sábado, 15 de fevereiro de 2020

Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos reunirá no outono de 2022


Ainda mal foi lida e digerida a Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazónia”, que a crítica apreciou pelo que não diz, e não pela reflexão profunda e abrangente que pretende concitar, e foi dado conhecimento de que o Papa convocou o Sínodo Ordinário dos Bispos para o outono (do hemisfério norte) de 2022, querendo garantirum envolvimento mais importante de toda a Igreja na preparação” do evento.
Pode parecer algo estranho e levar alguns a distrair-se da leitura da referida exortação apostólica, mas a reunião da assembleia sinodal constitui a mais eminente fórmula instituída da sinodalidade entre concílios e tem sido a fórmula adotada pelos Sumos Pontífices desde o Concílio Vaticano II, quer para debate de temas de interesse universal, quer para temas atinentes a regiões do orbe ou dum grupo populacional significativo como foi o caso dos jovens.
Entretanto, com o Papa Francisco o Sínodo ganhou caraterísticas especiais, seja na amplitude da publicitação dos instrumentos e mecanismos de consulta prévia, seja na diversidade de participantes, seja nos eventos antecedentes ao sínodo ou concomitantes com ele, seja ainda no acompanhamento presencial que o Papa oferece às sessões plenárias. Até o reestruturou com a Constituição Apostólica “Episcopalis Communio”.
Desta feita sabe-se, pelo Vatican News, que houve já uma auscultação às estruturas locais da Igreja para a escolha do tema a debater e o Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos apresentou ao Santo Padre um conjunto de temas, que ele aceitou para que possa decidir.
A notícia da convocação do evento sinodal de 2022 foi conhecida hoje, dia 15 de fevereiro, mas a decisão foi comunicada no dia 6, na sessão vespertina da primeira reunião do XV Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo. O Conselho é a instituição que prepara estes eventos.
Foram dois dias de reuniões (6 e 7) organizadas para apresentar ao Santo Padre possíveis temas a serem tratados em 2022, como se disse, e debater outros assuntos, como os passos realizados depois do Sínodo sobre os jovens em 2018 e a ressonância da Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit. E é de anotar que ainda não tinha sido lançada a Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazónia”, que só foi apresentada e divulgada no dia 12.
Na sessão em que o Papa Francisco estava presente, emergiu a necessidade de expressar com urgência a solidariedade aos irmãos e irmãs envolvidos no drama da migração forçada. E o secretário-geral, Cardeal Lorenzo Baldisseri, apresentou os resultados da consulta realizada pela Secretaria-Geral acerca dos temas para a próxima Assembleia, envolvendo durante o ano de 2019 as Conferências Episcopais, os Sínodos das Igrejas Católicas Orientais sui iuris, os Dicastérios da Cúria Romana e a União dos Superiores Gerais, e preparou uma breve lista de possíveis temas de discussão para que o Pontífice possa tomar a decisão final da escolha.
Na sequência, houve lugar ao debate tanto em sessão plenária como em sessão por grupos linguísticos, sendo de destacar que, no dia 7, o trabalho começou com a intervenção do Cardeal Kevin Joseph Farrell, Prefeito do Dicastério para Leigos, Família e Vida, convidado a ilustrar as atividades pós-sinodais que a Secção Giovani continua a insistir na implementação da Exortação Apostólica pós-sinodal “Christus vivit”.
Também foi emitido, neste dia 15, uma mensagem de Francisco e do Conselho de apoio às ONG e governos que ajudam e apoiam os migrantes, denunciando que “muitas pessoas são forçadas a ir de um país para outro devido a guerras, desigualdade económica, procura de emprego ou de terras mais férteis, perseguições religiosas, terrorismo ou crise ecológica” e apontando que “as pessoas estão desorientadas, as famílias destruídas (...) mulheres e meninas são forçadas a prostituírem-se”.
