terça-feira, 24 de julho de 2018

Não há dinheiro, mas mais de 85% da produção de eletricidade é subsidiada

Ainda há pouco era dito pelo Governo que não havia dinheiro para suportar a contagem integral do tempo de serviço dos professores e seria um problema orçamental se todos os funcionários que integram as outras 16 carreiras específicas na Administração Pública reivindicassem tal.
Este tipo de asserções levou a que José Abraão, da FESAP, sugerisse ao Ministro das Finanças que olhasse mais para as pessoas e menos para os números e a que Ana Avoila, da Frente Comum, acusasse o Governo de acenar com o papão, que não há, e denunciasse a hipocrisia de não haver dinheiro para os funcionários, mas de o haver para tudo o mais.
Muito se tem falado do dinheiro dos contribuintes perdido na banca, nos vencimentos, subsídios e prémios dos grandes gestores, nas reformas chorudas de muitos, na ginástica feita pelos sistema para engrossar as remunerações dos deputados, enfim, nas diversas formas de pôr tantos e tantas a viver acima das possibilidades do comum dos cidadãos e mesmo dos que integram a classe média em vias de extinção.
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Entretanto, vieram à estampa na comunicação social, sobretudo no DN e no Dinheiro Vivo, informações curiosamente iníquas sobre aquilo que os contribuintes, enquanto consumidores, pagam sem que beneficiem do bem ou serviço.
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Assim, entre 2016 e 2020, os portugueses pagam 1,2 mil milhões de euros por ano pelas energias renováveis, mesmo que delas não beneficiem (6 mil milhões no espaço de 5 anos), ou seja, as energias limpas pesam 24,1% na conta da luz (11 mil euros por família). Mais: os consumidores vão continuar a suportar as tarifas com subsídio nas renováveis além de 2030.
São números decorrentes de cálculos da ERSE (Entidade reguladora dos Serviços Energéticos) e da DGEG (Direção-Geral de Energia e Geologia), que mostram que só em 2026 o valor do sobrecusto com a PRE (Produção em Regime Especial) ficará abaixo dos mil milhões, caindo depois a pique, em 2028, para cerca de 200 milhões. Dos atuais encargos anuais de 1,2 mil milhões até 2020, a esmagadora maioria (cerca de mil milhões) diz respeito a centrais eólicas e hídricas (barragens).
Porém, a APREN (Associação Portuguesa de Energia renováveis) contesta estes números. Segundo o seu presidente, António Sá da Costa, face aos dados de 2017 da ERSE, a associação contabiliza 1315 milhões de euros de sobrecusto com a PRE (renovável e cogeração), dos quais só 500 milhões dizem respeito às eólicas (5313 MW de potência instalada, de um total de 13 806 MW renováveis), e prevê que até 2020 os encargos com as tarifas subsidiadas baixem.
Seja como for, tudo isto tem impacto direto nas faturas dos consumidores. Diz a ERSE que a PRE é uma das mais de 10 parcelas que integram o bolo dos custos de interesse económico geral (CIEG, ou “custos políticos”), responsáveis por 40% do valor pago pelos clientes domésticos. Segundo o regulador, só por si, as renováveis pesam 24,1% na fatura das famílias. Em números absolutos, em 2018 o sobrecusto com as renováveis está avaliado em 1268 milhões de euros. E, considerando que a fatura média dos consumidores domésticos é de 45,7 euros por mês (incluindo IVA), isto significa que cada família terá de pagar este ano, diretamente na sua fatura da luz, 132 euros para financiar as tarifas subsidiadas às renováveis (média de 11 euros por mês).
Já segundo a APREN, 98% da Produção em Regime Especial são pagos pelos clientes domésticos, ficando a indústria poupada a este encargo, em conformidade com o Decreto-lei n.º 90/2006, de 24 de maio (era Sócrates Primeiro-Ministro e Manuel Pinho Ministro da Economia). A isto a ERSE esclareceu que “o sobrecusto da PRE renovável é fundamentalmente pago pelos consumidores residenciais” e “qualquer alteração deste critério terá que ser efetuada mediante alteração legislativa de igual nível, ou seja por aprovação de um novo decreto-lei do Governo”.
