segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A unidade na caridade é a marca da comunhão fundada em Jesus

 

Decorre, deste dia 18 de janeiro até ao dia 25, no Hemisfério Norte, a Semana de Oração pela Unidade Cristã – 2021, em vista da qual foi redigida uma Carta Ecuménica a três mãos: um católico (Ambrogio Spreafico, presidente da Comissão para o ecumenismo e o diálogo da Conferência Episcopal Italiana), um ortodoxo (Polykarpos Stavropoulos, vigário patriarcal da Arquidiocese Ortodoxa da Itália e Malta) e um pastor evangélico (Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas da Itália) – que asseguram que as “Igrejas e comunidades encontraram a unidade na caridade, que é a maior das virtudes e que permanecerá como a marca da nossa comunhão fundada no Senhor Jesus”.  

Sentem os autores o desejo de proximidade uns dos outros e das respetivas comunidades, pois “o sofrimento, a doença, a morte, as dificuldades económicas de muitos, a distância que nos separa não legitimam que se esconda ou diminua “a força de estarmos unidos em Cristo Jesus”.

Olhando a situação atual de pandemia, os signatários observam que não se pode esperar que “tudo volte a ser como era”, mas desejam que “tudo volte a ser melhor do que antes”, pois “o mundo ainda está muito marcado pela violência e injustiça, arrogância e indiferença”.

Não obstante, os três líderes religiosos não deixam de frisar que, “nestes meses de dor e grande necessidade, a solidariedade se multiplicou”, tendo-se unido muitos às nossas comunidades “para dar uma mão, para estar perto daqueles que precisavam de alimento, amizade, novos gestos de proximidade, respeitando as regras de distanciamento”. Por tudo isso, dão asas à gratidão ao Senhor “por esta solidariedade multiplicada”, visto que “a gratuidade do dom nos ajudou a redescobrir a contínua riqueza e beleza da vida cristã, inundada pela graça de Deus, que somos chamados a comunicar com maior generosidade a todos”.

Ao mesmo tempo, sublinham os subscritores da Carta Ecuménica que, “apesar das consequências da emergência sanitária, o medo não prevaleceu”. E especificam:

Continuamos a sair para apoiar os pobres, os pequenos, os idosos, muitas vezes privados da proximidade da família e dos amigos. As nossas Igrejas e comunidades encontraram a unidade na caridade que é a maior das virtudes e que, unicamente, permanecerá como a marca da nossa comunhão fundada no Senhor Jesus.”.

Asseguram as suas orações “pelos doentes, pelos cuidadores, pelos idosos sozinhos ou em instituições, pelos refugiados, por todos os que sofrem neste tempo” e pedem a Deus que cure a humanidade “do poder do mal e da pandemia, da injustiça e da violência” e que recebamos o dom da unidade.

E, recordando o Metropolita Zervos Gennadios, falecido a 16 de outubro passado e que durante vários anos compartilhou “o caminho para a unidade plena”, os autores da Carta Ecuménica convidam as comunidades cristãs a viver e a celebrar a unidade em oração comum e unidas em várias iniciativas.

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A respeito do evento, Francisco, nos apelos que faz habitualmente após o Angelus,  recordou o início desta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte é celebrada de 18 a 25 de janeiro, enfatizando que “a unidade é sempre superior ao conflito” e, chamando a atenção para a advertência de Jesus, tema deste ano: “Permanecei no meu amor e produzireis muito fruto(cf Jo 15,5-9), avisou que, a 25 de janeiro, “concluiremos com a celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, juntamente com os representantes das outras comunidades cristãs presentes em Roma”. E exortou a que, nestes dias, rezemos juntos para que se cumpra o desejo de Jesus: Que todos sejam um(Jo 17,21).

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Desde 1968, o livreto-guia para rezar com espírito ecuménico, neste tempo, é produzido pela Comissão de Fé e Constituição do Conselho Ecuménico de Igrejas e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Porém, desde 1975, esses textos – leituras bíblicas, comentários e orações para cada dia da semana – são preparados com base num projeto desenvolvido, em cada ano, por um grupo ecuménico local num país diferente. Deste ponto de vista, pode-se dizer que no próprio método se encontra o significado de “ecumenismo”: o universal, traduzido literalmente pela esplêndida expressão “terra habitada”. O texto é proposto com a advertência de que, sempre que possível, deve ser adaptado aos costumes locais, com especial atenção às práticas litúrgicas no seu contexto sociocultural e à dimensão ecuménica. Em algumas localidades já existem estruturas ecuménicas capazes de concretizar esta proposta e onde estão em falta, espera-se que sejam implementadas.

Este ano, o texto dos “Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano 2021”, da responsabilidade conjunta do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e da Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas, para que “as Igrejas e as confissões cristãs possam refletir, invocando mais intensamente o espírito de comunhão”, foi preparado pelas monjas de Grandchamp, no cantão de Neuchatel (Suíça), que participarão através do seu site e da página Facebook.

A Comunidade de Grandchamp, a quem foi confiada a tarefa de escrever o texto dos subsídios para este ano, é formada por cerca de 50 irmãs de diferentes tradições cristãs e diferentes países.

Fundada na 1.ª metade do século XX, desde o início cultivou fortes laços com a Comunidade de Taizé e com o Padre Paul Couturier, figura chave na história da Semana de Oração.

