultura dominante e da própria sociedade, onde se sente uma indiferença e uma ignorância de Deus e a tentação de viver como se Deus não existisse, que é algo que contagia as comunidades cristãs”.
O Bispo de Leiria-Fátima considera que este “é o grande desafio que hoje se impõe ao anúncio do evangelho e à transmissão viva e alegre da fé”, porque se não houver testemunho “alegre” da fé, não somos testemunhas credíveis de Deus. E entende que Jacinta “manifestou um verdadeiro sentido de compaixão, como participação na dor de Deus pelo drama da incredibilidade e do ódio entre os homens”, bem como no “sofrimento da Igreja perseguida e pelos sofrimentos da humanidade em guerra, expressão da maior crueldade do mal” – participação que passou pela “incansável oração pela paz e pelos pobres pecadores”. Assim, cada um é quotidianamente interpelado a viver este “sentido de compaixão na cultura atual, marcada pelo individualismo e indiferença pelo sofrimento dos outros, pelo abandono e marginalização daqueles que são um peso, dos que são pobres, dos que não produzem recursos suficientes”.
E o purpurado explicou que, para o cristão de hoje, “este é um caminho, o de partilhar o sofrimento dos outros e do mundo e o de testemunhar a luz, a força e o calor da fé e do amor, o que representa um desafio para a Igreja de hoje: ser uma presença ativa de compaixão”. Por outro lado, “Jacinta é uma candeia onde esta luz da compaixão resplandece para nós”.
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Também no dia 20, o Santuário de Fátima lançou uma réplica da escultura da mais jovem vidente de Fátima, em tamanho e custos acessíveis, que ficará disponível nas Lojas Oficiais do Santuário de Fátima e na sua Loja Online. É uma peça feita a partir da escultura encomendada pelo Santuário de Fátima por ocasião da exposição Capela Mundi, em 2019 e que é comercializada a partir desse dia.
A peça, com 15 cm, fiel à escultura oficial de Santa Jacinta Marto, da autoria da escultora Sílvia Patrício, resulta duma parceria entre o Santuário de Fátima e a Farup, empresa de artigos religiosos da região, desenvolvida com a assessoria artística da autora bem como dum conjunto de outras empresas de Ourém, Leiria e Marinha Grande. O objetivo da criação desta escultura passa pela dignificação da representação escultórica dos Santos Pastorinhos de Fátima, aproximando e difundindo o carisma de Santa Jacinta junto de cada peregrino que visita o Santuário e possibilitando que esta representação escultórica o possa acompanhar em casa, prolongando a experiência de fé que viveu no Santuário. Acresce a preocupação por parte do Santuário na dignificação da atividade económica em torno do fenómeno de Fátima, pelo que a mesma réplica ficará disponível em todo o mercado numa fase posterior.
E, a 13 de maio será lançada a réplica da escultura de São Francisco, em moldes idênticos, e proximamente réplicas em tamanho real das esculturas oficiais, da autoria de Sílvia Patrício.
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Em Lisboa, o centenário da morte de Santa Jacinta Marto foi assinalado com uma conferência, pelas 15 horas, no Hospital D. Estefânia, onde esteve internada e faleceu a pequena pastorinha. Nesse mesmo lugar, pelas 16,30 horas, o Cardeal Patriarca Dom Manuel Clemente presidiu à celebração da Eucaristia. E as celebrações também ocorreram na igreja dos Anjos, às 17,30 horas, com a recitação do Rosário, seguida de Missa. No dia 22 de fevereiro, sábado, pelas 14 horas, na Estrela, está prevista a visita ao quarto onde esteve Santa Jacinta, no atual Mosteiro das Irmãs Clarissas e, às 15,30 horas, decorrerá a recitação do Rosário na Capela dos Milagres. E, no sábado, dia 22, último dia do “Tríduo de Oração”, o Cardeal-Patriarca de Lisboa preside à Missa, às 16,30 horas, na Basílica da Estrela.
E a Capelania do Hospital D. Estefânia, com o apoio do Santuário de Fátima e da administração da unidade de saúde do Centro Hospitalar de Lisboa, inaugurou, na tarde do dia 20, um memorial dedicado à jovem vidente de Fátima. Os dois painéis e a placa em bronze, colocados numa parede junto ao local onde Jacinta permaneceu até à morte, têm dados sobre a vida e a espiritualidade da pastorinha e na placa pode ler-se “Deste local partiu para o Céu em 20-02-1920 a pastorinha de Fátima Jacinta Marto a quem Nossa Senhora apareceu”.
A inauguração assinala o centésimo aniversário do falecimento da jovem santa canonizada a 13 de maio de 2017, em Fátima, pelo Papa Francisco, data que, para o Padre Carlos Azevedo, capelão do Hospital D. Estefânia, constitui uma oportunidade para pensar a vida, a doença e a morte no nosso tempo, marcado por tantas formas de sofrimento. Com efeito, afetada pela “gripe espanhola”, em 1918, Jacinta vê o seu irmão morrer em abril de 1919; foi tratada em Ourém, onde recebeu a visita de Lúcia, sua prima, vidente de Fátima, que diz tê-la encontrado “feliz por poder oferecer este sofrimento” a Deus. E, em janeiro de 1920, Jacinta foi levada para Lisboa, para ser tratada no Hospital D. Estefânia, tendo falecido a 20 de fevereiro; a 1 de maio de 1951, os seus restos mortais foram trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima.
Para o Reitor do Santuário de Fátima, presente nestas celebrações, Jacinta “ensina-nos como devemos acompanhar os mais frágeis, os que sofrem sobretudo no tempo mais difícil da vida que é o fim”. E o Padre Carlos Cabecinhas confessou:
Ela não só dá testemunho de uma coragem enorme em enfrentar o seu sofrimento, como dá um testemunho de atenção ao outro, absolutamente fundamental, quando acompanhava sempre com a sua oração o sofrimento dos outros. Creio que é esta capacidade de, mesmo diante do sofrimento, conseguir-se descentrar de si para olhar para os outros e isso continua a ser em Santa Jacinta um apelo fundamental para nós, nomeadamente no tempo em que vivemos, em que discutimos a morte e a vida.”.
E Dom Manuel Clemente lembrou que os últimos anos de Jacinta, entre as aparições e a sua morte, constituem um “verdadeiro programa de vida” que “nos ensina como também nós devemos passar para o lado de Deus”.
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O dia 20 de fevereiro, data em que a Igreja assinala a Festa Litúrgica dos Santos Pastorinhos, é feriado municipal do ‘Dia dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto’ em Juranda, município da Diocese de Campo Mourão, no estado brasileiro do Paraná. Esta é a terra natal de Lucas, a criança do milagre que abriu caminho à canonização de Francisco e Jacinta Marto declarados santos a 13 de maio de 2017, em Fátima, pelo Papa Francisco.
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Assim, sem alardes pomposos, se celebra de forma condigna o centenário da morte da santa pastorinha, tão tenro e terno repositório da compaixão divina.
2020.02.021 – Louro de Carvalho

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