sábado, 2 de abril de 2016

11.º Aniversário da morte do Papa São João Paulo II

Passa efetivamente hoje, dia 2 de abril, mais um aniversário da morte do Papa polaco. Como hoje, o dia de semana era também um sábado, véspera da Festa da Divina Misericórdia por ele instituída, em maio de 2000, com base na experiência espiritual vivenciada na Polónia sob o impulso de Santa Faustina.
Karol Wojtyła nasceu em nasceu em Wadowice, pequena localidade do sul da Polónia, a 18 de maio de 1920. Tornou-se o Papa e, por via disso, o líder mundial da Igreja Católica a 16 de outubro de 1978, sucedendo ao breve pontificado de 33 dias do Papa João Paulo I (Albino Luciani), o Papa do sorriso, que tinha sucedido a Paulo VI, o Papa da contemporaneidade.
Do longo pontificado do Papa Wojtyła (o terceiro maior da História, apenas mais curto do que os dos papas São Pedro, que terá durado 34 anos, e Pio IX, que durou 31 anos), destaca-se a capacidade de união entre povos de diferentes credos, bem como no impulso às boas relações entre Igreja Católica e judaísmo e islamismo, as religiões do Livro.
O Papa João Paulo II visitou 129 países, beatificou 1340 pessoas e canonizou 483 santos.
Esteve em Portugal por quatro vezes: 12 a 15 de maio de 1982; 2 de março de 1983 (escala técnica no Aeroporto de Lisboa na viagem apostólica à América Central, com discurso aos portugueses); 10 a 13 de maio de 1991; e 12 e 13 de maio de 2000. Nestas viagens, com exceção da segunda (uma escala técnica), o epicentro foi o santuário de Fátima: em 1982, era o 1.º aniversário do atentado que sofrera na Praça de São Pedro, tendo depois passado por Lisboa, Évora, Coimbra, Braga e Porto; em 1991, era o 10.º aniversário do atentado e tinha caído o muro de Berlim, tendo o Papa alertado para os efeitos nefastos de uma nova onda ideológica com base no lucro e no hedonismo, depois de ter passado pela Madeira e pelos Açores; e, em 2000, era o ano do jubileu milenar, tendo o Papa procedido à beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco e mandado revelar a 3.º parte do segredo fatimita.    
Morreu a 2 de abril de 2005, em razão de problemas de saúde relacionados com a idade, sobretudo respiratórios, e após o notório agravamento da doença de Parkinson, de que padecia.
O seu sucessor, o Papa Bento XVI (o alemão Joseph Ratzinger, agora Papa emérito), proclamou-o ‘Venerável’, a 19 de dezembro de 2009, e ‘Beato’, a 1 de maio de 2011. E o Papa Francisco inscreveu-o solenemente no catálogo dos santos (canonizou-o) a 27 de abril de 2014 juntamente com são João XXIII, em celebração solene na Praça de São Pedro com a participação do Papa emérito.
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O Papa João Paulo II instituiu, como se disse, em maio de 2000, a Festa da Divina Misericórdia, decretando que o II domingo de Páscoa passasse a denominar-se, a partir de então, Domingo da Divina Misericórdia. Esta iniciativa remonta à mensagem das visões de santa Faustina, a apóstola da Misericórdia, no quadro das quais Jesus garantiu:
“Neste dia, estão abertas as entranhas da minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da fonte da minha misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das penas e culpas. Neste dia, estão abertas todas as comportas divinas pelas quais fluem as graças. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de mim.”
Ora, Jesus Cristo não ensinou apenas à Irmã Faustina Kowalska os pontos fundamentais da confiança e da misericórdia para com os outros, mas também revelou modos especiais de vivenciar a resposta à sua Misericórdia. O termo “devoção” significa a fé na garantia do cumprimento das promessas que fazemos; é a entrega da vida ao Senhor, que é a Misericórdia. E, ao entregar a vida à Divina Misericórdia, isto é, ao próprio Jesus Cristo, o cristão torna-se instrumento da Misericórdia para com o próximo segundo o mandamento evangélico: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
Também não é Santa Faustina a única apóstola da misericórdia. Parece que já nos esquecemos da devoção ao Coração de Jesus a partir das visões de Santa Margarida Maria Alacoque no mosteiro de Paray-le-Monial, no século XVII. Ora, em 1675, durante a oitava do Corpo de Deus, Jesus manifestou-se-lhe com o peito aberto e apontando o seu próprio coração com o dedo, proferiu:
