quinta-feira, 6 de junho de 2019

PAN é a terceira força junto dos mais jovens


No site do Público, a 4 de junho pp, Maria João Lopes – com base nos dados da sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião/Universidade Católica Portuguesa para a RTP no dia 26 de maio de 2019, a partir da qual foi selecionada uma subamostra, em que os eleitores responderam em quem votaram nas eleições para o Parlamento Europeu (PE), indicando fatores específicos como idade, sexo e grau de instrução – explicita a conclusão de que o PAN (Pessoas-Animais-Natureza) é a 3.ª força junto dos mais jovens, que a CDU é a última, que “no grupo com 65 ou mais anos, metade das pessoas votou PS” e que “o PS surge como 1.ª força em todos os escalões etários”. Os dados da sondagem para esta análise resultam de 3931 inquéritos válidos e foram, depois, ponderados tendo em conta os resultados oficiais das eleições.
Porém, João António, responsável técnico pelas sondagens políticas do susodito centro, adverte:  
Não são resultados oficiais, são dados baseados numa análise que fizemos a uma subamostra”.
Em termos globais, o PAN foi agora a 6.ª força política, o que não me parece que tenha sido uma surpresa eleitoral esta posição e mesmo a eleição dum eurodeputado deste partido, a não ser que se entenda esta como uma surpresa anunciada, pois nas legislativas de 2015 o PAN foi a 6.ª força política e tem um deputado no Parlamento. É certo que agora era necessário preencher só 21 lugares, quando em 2015 estavam em causa 230 lugares, mas também eram 22 círculos eleitorais, o que fazia perder muitos votos dispersos, quando agora o círculo eleitoral era único.   
Seja como for e atendo-nos à análise setorial espelhada no aludido escrito do Público, o PAN surge como a 3.ª força política entre os votantes com menos de 25 anos (13,9%) e a CDU é a última entre o eleitorado mais jovem (4,6%). Ainda no atinente a faixas etárias, sobressai o facto de um em cada 4 votantes com menos de 35 anos ter escolhido forças políticas que não elegeram qualquer eurodeputado ou votaram branco ou nulo. Além disso, o 1.º partido em todas as faixas etárias é o PS, ocupando o 2.º lugar o PSD.
A leitura dos dados da susodita sondagem permite dizer que o PAN já é a 3.ª força política entre os votantes com menos de 25 anos (13,9%) e a 4.ª no grupo dos 25 aos 34 (11,2%) e dos 35 aos 44 (7,3%); o BE é a 3.ª força política em várias faixas etárias, que abrangem as pessoas entre os 25 e os 64 anos. Já a CDU surge em último entre o eleitorado mais jovem: regista 4,6% dos 18 aos 24 anos e 5,5% na faixa dos 25 aos 34. E um em cada 4 votantes com menos de 35 anos escolheu forças políticas que não elegeram qualquer eurodeputado ou votaram branco ou nulo – 25,5% no grupo dos 18 aos 24 e 25,9% dos 25 aos 34 anos.
Além disso, permitem-se mais leituras: a diferença em pontos percentuais entre PS e PSD cresce “significativamente” nos últimos dois escalões etários. Assim, dos 55 aos 64 anos, o PS regista 38% dos votos e dos 65 ou mais anos alcança os 50,2%; o PSD, na faixa etária que vai dos 55 aos 64 anos assinala uma percentagem de 22,1%, enquanto a de 65 ou mais regista 23,4%; a faixa etária em que a CDU recolhe maior percentagem de votos é a dos 65 ou mais anos (8%); a faixa etária com mais peso para os sociais-democratas é a que vai dos 45 aos 54 (24,6%); e é nesta mesma faixa etária que o CDS obtém o seu melhor resultado: 8,5%.
Um outro vetor de análise é grau de instrução dos inquiridos, sendo que PS, com 24,9%, e PSD, com 24,2%, recolheram quase a mesma percentagem de votos entre as pessoas mais instruídas.
