Face ao
surto do novo coronavírus, a China ultrapassou todos os trâmites de que as
nossas burocracias enfermam para efetuar a edificação de estruturas públicas
necessárias. É momento de crise e as autoridades não hesitaram em lançar mãos à
obra.
Na verdade, em meio à crise, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência
internacional, embora tenha vindo, depois, a terreiro dizer que não se pode
falar de pandemia.
Cerca de 50 milhões de pessoas estão
impedidas de deixar Wuhan, que é capital da província de Hubei, e cidades
vizinhas. Até ao momento, mais de 360 pessoas morreram (mais precisamente 362) e mais de 17 mil foram infectadas em
diferentes partes do mundo. E as restrições em Wuhan, onde começou o surto de
pneumonia viral, foram reforçadas, com as autoridades a decidirem que só um
membro de cada família pode sair à rua para compras essenciais de dois em dois
dias.
Segundo a
agência Xinhua, um canteiro de obras em Wuhan, cidade do centro da China e onde começou a epidemia, foi ocupado
por cem tratores e quatro mil trabalhadores, que se revezaram em três turnos de
trabalho para garantia de laboração durante as 24 horas diárias, e, em apenas
10 dias (de 23 de janeiro a 2 de fevereiro), construíram o hospital Huoshenshan, uma estrutura de 25 mil metros quadrados com
capacidade para mil camas. E os primeiros pacientes com o novo coronavírus
chegaram no dia 3 de fevereiro ao novo hospital, que já estava prontinho para
os receber e tratar.
A par deste, está em construção, na
mesma cidade, um segundo centro médico, o Leishenshan, com capacidade para
1.500 leitos, e deve ser inaugurado nos próximos dias.
A ala militar do Partido Comunista, o PLA (Exército de Libertação do Povo), enviou 1,4 mil
médicos, enfermeiros e outros funcionários para o novo hospital. Segundo o Governo,
parte desse efetivo trabalhou no combate à epidemia da SARS (síndrome respiratória aguda grave), que deixou
mais de 900 mortos entre 2002 e 2003. Nessa ocasião, o Governo construiu um
hospital em Pequim em uma semana. E foi à imagem desse hospital que se dá a
construção destes dois.
Pode perguntar-se como é possível
uma construção tão rápida. E a resposta é simples: o Governo chinês usa construções pré-fabricadas para
abrigar as centenas de leitos. Módulo a módulo, os hospitais vão sendo montados
a partir das peças que chegam das fábricas ou de depósitos, vindo muitas de helicóptero. Desta feita, imagens da emissora
estatal chinesa CGTN (China Global Television Network) mostraram dezenas de tratores nivelando o solo para
receber os blocos pré-fabricados. Enquanto os primeiros módulos eram montados, havia
operários que preparavam a rede elétrica do novo local e do hospital.
***
Segundo a CGTN, o hospital foi, no
domingo, dia 2, entregue formalmente aos militares a quem caberá a gestão da
unidade e a prestação dos cuidados de saúde. “Aprovados pelo presidente chinês
e presidente da Comissão Militar Central Xi Jinping, 1400 técnicos das forças
armadas foram destacados e encarregues de tratar os pacientes no Hospital
Huoshenshan em Wuhan a partir de segunda-feira”, noticia a CGTN. Constituem as
equipas médicas, 950 pessoas vindos dos hospitais do Exército de Libertação Popular
(PLA) e 450 que das universidades médicas
do exército, marinha e força aérea do PLA. Estes últimos já se encontravam em
Wuhan.
Entre a equipa médica, há muitos que
participaram na luta contra a SARS no Hospital Xiaotangshan, em Pequim, na
missão antiébola na Serra Leoa e na Libéria, e têm ampla experiência no tratamento
de doenças infeciosas”, como sublinha a emissora estatal chinesa, a CGTN. O
hospital terá, ainda, 15 especialistas orientados para a prevenção e o controlo
de epidemias.
