quinta-feira, 26 de julho de 2018

Dom Nuno Almeida foi em peregrinação pedestre a Santiago


Celebrou-se, a 25 de julho, a festa do apóstolo São Tiago, o primeiro dos apóstolos a dar a vida pelo Evangelho e um dos três (os outros dois eram Simão Pedro e João) cuja presença solicitou em alguns dos seus momentos mais significativos, nomeadamente a transfiguração no Tabor (vd Mt 17,1-9; Mc 9,2-9; Lc 9,28-36) e a agonia no Horto das Oliveiras (vd Mt 26,36-46; Mc 14,32-42).
Era este, com João, um dos filhos de Zebedeu, cuja mãe pediu a Jesus que fizesse com que os seus filhos se sentassem um à direita e outro a esquerda no Reino (vd Mt 20,21-28; Mc 10,35-45; Lc 22,24-27). E, o Mestre, voltando-Se para eles, retorquiu: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber do cálice que eu estou para beber”. Ao que os dois responderam: “Podemos”.
Obviamente ficaram contentes e, apesar de não compreenderem, não perguntaram Jesus a que tipo de cálice se referia.
E, perante os outros discípulos que tinham percebido o diálogo da forma mais conveniente para à sua ambição, Jesus assegurou:
Na verdade, bebereis o meu cálice; mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado”.
E aproveitou para dar a lição de humildade a todos, clarificando a natureza da sua missão messiânica, de que os discípulos hão de participar:
Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.”.
Nas últimas palavras deste segmento discurso do Mestre, entrevê-se que Jesus há de morrer para resgatar a multidão e os apóstolos, nomeadamente João e Tiago, hão de ter sorte semelhante, muito embora venha a verificar-se que um dos apóstolos traiu o Mestre, outro O negou e todos fugiram quando O sentiram apanhado pelo tribunal judaico e pelo tribunal romano.
Mas o Pentecostes com a irrupção da força do Espírito Santo fez com que outro galo cantasse, o do entendimento e o da fortaleza. E a Igreja avançava como comunidade modelo, mas a incomodar os chefes religiosos e políticos do judaísmo.
Ora, neste contexto, surge o episódio em que Tiago acaba por ser o primeiro dos apóstolos a dar a vida em martírio por Cristo, como nos refere o Livro dos Atos dos Apóstolos (At 12,1-3):
Por esse tempo, o rei Herodes maltratou alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João e, vendo que tal procedimento agradara aos judeus, mandou também prender Pedro. Decorriam os dias dos Ázimos.”.
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A participação na ação messiânica de Jesus é um imperativo de todos os que se fizeram discípulos a partir do momento em que, recebido o Batismo, se encontram permanentemente matriculados na escola de Cristo e a frequentam. Pelo Batismo – e com reforço especial na Confirmação – participam, por graça de Cristo (por isso, por direito) e não por favor dos homens – do tríplice múnus do Senhor: profético, sacerdotal e pastoral.
No entanto, há uns tantos teologicamente constituídos sucessores dos apóstolos que participam de forma eminente nesse tríplice múnus. São os Bispos, que se encarregam de zelar por uma porção particular da Igreja Universal e, ao mesmo templo, unidos em colégio ao Bispo de Roma, alimentam e concretizam a solicitude por todas as Igrejas. E a sua missão de liderança e proximidade realiza-se até à exaustão, se necessário for, no acompanhamento do povo de Deus peregrino, percorrendo os caminhos dos demais membros do Povo e animando-os na realização das suas necessidades, na realização de seus anseios e aspirações, no cumprimento dos seus deveres e na reivindicação e exercício dos seus direitos. Caminham com o Povo: à frente, para indicar o caminho e puxar pelas sinergias; a meio, para amparar os mais fracos; e na retaguarda, para que ninguém fique para trás. E sempre vigiando para o inimigo não surja na forma de pecado, sedução, devaneio ou frivolidade.
Ao longo da História da Igreja, os cristãos habituaram-se à peregrinação a santuários habitualmente não muito distantes – distância que hoje pode ser muito mais alargada graças aos modernos meios de comunicação. Mas, entre eles, muitos ousaram peregrinar aos lugares onde presumivelmente se encontra o túmulo de Cristo e túmulos de apóstolos, nomeadamente, Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela – isto para lá de santuários dedicados a mistérios de Cristo ou episódios conexos com a Virgem Maria e alguns santos, nomeadamente mártires e outros confessores da fé.
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Ora, neste sentido, o dia 25 de julho de 2018 fica marcado pela informação de que Dom Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga, que, nos passados dias 9 e 10 de junho, presidira à peregrinação anual das crianças a Fátima, donde formulou orientações para todos, rumou em peregrinação a pé a Santiago de Compostela.
