Ainda
mal foi lida e digerida a Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazónia”, que a crítica
apreciou pelo que não diz, e não pela reflexão profunda e abrangente que
pretende concitar, e foi dado conhecimento de que o Papa convocou o Sínodo Ordinário
dos Bispos para o outono (do hemisfério norte) de 2022, querendo garantir “um envolvimento mais importante de toda a Igreja na
preparação” do evento.
Pode
parecer algo estranho e levar alguns a distrair-se da leitura da referida
exortação apostólica, mas a reunião da assembleia sinodal constitui a mais eminente
fórmula instituída da sinodalidade entre concílios e tem sido a fórmula adotada
pelos Sumos Pontífices desde o Concílio Vaticano II, quer para debate de temas
de interesse universal, quer para temas atinentes a regiões do orbe ou dum
grupo populacional significativo como foi o caso dos jovens.
Entretanto,
com o Papa Francisco o Sínodo ganhou caraterísticas especiais, seja na
amplitude da publicitação dos instrumentos e mecanismos de consulta prévia,
seja na diversidade de participantes, seja nos eventos antecedentes ao sínodo
ou concomitantes com ele, seja ainda no acompanhamento presencial que o Papa
oferece às sessões plenárias. Até o reestruturou com a Constituição Apostólica “Episcopalis
Communio”.
Desta
feita sabe-se, pelo Vatican News, que
houve já uma auscultação às estruturas locais da Igreja para a escolha do tema
a debater e o Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos apresentou ao
Santo Padre um conjunto de temas, que ele aceitou para que possa decidir.
A
notícia da convocação do evento sinodal de 2022 foi conhecida hoje, dia 15 de fevereiro,
mas a decisão foi comunicada no dia 6, na sessão
vespertina da primeira reunião do XV Conselho Ordinário da Secretaria Geral do
Sínodo. O Conselho é a instituição que prepara estes eventos.
Foram dois dias de reuniões (6
e 7)
organizadas para apresentar ao Santo Padre possíveis temas a serem tratados em
2022, como se disse, e debater outros assuntos, como os passos realizados
depois do Sínodo sobre os jovens em 2018 e a ressonância da Exortação
Apostólica pós-sinodal Christus
vivit. E é de anotar que ainda não tinha sido lançada a Exortação Apostólica
pós-sinodal “Querida Amazónia”, que só foi apresentada e
divulgada no dia 12.
Na sessão em que o Papa Francisco estava presente, emergiu a
necessidade de expressar com urgência a solidariedade aos irmãos e irmãs
envolvidos no drama da migração forçada. E o secretário-geral, Cardeal Lorenzo Baldisseri, apresentou
os resultados da consulta realizada pela Secretaria-Geral acerca dos temas para
a próxima Assembleia, envolvendo durante o ano de 2019 as Conferências
Episcopais, os Sínodos das Igrejas Católicas Orientais sui iuris,
os Dicastérios da Cúria Romana e a União dos Superiores Gerais, e preparou uma
breve lista de possíveis temas de discussão para que o Pontífice possa tomar a
decisão final da escolha.
Na sequência, houve lugar ao debate tanto em sessão plenária
como em sessão por grupos linguísticos, sendo de destacar que, no dia 7, o
trabalho começou com a intervenção do Cardeal Kevin Joseph Farrell, Prefeito do
Dicastério para Leigos, Família e Vida, convidado a ilustrar as atividades
pós-sinodais que a Secção Giovani
continua a insistir na implementação da Exortação Apostólica pós-sinodal “Christus
vivit”.
Também foi emitido, neste dia 15, uma mensagem de Francisco e
do Conselho de apoio às ONG
e governos que ajudam e apoiam os migrantes, denunciando que “muitas pessoas
são forçadas a ir de um país para outro devido a guerras, desigualdade económica,
procura de emprego ou de terras mais férteis, perseguições religiosas, terrorismo
ou crise ecológica” e apontando que “as pessoas estão desorientadas, as
famílias destruídas (...) mulheres e meninas são forçadas a prostituírem-se”.
