quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Bodas de Prata de Ordenação Episcopal do Bispo emérito de Lamego

 

Segundo Nota da Vigararia Geral da Diocese de Lamego, publicada no n.º 4592 do semanário diocesano, passou, a 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro principal da Diocese, o 25.º aniversário da ordenação episcopal – jubileu de bodas de prata episcopais – de Dom Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, bispo emérito.

Refere a susodita Nota que a situação de pandemia e confinamento não permite a celebração pública de que o insigne e devotado membro da Igreja diocesana é merecedor, pelo menos “com o mesmo dinamismo jubilar e pastoral com que em 2008” foram celebradas “as suas Bodas de Ouro Sacerdotais” e, suponho eu, como a mesma grandiosidade simples com que foram celebradas as suas Bodas de Prata Sacerdotais, na igreja paroquial de Vila da Rua, em 1983, sob a presidência do Arcebispo-bispo de Lamego, Dom António de Castro Xavier Monteiro a quem parabenizei por aquela tão interessante “missa campal dentro da Igreja” (na freguesia de Rua). 

Prados de Cima, da freguesia de Rua, Moimenta da Beira, é o local do nascimento, a 11 de setembro de 1935, desta “figura incontornável na história da nossa diocese” (vd Nota citada), que recebeu a ordenação de presbítero na Catedral de Lamego a 15 de agosto de 1958.

O então Dr. Jacinto, professor e prefeito do Seminário Maior de Lamego, após ter completado em Roma a licenciatura em História da Igreja, foi meu professor de História Universal, História de Arte, História da Civilização, História da Civilização Portuguesa e História da Igreja em Portugal. Nos meus últimos três anos de seminário, foi vice-reitor em exercício do Seminário, praticamente com as funções de reitor. Foi ele quem me passou os sucessivos certificados para o adiamento do serviço militar obrigatório

Além das funções formativas no Seminário Maior, Dom Jacinto tinha fama e ação de bom pregador, que instruía e encantava, e chegou a ser admonitor oficial e condutor da assembleia nas celebrações na Sé Catedral. Sucedeu a Dom António José Rafael como diretor espiritual dos Cursos de Cristandade e como Vigário Episcopal dos Leigos. Depois, foi Vigário Geral Adjunto sendo Vigário Geral Monsenhor José Morais e Costa, vindo a ascender ao cargo de Vigário Geral, cargo em que chegou a substituir o bispo diocesano em visitas pastorais e ministração do Sacramento da Confirmação.

Foi como Vigário Geral Adjunto que, no dia seguinte ao da visita pastoral de Dom António de Castro Xavier Monteiro à paróquia de Penso, presidiu à celebração inaugural das obras de restauro e melhoramento da igreja paroquial daquela freguesia. Lembro-me de o ter cumprimentado, apelando à gramática, na minha usual irreverência bem-intencionada, como Senhor Determinante Possessivo da Vigaria Geral. Ainda como Vigário Geral Adjunto representou o Bispo diocesano no encerramento do congresso dos leigos e congresso eucarístico de Sernancelhe a 13 de novembro de 1988.

Recebi-o, como Vigário Geral, regressado de visita pastoral, na mesa da sessão de homenagem ao Cónego Lemos Sobral, para ladear o prelado diocesano no Salão Nobre dos Paços do Município, a 2 de novembro de 1991; e, na sessão solene de evocação da figura do Cónego José Cardoso, a 25 de outubro de 1992, no Ginásio da antiga Escola EB 2/3 de Sernancelhe (convertida em Escola Profissional desde setembro de 1993), para ladear o prelado diocesano – isto no quadro da homenagem póstuma da diocese ao Cónego José Cardoso de Almeida (se vivo, faria 50 anos de ordenação sacerdotal, a 26 de julho daquele ano), repartida pela Vila da Ponte (igreja paroquial e cemitério), terra onde nasceu e foi ordenado de presbítero por Dom Agostinho de Jesus e Sousa, e Sernancelhe, em cuja igreja matriz foi batizado – homenagem organizada pela paróquia de Vila da Ponte, pela Câmara Municipal de Sernancelhe e pelo Seminário Maior de Lamego.   

