Está em curso, entre
este dia 22 e o dia 24, a Jornada
Nacional ‘Memória & Esperança 2021’ em memória das
vítimas da covid-19, em Portugal, promovendo centenas
de iniciativas e querendo ser momento coletivo de união e esperança, para o que
pretende mobilizar a sociedade e suscitar a participação de todas as
pessoas e instituições que o desejarem.
O grupo promotor integra pessoas de várias áreas, integrando músicos,
atores, escritores, médicos, políticos, jornalistas e juristas.
Na verdade, como explicou à agência Ecclesia Inês Espada Vieira, vice-presidente do Centro de Reflexão Cristã, que integra
a comissão promotora da jornada e assinala o impacto individual e coletiva da
pandemia, com experiências de “dor, luto, trauma”, “a comunidade precisa de um momento de união, de partilha, de um momento
cívico para assinalar o que aconteceu”. E, advertindo que “a memória coletiva é fundamental para a
união, o sentido de pertença”, assegura como consensual a verificação da necessidade
de “fazer uma paragem antes de fazer o
que todos queremos, que é virar a página”.
Inês Espada Vieira observa que é justo promover momentos de homenagem e
celebração, recordando quem morreu e destacando a “tenacidade, persistência” e
capacidade de entreajuda da população, além da “vontade política” que existiu
no combate à covid-19. E, apontando que todos “queremos que algumas destas lições de confiança nos façam um país
melhor”, vinca:
“Se não aprendermos nada, é um tremendo desperdício do que tivemos de
enfrentar. Às vezes, já tivemos todos a sensação, na nossa vida, de que isto
está a voltar ao velho normal, e não o queremos.”.
Aquela professora universitária recorda um tempo de sacrifício, marcado
pela “incerteza”, e espera que seja também de aprendizagem, para não “voltar
atrás” e “reinventar” o futuro.
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A iniciativa está aberta à participação das pessoas e instituições que o
desejarem, tendo para isso sido criado o site “memória e esperança.pt”, com as várias iniciativas propostas.
Os sinos de igrejas e as sirenes dos bombeiros vão tocar este sábado, dia
23, ao meio-dia, durante 3 minutos – momento para que estão convidadas a participar
as paróquias católicas.
No domingo, dia 24, pelas 14 horas, os portugueses são chamados a fazer um
minuto de silêncio fazendo memória da pandemia e afirmando a “esperança na sua
erradicação em todo o planeta”. E o Presidente da República vai marcar presença
na cerimónia de encerramento nos terrenos do Hospital de Santa Maria, antes da
qual se vai plantar uma oliveira, a “árvore da esperança”, junto ao Pavilhão 1
do Estádio Universitário, em Lisboa, convertido no centro que maior número de
vacinas distribuiu à população portuguesa.
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A Assembleia da República aprovou, neste dia 22, o Voto de Solidariedade
n.º 687/XIV/3.ª, em consonância com a iniciativa do
movimento de cidadãos, a que se associam as dioceses católicas, pela
Jornada de Memória e Esperança, destacando o “esforço coletivo” que permitiu ao
país atingir “os mais elevados níveis de vacinação”.
O texto apela a “uma reflexão conjunta sobre a forma como foi enfrentada e
combatida: porque a pandemia tocou a todos, porque afetou todos os setores da
sociedade, porque condicionou a vida de todos e a vida em sociedade”.
E as várias bancadas parlamentares prestaram homenagem aos que estiveram
envolvidos no combate à pandemia, em especial aos profissionais de saúde,
apelando à “democratização” da vacina pelo mundo.
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Por seu turno, a
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) emitiu uma Nota,
no dia 20, a saudar a iniciativa e a declarar que “fazer memória daqueles que nos
deixaram, nomeadamente os que foram atingidos pela pandemia, só tem significado
no horizonte de esperança que dá sentido à vida”. Ao mesmo tempo, assegura que
as Dioceses terão a oportunidade de realizar o gesto do toque dos sinos nas
igrejas às 12 horas do dia 23, conforme sugerido pelos organizadores da Jornada
e/ou a possibilidade de aderir a outra iniciativa. E, recordando que, no atinente
“à expressão orante pelas vítimas no âmbito da Igreja, os Bispos celebraram uma
Eucaristia no dia 14 de novembro de 2020, em Fátima, a que se associaram muitos
fiéis, além de autoridades como o Presidente da República e o
Primeiro-Ministro, anuncia que, na próxima Assembleia Plenária de 8 a 11 de novembro,
os Bispos celebrarão a Santa Missa pelas vítimas da pandemia.
O Bispo de Setúbal,
Dom José Ornelas, presidente da CEP,
referindo à Ecclesia a importância de
preservar a memória das pessoas queridas e apontar ao futuro com esperança,
sublinhou:
“No meio do
drama que foram estes quase dois anos, passados, nós fomos reencontrando
valores na humanidade, valores de pessoas que se dedicaram – a começar pelos
profissionais de saúde – e que estão a sofrer ainda as consequências da
pandemia, em termos de sobrecarga de trabalho, de desgaste a todos os níveis”.