Já se sabia – e é agora confirmado pelo Eurostat – que Portugal é o segundo país da UE com a eletricidade mais cara (a seguir à Alemanha), em termos de paridade do poder de compra. E Seguro Sanches, Secretário de Estado da Energia, quer inverter a tendência e aproximar os preços da energia à média da UE até ao fim do mandato, o que representa uma descida de 10%. Este ano as tarifas baixaram 0,2%, mas o governante pretende mais para 2019. Porém, adverte:
Há questões que não podemos controlar. Estamos ainda a pagar 1,2 mil milhões de encargos com as renováveis com tarifas subsidiadas. Está contratualizado. E o Governo anterior ainda aumentou mais 7 anos estas tarifas subsidiadas.”.
Por outro lado, o Secretário de Estado da Energia sublinhou ao Dinheiro Vivo que o Governo já autorizou “mais de 1000 MW de renováveis [na energia solar] sem qualquer tipo de subsídios”. E disse que, ao invés do que muitos pensavam, “não continuámos o erro e pusemos fim às tarifas feed-in”, tendo alguns garantido que “nunca íamos conseguir”. Contudo, não prevê fazer qualquer alteração legislativa para baixar os subsídios às renováveis, como sugeriu o BE.
Com efeito, na visão de Jorge Costa, deputado do BE e relator da comissão de inquérito às rendas excessivas da energia, “o sobrecusto da PRE não é todo ele uma renda excessiva”, mas “deveria ter sido previsto um mecanismo que reajustasse ao longo do tempo o valor da parte subsidiada da tarifa”. E adverte para a possibilidade de um pagamento excessivo de 400 milhões”. E, quanto à decisão do governo de Passos, em 2013, de prolongar mais 7 anos (de 2020 até 2027) os subsídios às renováveis e fala de benefício extra de quase mil milhões de euros aos produtores eólicos.
Depois de Mira Amaral ter ido ao Parlamento falar do “monstro elétrico”, gerado pelo boom das eólicas com subsídio, quase todos os especialistas que já passaram pela CPI (comissão parlamentar de inquérito) alertaram para as rendas excessivas nas renováveis. E Sá da Costa riposta:
Foi assim que foi decidido pelos governos anteriores. Não se pode voltar atrás. Há coisas que são irreversíveis.”.
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Outro encargo do Estado a favor de privados que pesa nas contas das famílias via fatura da eletricidade é o carregamento de baterias dos carros elétricos. São 29 mil euros por mês que engordam iniquamente a fatura aos contribuintes. Com efeito, a Mobi.E – empresa pública (nossa, que não quisemos nem a autorizamos a pagar o que não queremos nem consumimos) paga mensalmente, em média, este montante pela eletricidade fornecida aos postos de carregamento normais e que agora será fornecida exclusivamente pela Galp.
É certo que os carregamentos rápidos (80% da bateria em 30 minutos) em 60 postos da rede Mobi.E serão pagos pelos utentes a partir de outubro. Estava previsto que esse regime passasse a vigorar a partir de 1 de julho, mas o atraso (aliás nova derrapagem) faz com que os contribuintes sejam sobrecarregados durante mais de um ano com um benefício de que não usufruem.
No entanto, a “fatia de leão” tem a ver com o valor pago pela Mobi.E (o Estado) face aos restantes 400 postos de carregamento normal: a tal fatura mensal que já ascende a 29 mil euros por mês e com perspetivas de novos aumentos ao longo dos próximos 6 meses, em função do preço da eletricidade e do aumento do número de carregamento e de carros elétricos a circular nas nossas estradas. Este valor foi revelado por fonte do processo, que diz ter a conta paga pela Mobi.E sofrido já uma subida na ordem dos 4000 euros mensais desde meados de 2017.
Números da Mobi.E mostram que no 1.º semestre deste ano foram registados 223 000 carregamentos (mais 150% face ao período homólogo) na rede Mobi.E, atinentes a 2,3 GWh (mais 206%). Na totalidade, em 2017, houve 229 000 carregamentos e 2,1 Gwh. Outra fonte revela que os carregamentos rápidos (80% da bateria em meia hora) começarão a ser pagos pelos proprietários dos carros elétricos ainda no 3.º trimestre (até outubro), enquanto os carregamentos normais ficarão a cargo dos consumidores “no início de 2019”.
(https://www.dinheirovivo.pt/economia/carregamentos-eletricos-custam-29-mil-euros-por-mes-aos-contribuintes/)
A AUVE (Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos) espera novidades para “este verão” no sentido de cada um começar a pagar a rede de carregamento rápido. Mas, para já, o processo está do lado da ERSE, cabendo-lhe chegar a acordo com a Mobi.E, após reunião da passada semana, sobre se a conta da mobilidade incluirá a contribuição para o audiovisual (2,85 euros por mês, sem IVA) paga à RTP, entre outras parcelas que poderão sobrecarregar os preços.
Fonte da EDP atira para a Mobi.E a responsabilidade da “definição do calendário relativo ao início da cobrança dos carregamentos”, sendo que “o modelo requer que esteja totalmente definida a contratualização entre agentes, conceitos a cobrar, e testes de operacionalização da plataforma”. Obviamente, a EDP não regista “perdas significativas”. Não obstante, avisa que “a ausência de cobrança dos carregamentos tem consequências para o desenvolvimento da mobilidade elétrica, dissuadindo o investimento dos operadores em infraestruturas”.
Até agora e desde abril de 2017, cabia à ENAT Energias o fornecimento de energia elétrica à rede da Mobi.e. Porém, a Galp já anunciou que passará a ser a fornecedora exclusiva de eletricidade nos pontos de carregamento da rede pública de mobilidade elétrica da Mobi.E, que integra cerca de 1000 tomadas, ou seja, a partir de agora será a Galp a cobrar à Mobi.E os cerca de 29 mil euros, ou mais, por mês. Informou, a este respeito, a empresa em comunicado:
A energia elétrica fornecida pela Galp será utilizada no carregamento dos veículos elétricos nos pontos de carregamento normais da rede pública de mobilidade elétrica [...], durante a fase que antecede a abertura de mercado”.
O mesmo comunicado refere:  
Atualmente os utilizadores de veículos elétricos carregam gratuitamente os seus veículos nos pontos de carregamento da rede pública de mobilidade elétrica. O arranque da fase de mercado que estava previsto para junho de 2018 foi entretanto adiado, prevendo-se agora que ocorra neste terceiro trimestre.”.
A partir desse momento, como explica a Galp, os utilizadores de veículos elétricos terão de estabelecer contrato com uma CEME (Comercializadora de Energia para a Mobilidade Elétrica) – como a Galp Power, a EDP Comercial ou a Prio, entre outras –, e pagarão a eletricidade com que abastecem os seus veículos na rede pública.
A ACAP (Associação Automóvel de Portugal) diz que nos primeiros 6 meses do ano se venderam 1868 automóveis movidos só com baterias elétricas, mais do dobro (156,2%) que no período homólogo.
Nas razões dos sucessivos atrasos na cobrança dos carregamentos elétricos, a Mobi.e fala em trabalhos em curso e diz que só quando todos os stakeholders se sentirem prontos, se avançará para a fase de mercado, pois a empresa tem todo o interesse em a mobilidade elétrica funcionar da melhor forma. Ademais, está a decorrer um projeto de atualização tecnológica em 304 postos da rede de carregamentos, a cargo da Efacec (por 570 mil euros) que ficará pronto até outubro.