Prestou-me a gentileza de me substituir num dos domingos do tempo que estive em formação na Academia Militar e na peregrinação paroquial à Senhora das Necessidades de Vila da Ponte, numa segunda-feira de Páscoa e presidiu comigo, a 14 de novembro de 1984, às exéquias do Dr. José Manuel Pinto de Sousa, médico natural de Vila da Ponte, onde residia com a família e exercia a sua profissão de médico.

Também, por minha sugestão, renomeou professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) da Escola EB 2/3 de Sernancelhe o Rev. Padre José Alves Amorim, o que lhe permitiu, mais tarde, lugar no quadro daquela escola, nos termos do Decreto-Lei n.º 407/89, de 16 de novembro, diploma nos termos do qual, em 1990, propôs para professor de EMRC do quadro da EB 2/3 de Tabuaço o Rev. Padre Manuel Joaquim Soares da Rocha.    

E, quando alguém pediu ao Arcebispo que me demovesse de ir a tribunal como testemunha num processo de acidente de viação, alegadamente porque eu iria mentir para defender paroquianos, Dom Jacinto, intermediou no sentido de eu me desempenhar com tranquilidade desse papel de testemunha, não se dando azo a que eu fosse coercivamente instado a ir ao tribunal.

Recordo que, se gostei da sua nomeação como cónego, ao saber da sua nomeação como monsenhor, lhe dei os parabéns, mas lamentei por me parecer que seria mais difícil a sua ascensão ao episcopado, o que seria pena.

Não tinha razão, pois, a 31 de outubro de 1995, São João Paulo II nomeou-o Bispo Titular de Tácia Montana e auxiliar de Braga. E, quando ainda apenas Bispo eleito foi, em nome do Bispo diocesano, recebido em Macieira para a celebração inaugural das obras de restauro e melhoramento da igreja paroquial daquela freguesia e ministrar o sacramento da Confirmação a algumas pessoas, tive o gosto de o cumprimentar como novo sucessor dos apóstolos. 

E participei na sua ordenação episcopal, naquele dia 20 de janeiro de 1996, de muita chuva, vento e frio no exterior, mas cheio de calor humano no interior da Sé Catedral de Lamego. Recordo que Dom Eurico Dias Nogueira, Arcebispo Primaz de Braga, o ordenante principal, agradecendo a Dom Américo do Couto Oliveira a cedência da cátedra para aquela celebração, proferiu uma homilia cheia de história e doutrina. Recordo a figura já muito vulnerável do Padre Dr. Rui Morais Botelho, o grupo coral dirigido pelo Rev. Padre José Fernando Saraiva Abrunhosa e Monsenhor Veríssimo Lemos Peliz ao órgão de tubos. Lembro como o cântico “Fiat. Magnificat” ecoou pelas naves da Catedral e as palavras de saudação e júbilo que Dom Jacinto dirigiu ao povo, bem como o percurso de bênção que sobre todos invocou e lançou.

A 28 do mesmo mês e ano, houve festa na sua paróquia de Vila da Rua, com solene concelebração, presidida pelo Bispo diocesano, Dom Américo do Couto Oliveira, que proferiu a homilia. Inegavelmente me lembro da homilia que Dom Américo fez questão de pronunciar, confesso que uma das melhor que lhe ouvi, bem como a sucinta mas elevada alocução do pároco de Vila da Rua, o atual Vigário Geral, Monsenhor Joaquim Dias Rebelo, a relativamente longa, mas sentida alocução do Cónego António Sousa Pinto, então pároco de Leomil, Vigário Episcopal da Zona do Távora e conterrâneo de Dom Jacinto, e, obviamente, a alocução do Bispo recém-ordenado e ali homenageado, cujas palavras falaram alto nas almas que participaram na celebração. Foi nesse dia que soube da nomeação da nova equipa para a Vigararia Geral: Monsenhor Eduardo António Russo, Vigário Geral, e Cónego António Francisco dos Santos, Pró-Vigário Geral. E, anotando que o primeiro era formado em Biologia e o segundo em filosofia, junto com os parabéns que dei aos dois em conjunto, referi o adágio latino: “Primum vivere, deinde philosophari”.

