sábado, 14 de julho de 2018

Fátima favorece a experiência comunitária da Igreja


É uma asserção convicta de Dom António Augusto Oliveira de Azevedo, Bispo Auxiliar do Porto, que presidiu à peregrinação de 12 e 13 de julho, aniversária da 3.ª aparição de Nossa Senhora em Fátima, onde alertou os peregrinos para a existência dos que “semeiam palavras de divisão e gestos de ódio” e condicionam a liberdade e a justiça.
Nela se apresentou pela primeira vez como cardeal, numa celebração em Fátima, o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Augusto dos Santos Marto.


Nesta peregrinação inscreveram-se 41 grupos, provenientes de 18 países: Alemanha, Bélgica, Brasil, Costa do Marfim, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, França, Gabão, Holanda, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Malta, Reino Unido,  Polónia e Portugal.
A peregrinação começou na Cova da Iria, na tarde do dia 12, com um pedido de oração pelos cristãos perseguidos no Médio Oriente feito por Dom António Marto, que disse:
Queremos implorar o dom da paz para o martirizado Médio Oriente, mormente na Síria, e para os nossos irmãos e irmãs cristãos, perseguidos e martirizados”.
Na saudação de abertura, na Capelinha das Aparições, o anfitrião, o novo cardeal, cumprimentou o presidente desta peregrinação, Dom António Augusto Azevedo, e dirigiu-se a todos os peregrinos fazendo votos para que esta peregrinação seja um “verdadeiro encontro com Jesus Cristo, Aquele que a Mãe celestial deu ao mundo e apresentou aos pastorinhos”.
O novo purpurado salientou que a peregrinação a Fátima é “um momento privilegiado para fazer a experiência da ternura e da misericórdia da Mãe da Igreja” e, por isso, “é uma viagem santa” e uma “experiência de oração, de silêncio interior, de busca de luz e de verdade, de pureza de coração, de reconciliação, de conversão e de paz connosco, com Deus e com os outros”. Advertiu que “peregrinar é muito mais do que fazer turismo ou desporto” e precisou que esta é uma “viagem que se empreende pondo-se a caminho, não só a pé, pelas estradas do mundo, mas sobretudo fazendo um caminho interior”.
Por sua vez, Dom António Augusto Azevedo dirigiu-se aos peregrinos presentes para frisar que “uma peregrinação a Fátima é sempre um momento especial de encontro com Jesus Cristo”. E sustentou que “Fátima é um grande sinal de Deus, um sinal do Céu para o mundo”.
Horas depois da abertura, procedeu-se à recitação do Rosário, às 21,30 horas, a que se seguiu a Procissão das Velas e a Missa Internacional da noite.
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Na sua homilia da Missa a que presidiu na noite do dia 12, o Bispo Auxiliar do Porto sublinhou que, em Fátima, se vive uma verdadeira “experiência” de Igreja, marcada pela misericórdia. Com efeito, “neste santuário experimentamos a riqueza de sermos povo de Deus e a força de sermos Igreja verdadeiramente católica”, como disse o prelado auxiliar do Porto perante o novo cardeal português, um dos concelebrantes. E, num vigoroso desafio aos peregrinos a darem graças por este dom de Fátima, “um grande sinal de Deus para a Igreja e para o mundo, disse:
Junto de Maria sentimos como é importante vencer as tentações dos particularismos de indivíduos ou grupos, de superar focos de divisão e de nos congregarmos da unidade”.
E assegurou:
Damos graças pelo bem que a partir de Fátima se tem multiplicado em muitas vidas, em famílias, grupos e comunidades cristãs; pela paz que desde Fátima tem chegado a muitos corações”.
Por outro lado, como sublinhou Dom António Augusto Azevedo, Fátima é um “lugar de verdade”, porque é um lugar que potencia uma abertura “à verdade de Deus”.
Sobre o sentido do peregrinar, o presidente da celebração eucarística disse:
A peregrinação que cada um faz para Fátima é um caminhar progressivo na verdade. Mas o percurso espiritual que deve continuar depois de partirmos deste santuário é também um caminho de peregrinos mais conscientes da verdade da sua missão de cristãos e de protagonistas da história do nosso tempo.”.
Para obviar ao sentimento de “privação”, “carência” e “vazio” que o homem sente quando se afasta de Deus, o prelado apontou a necessidade de “líderes sábios e competentes, capazes de congregar os povos e as instituições na busca do bem comum, no respeito pela liberdade e dignidade da pessoa”. Isto leva-nos a reconhecer, como peregrinos e necessitados que somos, que “não podemos andar distraídos diante dos que semeiam palavras de divisão e gestos de ódio e dos que querem condicionar a liberdade e a justiça”, mas que devemos estar sempre disponíveis para assiduamente escutarmos os profetas” e aprendermos com a simplicidade” dos pequeninos, como foi o exemplo dos pastorinhos.
A terminar a homilia do dia 12, o ilustre prelado deixou, ainda, uma palavra aos jovens para que abram o coração “à misericórdia de Deus”.
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A peregrinação prosseguiu no dia 13 com a recitação do Rosário às 9 horas, seguindo-se-lhe a Procissão, a Missa Internacional Aniversária do encerramento da peregrinação, com a Bênção dos Doentes e a Procissão do Adeus a Nossa Senhora.

