sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Jornada Nacional ‘Memória & Esperança 2021’

 

Está em curso, entre este dia 22 e o dia 24, a Jornada Nacional ‘Memória & Esperança 2021’ em memória das vítimas da covid-19, em Portugal, promovendo centenas de iniciativas e querendo ser momento coletivo de união e esperança, para o que pretende mobilizar a sociedade e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem.

O grupo promotor integra pessoas de várias áreas, integrando músicos, atores, escritores, médicos, políticos, jornalistas e juristas.

Na verdade, como explicou à agência Ecclesia Inês Espada Vieira, vice-presidente do Centro de Reflexão Cristã, que integra a comissão promotora da jornada e assinala o impacto individual e coletiva da pandemia, com experiências de “dor, luto, trauma”, “a comunidade precisa de um momento de união, de partilha, de um momento cívico para assinalar o que aconteceu”. E, advertindo que “a memória coletiva é fundamental para a união, o sentido de pertença”, assegura como consensual a verificação da necessidade de “fazer uma paragem antes de fazer o que todos queremos, que é virar a página”.

Inês Espada Vieira observa que é justo promover momentos de homenagem e celebração, recordando quem morreu e destacando a “tenacidade, persistência” e capacidade de entreajuda da população, além da “vontade política” que existiu no combate à covid-19. E, apontando que todos “queremos que algumas destas lições de confiança nos façam um país melhor”, vinca:

Se não aprendermos nada, é um tremendo desperdício do que tivemos de enfrentar. Às vezes, já tivemos todos a sensação, na nossa vida, de que isto está a voltar ao velho normal, e não o queremos.”.

Aquela professora universitária recorda um tempo de sacrifício, marcado pela “incerteza”, e espera que seja também de aprendizagem, para não “voltar atrás” e “reinventar” o futuro.

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A iniciativa está aberta à participação das pessoas e instituições que o desejarem, tendo para isso sido criado o site “memória e esperança.pt”, com as várias iniciativas propostas.

Os sinos de igrejas e as sirenes dos bombeiros vão tocar este sábado, dia 23, ao meio-dia, durante 3 minutos – momento para que estão convidadas a participar as paróquias católicas.

No domingo, dia 24, pelas 14 horas, os portugueses são chamados a fazer um minuto de silêncio fazendo memória da pandemia e afirmando a “esperança na sua erradicação em todo o planeta”. E o Presidente da República vai marcar presença na cerimónia de encerramento nos terrenos do Hospital de Santa Maria, antes da qual se vai plantar uma oliveira, a “árvore da esperança”, junto ao Pavilhão 1 do Estádio Universitário, em Lisboa, convertido no centro que maior número de vacinas distribuiu à população portuguesa.

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A Assembleia da República aprovou, neste dia 22, o Voto de Solidariedade n.º 687/XIV/3.ª, em consonância com a iniciativa do movimento de cidadãos, a que se associam as dioceses católicas, pela Jornada de Memória e Esperança, destacando o “esforço coletivo” que permitiu ao país atingir “os mais elevados níveis de vacinação”.

O texto apela a “uma reflexão conjunta sobre a forma como foi enfrentada e combatida: porque a pandemia tocou a todos, porque afetou todos os setores da sociedade, porque condicionou a vida de todos e a vida em sociedade”.

E as várias bancadas parlamentares prestaram homenagem aos que estiveram envolvidos no combate à pandemia, em especial aos profissionais de saúde, apelando à “democratização” da vacina pelo mundo.

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Por seu turno, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) emitiu uma Nota, no dia 20, a saudar a iniciativa e a declarar que “fazer memória daqueles que nos deixaram, nomeadamente os que foram atingidos pela pandemia, só tem significado no horizonte de esperança que dá sentido à vida”. Ao mesmo tempo, assegura que as Dioceses terão a oportunidade de realizar o gesto do toque dos sinos nas igrejas às 12 horas do dia 23, conforme sugerido pelos organizadores da Jornada e/ou a possibilidade de aderir a outra iniciativa. E, recordando que, no atinente “à expressão orante pelas vítimas no âmbito da Igreja, os Bispos celebraram uma Eucaristia no dia 14 de novembro de 2020, em Fátima, a que se associaram muitos fiéis, além de autoridades como o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, anuncia que, na próxima Assembleia Plenária de 8 a 11 de novembro, os Bispos celebrarão a Santa Missa pelas vítimas da pandemia.

O Bispo de Setúbal, Dom José Ornelas, presidente da CEP, referindo à Ecclesia a importância de preservar a memória das pessoas queridas e apontar ao futuro com esperança, sublinhou:

No meio do drama que foram estes quase dois anos, passados, nós fomos reencontrando valores na humanidade, valores de pessoas que se dedicaram – a começar pelos profissionais de saúde – e que estão a sofrer ainda as consequências da pandemia, em termos de sobrecarga de trabalho, de desgaste a todos os níveis”.

