Um vulcão
entrou em erupção, a 10 de julho, no Sul da Islândia, na península de
Reykjanes. O fenómeno aconteceu após dias de atividade sísmica, com milhares de
abalos registados a menos de 40 quilómetros de Reiquiavique, a capital
islandesa. A intensidade do fenómeno sismológico tinha posto em alerta o Gabinete
Meteorológico Islandês (IMO), deixando entrever a hipótese de erupção vulcânica
– que se verificou naquela data, tendo a erupção, de acordo com a revista The Reykjavík Grapevine, que citava a
emissora pública da Islândia, começado às 16h40 locais.
A situação
encontrava-se em fase inicial, com recomendação às pessoas de não se
aproximarem do local, nem de passarem de carro na península, até as equipas de
emergência estarem no terreno.
As reações iniciais
dos especialistas indicavam não se tratar de fenómeno de grandes dimensões. “De
momento, é uma erupção muito pequena”, dizia Matthew Roberts, do IMO.
Os
meteorologistas consideram improvável que a população venha a ser afetada, pois
o sistema vulcânico em Reykjanes expele lava sem cinza. Por isso, os voos no
aeroporto internacional de Reiquiavique não foram cancelados e prosseguem com
normalidade – ao invés do sucedido em 2010, quando a famosa erupção do
Eyjafjallajökull, que se prolongou durante três meses, levou ao cancelamento de mais de 100 mil
voos e obrigou centenas de pessoas a saírem das suas casas, devido
à quantidade de gases e cinzas libertadas para a atmosfera.
A espessa nuvem
de cinzas que assolou a Europa ocasionou uma estadia mais prolongada da então
chanceler alemã Angela Merkel em Portugal e levou as autoridades nacionais a
pensar num percurso alternativo (que não concretizou) para a viagem do Papa
Bento XVI ao nosso país.
A península
de Reykjanes alberga um sistema vulcânico de cerca de 19 quilómetros de
comprimento e 6 de largura, que esteve inativo durante cerca de 6000 anos. Porém,
o cenário mudou: em 2021, a erupção com a extensão de mais de 500 metros
continuou ininterrupta, durante seis meses e levou milhares de turistas a
deslocarem-se à área para a observar; e, há menos de um ano, ocorreu nova
erupção, desta feita por três semanas.
***
“Vulcão” – termo provindo de “Vulcanus”, deus do fogo na mitologia romana, de
que derivam os termos “Vulcanologia” (ciência dos vulcões) e “Vulcanólogo”
e “Vulcanologista” (profissional da área da Vulcanologia que tem conhecimentos
em Geofísica e em outros ramos da Geologia, como a Petrologia e
a Geoquímica) – é uma estrutura geológica, tipicamente de formato cónico e
montanhoso, criada quando o magma, gases e partículas quentes
(como cinza vulcânica) saem para a superfície. Ejetam na atmosfera
grandes quantidades de poeira, de gases e de aerossóis ,
interferindo no clima. São, não raro, causadores de poluição natural.
A erupção pode redundar em grave desastre natural, por vezes, de
consequências planetárias. Tal como outros eventos naturais, a erupção é
quase sempre imprevisível e causa indiscriminados danos. Entre outros,
desvaloriza os imóveis localizados nas cercanias, condiciona o turismo,
interrompe o tráfego aéreo e consome dinheiros públicos e privados em
reconstruções. O vulcão tende a formar-se junto das margens das placas
tectónicas, pelo que, não raro, se seguem a sismos. A exceção é quando ocorre
em zonas de “hot spots” (pontos quentes), locais em que o manto superior atinge
altas temperaturas. O solo nas cercanias de vulcão (solo de origem
vulcânica), formado de lava arrefecida, tende a ser fértil para
a agricultura.
A proporção de rochas, de gases e de lava que o vulcão emite
define o tipo de erupção, que recebe nome conexo com vulcões onde se topou um comportamento
vulcanológico caraterístico. Alguns vulcões exibem um tipo de erupção num
período de atividade, enquanto outros mostram uma sequência de diferentes
tipos. A erupção vulcânica é, quanto à violência, explosiva ou efusiva. A explosiva é causada pela
acumulação de vapor e de gases sob altas pressões e libertados
de forma violenta. A interação de águas subterrâneas e magma leva à
produção de vapor que, retido sob camadas de rocha, se acumula até atingir pressão
suficientemente elevada para a destruir e se libertar para a atmosfera.
Gases dissolvidos no magma em ascensão, por ação da alta pressão no interior,
podem expandir rapidamente, após a explosão inicial de
vapor, formando uma explosão secundária, por vezes, mais intensa do que a
primária e que pode formar fluxo piroclástico. Porém, na erupção efusiva,
a libertação de lava é lenta, de baixa viscosidade e com reduzido
conteúdo volátil, sem fenómenos explosivos associados.