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Um estudo da ERSE prova que existem compensações excessivas a produtores de eletricidade, nomeadamente na energia eólica com tarifas subsidiadas.
Na verdade, Cristina Portugal, presidente da ERSE, anunciou hoje, dia 24, no Parlamento que o regulador está a levar a cabo um estudo, cujas conclusões serão atempadamente apresentadas, que prova a existência de compensações excessivas a alguns produtores de eletricidade, nomeadamente na energia eólica com tarifas subsidiadas, entre outros. Na sequência desse estudo, a ERSE proporá “medidas corretivas” a tais compensações excessivas para baixar as tarifas pagas pelos consumidores. Na intervenção inicial, a responsável da ERSE afirmou que a Produção em Regime Especial (que diz respeito às renováveis) tem “um peso muito significativo nas tarifas” pagas pelos consumidores.
Frisando que o predito estudo será publicado “muito em breve, até setembro”, durante a vigência da CPI às rendas excessivas aos produtores de eletricidade, Cristina Portugal partilhou com os deputados uma conclusão do mesmo: “85% da produção de eletricidade em Portugal tem algum tipo de subsídio ou incentivo”. E confessou a dificuldade presente de dizer que “já chegámos a um mercado verdadeiramente liberalizado”, pois, ainda há ajustamentos a serem feitos para funcionar de forma mais livre”. E, vincando que a “sobrecompensação paga pelos consumidores pode ter a ver com as tecnologias”, disse:
Alguns produtores terão sobrecompensação. Pode ter a ver, por exemplo, com as eólicas com tarifa feed-in em que, entre o tempo dado para uma eólica entrar em produção e o momento em que realmente entrou, a tecnologia embarateceu. Aqui a rentabilidade é mais elevada face aos que entraram mais rapidamente em produção.”.
Além disso, revelou que o regulador está a fazer o aludido estudo “para determinar os custos nivelados de produção elétrica e a rentabilidade face aos 10 principais segmentos de produtores, tendo em conta os “mecanismos de mercado e os mecanismos complementares”. De facto, “antes, não era possível realizar esta análise”; agora, o estudo quer perceber “como estamos a remunerar os produtores” e “quem está subsidiado”, entre outras questões.
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BE o PCP puseram a redução do IVA na eletricidade na lista de prioridades para o OE 2019, por melhorar os rendimentos de “todo o país” e por ser medida a tratar como as demais reversões da troika (a subida do IVA de 6% para 23% na eletricidade e gás foi a 1 de outubro de 2011) Agora, uma primeira avaliação resultaria num ganho de 120 a 170 milhões de euros.
Também o Governo está nesta onda, mas avisando que o cálculo tem de ser feito com cautela, não deixando de fora nenhum custo, como ponderar se a descida se estende ao gás, mesmo ao gás de botija. E ainda é preciso pensar no corte nas rendas pagas aos produtores de energia.
Num artigo de opinião publicado, em 2017, no Público, na sequência do estudo apresentado, o economista Marvão Pereira dizia:
Quanto ao IVA sobre a eletricidade, na UE existem hoje apenas 5 países com taxas de IVA sobre a eletricidade mais elevadas. São eles a Croácia, a Dinamarca, a Finlândia, a Hungria e a Suécia.”.
Será que a luz que se vislumbra bruxuleante ao fundo do túnel não se irá apagar? Até quando continua o assalto legal à carteira dos contribuintes?
Rendas excessivas sobre qualquer produção pagas pelo contribuinte? Não, por favor! Experiências de novas explorações de energia e sua utilização pagas pelos contribuintes? Não!
Redução de imposto aos produtores e experienciadores, sim, mas os custos diretos ou indiretos que não sejam pagos pelo Estado e não utentes, mas pelas respetivas empresas! Haja vontade política: tal como um Governo pôde decidir, outro também o pode fazer… Porque não?
2018.07.24 – Louro de Carvalho

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