Ainda, no âmbito dos dados sobre o nível de estudos, destaca-se que, no grupo dos eleitores que não completaram o secundário, 54,8% votaram PS; que o grupo mais representativo que votou no PSD é o que completou o ensino superior (24,2%) – tal como como no BE (11,6%), no CDS (8,3%) e no PAN (6%). Já na CDU a percentagem mais elevada (8,2) situa-se no grupo de quem terminou o ensino secundário. A maior percentagem, porém, de quem votou branco ou nulo também se situa entre quem estudou na faculdade: 19,1%.
Efetivamente, a noite das eleições europeias portuguesa confirmou a vitória do PS, com 33,39% dos votos; a derrota da direita nas urnas, a eleição de mais um eurodeputado para o Bloco de Esquerda, a perda de um mandato da CDU e a eleição de um eurodeputado do PAN. O líder do PS considerou o resultado como um “voto de confiança no PS” e o BE não repetiu à saciedade que se confirma como a terceira força mais votada do país. Uns festejaram, outros assumiram os fracassos. O PAN festejou, pois, como disse André Silva, “as forças políticas percebem que o PAN já conta”. Porém, PSD, CDU e CDS assumiram terem ficado aquém das metas.
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Segundo o deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira (escreveu há dias, no JN), o resultado eleitoral do PAN nas eleições para o PE “é uma surpresa anunciada, que obriga a reflexão e explicação”. Do partido de que muitos portugueses pouco mais saberão que “defende os animais” diz o deputado que está em franco crescimento por mérito próprio e por demérito alheio. Começou por ser um dos fortes depositários dos “votos de protesto” de eleitores descontentes (o deputado do PSD acha que de todos) e passou o ser o destino dos votos “antipartidos” ou “antissistema”, quando ironicamente é um partido integrado no sistema. Os eleitores, mais que o encontro de propostas, valores ou iniciativas (que as tem e, a meu ver, algumas muito válidas e interessantes), além da defesa incontida, e às vezes abstrusa, dos animais, encontram ali uma válvula de escape do desconforto de não verem satisfeitas nos outros partidos as suas fundadas expectativas e legítimos anseios. E o PAN aproveita a maré apresentando propostas que vão ao encontro do que agrada aos cidadãos, numa abordagem serena e convincente para o cidadão comum que pense no imediato.
Depois, começa a levar a sério, mais que os outros partidos, o debate sobre o ambiente e as alterações climáticas, em que pontificam o aquecimento global e a poluição atmosférica – temas que se esperava que o “Partido Ecologista os Verdes” (PEV) tratasse com afinco e desenvoltura.
Ora, centrar a intervenção política na nova “agenda verde” concita a atração de muitos, em particular os mais jovens. Refira-se a relevância concedida às manifestações e greves de jovens um pouco por todo o mundo em prol do planeta ameaçado pelas alterações climáticas e pela febre lucrativa que leva ao esgotamento dos recursos naturais e ao lançamento de toxinas para a atmosfera, na linha das preocupações do Papa Francisco. Depois, como diz o referido deputado socialdemocrata, o mais grave “é que os jovens eleitores não estão interessados por política e por políticos, por serviço público ou pela Europa, por querelas ideológicas ou programáticas”, pelo que o discurso do PAN, “simples, básico e modernaço”, por ir ao encontro de temas debatidos nas escolas (a nível de projetos multidisciplinares e interdisciplinares), se torna “mais apelativo para a ‘geração Z’ e para os nativos digitais”.
Porém, o parlamentar socialdemocrata vaticina que o PAN virá a perder a “genuinidade” tendencialmente “monotemática” e, com sucedeu com outros partidos, que supostamente emergiam a partir das bases, deixar-se-á seduzir pelas dinâmicas e “modus faciendi” dos demais partidos. E, em vez de apenas “partido de causas”, quererá ser também “partido de poder”. E um partido de poder minimiza as microcausas, por mais importantes que sejam, e aplica-se a todas as áreas de governo. Aliás, ao clamar que não é partido de esquerda nem partido de direita – também não se diz de centro – pois não se revê nesses posicionamentos, o PAN cria na opinião pública a ideia da hipótese de se aliar a partido que dele precise para viabilizar a governança. 
