terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Um hospital construído em 10 dias


Face ao surto do novo coronavírus, a China ultrapassou todos os trâmites de que as nossas burocracias enfermam para efetuar a edificação de estruturas públicas necessárias. É momento de crise e as autoridades não hesitaram em lançar mãos à obra.
Na verdade, em meio à crise, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência internacional, embora tenha vindo, depois, a terreiro dizer que não se pode falar de pandemia.
Cerca de 50 milhões de pessoas estão impedidas de deixar Wuhan, que é capital da província de Hubei, e cidades vizinhas. Até ao momento, mais de 360 pessoas morreram (mais precisamente 362) e mais de 17 mil foram infectadas em diferentes partes do mundo. E as restrições em Wuhan, onde começou o surto de pneumonia viral, foram reforçadas, com as autoridades a decidirem que só um membro de cada família pode sair à rua para compras essenciais de dois em dois dias.
Segundo a agência Xinhua, um canteiro de obras em Wuhan, cidade do centro da China e onde começou a epidemia, foi ocupado por cem tratores e quatro mil trabalhadores, que se revezaram em três turnos de trabalho para garantia de laboração durante as 24 horas diárias, e, em apenas 10 dias (de 23 de janeiro a 2 de fevereiro), construíram o hospital Huoshenshan, uma estrutura de 25 mil metros quadrados com capacidade para mil camas. E os primeiros pacientes com o novo coronavírus chegaram no dia 3 de fevereiro ao novo hospital, que já estava prontinho para os receber e tratar.
A par deste, está em construção, na mesma cidade, um segundo centro médico, o Leishenshan, com capacidade para 1.500 leitos, e deve ser inaugurado nos próximos dias.
A ala militar do Partido Comunista, o PLA (Exército de Libertação do Povo), enviou 1,4 mil médicos, enfermeiros e outros funcionários para o novo hospital. Segundo o Governo, parte desse efetivo trabalhou no combate à epidemia da SARS (síndrome respiratória aguda grave), que deixou mais de 900 mortos entre 2002 e 2003. Nessa ocasião, o Governo construiu um hospital em Pequim em uma semana. E foi à imagem desse hospital que se dá a construção destes dois.
Pode perguntar-se como é possível uma construção tão rápida. E a resposta é simples: o Governo chinês usa construções pré-fabricadas para abrigar as centenas de leitos. Módulo a módulo, os hospitais vão sendo montados a partir das peças que chegam das fábricas ou de depósitos, vindo muitas de helicóptero. Desta feita, imagens da emissora estatal chinesa CGTN (China Global Television Network) mostraram dezenas de tratores nivelando o solo para receber os blocos pré-fabricados. Enquanto os primeiros módulos eram montados, havia operários que preparavam a rede elétrica do novo local e do hospital.
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Segundo a CGTN, o hospital foi, no domingo, dia 2, entregue formalmente aos militares a quem caberá a gestão da unidade e a prestação dos cuidados de saúde. “Aprovados pelo presidente chinês e presidente da Comissão Militar Central Xi Jinping, 1400 técnicos das forças armadas foram destacados e encarregues de tratar os pacientes no Hospital Huoshenshan em Wuhan a partir de segunda-feira”, noticia a CGTN. Constituem as equipas médicas, 950 pessoas vindos dos hospitais do Exército de Libertação Popular (PLA) e 450 que das universidades médicas do exército, marinha e força aérea do PLA. Estes últimos já se encontravam em Wuhan.
Entre a equipa médica, há muitos que participaram na luta contra a SARS no Hospital Xiaotangshan, em Pequim, na missão antiébola na Serra Leoa e na Libéria, e têm ampla experiência no tratamento de doenças infeciosas”, como sublinha a emissora estatal chinesa, a CGTN. O hospital terá, ainda, 15 especialistas orientados para a prevenção e o controlo de epidemias.
