sábado, 9 de janeiro de 2021

Governo confirma novo confinamento, mas sem adiantar pormenores

 

A Ministra de Estado e da Presidência anunciou, após as várias reuniões com os partidos representados no Parlamento, que o país vai entrar novamente em confinamento, 10 meses depois do primeiro, no início da pandemia, mas, sem adiantar pormenores, e destacou a necessidade de novas medidas quanto antes.

Em declaração transmitida pela SIC Notícias neste 9 de janeiro, Mariana Vieira da Silva disse:

Faremos um confinamento muito próximo do que existiu em março e abril, garantindo que não fecharemos nada que não tenha sido fechado, como a agricultura, a indústria, e a distribuição continuará a funcionar, de modo a garantir também que nada do que são os bens essenciais falte”.

Acrescentando que “o detalhe ao certo de cada tipo de loja e de cada tipo de comércio, se já soubéssemos, já teríamos tomado as medidas”, sublinhou a necessidade de se perceber que se se tivessem tomado medidas há uma semana, era “com base em informação incompleta”, pelo que se adiou uma semana, pois era fundamental ouvir os partidos. E referiu que, mal a Assembleia da República aprove “o novo decreto do estado de emergência, o Conselho de Ministros reunirá imediatamente para tomar estas decisões”.

Por sua vez, o Primeiro-Ministro frisou a necessidade de o Governo “procurar o maior consenso possível” para implementar medidas mais restritivas que tem “mesmo de tomar” contra a pandemia, “assentes em conhecimento científico”, porque “os números são preocupantes e todos os esforços são poucos”. E, através da rede social Twitter, partilhou imagens da ronda de audições a todos os partidos com assento parlamentar, que se iniciaram no dia 8 se concluíram neste dia 9.

À saída das audiências com o Governo, os partidos indicaram que poderá estar em cima da mesa um confinamento semelhante àquele que foi decretado no início da pandemia, continuando as escolas em funcionamento.

Depois, será auscultada “a posição dos especialistas em saúde pública e epidemiologistas” no dia 12, no Infarmed, para avaliar a evolução da pandemia em Portugal e fundamentar a decisão política da tomada de medidas restritivas.  

Além das audiências com os partidos, no dia 8, houve uma reunião do Conselho Permanente da Concertação Social sobre o mesmo tema, tendo o Ministro de Estado e da Economia admitido a possibilidade de encerramento da restauração e comércio não alimentar, no âmbito do novo confinamento geral do país em resposta ao agravamento da pandemia.

***

O confinamento será, numa primeira fase, por 15 dias a começar, previsivelmente, no dia 15 ou 16 de Janeiro. Com efeito, já não restam dúvidas de que, para a semana, o país volta a fechar, mas o dia em que começa o novo confinamento ainda não é certo. Será depois do dia 13, se não for possível antecipar a aprovação no Parlamento de novo estado de emergência.

***

Das conversas com os partidos, percebe-se que António Costa é a favor de não fechar as escolas, mas que ainda não decidiu se encerra todo o comércio, podendo haver exceções para o pequeno comércio, enquanto restauração e espetáculos deverão ter de fechar ou suspender atividades, e que o pregão do Governo é que trate cada um de se proteger e reduzir os contactos,

Para já, há uma garantia do Governo: Não se fechará nada “que não tenha sido fechado”, para que estejam garantidos os “bens essenciais”.

Um dos pontos reforçados pelos partidos prende-se com os apoios para este novo período.

O PEV sugeriu que o Estado assumisse, por exemplo, o pagamento de parte da fatura da eletricidade deste mês. E o BE, o último partido a ser ouvido, mostrou preocupação com as “condições para esse confinamento e os apoios” até porque “há apoios de março que ainda não foram pagos”, como apontou Catarina Martins.

André Silva, líder do PAN, referiu que o novo confinamento terá uma “primeira fase de 15 dias”, permanecendo abertas as escolas e sustentou que é “inevitável que o aumento de restrições ocorra” tendo em conta a atual situação pandémica. Para este líder partidário, é preciso ver este período numa “perspetiva positiva” e esperar que “depois de 15 dias, três semanas, possamos estar numa situação melhor”, pois não há dúvidas de que “ainda não atingimos o pico”. E, tendo em conta as restrições que vão existir, o deputado defendeu que é preciso reforçar “o apoio às empresas e ao pequeno e médio comércio”, do que o Primeiro-Ministro “tomou nota positiva”.

Outra das preocupações do PAN incide nas consequências psicológicas de novo confinamento, sobretudo nos alunos, e daí entender que as escolas não sejam encerradas. E, quanto ao recurso aos privados, André Silva diz que “está previsto nos decretos do estado de emergência” e que já “há contratos feitos com o privado, caso haja essa necessidade”.

Os Verdes (PEV) disseram terem feito propostas ao Governo que teve “abertura”. Uma delas, a mais importante, é que o Estado pague parte da fatura da luz no final do mês de janeiro. Com efeito, “encaminhando as pessoas para casa”, há que “garantir que as suas habitações têm as condições de conforto para que possam lá estar”, como disse a deputada Mariana Silva.

Outro dos pontos que o PEV colocou a Costa foi a necessidade de garantir “todas as condições para que possam exercer direito ao voto” e, por isso, pediu um reforço do transporte público no domingo das eleições. Além disso, pediu apoio às micro, pequenas e médias empresas.