Perante estas situações, “o Conselho da Secretaria-Geral do
Sínodo deseja lembrar que a Igreja, ao mesmo tempo que lamenta as razões que
causam um movimento tão massivo de pessoas, é chamada a oferecer conforto,
consolo e acolhimento a todos que sofrem de uma maneira ou de
outra. Identifica-se com os pobres, os pequenos e os estrangeiros,
considerando parte da sua missão profética o compromisso de elevar a voz contra
a injustiça, a exploração e o sofrimento”.
***
Segundo a Constituição Apostólica “Episcopalis Communio”, durante mais de 50 anos, as Assembleias do
Sínodo revelaram-se um válido instrumento de conhecimento mútuo entre os
Bispos, oração comum, confronto leal, aprofundamento da doutrina cristã,
reforma das estruturas eclesiais, promoção da atividade pastoral no mundo
inteiro”. E “não só se configuraram como um lugar privilegiado de interpretação
e receção do rico magistério conciliar, como ofereceram também um impulso
notável ao sucessivo magistério pontifício”.
E este documento considera que “foi providencial que a
instituição do Sínodo dos Bispos tenha ocorrido no contexto da última
assembleia ecuménica”, pois “o Concílio Vaticano II, ‘seguindo os passos do
Concílio Vaticano I, aprofundou, na esteira da genuína Tradição eclesial, a
doutrina sobre a Ordem Episcopal, concentrando-se de modo particular na sua
sacramentalidade e na sua natureza colegial’ e, “assim, tornou-se
definitivamente claro que cada um dos Bispos possui, simultânea e
inseparavelmente, a responsabilidade pela Igreja particular confiada aos seus
cuidados pastorais e a solicitude pela Igreja universal”.
Os Bispos, ensinando em comunhão com o Papa, “devem
por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e católica”, mas
também “a vida da Igreja e a vida na Igreja é, para cada Bispo, a condição para
o exercício da sua missão de ensinar”. Por isso, diz Francisco:
“O Bispo é, simultaneamente,
mestre e discípulo. É mestre quando, dotado duma assistência especial do
Espírito Santo, anuncia aos fiéis a Palavra de verdade em nome de Cristo cabeça
e pastor. Mas é também discípulo, quando ele, sabendo que o Espírito é
concedido a cada batizado, se coloca à escuta da voz de Cristo que fala através
de todo o Povo de Deus, tornando-o infalível ‘in credendo’. (…) Por
isso, o Bispo é conjuntamente chamado a ‘caminhar à frente, indicando o rumo,
apontando a vereda; caminhar no meio, para fortalecer [o Povo de Deus] na
unidade; caminhar atrás, não só para que ninguém fique para trás, mas também e
sobretudo para seguir a intuição que o Povo de Deus tem para encontrar novas
sendas’. O Bispo que vive no meio dos seus fiéis mantém os ouvidos abertos para
escutar ‘o que o Espírito diz às Igrejas’ (Ap 2,7) e a ‘voz das ovelhas’, também através daqueles
organismos diocesanos que têm a tarefa de aconselhar o Bispo, promovendo um
diálogo leal e construtivo.”.
Também o Sínodo deve tornar-se cada vez mais um
instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus, pelo que “para os Padres
sinodais, pedimos, do Espírito Santo, antes de mais nada, o dom da escuta:
escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar
nele a vontade de Deus que nos chama”.
E, graças ao Sínodo, aparecerá cada vez mais
claro que, na Igreja, vigora a comunhão entre os Pastores e os fiéis, pois cada
ministro ordenado é um batizado entre os batizados, constituído por Deus para
pastorear o seu Rebanho, e entre os Bispos e o Papa, que é um ‘Bispo entre os
Bispos, mas chamado, como Sucessor do apóstolo Pedro – a guiar a Igreja de Roma
que preside no amor a todas as Igrejas”. Isto impede que cada um dos sujeitos
possa subsistir sem o outro.
***
É a sinodalidade na comunhão e a comunhão na
sinodalidade. É a vida da Igreja e em Igreja!
2020.02.15 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário