Não são da diocese de Lamego, donde sou originário, mas deixaram
marcas de bondade, simpatia e competência eu tive alguma aproximação com eles.
***
Padre Milton Lopes da Encarnação faleceu aos 82 anos de idade no domingo, dia 20 de
setembro, dia em que ocorriam 28 anos da sua presença como pároco Paróquia do Coração
de Jesus, da cidade de Viseu. E a nota enviada,
em tempo, à “Ecclesia” pelo Bispo de
Viseu refere tratar-se dum “pastor zeloso, organizador, líder com capacidade de
congregar”, tendo sido “muitos os leigos, sacerdotes e religiosas que com que
com ele trabalharam na paróquia”, que “foram privilegiados com o seu saber, a
sua amizade, a sua estima e gratidão”.
Nascido no arciprestado de Sátão, mais propriamente em
Minas de Lagares, do lugar de Lousadela, da freguesia de Queiriga, concelho de
Vila Nova de Paiva, a 21 de fevereiro de 1939, foi ordenado sacerdote por Dom José
da Cruz Moreira Pinto a 29 de julho de 1962.
A Diocese de Viseu – que nem sempre o entendeu como
devia (sublinho) – agora evoca “um intelectual, um exímio professor, um
pároco zeloso e uma referência no saber teológico-pastoral e na organização
paroquial”. E Dom António Luciano escreveu:
“Agradecemos a Deus o dom de o ter conhecido, trabalhado com ele e de
beneficiarmos do seu múnus pastoral exercido com tanto saber, disponibilidade,
serviço, fé, esperança e caridade para com todos. Rezemos ao Senhor
pelo seu eterno descanso. Pedimos que junto do Senhor da Messe interceda por
nós, para que Jesus nos envie muitos trabalhadores para a sua Igreja.”.
Por convite que lhe fiz em nome do Padre Lucas Pedrinho,
pregou na festa de Nossa Senhora da Guia (paróquia de Caria), a 20 de agosto de 1978. E bem recordo que, falando de
Maria, vincou: “Nossa Senhora não é o
Caminho, mas indica o Caminho, segue-O e convida a segui-Lo”.
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Padre Manuel de Oliveira Lemos, da Diocese de Viana do Castelo, que estava hospitalizado no
Hospital de Viana do Castelo, faleceu na madrugada de 6 de outubro, aos 67 anos
de idade.
A comunicação social deu pouco relevo a este sacerdote
discreto que nasceu a 9 de dezembro de 1954, foi ordenado a 22 de julho de 1979
e era pároco de Rubiães, Agualonga e Cunha, no Arciprestado de Paredes de
Coura.
Conheci-o em setembro de 1981, no Curso de Capelães
Militares. Era o encorpado e robusto Lemos que foi selecionado para Capelão do
Regimento de Comandos e dizia querer fazer o Curso de Comandos.
Autoapelidava-se de “matarruano”, mas era extremamente simpático e senhor do
que dizia.
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Monsenhor José Fernandes Vieira, da Diocese de Viseu, faleceu aos 91 anos de idade, no
dia 5 de outubro, no Hospital de São Teotónio, onde se encontrava internado.
Nasceu na paróquia de São Martinho de Sejães, a 4 de julho de
1930, onde foi batizado a 5 de agosto do mesmo ano. Fez a sua formação nos
Seminários Menor e Maior de Viseu e foi ordenado sacerdote por Dom José Moreira
Pinto a 5 de julho de 1953.
Iniciou
a sua vida pastoral como subdiretor do Lar-Escola de Santo António, em Viseu, a
17 de outubro de 1953. Depois, foi
nomeado pároco da paróquia de Currelos-Carregal do Sal. Foi Capelão da Casa de
Saúde de São Mateus e trabalhou nas paróquias de São José e de Santa Maria em
Viseu. E desempenhou
vários cargos na diocese: Professor de Religião e Moral, Assistente da Ação
Católica, Vice-Presidente do Instituto de Santa Teresinha, Capelão da Casa de
Reclusão, Reitor da Igreja dos Terceiros e Capelão da Casa de Santa Zita. No “Jornal da Beira”, ao serviço da imprensa
católica e regionalista, esteve 46 anos nos cargos de Chefe de Redação, Administrador,
Articulista, Diretor e Presidente da Fundação Jornal da Beira. Foi Presidente
do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais, Delegado da “Rádio Renascença” em Viseu, Membro da
Comissão Instaladora da Universidade Católica em Viseu e do seu Secretariado
Executivo, Membro do Conselho Presbiteral, Diretor do Museu da Catedral e
Membro do Cabido da Sé.