Na homilia que proferiu nesta Missa Internacional Aniversária, o Bispo Auxiliar do Porto, Dom António Augusto Azevedo, desafiou todos os cristãos a não se resignarem e a não caírem na indiferença num mundo “cheio de incertezas e algumas sombras”. E, perante 90 concelebrantes, quatro deles bispos e um cardeal, exortou os peregrinos:
Diante do rosto do mal no nosso tempo, tenha ele o nome de guerra ou terrorismo, violência ou exclusão, abandono ou solidão, injustiça ou corrupção, precisamos de ter esperança”.
Mas não é só do mal explícito que nos devemos acautelar. Na verdade, não podemos contemporizar com um horizonte cheio de dúvidas, com um “presente cheio de incertezas” ou com um “futuro com algumas sombras”. Ao invés, como precisou o prelado, necessitamos “de ter esperança, de sonhar e de acreditar” e, sobretudo, “não podemos cair na resignação, na indiferença ou na banalização do mal nem nos remeter ao individualismo ou comodismo fáceis”.
Depois, exortou:
Não queiramos ser uma esperança abortada nem hipotequemos, como aconteceu tantas vezes no último século, as nossas esperanças a utopias ilusórias ou messianismos equivocados”.
Salientando o papel de Fátima como “janela de esperança que Deus deixou aberta” à humanidade, sustentou que este local e a sua mensagem são hoje cada vez mais “necessários” numa sociedade que tem sofrido na pele as “consequências dramáticas” de fenómenos como a guerra, o terrorismo, a pobreza e a discriminação étnica ou religiosa.
O Bispo Auxiliar do Porto chamou a atenção para o paradoxo existente neste mundo marcado pela abundância “desde as novas tecnologias aos bens de consumo” ou a “multiplicidade de escolhas e oportunidades”, onde “abundam os sinais de destruição e desperdício”, onde “existe medo e desespero” e onde “alguns até perderam o gosto e a alegria de viver”.
Neste quadro, exortou os peregrinos que participaram nas celebrações no Recinto de Oração do Santuário e todas as comunidades católicas, a que, através da sua “ação” e “oração”, a que continuem a ser sinais do amor e da esperança que Deus quer transmitir a toda a humanidade, apesar das suas “infidelidades”.
Citando o Papa Francisco, desafiou os peregrinos presentes na Cova da Iria, provenientes de 18 países, num total de 38 grupos organizados, a deixarem-se orientar pelos princípios da vida cristã – luta, vigilância e discernimento – lembrando que de Fátima, nos últimos cem anos, “tem partido uma forte onde de esperança que tem animado muitas vidas”.
Referindo-se concretamente à terceira Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, a 13 de julho de 1917, este prelado da diocese do Porto afirmou que nos últimos cem anos “tem irradiado de Fátima um manto de luz e uma forte onda de esperança que tem animado muitas vidas”.
Dom António Augusto Azevedo celebrou em Fátima, precisamente no dia 13, o 32.º aniversário da sua ordenação sacerdotal (ocorrera a 13 de julho de 1986), data evocada por Dom António Marto nas palavras finais que dirigiu aos peregrinos.
E o novo purpurado, que se apresentou pela primeira vez em Fátima depois de ter recebido as insígnias cardinalícias, recordou que, nesta peregrinação que evoca o Segredo de Fátima, Nossa Senhora se apresentou aos pastorinhos com uma mensagem de esperança que deve ser perpetuada.
Em julho de 1917, disse, “Nossa Senhora pôs em evidência o quadro do mundo de então”, marcado pela guerra e pela perseguição à Igreja. E concluiu, recordando palavras de São João Paulo II em Fátima, que “foi a dor da mãe a falar, uma mãe que trouxe, no entanto, uma palavra de esperança e pediu aos filhos para não se deixarem derrotar pelo mal”. E exortou: “Tenhamos isso bem presente”.
Por fim, no final da peregrinação, o Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, deixou como habitualmente uma palavra de “estima” e uma “saudação carinhosa” a todos quantos participaram nas celebrações destes dois dias, com particular atenção aos doentes e às crianças. E cumprimentou também os peregrinos de várias línguas que marcaram presença no Santuário, vindos de diferentes países.
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Se não for conveniente começar por Fátima, como opinava o Cardeal Tarcísio Bertone, antigo Secretário de Estado do Vaticano, pelo menos Fátima e a sua Mensagem merecem a atenção dos crentes, dado que permite estabelecer uma especial conexão entre Evangelho, Igreja e Mundo, além de ser um testemunho vivo da solicitude materna de Maria em favor dos homens junto de Deus e em prol da realização do desígnio de Deus nos homens, podendo ajudar na construção, incremento e desenvolvimento de cada pessoa humana e das comunidades.
2018.07.14 – Louro de Carvalho

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