Celebra-se todos
os anos, a 22 de abril, o Dia Mundial da Terra. A data foi
estabelecida, em 1970, pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, que resolveu
proceder à organização dum protesto contra a poluição da Terra, depois de
verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Bárbara, na
Califórnia, ocorrido em 1969. Inspirado pelos protestos dos jovens
norte-americanos que contestavam a guerra, Gaylord Nelson, desenvolveu esforços
para conseguir colocar o tema da preservação da Terra na agenda política
norte-americana.
A população
aderiu em força à manifestação e mais de 20 milhões de americanos
manifestaram-se a favor da preservação da terra e do ambiente e a efeméride já
tem desencadeado milhares de iniciativas.
A propósito do
impacto ambiental que o Dia da Terra
deve exercer, os investigadores e as associações ambientalistas têm alertado
para o perigo e consequências do aquecimento global da Terra (a que urge
obviar), nomeadamente: o aumento da
temperatura global da Terra; a extinção de várias espécies de animais; o aumento
do nível dos oceanos; a escassez de água potável; e o cada vez maior número de
catástrofes naturais, como tempestades, secas e ondas de calor.
***
Neste Dia da Terra de 2016, quatro meses após a conclusão do acordo de
Paris, dirigentes
de 175 países assinaram formalmente esse acordo sobre o clima na sede das
Nações Unidas, em Nova Iorque, numa cerimónia protocolar que marca o primeiro passo no processo de
vinculação dos países às promessas que fizeram para reduzir as emissões de
gases com efeito de estufa.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou de “momento histórico” a cerimónia que
marca a maior assinatura conjunta de um tratado internacional num dia (175 países é um número recorde – só faltam 20 para os 195 que participaram
na cimeira de Paris). E disse: “Hoje, assinamos uma nova aliança com o futuro”.
Muitos dos países subscritores do acordo, entre os quais os três maiores
emissores desses gases – Estados Unidos, China e Índia – não estiveram
representados ao mais alto nível, mas cerca de 60 países fizeram-se representar
pelo chefe de Estado ou de Governo.
China e
Estados Unidos estiveram representados, respetivamente, pelo vice-primeiro-ministro
Zhang Gaoli e pelo secretário de Estado americano John Kerry. Este último
assinou o acordo com a sua neta em seus braços e foi muito aplaudido. Portugal, por sua vez, enviou o ministro do Ambiente,
João Matos Fernandes.
Os
signatários que hoje subscreveram o acordo representam mais de 93% das emissões
de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, de acordo com
a ONG World Resources Institute. A este
respeito, John Kerry declarou:
“Já no ano
passado, os investimentos em energias renováveis registaram uma alta histórica,
quase 330 biliões de dólares. E espera-se investimentos de triliões de dólares
até ao final do século”.
Porém, a
assinatura é apenas o primeiro passo. O acordo entra
em vigor quando for ratificado por pelo menos 55 países, responsáveis por pelo
menos 55% das emissões de gases do efeito estufa.
E, embora a data prevista para a entrada em vigor seja o ano de 2020, diversos
dirigentes manifestaram a intenção de ratificar o acordo rapidamente para que
possa vigorar antes disso.
Para atingir
rapidamente a marca “55 países/55%”, será preciso que, ao menos, um ou dois dos
grandes poluidores (Estados Unidos, China, União Europeia, Rússia, Índia) ratifiquem o acordo.
Pequim (responsável
por 20% das emissões) e Washington
(por 18%) comprometeram-se a fazê-lo antes do final deste ano. Do lado americano, o acordo foi negociado para que o presidente Obama não
necessite da aprovação do Congresso controlado pelos republicanos hostis ao
texto.
A China e os Estados Unidos, além de terem afirmado que vão ratificar o
acordo ainda em 2016, instaram os outros países a fazê-lo em tempo útil, para
que possa entrar em vigor em 2016 ou em 2017. Portugal, segundo o que referiu o
ministro do Ambiente à agência Lusa,
vai iniciar rapidamente o processo de ratificação para que possa ser
concretizado dentro de um ano.
A este respeito, o ministro português reconhece que a ratificação dos tratados
internacionais é, em Portugal, “um processo complexo que demora cerca de seis a
nove meses”, mas “Portugal dará muito depressa início” aos procedimentos
necessários para “garantir que no dia 23 de abril de 2017 está tudo em
condições para que o acordo possa ser ratificado”.
***
Em termos de declarações públicas, François Hollande, presidente francês, que
simbolicamente foi o primeiro a assinar (fora o anfitrião na cimeira
de Paris), dirigiu-se aos
participantes para apelar à rápida ratificação, de maneira que o acordo se
traduza efetivamente em atos, e destacou a responsabilidade da UE (União Europeia), afirmando que os Estados-membros devem “dar o exemplo” e ratificar o
texto até ao final deste ano. E frisou:
“Nunca antes, na história da ONU, foi possível juntar
170 países para assinar em conjunto um acordo. Assume-se hoje mais do que um
compromisso; será um texto inscrito na legislação internacional, de forma
irreversível”.