A erupção
havaiana é uma erupção efusiva, sem descarga de gases, com magma basáltico de
baixa viscosidade e temperaturas muito altas, na chaminé
vulcânica, ocorrendo em “hotpots” ou junto a zonas de subducção. A erupção
havaiana, dita assim, por ser caraterística dos vulcões no Havai, pode
ocorrer ao longo de falhas ou fissuras, como sucedeu com o Mauna
Loa, no Havai, em 1950. E pode ocorrer numa chaminé central, como em 1959, na
cratera Kilauea Iki do vulcão Kilauea, no Havai. Na erupção em
fissuras, a lava brota de fissura na zona rift (zona de fenda) do vulcão e escorre pela encosta,
juntando-se a outras correntes de lava. Nas erupções centrais, uma fonte de
lava é ejetada a várias dezenas de metros de altura, podendo concentrar-se a
lava em pequenas crateras e formar lagos de lava ou cones, ou alimentar rios de
lava que escorram pela encosta. Há baixa produção de cinza vulcânica, o
que a torna bastante segura de observar e, por isso, popular para os turistas.
O
facto de este magma conter baixa percentagem de água dissolvida (menos de 1%) e
de ser basalto, na sua maioria, torna-o efusivo. Praticamente, toda a lava
provinda do vulcão havaiano é basalto toleítico, rocha similar à produzida
nas falhas oceânicas. No vulcão subaquático de Loihi foi detetada
erupção de basalto bastante rico em sódio e em potássio (mais alcalino);
este tipo de rocha pode ser caraterístico do início da formação das ilhas
havaianas. Em etapas posteriores, houve maior erupção de basalto alcalino e, após
um período de erosão, houve erupção de pequenas quantidades de rochas invulgares,
como a nefelite. A variação deste magma é estudada para entender o
funcionamento das plumas do manto.
Na
erupção estromboliana (do vulcão da
ilha de Stromboli, na Sicília), cinzas, gases, pequenos fragmentos de
rocha quente (lapilli), escapam e
formam arcos luminosos no céu. Os fragmentos combinam-se para formar rios de
lava que escorrem pela encosta. Há explosões pouco violentas, devido à
acumulação de bolsas de gases, que sobem mais rapidamente do que o magma que as
rodeia. A tefra (material piroclástico), em incandescência, ao ser expulsa
da chaminé, quando arrefece, toma coloração escura ou negra, solidificando antes
de atingir o solo, e acumula-se na vizinhança da chaminé, formando um cone de
cinza, em que se pode ver uma porção de cinza vulcânica bastante mais fina. A
atividade estromboliana pode ser duradoura, porque o sistema de condutas não é
afetado pela atividade vulcânica, e pode o sistema eruptivo repetir-se. Por
exemplo, o vulcão Paricutín esteve em erupção entre 1943 e 1952;
o monte Érebo produziu erupções durante várias décadas; e o Stromboli
tem tido erupções ao longo de milhares de anos.
A erupção
pliniana é associada à erupção do monte Vesúvio, em 79,
descrita por Plínio, o Novo, que matou Plínio, o Velho, seu tio, e
soterrou em cinza as cidades de Pompeia e de Herculano.
Nesta
erupção, brotam fragmentos de rocha, lava viscosa e coluna de fumaça e
gás. É o tipo de erupção mais poderoso, a que vêm associados, não raro, rápidos fluxos
piroclásticos (fragmentos de rocha quente e vítrea). Erupções de grande
intensidade, como as que ocorreram a 18 de maio de 1980, no monte Santa
Helena, ou a 15 de junho de 1991, em Pinatubo, nas Filipinas,
enviam cinzas e gases a vários quilómetros de altitude, até à estratosfera,
e a cinza resultante pode afetar áreas a centenas de quilómetros de distância
na direção dos ventos. São caraterísticas deste tipo a ejeção de grandes
quantidades de pedra-pomes e fortes erupções contínuas de gases.
As
erupções de Krakatoa, em 1883, do monte Santa Helena, em 1980, do Monte Tarumae
(Japão), em 1667 e em 1739, de Tira, cerca de 1600 a.C., a que formou o Lago
Crater, em 4 860 a.C., e a do Vesúvio, em 79, formaram
caldeiras. A lava é riolítica e rica em silicatos; raramente, é
basáltica, tendo sido registada erupção com magma basáltico no Monte
Tarawera, em 1886.
As erupções
vulcanianas foram assim denominadas após as observações de erupções,
em 1888-1890, na ilha de Vulcano, no Mar Tirreno, por Giuseppe
Mercalli. Outro exemplo deste tipo de erupção foi a de Paricutín. Nesta
erupção, brotam enormes fragmentos de rocha quente; e espessa nuvem de cinza
sai explosivamente da cratera a grande altitude, formando alguma cinza
fumegante uma nuvem esbranquiçada junto ao topo do cone. A natureza explosiva
resulta do conteúdo do magma rico em sílica, que lhe aumenta a viscosidade
e a exclusividade.
Estas
erupções começam, normalmente, com erupções freatomagmáticas, por vezes, ruidosas,
devido ao aquecimento de água subterrânea pelo magma em ascensão.
Este processo é usualmente seguido de explosão que desobstrui a chaminé
vulcânica, erguendo-se uma coluna suja, cinzenta ou negra, devido à expulsão de
rochas pré-existentes na chaminé. Saltam blocos de rocha de vários metros de
dimensão a centenas de metros ou até a quilómetros de distância. À medida que a
chaminé é desobstruída, as nuvens de cinza ficam esbranquiçadas, com a saída de
rolos de cinza similar à das erupções plinianas, seguindo-se a produção de lava
viscosa com grandes quantidades de gases e a produção de cinza vulcânica
vítrea. Ocorreram fluxos piroclásticos, por exemplo, nas erupções do Stromboli,
em 1930, de Montserrat, desde 1995, e do monte Unzen, entre
1991 e 1995. A tefra é dispersa em área maior do que nas erupções havaianas e
estrombolianas. A rocha piroclástica e os depósitos formam um cone vulcânico de
cinzas, cobrindo de cinza uma área grande. A erupção finaliza com fluxo de lava
viscosa.
Na erupção
peleana ou “nuvem ardente”, como a ocorrida no vulcão Mayon,
nas Filipinas, em 1968, há grande quantidade de explosões de
fragmentos de rocha quente, de vapores, de poeiras e de cinzas, desde a cratera
central, que caem na zona da cratera e formam avalanches que se deslocam
a velocidades que chegam aos 160 Km/hora. O magma é viscoso e rico em
riólito ou em andesito. Este tipo de erupção partilha caraterísticas com as vulcanianas,
distinguindo-se pela avalanche de material piroclástico e pela presença de
cúpula de lava no topo do vulcão. E há curtos fluxos de cinza e criação de
cones de pedra-pomes.
A
fase inicial da erupção é caraterizada por fluxos piroclásticos. Os depósitos
de tefra têm menor volume e alcance do que em erupções plinianas e
vulcanianas. O magma viscoso forma cúpula escarpada ou agulha de lava na chaminé.
A cúpula, colapsando mais tarde, resulta em fluxos de cinza e de blocos de
rocha quente. O ciclo eruptivo completa-se no espaço de alguns anos, podendo prolongar-se
por décadas, como no caso de Santiaguito.
Esta
erupção pode causar grande destruição e perda de vidas, se ocorrer em zona
povoada, como aconteceu em Saint-Pierre após a erupção do monte
Pelée, na Martinica, em 1902, bem como na erupção do Hibok- Hibok, de
1948-1951, na do monte Lamington, em 1951, na do Bezymianny, em 1956,
na do Mayon, em 1968, e do Monte de Santa Helena, em de 1980.
A erupção
subglacial ocorre sob gelo ou sob glaciar, podendo
causar inundação e lahars (lodo)
e originar hialoclastite (brecha hidratada
tipo tufo rica) e pillow lava (lava em almofada). Algumas erupções
são provocadas pelo tuya, um vulcão subglacial. Os tuyas na Islândia, como o tuya
Butte, na Colômbia Britânica, são denominados “montanhas mesa”, devido aos
topos planos.
Os
escassos estudos publicados indicam que há uma quantidade apreciável de calor
retido na lava, sendo que uma unidade-volume de magma consegue derreter dez
unidades-volume de gelo. A velocidade a que se derrete o gelo é ainda
inexplicada e é uma ordem de magnitude maior em erupções reais que em modelos
de previsão.
A erupção
hidromagmática, freatomagmática ou ultravulcaniana é conduzida
por vapor explosivo em expansão, pelo contacto entre solo frio ou
águas de superfície frias e rocha quente. Lançam fragmentos de rocha sólida
pré-existente na chaminé, sem erupção de magma. A atividade freatomagmática é fraca,
mas há casos de forte atividade, como na erupção do Taal, nas Filipinas,
em 1965, e na de 1975-1976, em La Grande Soufrière, Gualdalupe.
***
O fenómeno vulcânico
surge no planeta há milhões de anos. Em Portugal, registam-se vulcões nos
arquipélagos dos Açores e da Madeira, sete dos quais são considerados ativos. E há três vulcões submarinos ativos ao largo da costa portuguesa. Isto, sem falar
de pessoas que são consideradas vulcão, pelo seu estilo fogoso verbal ou
operativo.
2023.07.20 –
Louro de Carvalho
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