Perante estas situações, “o Conselho da Secretaria-Geral do Sínodo deseja lembrar que a Igreja, ao mesmo tempo que lamenta as razões que causam um movimento tão massivo de pessoas, é chamada a oferecer conforto, consolo e acolhimento a todos que sofrem de uma maneira ou de outra. Identifica-se com os pobres, os pequenos e os estrangeiros, considerando parte da sua missão profética o compromisso de elevar a voz contra a injustiça, a exploração e o sofrimento”.
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Segundo a Constituição Apostólica “Episcopalis Communio”, durante mais de 50 anos, as Assembleias do Sínodo revelaram-se um válido instrumento de conhecimento mútuo entre os Bispos, oração comum, confronto leal, aprofundamento da doutrina cristã, reforma das estruturas eclesiais, promoção da atividade pastoral no mundo inteiro”. E “não só se configuraram como um lugar privilegiado de interpretação e receção do rico magistério conciliar, como ofereceram também um impulso notável ao sucessivo magistério pontifício”.
E este documento considera que “foi providencial que a instituição do Sínodo dos Bispos tenha ocorrido no contexto da última assembleia ecuménica”, pois “o Concílio Vaticano II, ‘seguindo os passos do Concílio Vaticano I, aprofundou, na esteira da genuína Tradição eclesial, a doutrina sobre a Ordem Episcopal, concentrando-se de modo particular na sua sacramentalidade e na sua natureza colegial’ e, “assim, tornou-se definitivamente claro que cada um dos Bispos possui, simultânea e inseparavelmente, a responsabilidade pela Igreja particular confiada aos seus cuidados pastorais e a solicitude pela Igreja universal”.
Os Bispos, ensinando em comunhão com o Papa, “devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e católica”, mas também “a vida da Igreja e a vida na Igreja é, para cada Bispo, a condição para o exercício da sua missão de ensinar”. Por isso, diz Francisco:
O Bispo é, simultaneamente, mestre e discípulo. É mestre quando, dotado duma assistência especial do Espírito Santo, anuncia aos fiéis a Palavra de verdade em nome de Cristo cabeça e pastor. Mas é também discípulo, quando ele, sabendo que o Espírito é concedido a cada batizado, se coloca à escuta da voz de Cristo que fala através de todo o Povo de Deus, tornando-o infalível ‘in credendo’. (…) Por isso, o Bispo é conjuntamente chamado a ‘caminhar à frente, indicando o rumo, apontando a vereda; caminhar no meio, para fortalecer [o Povo de Deus] na unidade; caminhar atrás, não só para que ninguém fique para trás, mas também e sobretudo para seguir a intuição que o Povo de Deus tem para encontrar novas sendas’. O Bispo que vive no meio dos seus fiéis mantém os ouvidos abertos para escutar ‘o que o Espírito diz às Igrejas’ (Ap 2,7) e a ‘voz das ovelhas’, também através daqueles organismos diocesanos que têm a tarefa de aconselhar o Bispo, promovendo um diálogo leal e construtivo.”.
Também o Sínodo deve tornar-se cada vez mais um instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus, pelo que “para os Padres sinodais, pedimos, do Espírito Santo, antes de mais nada, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade de Deus que nos chama”.
E, graças ao Sínodo, aparecerá cada vez mais claro que, na Igreja, vigora a comunhão entre os Pastores e os fiéis, pois cada ministro ordenado é um batizado entre os batizados, constituído por Deus para pastorear o seu Rebanho, e entre os Bispos e o Papa, que é um ‘Bispo entre os Bispos, mas chamado, como Sucessor do apóstolo Pedro – a guiar a Igreja de Roma que preside no amor a todas as Igrejas”. Isto impede que cada um dos sujeitos possa subsistir sem o outro.
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É a sinodalidade na comunhão e a comunhão na sinodalidade. É a vida da Igreja e em Igreja!
2020.02.15 – Louro de Carvalho

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