Dom Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco, publicou uma Nota, a informar que a Diocese se vai associar à iniciativa da sociedade civil, como sugerido pela CEP, em memória das pessoas que morreram por causa da pandemia. E escreveu:

Pedimos aos responsáveis pelas paróquias ou comunidades cristãs, esta ação de esperança, nesse dia e nessa hora, em memória das vítimas covid. Dê-se a conhecer às comunidades cristãs este gesto como sinal da nossa esperança, incluindo até um momento de oração de sufrágio pelos que partiram e de ação de graças pelo dom da vida.”.

Em Lisboa,  os sinos das igrejas vão ressoar, durante 3 minutos, no dia 23, para “recordar as vítimas da pandemia covid-19, os seus familiares, os profissionais de saúde e todos quantos dedicadamente combateram a pandemia”, explica uma Nota da Vigararia Geral do Patriarcado, que recorda a recomendação para que, nas Missas do dia 2 de novembro – Comemoração do todos os fiéis defuntos –, “especialmente se recorde, diante do Altar do Senhor, todos os fiéis que faleceram durante o confinamento”.

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Convém recordar que, a 25 de março de 2020, o Cardeal Dom António Marto presidiu, em representação da CEP, em Fátima, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, a uma oração de consagração de Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, a que se uniram mais de 20 países, pedindo o fim da pandemia da covid-19.

A 14 de novembro de 2020, a CEP promoveu uma celebração nacional pelas vítimas da covid-19, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima. Esta celebração contou com a presença de 20 bispos católicos, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Primeiro-Ministro, António Costa e de várias entidades públicas que se quiseram associar a esta homenagem de oração pelas vítimas, diretas ou indiretas, da pandemia.

A 16 de março deste ano, a CEP promoveu um dia especial de celebrações pelas vítimas da pandemia, associando-se a uma iniciativa da Igreja Católica na Europa, que decorreu ao longo da Quaresma. Com esta iniciativa, os Bispos da Europa uniram as suas vozes às do Papa Francisco “para reiterar a proximidade da Igreja a todos aqueles que lutam por causa do coronavírus: as vítimas e as suas famílias, os doentes e os profissionais de saúde, os voluntários e todos aqueles que se encontram na linha da frente neste momento tão delicado”, como explicava a CEP em comunicado, no qual referia que “os Bispos querem oferecer um sinal de comunhão e de esperança a toda a Europa”.

E, no último dia 13 de maio, o Bispo de Leiria-Fátima presidiu também a um momento de oração, a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, numa etapa da “maratona” de oração promovida pelo Papa, pelo fim da pandemia. Em união com o Papa, a oração em Fátima teve como especial alvo os presos, pois, como dizia Dom António Marto, “eles foram atingidos pela pandemia e precisam de reerguer-se das suas fraquezas e regenerar espiritualmente as suas vidas”; e “são nossos irmãos, aos quais nos devemos sentir unidos e com os quais nos devemos sentir solidários.

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A Jornada em curso vem na sequência do “Manifesto” proclamado a dia 30 de junho pp e que vem sendo subscrito por muitos cidadãos. Nele se frisa que o vírus “está a ser combatido com eficácia pelas medidas sanitárias e pelas vacinas conseguidas em tempo record”, mas deixa um rasto de “desolação”, pois “o número dos diretamente afetados caminha para os 180 milhões e, desses, perto de 4 milhões perderam a vida” – “tragédia de proporções avassaladoras”.

Apesar de a amplitude da tragédia se ter atenuado nos países ocidentais que controlam a produção e distribuição das vacinas, “os entraves à libertação das patentes e a falta de solidariedade internacional” fazem com que grande parte da humanidade, sobretudo dos países do hemisfério sul, continue a sofrer e a morrer de forma dramática com a covid-19”; e, nos países desenvolvidos a situação de controlo dos aspetos sanitários mais gravosos da pandemia, é “precária”, porque “sistémica”, pelo que “só estaremos seguros contra a covid-19 quando, a nível do planeta, todos estiverem seguros”.

Neste grave contexto, não podemos esquecer: a experiência traumática que o último ano representou para centenas de milhares de portugueses que viveram (e vivem) momentos trágicos; as perto de 900 mil pessoas contagiadas, muitas das quais passaram por situações desesperadas de que estão a recuperar física e psiquicamente; as mais de 17 mil vítimas mortais (grande parte sofreu sozinha, morreu longe dos seus e sem o último adeus); os familiares e amigos, sobretudo quem não pôde acompanhar e despedir-se dos doentes hospitalizados ou institucionalizados, e de todos os que não puderam fazer-lhes o funeral; as várias categorias de profissionais que trabalharam até ao esgotamento nas linhas da frente, bem como outros profissionais que, em outras frentes, permitiram que o país funcionasse; a memória dos que partiram e a dor vivida pelos que ficaram, mais a de todos os familiares e amigos que também sofreram com a dor dos outros; os que, em Portugal (e um pouco por todo o mundo), morreram não devido à covid-19, mas à fragilidade dos serviços de saúde que deixaram de poder atender a outras doenças graves.

E “não podemos esquecer a pandemia da solidão, que atingiu todos, mas, particularmente, os muitos idosos, que perderam a vida ou a lucidez, fazendo-nos ver que a vida dos mais velhos não é menos preciosa do que a dos mais novos”.

Ao mesmo tempo, é de vincar que “fazer o luto é imprescindível. Trata-se de atos pessoais e sociais que ajudam a despedir-se de quem parte, reconhecendo a vida que viveu, e ajudam a curar feridas e a seguir em frente – o que a pandemia impediu em tantos casos!

Em pandemia, há a dimensão coletiva e comunitária do luto que não resulta só do somatório dos lutos individuais ou familiares, mas também da eclosão da tragédia que eclodiu e do trauma que ela originou, que “são sociais e globais”.

Em todo o caso, “é necessário afirmar a esperança: no reforço de relações sociais fraternas, justas e portadoras de futuro para todos, conscientes do risco de regresso ao velho normal; na preparação para enfrentarmos juntos os desafios da pós-pandemia; nos atos de solidariedade, dedicação e atenção de que fomos atores e testemunhas ao longo deste longo ‘inverno’. E afirmar a esperança será não desistir de pensar um outro mundo, de questionar o modelo de sociedade centrado no ter e não no ser, de reconhecer que somos todos vulneráveis e interdependentes, estamos todos no mesmo barco – convicção que ajudará a superar o medo.

Com esta motivação, surgiu uma iniciativa, de âmbito nacional e local, que vai ao encontro das preocupações enunciadas – a Jornada Nacional ‘Memória & Esperança 2021’, que

Visa mobilizar a sociedade e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem; e dar densidade, rosto, vida e sentido coletivo aos números, estatísticas e gráficos com que todos fomos confrontados desde março de 2020.

Se propõe prestar tributo aos que partiram, acolher o sofrimento e as narrativas dos que foram afetados pela pandemia e suas consequências e celebrar e agradecer a todos os que cuidaram da saúde e minoraram o sofrimento e a dor de tantos, bem como “afirmar a vontade de viver em comunidades que não querem deixar ninguém para trás”.

Ocorrerá no fim de semana de 22-23-24 de outubro em um ou mais destes dias, podendo extravasar para dias anteriores ou posteriores; poderá ter uma cerimónia nacional e terá múltiplas iniciativas locais ou setoriais, de caráter livre, articuladas num programa local.

Procurará dar corpo a tudo o que a pandemia nos deixa na memória, recorrendo a todas as linguagens expressivas, que não apenas, nem sobretudo, o discurso falado.

Procurará que, um dos dias, os sinos das igrejas toquem ao meio-dia e convida as famílias a pôr, à noite, uma vela num espaço coletivo ou na janela das casas.

Convida: as instituições religiosas, pela proximidade às respetivas comunidades e aos rituais que têm para lidar com o sofrimento e a morte, a tomar as iniciativas que entendam mais adequadas, próprias e/ou em articulação com outras confissões e instituições da sociedade; os órgãos do poder autárquico (municipal e de freguesia), a assumir protagonismo na promoção de iniciativas, articulação e coordenação de ações no plano local e sensibilização das instituições e das comunidades locais; as escolas e as outras instituições educativas, a organizar projetos que valorizem a expressão das crianças e adolescentes quanto a vivências e aprendizagens que fizeram com a pandemia; as instituições de saúde, de ação/intervenção social e de proteção civil, pelo papel que têm tido no combate à pandemia, a ter lugar de destaque em iniciativas nacionais e locais, através de iniciativas próprias ou de outras entidades; as instituições e atores culturais, tão fortemente penalizados pela pandemia, a incluir na sua programação e criação propostas específicas de interpretação artística e de expressão de sentido e significados sobre estes tempos de pandemia; e os meios de comunicação social, a tomar as iniciativas que entendam oportunas para informar e mobilizar a comunidade.

Quer iniciativas de caráter aberto, plural e inclusivo, assumindo formas como celebração cívica, celebração religiosa/ecuménica, concentração, desfile, vigília, tempo (ex: minuto) de silêncio, cordão humano, instalação artística, sessão musical ou performativa (dança, poesia, teatro, mural…).

Cria o site “memoriaeesperanca.pt” onde pode ser anunciada e registada qualquer iniciativa e que terá um papel pedagógico, recebendo e propondo ideias sobre o que fazer localmente.

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Enfim, vamos sintonizar com a Memória & Esperança 2021 pela solidariedade!

2021.10.22 – Louro de Carvalho

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