quarta-feira, 5 de julho de 2023

Seminário “Estratégia NORTE 2030: Instrumentos de Financiamento”

 

Por iniciativa da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Decorreu, a 4 de julho, no Europarque, em Santa Maria da Feira, o seminário “Estratégia NORTE 2030: Instrumentos de Financiamento”, com a presença do primeiro-ministro, António Costa, da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e do presidente da CCDR-N, António Cunha.  

Além da análise do enquadramento estratégico da região, no contexto nacional e europeu, foram apresentados os principais instrumentos de financiamento da Estratégia NORTE 2030 para o ciclo 2021-2027, nas diversas dimensões e programas, nomeadamente: NORTE2030 – Programa Regional do Norte 2021-2027 [Versão editada do documento aprovado através da Decisão de Execução da Comissão Europeia n.º C (2022) 9319 final, de 14 de dezembro de 2022]; COMPETE2030 – Programa de Inovação e Transição Digital 2021-2027; PESSOAS2030 – Programa de Demografia, Qualificação e Inclusão 2021-2027; SUSTENTÁVEL2030 – Programa de Ação Climática e Sustentabilidade 2021-2027; FAMI2030 – Programa do Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração 2021-2027; PEPAC2030 – Plano Estratégico da Política Agrícola Comum para Portugal no período 2023-2027; MAR2030 – Programa MAR2030; e PRR – Programa de Recuperação e Resiliência 2021-2026.

O documento mais importante apresentado no seminário é, obviamente, o Programa Regional do Norte 2021-2027, que assume, para a região como um todo, bem como para a Área Metropolitana do Porto (AMP) e para as diversas comunidades intermunicipais (CIM), as políticas da União Europeia (UE), tendo em conta as especificidades regionais e locais.

Ao mesmo tempo, enquadra-se na Estratégia Portugal 2030, aprovada na reunião do Conselho de Ministros de 29 de outubro de 2020, pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 98/2020, de 13 de novembro, que consubstancia a visão do governo para esta década e que é o referencial para os vários instrumentos de política, como sejam o PRR e o próximo quadro comunitário de apoio 2021-27 (Portugal 2030), cuja visão consiste em recuperar a economia e proteger o emprego, bem como fazer da década em curso um período de recuperação e de convergência de Portugal com a UE, assegurando maior resiliência e coesão, social e territorial. E  está estruturada em torno de quatro agendas temáticas centrais para o desenvolvimento da economia, da sociedade e do território de Portugal, no horizonte de 2030:

Agenda 1 – as pessoas, primeiro: um melhor equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos desigualdade. Põe as pessoas no centro das preocupações e pretende uma sociedade mais inclusiva e menos desigual, respondendo aos desafios da transição demográfica e do envelhecimento, que são mais prementes, face às consequências socioeconómicas desencadeadas pela covid-19, com reflexos na agudização das desigualdades nos públicos-alvo desta agenda.

Agenda 2 – digitalização, inovação e qualificações como motores do desenvolvimento. Enfrenta os bloqueios das qualificações, da competitividade e da transformação estrutural do tecido produtivo, respondendo aos novos desafios tecnológicos e societais associados à transição digital e à indústria, às novas dinâmicas de crescimento setorial pós-covid-19, à necessidade de contribuir para a autonomização e resiliência geoestratégica da UE e para garantir a capacitação e modernização do Estado para promover a resposta a estes desafios.

Agenda 3 – transição climática e sustentabilidade dos recursos. Focada na transição climática e na sustentabilidade e no uso eficiente de recursos, visa promover a economia circular e responde ao desafio da transição energética e à resiliência do território.

Agenda 4 – um país competitivo externamente e coeso internamente. Focada na coesão territorial, visa promover um desenvolvimento harmonioso do conjunto do território nacional e, em especial, contribuir para reduzir a disparidade entre os níveis de desenvolvimento das diversas regiões, em particular das regiões mais desfavorecidas, num contexto de promoção de transições ecológicas e digitais com forte incidência territorial e de superação dos impactos da pandemia e da crise económica nos territórios mais afetados, em particular nos mais desfavorecidos.