Tal como foi referido, o hospital Huoshenshan
tem 25 mil metros quadrados e mil camas e é um dos dois novos hospitais
dedicados ao tratamento de pacientes infetados pelo coronavírus, mas
prevê-se que, ainda esta semana, fique completa a segunda unidade de emergência
médica hospitalar. O Leishenshan Hospital começará a receber pacientes a partir de 6 de
fevereiro. Tem 75 mil metros quadrados e poderá receber 1500 doentes.
As autoridades de saúde da China
elevaram para 304 mortos e mais de 14 mil infetados. o balanço do surto de
pneumonia provocado por um novo coronavírus (2019-nCoV). Foi detetado em dezembro, em Wuhan, capital da província de Hubei,
centro do país.
Além do território continental da
China e das regiões semiautónomas chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 50
casos de infeção confirmados em, pelo menos, 20 outros países: Tailândia,
Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados
Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Finlândia,
Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia. E as Filipinas anunciaram a
primeira morte pelo coronavírus fora da China: um chinês de 44 anos, natural de
Wuhan, que terá sido infetado antes de chegar ao país.
Um
avião da Força Aérea Portuguesa transportou no domingo para Lisboa um grupo de
20 pessoas – 18 portugueses e duas cidadãs brasileiras – retiradas de Wuhan. O
Ministério da Saúde vai disponibilizar instalações onde os portugueses provenientes
de Wuhan vão ficar em “isolamento profilático” voluntário, durante 14 dias, e
fazer análises para despistar o novo coronavírus. Durante esse período, não
poderão receber visitas, mesmo que controladas. A Direção-Geral da Saúde emitirá
um boletim clínico diário do grupo e o Ministério da Saúde realizará uma
conferência de imprensa diária para dar conta da evolução da situação.
***
Independentemente
das críticas que possamos e devamos tecer ao regime político chinês – pela denegação
dos direitos humanos, pela falta de respeito pela vida privada, pela exploração
do trabalhador e pela unicidade de pensamento e expressão políticas – e à sua
apetência de poderio económico a tentar estender-se por todo o mundo, é de
fazer ressaltar a eficácia com que são encaradas as situações de crise não
deixando arrastar pelo tempo e pelo espaço as soluções.
Entre nós,
andamos anos e anos para construir um hospital e, quando está pronto a
funcionar, já é insuficiente para colmatar as necessidades da população-alvo e,
mesmo assim, fechamos unidades hospitalares circunvizinhas que depois reabrimos.
Andámos dezenas de décadas para construir o Alqueva. Durante décadas se fizeram
estudos prévios para a construção do novo aeroporto internacional de Lisboa,
escolheram-se vários lugares, uns após outros, e acabou por se optar por
Portela+1, sendo o Montijo o local onde irá – diz-se – ser instalado o
aeroporto complementar. Mas os estudos de impacto ambiental implicam 160
medidas cautelares, parece que a pista não dá para todos os aviões low cost e
não se acautela o suficiente contra uma eventual subida de nível das águas do
Tejo mercê do aquecimento dos oceanos.
Fizeram-se
estudos prévios e projetos e iniciou-se um troço de obra do TGV para tudo ficar
reduzido a nada. Demoram-se décadas para reparar umas escolas secundárias como
para construir uma ala pediátrica oncológica num hospital de referência, outras
décadas leva a retirada de amianto das escolas. Andamos meses e meses para
dotar as unidades de saúde de equipamento e pessoal médico, de enfermagem e de
pessoal técnico, administrativo e auxiliar.
Tudo isto
sucede por falta de vontade política, má gestão de recursos, magreza de
salários. Alega-se falta de cabimento orçamental, concursos vazios, fuga para o
setor privado, emigração. Enfim, alega-se falta de dinheiro, racionalização de
meios e encerram-se serviços, como se corta em efetivos e equipamento nas
forças armadas. Mas para salvar bancos somos especialistas. Para isso, há sempre
cabimento orçamental, nem que seja necessário pedir autorização aos deputados, não
se racionalizam meios, a não ser dispensar pessoas e encerrar balcões em nome
das famigeradas restruturações.
Até quando?
2020.02.04 – Louro de
Carvalho
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