Dom Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco, publicou uma Nota, a informar que a Diocese se vai
associar à iniciativa da sociedade civil, como sugerido pela CEP, em memória
das pessoas que morreram por causa da pandemia. E escreveu:
“Pedimos aos
responsáveis pelas paróquias ou comunidades cristãs, esta ação de esperança,
nesse dia e nessa hora, em memória das vítimas covid. Dê-se a conhecer às
comunidades cristãs este gesto como sinal da nossa esperança, incluindo até um
momento de oração de sufrágio pelos que partiram e de ação de graças pelo dom
da vida.”.
Em Lisboa, os sinos das igrejas vão ressoar, durante 3 minutos,
no dia 23, para “recordar as vítimas da pandemia covid-19, os seus familiares,
os profissionais de saúde e todos quantos dedicadamente combateram a pandemia”,
explica uma Nota da Vigararia Geral
do Patriarcado, que recorda a recomendação para que, nas Missas do dia 2 de
novembro – Comemoração do todos os fiéis defuntos –, “especialmente se recorde,
diante do Altar do Senhor, todos os fiéis que faleceram durante o
confinamento”.
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Convém recordar que, a 25 de março de 2020, o Cardeal Dom António Marto presidiu,
em representação da CEP, em Fátima, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, a
uma oração de consagração de Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e
ao Imaculado Coração de Maria, a que se uniram mais de 20 países, pedindo o fim
da pandemia da covid-19.
A 14 de novembro de 2020, a CEP promoveu uma celebração nacional
pelas vítimas da covid-19, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima. Esta celebração contou
com a presença de 20 bispos católicos, do Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, do Primeiro-Ministro, António Costa e de várias entidades
públicas que se quiseram associar a esta homenagem de oração pelas vítimas,
diretas ou indiretas, da pandemia.
A 16 de março deste ano, a CEP promoveu um dia especial de
celebrações pelas vítimas da pandemia, associando-se a uma iniciativa da Igreja
Católica na Europa, que decorreu ao longo da Quaresma. Com esta iniciativa,
os Bispos da Europa uniram as suas vozes às do Papa Francisco “para reiterar a proximidade da Igreja a
todos aqueles que lutam por causa do coronavírus: as vítimas e as suas
famílias, os doentes e os profissionais de saúde, os voluntários e todos
aqueles que se encontram na linha da frente neste momento tão delicado”,
como explicava a CEP em comunicado, no qual referia que “os Bispos querem oferecer um sinal de comunhão e de esperança a toda a
Europa”.
E, no último dia 13 de maio, o Bispo de Leiria-Fátima presidiu também a um
momento de oração, a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, numa etapa
da “maratona” de oração promovida pelo Papa, pelo fim da pandemia. Em união com
o Papa, a oração em Fátima teve como especial alvo os presos, pois, como dizia
Dom António Marto, “eles foram
atingidos pela pandemia e precisam de reerguer-se das suas fraquezas e
regenerar espiritualmente as suas vidas”; e “são nossos irmãos, aos quais nos devemos sentir unidos e com os quais
nos devemos sentir solidários”.
***
A Jornada
em curso vem na sequência do “Manifesto”
proclamado a dia 30 de junho pp e que vem sendo subscrito por muitos cidadãos. Nele
se frisa que o vírus “está a ser combatido com eficácia pelas medidas
sanitárias e pelas vacinas conseguidas em tempo record”, mas deixa um rasto de “desolação”,
pois “o número dos diretamente afetados caminha para os 180 milhões e, desses,
perto de 4 milhões perderam a vida” – “tragédia de proporções avassaladoras”.
Apesar
de a amplitude da tragédia se ter atenuado nos países ocidentais que controlam
a produção e distribuição das vacinas, “os entraves à libertação das patentes e
a falta de solidariedade internacional” fazem com que grande parte da
humanidade, sobretudo dos países do hemisfério sul, continue a sofrer e a
morrer de forma dramática com a covid-19”; e, nos países desenvolvidos a
situação de controlo dos aspetos sanitários mais gravosos da pandemia, é “precária”,
porque “sistémica”, pelo que “só estaremos seguros contra a covid-19 quando, a
nível do planeta, todos estiverem seguros”.
Neste grave
contexto, não podemos
esquecer: a experiência traumática que o último ano representou
para centenas de milhares de portugueses que viveram (e vivem) momentos trágicos; as perto de 900
mil pessoas contagiadas, muitas das quais passaram por situações desesperadas
de que estão a recuperar física e psiquicamente; as mais de 17 mil vítimas
mortais (grande parte
sofreu sozinha, morreu longe dos seus e sem o último adeus); os familiares
e amigos, sobretudo quem não pôde acompanhar e despedir-se dos doentes
hospitalizados ou institucionalizados, e de todos os que não puderam fazer-lhes
o funeral; as várias categorias de profissionais que trabalharam até ao
esgotamento nas linhas da frente, bem como outros profissionais que, em outras
frentes, permitiram que o país funcionasse; a memória dos que partiram e a dor
vivida pelos que ficaram, mais a de todos os familiares e amigos que também
sofreram com a dor dos outros; os que, em Portugal (e um pouco por todo o mundo), morreram não devido à covid-19, mas
à fragilidade dos serviços de saúde que deixaram de poder atender a outras
doenças graves.