Já a Resolução do Conselho de Ministros n.º 97/2020, de 13 de novembro, estabelecia os princípios orientadores e a estrutura operacional do período de programação de fundos europeus da política de coesão relativo a 2021-2027 e determinava que a Estratégia Portugal 2030, aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros, n.º 98/2020, de 13 de novembro, constitui o referencial estratégico para a elaboração do Acordo de Parceria e dos Programas Operacionais (PO) a implementar no ciclo de programação 2021-2027. Por outro lado, determinava que a estruturação operacional dos fundos da política de coesão, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), Fundo de Coesão (FC) e Fundo Social Europeu (FSE), é:

Três PO temáticos no Continente: i) Demografia e inclusão, dando cumprimento, principalmente, à agenda temática da estratégia “As pessoas primeiro: um melhor equilíbrio demográfico, maior inclusão, menos desigualdade” e qualificações, da agenda temática da estratégia “Digitalização, inovação e qualificações como motores do desenvolvimento”, com exceção das qualificações no âmbito da atividade empresarial; ii) Inovação e transição digital, dando cumprimento, principalmente, à agenda temática da estratégia “Digitalização, inovação e qualificações como motores do desenvolvimento”; iii) Transição climática e sustentabilidade dos recursos, dando cumprimento, principalmente, à agenda temática da estratégia “Transição climática e sustentabilidade dos recursos”; cinco PO Regionais no Continente, correspondentes ao território de cada NUTS II, dando cumprimento, principalmente, à agenda temática da estratégia “Um país competitivo externamente e coeso internamente”, incluindo a declinação territorial das restantes agendas temáticas da estratégia; dois PO Regionais nas Regiões Autónomas; e um PO de Assistência Técnica.

Em consonância com a estratégia Portugal 2030 e com o Programa Regional do Norte 2021-2027, o seminário apresentou às entidades participantes a análise SWOT ou FOFA (forças e fraquezas, oportunidades e ameaças) de cada unidade territorial – AMP e as sete CIM (Alto Minho, Cávado, Ave, Alto Tâmega, Tâmega e Sousa, Douro e Terras de Trás-os-Montes) – no âmbito de cada agenda acima identificada e tendo em conta os respetivos objetivos estratégicos.

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Na abertura, com a presença de 2300 participantes, o presidente da CCDR-N referiu que “este programa está orientado para responder aos principais desafios que este primeiro quartel do século XXI coloca ao país e à região”. “Com uma dotação de 3,4 mil milhões de euros, o NORTE 2030 tem uma governação com maior autonomia regional”, disse, reforçando que, nos 20 quilómetros quadrados da região, vivem cerca de 3,6 milhões de habitantes, se localiza a maior base industrial e exportadora de Portugal e se produz mais de metade da energia renovável.

Num programa apresentado a autarcas, a funcionários da administração pública, a empresários e a instituições do ensino superior da região, António Cunha reforçou que o NORTE 2030 “é um bom programa” e que o país ganhará com a subida das cadeiras de valor do tecido produtivo exportador do Norte. “Este é um programa orientado para responder aos principais desafios que este primeiro quartil do século XXI coloca ao país e à região”, frisou, exemplificando que as “evidentes alterações climáticas, a transição energética e ambiental, a transição digital, mas também a crise demográfica” são desafios que têm de ser enfrentados pela garantia de melhores níveis de rendimento e qualidade de vida para os cidadãos.

O presidente da CCDR-N frisou que o dinheiro à disposição do NORTE 2030 tem “uma maior alocação de verbas a tipologias que serão, efetivamente, geridas regionalmente”, em comparação com o Programa Operacional NORTE 2020, pelo que o Norte “precisa de um sistema regional de inovação, tendo tudo para o ter” e só precisando de “mais autonomia para o gerir”, pois, como vincou, “a qualificação das pessoas e a inovação são grandes objetivos e têm uma grande centralidade neste programa regional”. Não obstante, considera “anacrónica” a redação do Acordo de Parceria e a dos Programas Regionais, ao impor plafonds orçamentais ao OP5 (Objetivo Estratégico do Desenvolvimento Local) para os municípios que não são centros urbanos no PNPOT (Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território), numa divisão artificial no Norte, entre o rural e o urbano. Assim, pediu que se altere “esta disposição sem sentido”.