O tema, escolhido pela comissão local de redação, permitiu às irmãs partilhar a experiência e a sabedoria da vida contemplativa no amor de Deus e falar do fruto desta oração: “uma comunhão mais estreita com os irmãos e irmãs em Cristo e uma maior solidariedade com toda a criação”.

Toda a comunidade trabalhou ao longo de vários meses sobre este projeto, que serviu, depois, de base ao trabalho de redação com o grupo internacional. E quatro das irmãs trabalharam com o grupo internacional durante a reunião de setembro.

Atualmente, as religiosas estão em isolamento desde 5 de janeiro devido ao coronavírus, mas, acostumadas a viver o carisma da abertura ao diálogo e ao encontro, reorganizaram a vida em conjunto: cada uma reza do seu próprio quarto; tiveram de fechar as portas do acolhimento e cancelar as celebrações planeadas. Não obstante, os sinos do meio-dia continuam a bater, pois, como escreve a Irmã Svenja, “a pandemia não pode parar a oração”, pelo que nos convidam a seguir as atualizações online que continuarão a organizar para aproveitarmos este tempo “para alimentar a oração pessoal e para viver ainda mais profundamente o tema que preparámos”.

Assim, ao longo de 8 dias, meditamos e oramos guiados pelos diferentes pontos sugeridos pelos versículos da passagem da videira e o sarmento do evangelista João, que funcionam como subtemas. No 1.º dia, “chamados por Deus”: “Vós não me escolhestes, fui eu que vos escolhi(Jo 15,16a); no 2.º dia, “amadurecendo internamente”: “Permanecei em mim, como permaneço em vós(Jo 15,4a); no 3.º dia, “formando um só corpo”: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei(Jo 15,12b); no 4.º dia, “o profundo sentido de orar juntos”: “Já não vos chamo servos… chamo-vos amigos (Jo 15,15); no 5.º dia “deixando-se transformar pela Palavra”: “Vós já estais purificados pela palavra (Jo 15,3); no 6.º dia, “acolhendo os outros”: “Ide produzir frutos, frutos que permaneçam (Jo 15,16b); no 7.º dia, “crescendo na unidade”: “Eu sou a vide, vós sois os sarmentos(Jo 15,5a); e, no 8.º dia, “reconciliando com toda a criação”: “Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita(Jo 15,11).

A celebração deste ano de 2021 reflete os modos de orar das irmãs de Grandchamp. Nessa tradição, três dos monásticos momentos de oração – “vigílias” ou “preces noturnas” na tradição beneditina – tradicionalmente vividos durante a noite, estão combinados numa celebração no fim da tarde. Assim, a celebração para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2021 é moldada em três partes, as “vigílias”, que seguem um modelo usado pela comunidade.

Cada vigília segue o mesmo modelo: leituras da Escritura; uma resposta cantada; um tempo de silêncio; e intercessões. Cada vigília tem também um ato de reflexão sobre o tema, terminando cada um termina com o canto “Luz de Deus(Lumière de Dieu), composto por um membro da comunidade de Grandchamp, mas que poderá ser substituído por outro, escolhido localmente.

A primeira vigília está centrada na unidade da pessoa inteira e na nossa permanência em Cristo. Cada pessoa é convidada a cinco minutos de silêncio, que são repetidos ao longo da celebração.

A segunda vigília exprime o desejo de redescobrir a visível unidade dos cristãos. Ancorados no amor de Cristo, voltamo-nos para quem é próximo de nós e partilhamos uns com os outros um sinal da sua paz.

A terceira vigília abre-nos para a unidade de todos os povos, a toda a criação. A ação é inspirada num texto de Doroteus de Gaza. Várias pessoas são posicionadas em torno dum círculo e movem-se na direção do centro. Quanto mais perto nos colocarmos de Deus – que é o centro – mais nos aproximamos uns dos outros.

Há uma variedade de maneiras de coreografar essa ação, dependendo do espaço a usar e das tradições das pessoas envolvidas.

Para tanto, recomenda-se a modo de sugestão: cada pessoa do grupo precisará duma vela não acesa; os organizadores podem considerar a possibilidade de o grupo ficar em círculo com alas radiais para facilitar a ação; uma vela grande, elevada (como o círio pascal em muitas tradições) é colocada como ponto central no círculo; seis a oito pessoas de diferentes tradições cristãs ficam em volta da vela num círculo que pode ser desenhado no chão ou moldado pelo grupo que permanece sentado ao redor; cada uma dessas pessoas leva uma vela pequena não acesa, elevada para que todos a possam ver; durante a leitura que acompanha esse ato, cada pessoa no círculo vai dando passos ao mesmo tempo para o centro; ao chegarem ao centro, acendem as suas velas e voltam para o grupo e acendem as velas de todos; enquanto as velas do grupo são acesas, canta-se Lumière de Dieu ou outro cântico adequado; seguram-se as velas acesas até à saída; onde for possível e praticável, os grupos podem sair do local de oração para o mundo mais amplo, com as velas acesas; a ladainha pode ser lida ou cantada – se possível – por duas pessoas diferentes; os salmos podem também ser lidos ou cantados, ou substituídos por um hino relacionado ao tema da vigília; as respostas durante as orações de intercessão podem ser lidas, cantadas ou substituídas por outras; as intercessões podem ser prolongadas com um tempo adicional para preces espontâneas.

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Em tempo de pandemia, a unidade na caridade ainda se torna um desejo mais inevitável, uma urgência, uma esperança, pelo que a oração conjunta é tão necessária!

2021.01.18 – Louro de Carvalho

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