Os Verdes, tal como o PS e o PCP, defendem que se devem manter as escolas abertas – uma exceção ao que aconteceu em março. Para o que poderá vir depois, disse Mariana da Silva que é preciso perceber o que fazer “caso os números não baixem”, na certeza de que é preciso ter medidas “de 15 dias, ir além dos 15 dias, um mês o que seja necessário para desafogar o Serviço Nacional de Saúde” (SNS). E, como o Governo e o Presidente da República não se podem esconder atrás da emergência, “as medidas têm de ser concretas e prolongadas no tempo”.

André Ventura disse que o Governo ainda não decidiu fechar “o pequeno comércio” e que esse foi um pedido do Chega, por ser “demasiado arriscado fazer isso sem termos a certeza e todos os dados que nos possam dizer que os restaurantes e cafés são focos de contágio reais”. E o líder do Chega contesta esta posição do Governo, bem como a decisão de fechar a restauração.

Porém, aos jornalistas, André Ventura deu quase como certo o encerramento da restauração e de todas as atividades culturais, ao passo que os dentistas permanecerão em funcionamento.

Do ponto de vista político, Ventura referiu, por três vezes, que reconhece que esta é uma situação “muito difícil” para o Governo. E, como candidato presidencial, disse que não há como adiar as eleições presidenciais. Contudo, tendo em conta a situação atual, considera que “não faz sentido não haver atividades na rua”, pelo que vai “refazer o modelo de campanha”.

Por seu turno, o líder da Iniciativa Liberal diz que a situação é “urgente” e que apanhou todos de surpresa, não só pelos números de novos casos, mas sobretudo pelo estado do SNS. Por isso, defendendo que têm mesmo de ser tomadas medidas, João Cotrim Figueiredo disse:

Não é razoável não adotar medidas de contenção, mas, até por isso, é importante perceber quais as que fazem sentido, quais as que funcionam e baseados em dados fiáveis”.

Cotrim Figueiredo admitiu a antecipação do plenário na Assembleia da República de aprovação do novo estado de emergência, para que o Governo possa, ainda na tarde do dia 13, aprovar as medidas mais restritivas. Trata-se de uma “urgência”, pois a situação “a todos está a surpreender e, quando há uma surpresa, é porque não se sabe bem o que se está a passar”, pelo que o líder da Iniciativa Liberal colocou enfoque na situação dos hospitais e disse que, desta vez, “há alguma vontade em aprofundar a origem dos dados” por parte do Governo, nomeadamente os dados da “mobilidade”, que possam servir de base para definir as exceções ao confinamento.

***

O Governo pondera efetivamente confinar o país à semelhança do que aconteceu na primavera, mas garante que, se tal acontecer, serão disponibilizados apoios adequados à economia. Assim, as empresas que tenham de encerrar acederão, de imediato, ao lay-off simplificado – ficando dispensadas das contribuições sociais – e está em preparação reforço dos subsídios de fundo perdido. Também os trabalhadores independentes e os sócios-gerentes terão direito aos apoios disponibilizados na primavera, se as restrições mais apertadas se confirmarem.

À saída da reunião com os parceiros sociais, Siza Vieira sublinhou que, para o Executivo, é “evidente”, neste momento, a necessidade de encontrar um “modelo de contenção maior da mobilidade dos portugueses, o que passará pela adoção de medidas mais restritivas, semelhantes às de abril de 2020 (com o encerramento de várias atividades como o comércio não alimentar e a restauração).

A confirmar-se o regresso a confinamento mais apertado, as empresas encerradas por imposição legal terão à sua disposição o lay-off simplificado, regime que lhes permite reduzir os horários ou suspender os contratos de trabalho, e receberão um apoio para o pagamento dos salários.

Ao invés do que sucedeu na primavera, os trabalhadores que fiquem em lay-off simplificado não terão cortes salariais, mas isso não implicará qualquer custo extra para os empregadores.

A eliminação dos cortes nas remunerações foi aprovada, no dia 7, em Conselho de Ministros, havendo duas exceções, isto é, os trabalhadores com salários acima de 1.995 euros (3 vezes o salário mínimo nacional) mantêm os cortes, bem como os que trabalhem para empresas que já tinham aderido ao lay-off clássico antes de janeiro de 2021.

Por outro lado, no dia 8, o Ministro de Estado e da Economia lembrou que as empresas que adiram a este lay-off simplificado têm direito à isenção das contribuições sociais, o que não sucede no apoio à retoma progressiva. Porém, as empresas que agora estão no apoio à retoma progressiva poderão continuar nesse regime, mesmo que sejam encerradas por imposição legal.

Além disto, o Governo está a preparar um reforço dos subsídios a fundo perdido previstos no programa Apoiar.pt, com a majoração dos apoios às empresas. No entanto, o Ministro não quis dar mais detalhes, referindo que a portaria será publicada muito em breve.

Quanto aos sócios-gerentes e a trabalhadores independentes, a Ministra do Trabalho esclareceu que, a confirmar-se o confinamento mais apertado, deverá regressar o apoio disponibilizado na primavera, que varia entre 219 euros e 665 euros. E, para lá deste apoio, paralelamente, será operacionalizada a nova prestação prevista no Orçamento do Estado para os trabalhadores sem proteção social ou com quebra de rendimentos, que estará disponível até ao final do mês.

***

A ver vamos. Temos todos de cooperar, ainda que não concordemos com tudo, e acautelar que, não se morrendo da doença, venha, afinal, a morrer-se da cura.

2021.01.09 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário