É uma asserção convicta de Dom António Augusto Oliveira de Azevedo, Bispo
Auxiliar do Porto, que presidiu à peregrinação de 12 e 13 de julho, aniversária
da 3.ª aparição de Nossa Senhora em Fátima, onde alertou os peregrinos para
a existência dos que “semeiam palavras de divisão e gestos de ódio” e
condicionam a liberdade e a justiça.
Nela se apresentou pela primeira vez como
cardeal, numa celebração em Fátima, o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Augusto
dos Santos Marto.
Nesta
peregrinação inscreveram-se 41 grupos, provenientes de 18 países: Alemanha,
Bélgica, Brasil, Costa do Marfim, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, França,
Gabão, Holanda, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Malta, Reino Unido,
Polónia e Portugal.
A peregrinação começou na
Cova da Iria, na tarde do dia 12, com um pedido de oração pelos cristãos
perseguidos no Médio Oriente feito por Dom António Marto, que disse:
“Queremos
implorar o dom da paz para o martirizado Médio Oriente, mormente na Síria, e
para os nossos irmãos e irmãs cristãos, perseguidos e martirizados”.
Na saudação de abertura,
na Capelinha das Aparições, o anfitrião, o novo cardeal, cumprimentou o
presidente desta peregrinação, Dom António Augusto Azevedo, e dirigiu-se a
todos os peregrinos fazendo votos para que esta peregrinação seja um “verdadeiro
encontro com Jesus Cristo, Aquele que a Mãe celestial deu ao mundo e apresentou
aos pastorinhos”.
O novo purpurado salientou
que a peregrinação a Fátima é “um momento privilegiado para fazer a experiência
da ternura e da misericórdia da Mãe da Igreja” e, por isso, “é uma viagem
santa” e uma “experiência de oração, de silêncio interior, de busca de luz e de
verdade, de pureza de coração, de reconciliação, de conversão e de paz
connosco, com Deus e com os outros”. Advertiu que “peregrinar é muito mais
do que fazer turismo ou desporto” e precisou que esta é uma “viagem que se
empreende pondo-se a caminho, não só a pé, pelas estradas do mundo, mas
sobretudo fazendo um caminho interior”.
Por sua vez, Dom
António Augusto Azevedo dirigiu-se aos peregrinos presentes para frisar que
“uma peregrinação a Fátima é sempre um momento especial de encontro com Jesus
Cristo”. E sustentou que “Fátima é um grande sinal de Deus, um sinal do Céu
para o mundo”.
Horas depois
da abertura, procedeu-se à recitação do Rosário, às 21,30 horas, a que se
seguiu a Procissão das Velas e a Missa Internacional da noite.
***
Na sua
homilia da Missa a que presidiu na noite do dia 12, o Bispo Auxiliar do
Porto sublinhou que, em Fátima, se vive uma verdadeira “experiência” de Igreja,
marcada pela misericórdia. Com efeito, “neste santuário experimentamos a
riqueza de sermos povo de Deus e a força de sermos Igreja verdadeiramente
católica”, como disse o prelado auxiliar do Porto perante o novo cardeal
português, um dos concelebrantes. E, num vigoroso desafio aos peregrinos a darem
graças por este dom de Fátima, “um grande sinal de Deus para a Igreja e para o
mundo, disse:
“Junto
de Maria sentimos como é importante vencer as tentações dos particularismos de
indivíduos ou grupos, de superar focos de divisão e de nos congregarmos da
unidade”.
E assegurou:
“Damos
graças pelo bem que a partir de Fátima se tem multiplicado em muitas vidas, em
famílias, grupos e comunidades cristãs; pela paz que desde Fátima tem chegado a
muitos corações”.
Por outro lado, como sublinhou
Dom António Augusto Azevedo, Fátima é um “lugar de verdade”, porque é um lugar
que potencia uma abertura “à verdade de Deus”.
Sobre o sentido do
peregrinar, o presidente da celebração eucarística disse:
“A
peregrinação que cada um faz para Fátima é um caminhar progressivo na verdade.
Mas o percurso espiritual que deve continuar depois de partirmos deste
santuário é também um caminho de peregrinos mais conscientes da verdade da sua
missão de cristãos e de protagonistas da história do nosso tempo.”.
Para obviar ao sentimento
de “privação”, “carência” e “vazio” que o homem sente quando se afasta de Deus,
o prelado apontou a necessidade de “líderes sábios e competentes, capazes de
congregar os povos e as instituições na busca do bem comum, no respeito pela
liberdade e dignidade da pessoa”. Isto leva-nos a reconhecer, como peregrinos e
necessitados que somos, que “não podemos andar distraídos diante dos que
semeiam palavras de divisão e gestos de ódio e dos que querem condicionar a liberdade
e a justiça”, mas que devemos estar sempre disponíveis para assiduamente escutarmos
os profetas” e aprendermos com a simplicidade” dos pequeninos, como foi o exemplo
dos pastorinhos.
A terminar a
homilia do dia 12, o ilustre prelado deixou, ainda, uma palavra aos jovens para que abram
o coração “à misericórdia de Deus”.
***
A peregrinação prosseguiu no dia 13 com a recitação do Rosário às
9 horas, seguindo-se-lhe a Procissão, a Missa Internacional Aniversária
do encerramento da peregrinação, com a Bênção dos Doentes e a Procissão do
Adeus a Nossa Senhora.
Na homilia que proferiu nesta Missa
Internacional Aniversária, o Bispo Auxiliar do Porto, Dom António Augusto
Azevedo, desafiou todos os cristãos a não se resignarem e a não caírem na
indiferença num mundo “cheio de incertezas e algumas sombras”. E, perante 90
concelebrantes, quatro deles bispos e um cardeal, exortou os peregrinos:
“Diante
do rosto do mal no nosso tempo, tenha ele o nome de guerra ou terrorismo,
violência ou exclusão, abandono ou solidão, injustiça ou corrupção, precisamos de
ter esperança”.
Mas não
é só do mal explícito que nos devemos acautelar. Na verdade, não podemos contemporizar
com um horizonte cheio de dúvidas, com um “presente cheio de incertezas” ou com
um “futuro com algumas sombras”. Ao invés, como precisou o prelado,
necessitamos “de ter esperança, de sonhar e de acreditar” e, sobretudo, “não
podemos cair na resignação, na indiferença ou na banalização do mal nem nos remeter
ao individualismo ou comodismo fáceis”.
Depois,
exortou:
“Não
queiramos ser uma esperança abortada nem hipotequemos, como aconteceu tantas
vezes no último século, as nossas esperanças a utopias ilusórias ou
messianismos equivocados”.
Salientando
o papel de Fátima como “janela de esperança que Deus deixou aberta” à humanidade,
sustentou que este local e a sua mensagem são hoje cada vez mais “necessários”
numa sociedade que tem sofrido na pele as “consequências dramáticas” de
fenómenos como a guerra, o terrorismo, a pobreza e a discriminação étnica ou
religiosa.
O Bispo Auxiliar do Porto chamou a
atenção para o paradoxo existente neste mundo marcado pela abundância “desde as
novas tecnologias aos bens de consumo” ou a “multiplicidade de escolhas e
oportunidades”, onde “abundam os sinais de destruição e desperdício”, onde
“existe medo e desespero” e onde “alguns até perderam o gosto e a alegria de
viver”.
Neste
quadro, exortou os peregrinos que participaram nas celebrações no Recinto de
Oração do Santuário e todas as comunidades católicas, a que, através da sua
“ação” e “oração”, a que continuem a ser sinais do amor e da esperança que Deus
quer transmitir a toda a humanidade, apesar das suas “infidelidades”.
Citando
o Papa Francisco, desafiou os peregrinos presentes na Cova da Iria, provenientes
de 18 países, num total de 38 grupos organizados, a deixarem-se orientar pelos
princípios da vida cristã – luta, vigilância e discernimento – lembrando que de
Fátima, nos últimos cem anos, “tem partido uma forte onde de esperança que tem
animado muitas vidas”.
Referindo-se concretamente à terceira
Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, a 13 de julho de 1917, este prelado
da diocese do Porto afirmou que nos últimos cem anos “tem irradiado de Fátima
um manto de luz e uma forte onda de esperança que tem animado muitas vidas”.
Dom António
Augusto Azevedo celebrou em Fátima, precisamente no dia 13, o 32.º aniversário
da sua ordenação sacerdotal (ocorrera a 13 de julho de 1986), data evocada por Dom António Marto nas palavras finais que
dirigiu aos peregrinos.
E o
novo purpurado, que se apresentou pela primeira vez em Fátima depois de ter
recebido as insígnias cardinalícias, recordou que, nesta peregrinação
que evoca o Segredo de Fátima, Nossa Senhora se apresentou aos pastorinhos com
uma mensagem de esperança que deve ser perpetuada.
Em
julho de 1917, disse, “Nossa Senhora pôs em evidência o quadro do mundo de
então”, marcado pela guerra e pela perseguição à Igreja. E concluiu, recordando
palavras de São João Paulo II em Fátima, que “foi a dor da mãe a falar, uma mãe
que trouxe, no entanto, uma palavra de esperança e pediu aos filhos para não se
deixarem derrotar pelo mal”. E exortou: “Tenhamos
isso bem presente”.
Por fim, no final da peregrinação, o
Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, deixou como habitualmente
uma palavra de “estima” e uma “saudação carinhosa” a todos quantos participaram
nas celebrações destes dois dias, com particular atenção aos doentes e às
crianças. E cumprimentou também os peregrinos de várias línguas que marcaram
presença no Santuário, vindos de diferentes países.
***
Se não for conveniente começar por Fátima, como
opinava o Cardeal Tarcísio Bertone, antigo Secretário de Estado do Vaticano,
pelo menos Fátima e a sua Mensagem merecem a atenção dos crentes, dado que permite
estabelecer uma especial conexão entre Evangelho, Igreja e Mundo, além de ser
um testemunho vivo da solicitude materna de Maria em favor dos homens junto de Deus
e em prol da realização do desígnio de Deus nos homens, podendo ajudar na
construção, incremento e desenvolvimento de cada pessoa humana e das comunidades.
2018.07.14 – Louro de Carvalho
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