Segundo Nota da Vigararia Geral
da Diocese de Lamego, publicada no n.º 4592 do semanário diocesano, passou, a
20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro principal da Diocese, o 25.º
aniversário da ordenação episcopal – jubileu de bodas de prata episcopais – de
Dom Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, bispo emérito.
Refere a susodita Nota que a
situação de pandemia e confinamento não permite a celebração pública de que o
insigne e devotado membro da Igreja diocesana é merecedor, pelo menos “com o
mesmo dinamismo jubilar e pastoral com que em 2008” foram celebradas “as suas
Bodas de Ouro Sacerdotais” e, suponho eu, como a mesma grandiosidade simples
com que foram celebradas as suas Bodas de Prata Sacerdotais, na igreja
paroquial de Vila da Rua, em 1983, sob a presidência do Arcebispo-bispo de
Lamego, Dom António de Castro Xavier Monteiro a quem parabenizei por aquela tão
interessante “missa campal dentro da Igreja” (na freguesia de
Rua).
Prados de Cima, da freguesia de
Rua, Moimenta da Beira, é o local do nascimento, a 11 de setembro de 1935,
desta “figura incontornável na história da nossa diocese” (vd
Nota citada), que
recebeu a ordenação de presbítero na Catedral de Lamego a 15 de agosto de 1958.
O então Dr. Jacinto, professor e prefeito do Seminário Maior de Lamego, após ter completado em Roma a licenciatura em História da Igreja, foi meu professor de História Universal, História de Arte, História da Civilização, História da Civilização Portuguesa e História da Igreja em Portugal. Nos meus últimos três anos de seminário, foi vice-reitor em exercício do Seminário, praticamente com as funções de reitor. Foi ele quem me passou os sucessivos certificados para o adiamento do serviço militar obrigatório
Além das funções formativas no
Seminário Maior, Dom Jacinto tinha fama e ação de bom pregador, que instruía e
encantava, e chegou a ser admonitor oficial e condutor da assembleia nas
celebrações na Sé Catedral. Sucedeu a Dom António José Rafael como diretor
espiritual dos Cursos de Cristandade e como Vigário Episcopal dos Leigos.
Depois, foi Vigário Geral Adjunto sendo Vigário Geral Monsenhor José Morais e
Costa, vindo a ascender ao cargo de Vigário Geral, cargo em que chegou a
substituir o bispo diocesano em visitas pastorais e ministração do Sacramento
da Confirmação.
Foi como Vigário Geral Adjunto
que, no dia seguinte ao da visita pastoral de Dom António de Castro Xavier
Monteiro à paróquia de Penso, presidiu à celebração inaugural das obras de
restauro e melhoramento da igreja paroquial daquela freguesia. Lembro-me de o
ter cumprimentado, apelando à gramática, na minha usual irreverência
bem-intencionada, como Senhor Determinante Possessivo da Vigaria Geral. Ainda
como Vigário Geral Adjunto representou o Bispo diocesano no encerramento do
congresso dos leigos e congresso eucarístico de Sernancelhe a 13 de novembro de
1988.
Recebi-o, como Vigário Geral,
regressado de visita pastoral, na mesa da sessão de homenagem ao Cónego Lemos Sobral,
para ladear o prelado diocesano no Salão Nobre dos Paços do Município, a 2 de
novembro de 1991; e, na sessão solene de evocação da figura do Cónego José
Cardoso, a 25 de outubro de 1992, no Ginásio da antiga Escola EB 2/3 de
Sernancelhe (convertida em Escola Profissional desde setembro de
1993), para ladear o
prelado diocesano – isto no quadro da homenagem póstuma da diocese ao Cónego José
Cardoso de Almeida (se vivo, faria 50 anos de ordenação
sacerdotal, a 26 de julho daquele ano),
repartida pela Vila da Ponte (igreja paroquial e cemitério), terra onde nasceu e foi
ordenado de presbítero por Dom Agostinho de Jesus e Sousa, e Sernancelhe, em
cuja igreja matriz foi batizado – homenagem organizada pela paróquia de Vila da
Ponte, pela Câmara Municipal de Sernancelhe e pelo Seminário Maior de Lamego.