E “não podemos esquecer a pandemia
da solidão, que
atingiu todos, mas, particularmente, os muitos idosos, que perderam a vida ou a
lucidez, fazendo-nos ver que a vida dos mais velhos não é menos preciosa do que
a dos mais novos”.
Ao mesmo tempo, é de vincar que “fazer o luto é imprescindível”. Trata-se
de atos pessoais e sociais que ajudam a despedir-se de quem parte, reconhecendo
a vida que viveu, e ajudam a curar feridas e a seguir em frente – o que a pandemia
impediu em tantos casos!
Em pandemia, há a dimensão coletiva e
comunitária do luto que não resulta só do somatório dos lutos individuais ou
familiares, mas também da eclosão da tragédia que eclodiu e do trauma que ela
originou, que “são sociais e globais”.
Em todo o caso, “é necessário afirmar a esperança”: no
reforço de relações sociais fraternas, justas e portadoras de futuro para todos,
conscientes do risco de regresso ao velho normal; na preparação para
enfrentarmos juntos os desafios da pós-pandemia; nos atos de solidariedade,
dedicação e atenção de que fomos atores e testemunhas ao longo deste longo
‘inverno’. E afirmar a
esperança será não desistir de
pensar um outro mundo, de questionar o modelo de sociedade centrado no ter e
não no ser, de reconhecer que somos todos vulneráveis e interdependentes,
estamos todos no mesmo barco – convicção que ajudará a superar o medo.
Com esta
motivação, surgiu uma iniciativa, de âmbito nacional e local, que vai ao
encontro das preocupações enunciadas – a Jornada Nacional ‘Memória & Esperança
2021’, que
Visa
mobilizar a sociedade e suscitar a participação de todas as pessoas e
instituições que o desejarem; e dar densidade, rosto, vida e sentido coletivo
aos números, estatísticas e gráficos com que todos fomos confrontados desde
março de 2020.
Se propõe prestar tributo aos que
partiram, acolher o sofrimento e as narrativas dos que foram afetados pela
pandemia e suas consequências e celebrar e agradecer a todos os que cuidaram da
saúde e minoraram o sofrimento e a dor de tantos, bem como “afirmar a vontade
de viver em comunidades que não querem deixar ninguém para trás”.
Ocorrerá no fim de semana de 22-23-24
de outubro em um ou mais destes dias, podendo extravasar para dias anteriores
ou posteriores; poderá ter uma cerimónia nacional e terá múltiplas iniciativas
locais ou setoriais, de caráter livre, articuladas num programa local.
Procurará
dar corpo a tudo o que a pandemia nos deixa na memória, recorrendo a todas as
linguagens expressivas, que não apenas, nem sobretudo, o discurso falado.
Procurará que, um dos dias, os sinos
das igrejas toquem ao meio-dia e convida as famílias a pôr, à noite, uma vela
num espaço coletivo ou na janela das casas.
Convida: as instituições religiosas,
pela proximidade às respetivas comunidades e aos rituais que têm para lidar com
o sofrimento e a morte, a tomar as iniciativas que entendam mais adequadas,
próprias e/ou em articulação com outras confissões e instituições da sociedade;
os órgãos do poder autárquico (municipal e de freguesia), a assumir protagonismo na promoção de
iniciativas, articulação e coordenação de ações no plano local e sensibilização
das instituições e das comunidades locais; as escolas e as outras instituições
educativas, a organizar projetos que valorizem a expressão das crianças e adolescentes
quanto a vivências e aprendizagens que fizeram com a pandemia; as instituições
de saúde, de ação/intervenção social e de proteção civil, pelo papel que têm
tido no combate à pandemia, a ter lugar de destaque em iniciativas nacionais e
locais, através de iniciativas próprias ou de outras entidades; as instituições
e atores culturais, tão fortemente penalizados pela pandemia, a incluir na sua
programação e criação propostas específicas de interpretação artística e de
expressão de sentido e significados sobre estes tempos de pandemia; e os meios
de comunicação social, a tomar as iniciativas que entendam oportunas para
informar e mobilizar a comunidade.
Quer iniciativas
de caráter aberto, plural e inclusivo, assumindo formas como celebração cívica,
celebração religiosa/ecuménica, concentração, desfile, vigília, tempo (ex: minuto) de silêncio, cordão humano,
instalação artística, sessão musical ou performativa (dança, poesia, teatro, mural…).
Cria o
site “memoriaeesperanca.pt” onde pode
ser anunciada e registada qualquer iniciativa e que terá um papel pedagógico,
recebendo e propondo ideias sobre o que fazer localmente.
***
Enfim,
vamos sintonizar com a ‘Memória & Esperança 2021’
pela solidariedade!
2021.10.22 – Louro de
Carvalho
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