Ao fim da manhã, o primeiro-ministro (PM) afirmou, perante a numerosa plateia, que “este é o primeiro Programa Regional onde, efetivamente, não é o Governo que desenha, nem é o Governo que aprova”, mas “é desenhado pela região e aprovado pela região”.

No seu discurso, António Costa lembrou as mudanças institucionais na orgânica das CCDR, que alargaram, “significativamente, o âmbito das competências e dos seus assuntos”. Segundo o PM, as CCDR “não tratam apenas do ordenamento do território, da gestão do Programa Operacional com a dimensão e conteúdo que tinham até agora”. O chefe do Governo considera que “a grande reforma que foi feita – uma grande reforma do Estado” é ter sido possível integrar nas CCDR as políticas essenciais para a estratégia do desenvolvimento regional.

“A estratégia Norte 2030 e os seus três ii – industrialização, internacionalização e inovação – estão particularmente alinhados com aquilo que os grandes objetivos do desenvolvimento nacional no horizonte 2030”, afirmou o PM, vincando que o primeiro grande objetivo é garantir uma década de convergência com a UE, levando a economia de Portugal a crescer, nestes 10 anos consecutivos, acima da média europeia, como tem sucedido desde 2016 (com exceção de 2020, devido à pandemia), para se aproximar dos países mais desenvolvidos.

Para tanto, como diz António Costa, é decisiva “a convergência da região Norte com o conjunto do país”, pois um dos fatores que nos tem permitido convergir com a UE “tem sido o facto de a região Norte também estar a convergir com o conjunto do país”. É certo que o Norte “foi uma das regiões mais afetadas pelo choque competitivo que o país sofreu na viragem do século”, sobretudo com a entrada no sistema monetário do euro, fazendo com que a região “tenha regredido, em termos de convergência, durante muitos anos”. Porém, “Agora está num forte processo de aceleração, que já era visível em 2019” e que, interrompido pela pandemia de covid-19, já “retomou claramente esse ritmo”.

O PM afirmou que, para o Norte atingir o mesmo patamar do resto do país, “é preciso que a Estratégia Norte 2030 o possa apoiar”, alicerçada no aumento de 25% das empresas exportadoras e na modernização do tecido produtivo nacional, bem como no aumento das qualificações da população. Para isto, o Programa Operacional Norte 2030 (integrado no Portugal 2030), “é, de longe, o programa operacional regional com maior peso”, representando 43% “da totalidade das verbas alocadas aos programas operacionais regionais”, frisou António Costa.

Por fim, o PM lembrou que o presidente e um dos vice-presidentes das CCDR, pela primeira vez, não foram escolhidos pelo Governo, mas pelos autarcas da região. E revelou que, a partir de 2024, todos serão eleitos pelos autarcas da região ou pelos elementos não autarcas do Conselho Regional. Portanto, “grande parte deste programa Norte 2030 já não vai ser executado com uma direção da CCDR que tenha qualquer intervenção por parte do Governo”, disse, sublinhando: “A isto chama-se mesmo descentralização.” Assim, torna-se claro que “as mudanças na orgânica das CCDR “alargaram, significativamente, o âmbito das suas competências”: tratam “do ordenamento do território, da gestão do Programa Operacional, com a dimensão e conteúdo que tinham até agora”, e “do conjunto das políticas essenciais para a estratégia de desenvolvimento regional”.

E as competências das CCDR na economia, na cultura, na agricultura, nas pescas, na conservação da natureza, na educação e na saúde, significam que estas áreas “têm que passar a ser integradas” para haver uma estratégia de desenvolvimento regional “que compreenda o conjunto das políticas públicas”, disse o PM, acrescentando que esta é “uma grande reforma do Estado”.

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Grande reforma seria, se a CCDR emanasse, como órgão executivo, de assembleia ou de conselho regional, eleito pelos cidadãos eleitores recenseados na região. Executivo eleito por autarcas (que representam a veia dominante no seu município) não assegura a representatividade da região como um todo. Em todo o caso, o seminário salientou duas notas, que registo: a região Norte é a mais assimétrica do país (interior e litoral); e os municípios têm de trabalhar em rede.

2023.07.05 – Louro de Carvalho

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