Tal como foi referido, o hospital Huoshenshan tem 25 mil metros quadrados e mil camas e é um dos dois novos hospitais​ dedicados ao tratamento de pacientes infetados pelo coronavírus, mas prevê-se que, ainda esta semana, fique completa a segunda unidade de emergência médica hospitalar. O Leishenshan Hospital começará a receber pacientes a partir de 6 de fevereiro. Tem 75 mil metros quadrados e poderá receber 1500 doentes.
As autoridades de saúde da China elevaram para 304 mortos e mais de 14 mil infetados. o balanço do surto de pneumonia provocado por um novo coronavírus (2019-nCoV). Foi detetado em dezembro, em Wuhan, capital da província de Hubei, centro do país.
Além do território continental da China e das regiões semiautónomas chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 50 casos de infeção confirmados em, pelo menos, 20 outros países: Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia. E as Filipinas anunciaram a primeira morte pelo coronavírus fora da China: um chinês de 44 anos, natural de Wuhan, que terá sido infetado antes de chegar ao país.
Um avião da Força Aérea Portuguesa transportou no domingo para Lisboa um grupo de 20 pessoas – 18 portugueses e duas cidadãs brasileiras – retiradas de Wuhan. O Ministério da Saúde vai disponibilizar instalações onde os portugueses provenientes de Wuhan vão ficar em “isolamento profilático” voluntário, durante 14 dias, e fazer análises para despistar o novo coronavírus. Durante esse período, não poderão receber visitas, mesmo que controladas. A Direção-Geral da Saúde emitirá um boletim clínico diário do grupo e o Ministério da Saúde realizará uma conferência de imprensa diária para dar conta da evolução da situação.
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Independentemente das críticas que possamos e devamos tecer ao regime político chinês – pela denegação dos direitos humanos, pela falta de respeito pela vida privada, pela exploração do trabalhador e pela unicidade de pensamento e expressão políticas – e à sua apetência de poderio económico a tentar estender-se por todo o mundo, é de fazer ressaltar a eficácia com que são encaradas as situações de crise não deixando arrastar pelo tempo e pelo espaço as soluções.
Entre nós, andamos anos e anos para construir um hospital e, quando está pronto a funcionar, já é insuficiente para colmatar as necessidades da população-alvo e, mesmo assim, fechamos unidades hospitalares circunvizinhas que depois reabrimos. Andámos dezenas de décadas para construir o Alqueva. Durante décadas se fizeram estudos prévios para a construção do novo aeroporto internacional de Lisboa, escolheram-se vários lugares, uns após outros, e acabou por se optar por Portela+1, sendo o Montijo o local onde irá – diz-se – ser instalado o aeroporto complementar. Mas os estudos de impacto ambiental implicam 160 medidas cautelares, parece que a pista não dá para todos os aviões low cost e não se acautela o suficiente contra uma eventual subida de nível das águas do Tejo mercê do aquecimento dos oceanos.
Fizeram-se estudos prévios e projetos e iniciou-se um troço de obra do TGV para tudo ficar reduzido a nada. Demoram-se décadas para reparar umas escolas secundárias como para construir uma ala pediátrica oncológica num hospital de referência, outras décadas leva a retirada de amianto das escolas. Andamos meses e meses para dotar as unidades de saúde de equipamento e pessoal médico, de enfermagem e de pessoal técnico, administrativo e auxiliar.
Tudo isto sucede por falta de vontade política, má gestão de recursos, magreza de salários. Alega-se falta de cabimento orçamental, concursos vazios, fuga para o setor privado, emigração. Enfim, alega-se falta de dinheiro, racionalização de meios e encerram-se serviços, como se corta em efetivos e equipamento nas forças armadas. Mas para salvar bancos somos especialistas. Para isso, há sempre cabimento orçamental, nem que seja necessário pedir autorização aos deputados, não se racionalizam meios, a não ser dispensar pessoas e encerrar balcões em nome das famigeradas restruturações.
Até quando?
2020.02.04 – Louro de Carvalho

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