Como Bispo auxiliar de Braga, encontrei-o em 1996, em Fátima no Simpósio do Clero, em que presidiu a uma das sessões. Como Bispo de Lamego, para que foi eleito a 20 de janeiro de 2000 e de cuja diocese tomou posse a 19 de março seguinte, pouco trabalhei com ele.

Não obstante, destaco uma homilia que lhe ouvi pela Rádio Renascença num Dia da Cáritas, cuja celebração nacional foi em Lamego e em que Dom Jacinto disse – o que poucos diziam em alta voz – que a crise económica e financeira que atravessava o país e a Europa tinha origem na crise moral em que se aprofundavam as desigualdades e se tinha promovido excessivamente o consumo. Depois, assisti às celebrações por ele presididas em Sernancelhe, a do 50.º aniversário do monumento ao Sagrado Coração de Maria no Senhor do Castelo, em 2007, e da inauguração do Museu Monsenhor Cândido de Azevedo, em 2011.

Devo assinalar que me visitou pessoalmente aquando da minha despedida das paróquias.    

Foi um prelado extremamente dedicado e solícito até à posse de Dom António José da Rocha Couto a 29 de janeiro de 2012, data em que Dom Jacinto era Administrador Apostólico da Diocese, pois tinha sido aceite a sua resignação a 19 de novembro de 2011. Depois, como emérito, tem-se mantido discreto, mas sempre disponível e atuante no regime de cooperação como o atual Bispo diocesano.

É evidente que lhe cai como uma luva a afirmação do Papa Francisco de que “assumiu, na vinha do Senhor, o encargo de prover às necessidades dos fiéis, que pastoreou com alegria e misericórdia evangélicas”. Não obstante, Dom Jacinto sentiu o peso da responsabilidade pela evangelização, santificação e pastoreio da diocese, bem como a paulina solicitude por todas as Igrejas. E isso notava-se nas palavras, no gesto fisionómico e na postura eclesial e social.

Não quero deixar se vincar, além da justeza e fervor das homilias, a capacidade do exercício da oração espontânea, que fazia e induzia nos outros, a partir de um ou mais versículos bíblicos. Para lá de vários casos que podia mencionar, ressaltam as caminhadas em que o Zé Abrunhosa e eu o acompanhávamos para o terço e missa às 6 horas da manhã na Capela de Nossa Senhora dos Meninos, no Mês das Almas e na Novena para o Natal, com o seguinte itinerário: oração silenciosa na Capela do Seminário, leitura em voz alta duma passagem bíblica, caminhada para a Senhora dos Meninos expondo, durante ela, cada um a sua reflexão e oração espontânea, terço, pausa para confissões e ensaio de cânticos e missa, regresso ao Seminário.

Assim, não admira que tenha gostado do curso de cristandade dirigido espiritualmente por Dom Jacinto ou que, ao ser abordado na Lapa por um padre, que dizia vir de Lisboa, em 1999, me falava duvidosamente do Bispo auxiliar de Braga, lhe tenha retorquido: “Padre que diga mal de Dom Jacinto não merece ser bispo”.   

Enfim, cumpre-me felicitar Dom Jacinto, o sacerdote e professor (com quem muito aprendi), por este jubileu episcopal e dar testemunho deste homem de oração e ação, de solicitude dedicada que tanto sabe expor-se como remeter-se à discrição – sempre numa postura de serviço humilde e verdadeiro à Igreja e ao mundo. Que Deus lhe dê muita vida e saúde.

2021.01.21 – Louro de Carvalho

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