A sua
residência desde que deixou o trabalho pastoral era no Centro Sócio-Pastoral, com
a vivacidade, a alegria, o bom humor e a boa disposição que o caraterizavam era
partilhada com todos. No dizer do pelado diocesano, Fernandes Vieira foi “um sacerdote
zeloso, homem de cultura e defensor acérrimo da imprensa cristã” e “líder com
capacidade de fazer muitos amigos através do Jornal da Beira e das múltiplas atividades pastorais onde foi
chamado a servir a Igreja”. Muitos foram privilegiados com o seu saber, fé,
cultura, amizade, estima e gratidão, especialmente as funcionárias e
funcionários do Jornal e da Livraria Diocesana, a quem dedicou toda a vida e
carinho. Soube cativar amigos e colaboradores e era muito estimado por todos.
Um bom administrador nos diversos serviços que lhe foram confiados e alguém
para quem as palavras escritas e impressas eram como o pão que alimenta a fome
aos famintos.
Muito
apreciado pelos responsáveis da Imprensa regionalista, cristã e católica e por
todo o clero, consagrados, leigos e pessoas humildes do povo, mostrou sempre um
amor grande à Igreja, aos seus Bispos, a todos os sacerdotes, ao povo de Deus e
a toda a sociedade civil e às suas instituições. Muito fica a dever a Diocese,
o Cabido, o Jornal, a Fundação do Jornal do Beira, a cidade de Viseu e muitas
instituições a este sacerdote apaixonado pelos Meios de Comunicação Social a
quem ele dedicou a maior parte da sua vida.
Partiu para
a Casa do Pai confortado com a graça dos sacramentos, ele que amou a Igreja e a
fez crescer pela oração, pela palavra, pela escrita em tantos artigos e
composição do Jornal.
Que o Senhor
o recompense pelo bem que realizou em tão vastos campos de missão na Igreja
diocesana – pede o bispo diocesano.
Visitei-o
muitas vezes e sempre me tratou com muita amizade e bons conselhos. Com ele
aprendi finalidades e técnicas de jornalismo e o papel deste na Igreja. Participei
com ele num encontro de jornais de inspiração cristã em Fátima, no ano de 1975,
em participaram ativamente Dom Manuel Franco Falcão e o Cónego Rui Osório.
Anoto que,
um dia, vi na caixa de correio da minha casa uma carta deste sacerdote com o
seguinte endereço: Abílio Louro de Carvalho – Vila da Feira, Porto. Abri e li o
texto em que dizia supor ser eu o rapazinho – padre da Diocese de Lamego – que aparecia
muitas vezes no “Jornal da Beira”,
sempre bem-disposto e tanto a contar umas anedotas como a dizer umas coisas
sérias; e que lera um texto meu no “Jornal
do Centro” a criticar os que estranhavam que o Papa tivesse nomeado Bispo
de Viseu um padre do clero diocesano sem o fazer passar como Bispo auxiliar de
outra diocese. Pedia desculpa se o destinatário da carta não fosse quem pensava,
mas, se o fosse, tinha muito gosto em o ter contactado.
Como na
folha da carta vinha o seu número de telemóvel e o e-mail, telefonei de imediato
a dizer “Sou eu” e a agradecer. Fui-lhe enviando reflexões minhas, que ia
agradecendo, até que, uma vez me dizia que não valia a pena, pois já não
conseguia ler.
Por tudo isto,
a minha grata homenagem e a minha oração.
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Monsenhor Vítor Feytor Pinto, que lidava há
vários anos com problemas de saúde – após
uma septicemia, em 2019, e de, em 2020, ter estado infetado com covid-19,
o que o obrigou a ficar internado 40 dias –,
faleceu aos 89 anos na noite do dia 6, no Hospital da Luz, em Lisboa, para onde
fora transportado da Casa Sacerdotal por via duma indisposição sentida no dia
5.
Vítor Feytor Pinto foi responsável pela paróquia de Campo
Grande, no Patriarcado de Lisboa, durante vários anos, e teve uma vida inteira ligada
à Saúde. Foi presidente da Pastoral da Saúde e integrou um grupo de
personalidades que lutaram por nova lei para o SNS, por defender uma maior
valorização do serviço, que “é fundamental” para todos, sem exceções.
Em 1982, foi o responsável pela organização da visita a
Portugal do Papa São João Paulo II a Portugal, visita que entendeu como “os
quatro dias mais felizes” da sua vida.
Em 1992 foi convidado pelo então Primeiro-Ministro Cavaco
Silva para alto-comissário do Projeto Vida, dedicado ao combate à toxicodependência,
cargo em que esteve durante 5 anos, três dos quais em que presidiu ao conselho
de administração do Observatório Europeu da Droga e da
Toxicodependência. Em 2014, recebeu louvor do Ministério da Saúde em
agradecimento pelos 40 anos dedicados à área. E foi Assistente Nacional e
Diocesano da ACEPS (Associação
Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde), Assistente Diocesano dos Médicos Católicos e
Assistente Diocesano da AMCP (Associação Mundial da Federação dos Médicos Católicos), além de ter sido fundador do
Movimento de Defesa da Vida, em Lisboa.