Com efeito, como se pode ler no ACIDIGITAL (https://www.acidigital.com/noticias/bispo-percorre-pela-primeira-vez-caminho-de-santiago-e-revela-como-foi-a-experiencia-14081), “o Bispo auxiliar de Braga (Portugal), Dom Nuno Almeida, percorreu pela primeira vez, a pé, o Caminho de Santiago de Compostela e assinalou que está foi uma experiência que considera ‘um treino para a vida’.”.
Tendo partido de Pontevedra, no noroeste da Espanha, a cerca de 70 km de Compostela, seguiu por uma das rotas que levam até o túmulo do Apóstolo.
Em declarações à agência Ecclesia, Dom Nuno contou que fez o trajeto acompanhado por um sacerdote, um diácono e uma leiga; e juntos seguiram esta peregrinação de “contemplação” e despojamento.
Segundo o Prelado, ele já “tinha o desejo no coração há muitos anos” e, neste ano, pensou que deveria realizá-lo agora. Na verdade, como refere, “precisava de treino intenso da fraternidade mística de que o Papa nos fala”.
O Bispo Auxiliar de Braga declarou que “foi peregrinar em atitude de oração” e “fazer desta experiência, por um lado a contemplação, mas, depois, o amor concreto no esforço e atenção aos outros, no esquecimento de nós próprios para ajudar outros a caminhar”. Buscando uma preparação espiritualmente mais intensa do que fisicamente, tentou “encontrar a roupa e o calçado adequado” e foi “fazendo o caminho com esta grande vontade a partir de dentro”. E, confessando que só sentiu “o cansaço e o calor”, admitiu, no entanto, que “houve momentos em que parecia que o albergue não chegava”.
Foi na última etapa da peregrinação, já podendo avistar a Catedral de Santiago, que o Bispo peregrino disse ter sentido uma grande experiência de fraternidade, quando teve contacto com outros grupos, inclusive um de seminaristas de Braga “que ainda não conhecia”. Recordou que, “nesses quilómetros o grupo aumentou, nessa última etapa, Deus nos dá irmãos e irmãs”, e que sentiu “que era esse o objetivo; Deus coloca pessoas, também na nossa vida, e estamos disponíveis”. E espera voltar ao caminho, “nas férias e talvez com uma mochila mais leve”, uma lição que aprendeu, até por outros destinos de peregrinação mas sempre com este propósito.
Para o Prelado peregrino a pé como tantos outros, esta peregrinação ensinou-o a configurar a mochila da vida de modo a “não programar demasiado” e, mesmo em seu ministério episcopal, “estar aberto às surpresas de Deus”. E disse:
A nossa vida, o nosso magistério é ligado a um território, a uma diocese, a uma cultura e tradições como no Minho, e que é muito belo, mas a dimensão de peregrinação anima e este aspeto às vezes está esquecido”.
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O Caminho de Santiago remonta ao século IX e designa as diferentes rotas usadas pelos peregrinos para chegarem à catedral de Santiago de Compostela, na Espanha, e atravessa a Europa “desde os confins da Rússia e da Escandinávia até à bacia do Mediterrâneo e às costas das Ilhas Britânicas”.
Quase esquecido durante alguns séculos, é objeto de notável ressurgimento a partir das duas últimas décadas do século XX. Com efeito, a partir da década de 1980, o Caminho ganhou cada vez mais popularidade, para o que contribuiu o esforço de sinalização dos trilhos e percursos urbanos, principalmente no norte de Espanha (o Caminho Francês, o mais concorrido), mas também pelo resto de Espanha, em França e Portugal (principalmente no Norte), a par da recuperação e da abertura de novos albergues de peregrinos ao longo do caminho. Apesar de muitas das pessoas (segundo algumas fontes, a maioria), fazerem o percurso, não por motivos religiosos, mas por lazer, o número de peregrinos registados não tem parado de crescer, principalmente nos Anos Jubilares, quando o dia do apóstolo, 25 de julho coincide com um domingo (1993, 1999, 2004 e 2010; o próximo é em 2021).
Também nas últimas décadas, a interpretação do santuário católico sofreu uma evolução doutrinal, com a palavra “túmulo” a desaparecer dos discursos dos últimos papas. João Paulo II falou do “memorial de Santiago”, sem usar a palavra “relíquias”, e Bento XVI disse simplesmente que a catedral de Compostela “está ligada à memória de Santiago”.
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Em suma, Dom Nuno Almeida está em perfeita sintonia com a Tradição, com a doutrina, com o pulsar do povo cristão, que peregrina para o santuário e para o Além feliz, e com o essencial da sucessão apostólica. Esperamos que seja um grande Pastor em qualquer lugar que seja requisitada a sua ação e o recebam como eficaz orientador de consciências e de rumos!
2018.07.25 – Louro de Carvalho

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