Treze
pequenos países altamente vulneráveis às mudanças climáticas – entre os quais Fiji,
Tuvalu, Maldivas, Belize, Barbados e Samoa – disseram-se dispostos a ratificar
o acordo já neste mesmo dia. E o primeiro-ministro de Tuvalu, um arquipélago
polinésio, Enele Sosene Sopoaga, sustentou que “o acordo de
Paris deve salvar Tuvalu e salvar o planeta”.
Dilma
Rousseff, a presidente do Brasil, agora ameaçada por um processo de impeachment, fez um discurso positivo
sobre o acordo e, no final do seu discurso, evocou brevemente a crise política
no país, expressando a sua esperança de que os brasileiros irão impedir
qualquer “retrocesso” da democracia – obviamente também a da relação com o
Ambiente.
E
Ban Ki-moon, secretário-geral da
ONU, afirmou esperar que os países concordem já hoje em ratificar o acordo, a
fim de “deixar claro aos governos e ao mundo dos negócios que é chegada a hora
de intensificar as ações sobre o clima”. Isto, porque o tempo corre depressa, sendo que o último mês foi, de acordo com os
meteorologistas americanos, o março mais quente já registado e que, de há 11
meses a esta parte, cada mês tem batido um recorde de calor, uma série inédita
em 137 anos de registo.
***
Também a
sociedade civil comemorou a assinatura do acordo.
Assim, Michael
Brune, diretor-executivo do Sierra Club, declarou em comunicado:
“Este é um momento que vai entrar para os
livros de história, um ponto de curva para a humanidade para avançar na direção
de uma economia 100% limpa”.
Diligente
ativista pelo clima e mensageiro da ONU para a Paz, o ator Leonardo DiCaprio, assegurando que
o acordo “é um motivo de esperança, mas não é suficiente”, sublinhou:
“Podemos congratular-nos, mas não
terá significado, se [os líderes] voltarem para os respetivos países e falharem
nas promessas de implementação do acordo histórico. É o momento para ser
audacioso e para ações sem precedentes”.
E,
garantindo que o mundo está contemplando as medidas que os seus decisores
tomam, defende que “não precisamos de mais retórica, mais desculpas, mais
manipulação da ciência e da política por empresas ligadas aos combustíveis
fósseis”, como o petróleo ou o carvão.
***
Estipulado por 195 países, o acordo de Paris contra as alterações
climáticas e todas as suas consequências, que permanecerá aberto por um ano aos restantes países dos 195 países que o negociaram, define como objetivo a limitação do aquecimento global a
dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais através das energias
limpas. Ou seja, o acordo compromete os signatários a limitar o aumento
da temperatura “bem abaixo dos 2°C” e “continuar os esforços” para limitar o
aumento a 1,5ºC. É muito ambicioso e requer um compromisso sério e centenas de
biliões de dólares para fazer a transição para as energias limpas.
Segue-se,
por pertinente, uma breve resenha do acordo.
Na reta final de um ano de temperaturas recorde e após
4 anos de intensas negociações, a cimeira climática de Paris chegou, a 12 de
dezembro de 2015, a um acordo para obviar às alterações climáticas e suas
consequências. Seis anos após o fracasso da cimeira de Copenhaga, reinava a
euforia, falando-se mesmo em “acordo histórico”. Ultrapassaram-se as
divergências que existiam entre os 195 países.
Os seus pontos principais sintetizam-se no seguinte:
- O objetivo
é, como se referiu acima, conter a subida da temperatura do planeta “muito
abaixo dos 2° Celsius” e prosseguir os esforços para que os termómetros não
subam mais do que grau e meio – meta ambiciosa, dado que as promessas de
redução das emissões de gases com efeito estufa, feitas pelos países na fase
preparatória da COP 21, apontam
atualmente para uma subida de 3° na temperatura planetária em relação à era
pré-industrial.
- O plano configura
a clara pretensão de atingir o mais depressa possível o pico de emissões
poluentes, para que, a partir de 2050, haja um equilíbrio entre emissões de
gases de efeito estufa e a absorção por sumidouros de carbono, por exemplo, as
florestas.
- Fica
previsto um mecanismo de revisão dos objetivos fixados pelos países a cada 5
anos, sendo a primeira revisão em 2025 e devendo as subsequentes assinalar
progressão face à anterior.
- Fica
estabelecida a ajuda dos países ricos às nações em desenvolvimento, para
financiar a transição para as energias renováveis e a adaptação aos efeitos do
aquecimento, tendo os países ricos prometido dar 100 mil milhões de dólares por
ano (ou seja, cerca
de 91 mil milhões de euros anuais), a partir de 2020, e podendo o
montante ser revisto em alta cinco anos depois.
- Fica
reconhecida a necessidade dum mecanismo de “perdas e danos” associado aos
efeitos irreversíveis das mudanças climáticas, mas sem implicar compensações.
- O acordo,
que entra em vigor em 2020, é parcialmente vinculativo mas não prevê sanções.
Acima de tudo, consagra a importância de abandonar progressivamente as energias
fósseis a favor de fontes renováveis.
***
Será desta feita que teremos um zelo sustentável pelo
Planeta estribado numa reta ecoeconomia, para que os vindouros nele possam
viver em paz, com as bases do bem-estar asseguradas? Assim seja!
2016.04.22 –
Louro de Carvalho
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