Prestou-me a gentileza de me
substituir num dos domingos do tempo que estive em formação na Academia Militar
e na peregrinação paroquial à Senhora das Necessidades de Vila da Ponte, numa
segunda-feira de Páscoa e presidiu comigo, a 14 de novembro de 1984, às
exéquias do Dr. José Manuel Pinto de Sousa, médico natural de Vila da Ponte,
onde residia com a família e exercia a sua profissão de médico.
Também, por minha sugestão,
renomeou professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) da Escola EB 2/3 de Sernancelhe
o Rev. Padre José Alves Amorim, o que lhe permitiu, mais tarde, lugar no quadro
daquela escola, nos termos do Decreto-Lei n.º 407/89, de 16 de novembro,
diploma nos termos do qual, em 1990, propôs para professor de EMRC do quadro da
EB 2/3 de Tabuaço o Rev. Padre Manuel Joaquim Soares da Rocha.
E, quando alguém pediu ao
Arcebispo que me demovesse de ir a tribunal como testemunha num processo de acidente
de viação, alegadamente porque eu iria mentir para defender paroquianos, Dom
Jacinto, intermediou no sentido de eu me desempenhar com tranquilidade desse
papel de testemunha, não se dando azo a que eu fosse coercivamente instado a ir
ao tribunal.
Recordo que, se gostei da sua
nomeação como cónego, ao saber da sua nomeação como monsenhor, lhe dei os
parabéns, mas lamentei por me parecer que seria mais difícil a sua ascensão ao
episcopado, o que seria pena.
Não tinha razão, pois, a 31 de
outubro de 1995, São João Paulo II nomeou-o Bispo Titular de Tácia Montana e
auxiliar de Braga. E, quando ainda apenas Bispo eleito foi, em nome do Bispo
diocesano, recebido em Macieira para a celebração inaugural das obras de restauro
e melhoramento da igreja paroquial daquela freguesia e ministrar o sacramento
da Confirmação a algumas pessoas, tive o gosto de o cumprimentar como novo
sucessor dos apóstolos.
E participei na sua ordenação
episcopal, naquele dia 20 de janeiro de 1996, de muita chuva, vento e frio no
exterior, mas cheio de calor humano no interior da Sé Catedral de Lamego.
Recordo que Dom Eurico Dias Nogueira, Arcebispo Primaz de Braga, o ordenante
principal, agradecendo a Dom Américo do Couto Oliveira a cedência da cátedra
para aquela celebração, proferiu uma homilia cheia de história e doutrina.
Recordo a figura já muito vulnerável do Padre Dr. Rui Morais Botelho, o grupo
coral dirigido pelo Rev. Padre José Fernando Saraiva Abrunhosa e Monsenhor
Veríssimo Lemos Peliz ao órgão de tubos. Lembro como o cântico “Fiat. Magnificat”
ecoou pelas naves da Catedral e as palavras de saudação e júbilo que Dom
Jacinto dirigiu ao povo, bem como o percurso de bênção que sobre todos invocou
e lançou.
A 28 do mesmo mês e ano, houve
festa na sua paróquia de Vila da Rua, com solene concelebração, presidida pelo
Bispo diocesano, Dom Américo do Couto Oliveira, que proferiu a homilia.
Inegavelmente me lembro da homilia que Dom Américo fez questão de pronunciar,
confesso que uma das melhor que lhe ouvi, bem como a sucinta mas elevada
alocução do pároco de Vila da Rua, o atual Vigário Geral, Monsenhor Joaquim
Dias Rebelo, a relativamente longa, mas sentida alocução do Cónego António
Sousa Pinto, então pároco de Leomil, Vigário Episcopal da Zona do Távora e
conterrâneo de Dom Jacinto, e, obviamente, a alocução do Bispo recém-ordenado e
ali homenageado, cujas palavras falaram alto nas almas que participaram na
celebração. Foi nesse dia que soube da nomeação da nova equipa para a Vigararia
Geral: Monsenhor Eduardo António Russo, Vigário Geral, e Cónego António
Francisco dos Santos, Pró-Vigário Geral. E, anotando que o primeiro era formado
em Biologia e o segundo em filosofia, junto com os parabéns que dei aos dois em
conjunto, referi o adágio latino: “Primum
vivere, deinde philosophari”.