Mestre em Bioética e licenciado em Teologia Sistemática, foi
admitido em novembro de 2005 pelo Papa Bento XVI entre os membros da Família
Pontifícia, nomeando-o seu capelão, com o título de Monsenhor.
“A Vida é sempre um
valor”, “100 entradas para um mundo
melhor” e “A palavra vivida”
foram alguns livros escritos pelo Padre Vítor Feytor Pinto, que integrou o
Conselho Pontifício para os Profissionais da Saúde e do Conselho Nacional de
Ética para as Ciências da Vida.
A CEP (Conferência
Episcopal Portuguesa)
lembra Feytor-Pinto como “um profundo conhecedor do
espírito renovador do Concílio Vaticano II, divulgando os seus documentos com
persistente entusiasmo e assertiva comunicação”. E manifesta “a sua oração solidária e memória agradecida pelo que o
padre Vítor foi entre nós”, estendendo a oração “aos seus
familiares e às dioceses que serviu: na Guarda ao longo de 10 anos e no
Patriarcado de Lisboa durante mais de 5 décadas”.
Além das inúmeras tarefas assumidas a nível diocesano,
exerceu a sua missão com grande dedicação ao serviço de vários organismos da
CEP, por exemplo como Diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã e
Juventude e como Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde. Na verdade, “a
família e a juventude sempre estiveram no seu horizonte evangelizador, sendo
assistente nacional de várias associações e movimentos de caráter juvenil e
familiar”.
Segundo a CEP, “essa forte presença
evangelizadora estende-se a organismos como o Movimento por um Mundo Melhor,
a Ação Católica e a Juventude Escolar Católica, os Cursilhos de Cristandade e
as Equipas de Nossa Senhora”.
Em entrevista ao DN, em dezembro de 2020, a propósito da infeção com o
vírus da covid-19, elogiou a forma como foi tratado pelo SNS. Felicitou os
profissionais de saúde e a Ministra Marta Temido, “pelo trabalho intenso que
está a ser feito no SNS” e a que assistiu no Hospital de Santa Maria. Aliás,
fora naquele hospital que iniciara o trabalho como sacerdote ligado à saúde e à
espiritualidade dos doentes e profissionais de saúde.
Nasceu a 6 de março de 1932, na freguesia de Santo António
dos Olivais, Coimbra. Desde os 5 anos queria ser padre, mas só impôs a decisão,
perante o pai, aos 10. O pai, que tinha um colégio, queria que fosse para o
liceu, mas ele disse que não, que o seu lugar era no Seminário.
O sacerdócio, indicou, era uma “vocação”, que escolheu sentindo-se
muito feliz desde que achou que devia ser padre e reconhecendo estar na vocação em que Deus
quis que estivesse.
O seu percurso foi profundamente livre, não sendo capaz de estar preso a ideologias, a partidos, a opiniões que
podem ter um contraditório e sentindo completamente livre o seu
coração e a sua mente para optar. Mas admitia que, no tempo de Seminário, teve
dúvidas. A pós-adolescência foi tempo de grande clarificação. Aos serões,
tocava piano e violino, cantava, declamava poesia (de José Régio a Fernando Pessoa e
Guerra Junqueiro).
Celebrou 66 anos de sacerdócio em julho. E recordava
vivamente o dia da ordenação:
“Acordei com uma pomba a picar o vidro da
minha janela. Olhei e pensei: de facto o Espírito Santo está a querer chegar
nesta hora.”.
Do Papa Francisco dizia admirar a “alma conciliar, uma
inteligência conciliar, um coração conciliar” e lamentava que alguns comecem a
criticar esta corrente papal para julgar que o importante é o passado, sendo “tremendos
conservadores”.
Para marcar estar nas cerimónias fúnebres do Padre Feytor
Pinto, o Presidente da República cancelou a ida a Tenerife (Canárias), onde marcaria presença num encontro
de Ministros da Justiça Ibero-Americanos e dos Países de Língua Oficial
Portuguesa,.
Em nota publicada no site oficial da Presidência da
República, o Chefe de Estado “lembra, já com saudade, o Padre Feytor Pinto”,
considerando que com a sua morte “desaparece uma das figuras mais
importantes da Igreja Católica portuguesa nos últimos cinquenta anos”
e um “mestre pela palavra e pelo exemplo”. E afirma que é, certamente, das figuras
“mais presentes em movimentos de jovens, de famílias, de comunidades sociais as
mais diversas e das mais sensíveis a todos os grandes problemas da sociedade
portuguesa, da educação à saúde, da solidariedade social às migrações, da
inclusão ao mundo do trabalho”.
Rebelo de Sousa refere que Feytor Pinto “não precisou sequer
de pertencer à hierarquia para ter influência decisiva em momentos essenciais
da afirmação da mensagem cristã”. Homenageia ainda o homem, o mestre pela
palavra e pelo exemplo, o cidadão, o português.
O Chefe de Estado declara que “os anos mais recentes tornaram
ainda mais forte” essa amizade, “com o acompanhamento próximo da ‘via
crucis’, feita de amor à vida e de capacidade de resistir e de se reinventar,
que o padre Feytor Pinto demonstrou até ao último minuto” da sua vida. E
recorda-o como uma pessoa que “influenciou muitos daqueles
que vieram a ser importantes na Igreja”, uma
vez que foi “mestre, professor”, tendo influenciado várias gerações, mesmo
antes do 25 de abril. “Sempre teve o espírito muito aberto, tinha uma visão de
futuro, tinha cultura mas muita humildade.”
Começou, segundo Marcelo, a falar, antes de todos, de temas
como a “bioética, os cuidadores informais, os cuidados paliativas” e teve um
grande impacto no Serviço Nacional de Saúde, mas também junto de sucessivos Chefes
de Estado, como Mário Soares ou Cavaco Silva.
Feytor Pinto “dialogava com todos, compreendia todos e se
havia algum problema para resolver” era ele o chamado pela sua “idade”, o seu
“estatuto”, a sua “experiência” e a sua “autoridade”.
Também o Presidente da Assembleia da República manifestou “profundo
pesar” pela morte do Padre Vítor Feytor-Pinto, vincando que ficará “na memória de todos” o seu “forte envolvimento em questões de saúde e da sociedade civil”.
Em comunicado, Eduardo Rodrigues relembra que o padre Vítor
Feytor-Pinto nasceu em 1932 em Coimbra e foi ordenado na Diocese da Guarda
em 1955, tendo a “sua vida e o seu trabalho” sido “muito influenciados pelo
Concílio Vaticano II, do qual foi um fervoroso divulgador”.
Ferro Rodrigues frisa que o trabalho de Feytor-Pinto também
ficaria “ligado à reflexão sobre a Pastoral da Saúde e a defesa dos direitos
fundamentais, destacando-se igualmente o seu trabalho ao longo de vários anos
como responsável da paróquia do Campo Grande”.
O coordenador nacional da Pastoral da Saúde, Padre José
Manuel Pereira de Almeida, destaca a “vida cheia sempre entregue aos outros” e
o otimismo mesmo durante a doença prolongada. E lembra o percurso de Feytor
Pinto, vindo da diocese da Guarda, “que sempre recordou”.
Recorda como acompanhou o pontificado de João Paulo II “na
transformação duma pastoral fechada no horizonte dos doentes para uma pastoral
da saúde”, na presença como capelão dos hospitais em Lisboa e nas
responsabilidades na Pastoral da Saúde, “promovendo semanas de reflexão em
Fátima e a participação portuguesa de encontros em Roma”.
Era pessoa muito querida e estimada por todos e de grande
dinamismo, sempre otimista, mesmo agora na doença que foi muito prolongada
e com muitas complicações. Nunca viveu como um homem doente, brilhou com a
sua humanidade. O seu legado “é de uma grande exigência e uma vida vivida por todos, com este
sentido de entrega para que todos tenham vida”.
João Paulo Malta, vice-presidente da Associação de Médicos
Católicos Portugueses, que conheceu Feytor Pinto nos anos 80, também lembra o
“sorriso” que manteve e a “afabilidade”, a que aliava uma “ética e fé inquebrantáveis”.
E salienta o seu papel enquanto capelão hospitalar:
“Preocupava-se com a pessoa integral no seu
aspeto físico, biológico, mas também psicológico, afetivo, relacional e
confessional, era um homem de uma inteligência na procura de consensos e
problemas absolutamente inultrapassável”.
Encontrei-o no âmbito da pastoral juvenil e vi o modo como
era claro e galvanizador dos jovens; e contactei com ele na sua condição de
Alto-Comissário para o Projeto Vida.
A comunicação social tem razões de sobra para o destacar na
sua ribalta. Foi, com o Padre Manuel Vieira Pinto (depois Bispo e Arcebispo de Nampula), arauto do Concílio Vaticano II sob
a marca do Movimento por Um Mundo Melhor.
***
Em suma, quatro sacerdotes – uns mais discretos, outros mais expostos,
a quem na consumação do Reino dos Céus o Senhor compensará e de quem nós
aprendemos a viver na linha da fé.
2021.10.07
– Louro de Carvalho
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