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Por seu turno, Emídio Gomes, professor catedrático e vice-reitor da UTAD, também em artigo de opinião no JN, faz a distinção entre a estima que se deve ter pelos animais, nomeadamente os animais domésticos, nomeadamente, serviço, companhia, guarda ou estimação e a obsessão pela preservação, supremacia e ostentação dos mesmos a todo o custo e doa a quem doer.
Refere que a avó contava que o pequeno rafeiro encostava o ouvido ao corpo da criança, que era o articulista, enquanto ela dormia para lhe sentir o respirar. Por tudo, sentiu grande desgosto, “quando um dia não resistiu a um atropelamento por um carro”. E diz do sucedido mais tarde:
“Ainda hoje tenho muitas saudades do meu galgo, que criei e treinei desde muito pequeno e que esperava ansioso pelo meu regresso a casa em cada fim de semana, no tempo de universidade fora do Porto. Não era o ruído, mas o ‘cheiro do dono’ que lhe motivava uma prévia alegria descontrolada. De facto, a capacidade de olfato dos cães é muito superior à dos humanos, devido ao facto de terem 30 a 50 vezes mais glândulas odoríferas!”
Continua a ter um cão, que diz tratar “o melhor” que sabe e pode, “mas com as regras próprias e adequadas a um animal doméstico”, bem “diferentes das de um ser humano”. Sabendo qual é o “seu espaço próprio”, não passa da entrada da cozinha, não ocupando “a área de domínio dos seus donos”. Aponta o articulista que o seu animal de estimação “não vai a restaurantes, muito menos a ‘soirées’ políticas com direto televisivo para português ver”. Adianta que o animal “não sofre com isso”. E abjura do comportamento “em função de modas”, sobretudo se “interferem com valores, princípios e decisões” do quotidiano dos cidadãos e critica em concreto a exibição encenada “de animais na sede do PAN na noite das europeias”.
E eu recuso qualquer enunciado que tente converter-me aos propalados direitos dos animais, pois, só quem pode ser sujeito de deveres pode ser sujeito de direitos – as pessoas –, direitos que não são negáveis quando ainda ou já não podem ser instados ao cumprimento dos ditos deveres, pois não perdem a essência de pessoas, sujeito de direitos e deveres (diciologia + deontologia).    
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Também José Pedro Videira, Presidente da FAP (Federação Académica do Porto), no mesmo diário, reitera que cerca de 70% dos portugueses optaram por não ir às urnas nestas eleições e que a dimensão do fenómeno não permite o erro de “culpar exclusivamente quem se abstém”. Tendo sido “a maior taxa de abstenção alguma vez registada”, diz que se impõe “interpretar os motivos”. Deverão, segundo opina, os partidos “refletir sobre os modelos de fazer campanha e o conteúdo da mensagem política”, não se podendo lembrar do debate “apenas quando o despertador das eleições está prestes a tocar”, pois, como sugere, “a política devia ser um relógio de pulso que todos usamos diariamente e não um sino de igreja que só toca nos arraiais de verão” ou quando alguém morre (digo eu). E diz o jovem estudante:
O combate à abstenção não se faz com apelos ao voto uns dias antes das eleições. São necessárias medidas de fundo. Desde logo, nas escolas e também nas instituições de Ensino Superior, que cada vez mais formatam trabalhadores em vez de formatar pessoas prontas para, antes de trabalhar, pensar (porque, verdade seja dita, para trabalhar sem pensar há muita máquina à procura de emprego). Só assim será possível promover o debate, não entre os candidatos, mas sobre as propostas por eles apresentadas”.
Diz que “os partidos tinham ideias sobre a Europa”, mas, em vez de as tirarem dos manifestos eleitorais e as debaterem, “enveredaram por uma ‘nacionalização’ da campanha”, que fez das europeias “uma espécie de megassondagem para as legislativas”. Assim, muito embora o Primeiro-Ministro tenha falado “na importância de convergirmos para a Europa”, foi ele quem iniciou a nacionalização da campanha. E a abstenção, que teve “a maior vitória de sempre numas eleições”, demonstrou exatamente “uma enorme divergência para com a Europa, com Portugal a assumir o 6.º lugar na lista de países da UE com maior taxa de abstenção” – precisamente o inverso do que se deseja. Por isso, os grandes partidos, quais “alicerces do nosso sistema político”, têm de saber “interpretar a abstenção”, sob pena de acabarem por “ficar a falar sozinhos”. Nestas eleições, não se subtraindo “a abstenção ao resultado”, verifica-se, como diz, que “apenas 13,5% dos eleitores votaram PS ou PSD” e, se se contabilizarem “os votos brancos ou nulos, 75,6% dos eleitores não optaram por partido algum”. Nestes termos, alerta o dirigente associativo, “é hora de tomar medidas”. Os partidos devem “diversificar as formas e meios para comunicar”; e, por outro lado e acima de tudo, “é urgente uma verdadeira formação para a cidadania em contexto escolar, assim como é urgente que a política volte a ser bem-vinda nas instituições de Ensino Superior”. Estas não podem cingir-se à linha neoliberal (penso).
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No atinente a sugestões, o acima referenciado e citado deputado socialdemocrata diz restar aos partidos tradicionais “juntar personalidades e projetos (que existem), numa agenda de propostas claras e de futuro, como seja a agricultura urbana, o aproveitamento do nosso mar ou a mobilidade mais ecológica”. E, para o mencionado e citado vice-reitor da UTAD, “o importante é continuar a acreditar na democracia enquanto tal, como a forma mais justa de garantir uma sociedade equilibrada, em que a áreas como a saúde, a educação e a justiça sejam prioridades no investimento público”. E pensa que os líderes não podem focar-se “no mediatismo e na espuma dos dias”, pois “o imediato pode ser ‘fashion’ e tentador, mas estará sempre longe de ser uma base sólida e com futuro”.
Também o Ministro da Educação defendeu – na Conferência Internacional “Educação, Cidadania, Mundo. Que escola para que sociedade?”,  que decorreu no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa (28-29 de maio) – que é preciso “agir urgentemente” junto dos jovens tendo em conta a abstenção nas eleições europeias que, em Portugal, rondou os 70%. É certo que muitos milhares de cidadãos foram votar, mas muitos outros milhares – mais ainda – abdicaram de o fazer”, sublinhou.
Em Portugal, só 31% dos eleitores participaram nas eleições europeias, sendo a 6.ª pior taxa da União Europeia, cuja média foi de 50,82%. E o governante lamentou que a maioria dos jovens portugueses faça parte do grupo que, no domingo, não exerceu o seu direito de voto: “Há um número muito alto de abstenção entre os jovens”.
Tiago Brandão Rodrigues, em declarações aos jornalistas, referiu que a taxa de abstenção próxima dos 70% “vem dizer que temos de agir urgentemente” e frisou que, “a cada passo que não exercem a sua cidadania, há alguém que a exerce por eles”, reconhecendo que “a escola tem um papel fundamental” no processo de “criar sociedades livres, democráticas e sustentáveis”. Com efeito, as escolas, como contou, “têm vários projetos pensados para sensibilizar os jovens para a importância de participar nos atos de cidadania e valorizar os processos democráticos”. Além das aulas de cidadania, existem iniciativas como “A Voz dos Alunos”, em que são chamados a dar a sua opinião sobre como melhorar a escola, ou o “Orçamento Participativo das Escolas”, em que os alunos apresentam projetos para melhorar a escola, votando livremente. Mas lembrou que é preciso ter “uma prática diária para que a cidadania se cumpra”, como é preciso a prática instalar-se em todos os cidadãos e instituições.
Como diria Fernando Pessoa, “É a Hora!”
2019.06.05 – Louro de Carvalho

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