Como Bispo auxiliar de Braga,
encontrei-o em 1996, em Fátima no Simpósio do Clero, em que presidiu a uma das sessões.
Como Bispo de Lamego, para que foi eleito a 20 de janeiro de 2000 e de cuja
diocese tomou posse a 19 de março seguinte, pouco trabalhei com ele.
Não obstante, destaco uma homilia
que lhe ouvi pela Rádio Renascença
num Dia da Cáritas, cuja celebração nacional foi em Lamego e em que Dom Jacinto
disse – o que poucos diziam em alta voz – que a crise económica e financeira que
atravessava o país e a Europa tinha origem na crise moral em que se
aprofundavam as desigualdades e se tinha promovido excessivamente o consumo. Depois,
assisti às celebrações por ele presididas em Sernancelhe, a do 50.º aniversário
do monumento ao Sagrado Coração de Maria no Senhor do Castelo, em 2007, e da inauguração
do Museu Monsenhor Cândido de Azevedo, em 2011.
Devo assinalar que me visitou pessoalmente
aquando da minha despedida das paróquias.
Foi um prelado extremamente dedicado
e solícito até à posse de Dom António José da Rocha Couto a 29 de janeiro de
2012, data em que Dom Jacinto era Administrador Apostólico da Diocese, pois
tinha sido aceite a sua resignação a 19 de novembro de 2011. Depois, como
emérito, tem-se mantido discreto, mas sempre disponível e atuante no regime de cooperação
como o atual Bispo diocesano.
É evidente que lhe cai como uma
luva a afirmação do Papa Francisco de que “assumiu, na vinha do Senhor, o encargo
de prover às necessidades dos fiéis, que pastoreou com alegria e misericórdia
evangélicas”. Não obstante, Dom Jacinto sentiu o peso da responsabilidade pela evangelização,
santificação e pastoreio da diocese, bem como a paulina solicitude por todas as
Igrejas. E isso notava-se nas palavras, no gesto fisionómico e na postura
eclesial e social.
Não quero deixar se vincar, além
da justeza e fervor das homilias, a capacidade do exercício da oração espontânea,
que fazia e induzia nos outros, a partir de um ou mais versículos bíblicos.
Para lá de vários casos que podia mencionar, ressaltam as caminhadas em que o
Zé Abrunhosa e eu o acompanhávamos para o terço e missa às 6 horas da manhã na Capela
de Nossa Senhora dos Meninos, no Mês das Almas e na Novena para o Natal, com o
seguinte itinerário: oração silenciosa na Capela do Seminário, leitura em voz
alta duma passagem bíblica, caminhada para a Senhora dos Meninos expondo,
durante ela, cada um a sua reflexão e oração espontânea, terço, pausa para confissões
e ensaio de cânticos e missa, regresso ao Seminário.
Assim, não admira que tenha gostado
do curso de cristandade dirigido espiritualmente por Dom Jacinto ou que, ao ser
abordado na Lapa por um padre, que dizia vir de Lisboa, em 1999, me falava duvidosamente
do Bispo auxiliar de Braga, lhe tenha retorquido: “Padre que diga mal de Dom Jacinto não merece ser bispo”.
Enfim, cumpre-me felicitar Dom
Jacinto, o sacerdote e professor (com quem muito aprendi), por este jubileu episcopal e
dar testemunho deste homem de oração e ação, de solicitude dedicada que tanto
sabe expor-se como remeter-se à discrição – sempre numa postura de serviço
humilde e verdadeiro à Igreja e ao mundo. Que Deus lhe dê muita vida e saúde.
2021.01.21 – Louro de Carvalho
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