Eis o Coração que tem amado tanto aos homens a ponto de nada poupar até exaurir-se e consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento não recebo senão ingratidão da maior parte deles.”
E recentemente a devoção à Divina Misericórdia foi reforçada pelos apelos feitos por Jesus à famosa mística italiana  Mamma Carmela Carabelli.
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No entanto, sabe-se que a devoção à Divina Misericórdia como era proposta pela irmã Faustina, foi condenada no pontificado de Pio XII e a literatura a ela atinente expressamente proibida.
Tudo mudou com o Concílio Vaticano II e o Papa João Paulo II, além da instituição da festa e da canonização de Faustina, apresentou como segunda encíclica do pontificado a Dives in Misericordia.  E, no seu n.º 2, o Papa Wojtyła afirma:
“Deste modo em Cristo e por Cristo, Deus com a sua misericórdia torna-se também particularmente visível; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade, que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado ‘misericórdia’. Cristo confere a toda a tradição do Antigo Testamento quanto à misericórdia divina sentido definitivo. Não somente fala dela e a explica com o uso de comparações e parábolas, mas sobretudo Ele próprio encarna-a e personifica-a. Ele próprio é, em certo sentido, a misericórdia. Para quem a vê n'Ele – e n'Ele a encontra – Deus torna-se particularmente ‘visível’ como Pai rico em misericórdia”.
Depois, convocou o Ano Santo da Redenção em 1983, para celebrar a morte de Cristo, o grande ato, o ato por excelência, da misericórdia, e, para o ano de 2000, o ano jubilar do milénio sob o signo da confiança e da misericórdia.
Já o Papa João Paulo I, na audiência geral de 20 de setembro de 1978, se referiu à misericórdia divina:
“E é Ele, o Deus da misericórdia, que acende em mim a confiança; por isso, não me sinto nem só, nem inútil, nem abandonado, mas integrado num destino de salvação, que um dia virá a levar-me ao Paraíso. […] Deus detesta as faltas, porque são faltas. Mas, por outro lado, em certo sentido, ama as faltas, enquanto Lhe dão ensejo de mostrar a sua misericórdia e a nós o de permanecermos humildes e compreendermos as faltas do próximo e delas nos compadecermos.”
Por sua vez, Bento XVI também prestou tributo à misericórdia divina por várias vezes. A título de exemplo, cito palavras suas, da última homilia em 13 de fevereiro de 2013, quarta-feira de cinzas e já depois de haver anunciado a sua renúncia ao Sumo Pontificado:
“Mas este regresso a Deus é possível? Sim, porque há uma força que não habita no nosso coração, mas emana do próprio coração de Deus. É a força da sua misericórdia. Continua o profeta: ‘Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia’. A conversão ao Senhor é possível como ‘graça’, já que é obra de Deus e fruto da fé que depomos na sua misericórdia.
Mas é o Papa Francisco o grande apóstolo da misericórdia pelo discurso explícito abundante sobre o tema, pelas inúmeras iniciativas que pretendem abranger a todos e a cada um, mesmo entre os não crentes e, sobretudo, pela tentativa de fazer mergulhar esta poderosa espiritualidade (que não uma espiritualidadezinha) nas diversas e fundas dimensões bíblicas, daí tirando todas as consequências para a vida das pessoas: na relação com Deus, nas relações interpessoais, no compromisso com os pobres, na participação na vida pública e na mudança das instituições e estruturas de injustiça e exploração em plataformas de justiça social para um mundo de genuína fraternidade.
Quem iria dizer que o Papa apelidado de marxista e subversivo, com marcada agenda política, económica e ecológica, tem a força para ser o Papa da misericórdia?
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Penso ser de meditar serenamente o voto que o confessor segreda ao penitente e que integra a fórmula da absolvição (a partir da reforma litúrgica conciliar):
“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz”.
Quer dizer que a misericórdia se exprime em pleno na morte e ressurreição de Cristo, se consuma na reconciliação do mundo com o Pai, é obra do Espírito Santo, tem ao seu serviço a Igreja e o seu efeito prático é o perdão e a paz. E não podemos esquecer que é no exercício da sua misericórdia e na concessão do perdão que se evidencia o poder de Deus.

2016.04.02 – Louro de Carvalho

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