quarta-feira, 8 de junho de 2016

No centenário de fundação da Pontifícia União Missionária

No passado dia 4 de junho, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência os participantes da Assembleia das Pontifícias Obras Missionárias e demais colaboradores da Congregação para a Evangelização dos Povos – a quem agradeceu “pelo seu precioso serviço à missão da Igreja, que é levar o Evangelho a cada criatura (Mc 16,15).
Fazem parte do conjunto das POM (Pontifícias Obras Missionárias) a Pontifícia Obra para a Propagação da Fé, a Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo, a Pontifícia Obra para a Infância Missionária e a Pontifícia União Missionária. De entre elas destaca-se – pela sua história e preponderância – a PUM (Pontifícia União Missionária), em cujo centenário ocorreu a predita assembleia das POM.
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Enquanto serviço especial das POM (Pontifícias Obras Missionárias), a PUM visa a sensibilização, formação e informação missionária dos sacerdotes, religiosos e religiosas, dos aspirantes ao sacerdócio e à vida religiosa, bem como das demais pessoas que se implicam na animação e ministério pastoral da Igreja. O resultado da atividade das outras POM dependerá, em muito, da vitalidade da PUM, já que se deve sobretudo àqueles e àquelas a quem ela se dirige “a existência constante de um vivo espírito missionário nas comunidades cristãs”. Como alma das outras Obras, leva as pessoas que a integram a suscitar o espírito missionário nas comunidades cristãs e a incrementar a cooperação missionária. Originariamente denominada UMC (União Missionária do Clero: abriu-se aos religiosos e demais servidores da Igreja a 14.7.1949), a PUM almeja sobretudo “a cultura missionária dos sacerdotes para, com o exemplo e a palavra, se interessarem pela Missão e poderem iluminar o povo...” (Pe. Paulo Manna, o inspirador e fundador). Com efeito, o número dos que ignoram Cristo e não integram formalmente a Igreja não para de aumentar, até quase duplicou desde o final do Concílio Vaticano II. Ora, a urgência da missão torna-se agora mais evidente em função e em prol desta imensa humanidade, amada pelo Pai a ponto de lhe enviar o seu Filho. Em contrapartida, a nossa época oferece, neste âmbito, novas oportunidades e campos de ação à Igreja, verdadeiros sinais dos tempos: a queda de ideologias e sistemas políticos opressivos; o aparecimento dum mundo mais unido, graças ao incremento das comunicações; a afirmação, crescente entre os povos, dos reais valores evangélicos que Jesus encarnou na sua vida, como paz, justiça, fraternidade, dedicação aos pequenos; e um tipo de desenvolvimento económico e técnico sem alma, que vem criando, em contrapartida, a necessidade da verdade sobre Deus, o homem e o significado da vida. Deus abre, pois, à Igreja, os horizontes duma humanidade mais preparada para a sementeira evangélica, como refere, na encíclica Redemptoris Missio (Missão do Redentor), João Paulo II, que sentia “chegado o momento de empenhar todas as forças eclesiais na nova evangelização e na missão ad gentes”. Assim, “nenhum crente, nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste imperativo supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (cf RM, 3). E à Igreja, que teve de sofrer por esta causa, também lhe provoca sofrimentos a verificação da causa da falta de missionários: a ignorância da dimensão missionária dos padres, que, absorvidos nas suas múltiplas atividades pastorais, não percebem a urgência além de suas fronteiras.
Por isso, os factos fizeram conceber, “não sem uma inspiração do alto” (no dizer de Paulo VI), a UMC ou PUM como estímulo a todos os padres para socorrer as necessidades da missão. Em todo este processo de maturação, foi providencial a colaboração de Dom Guido Conforti, Bispo Parma e fundador dos Xaverianos, que foi o seu primeiro presidente, de 1917-1927. Em 1956, por ocasião dos seus 40 anos de existência, Pio XII elevou-a a PONTIFÍCIA (28.10.1956). Paulo VI diz que é “a alma das demais Obras Missionárias”, “apta para fomentar principalmente uma intensa espiritualidade missionária” (Graves et Increscentes, 27).
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Sobre o fundador da PUM, o Beato Padre Paolo Manna (1872-1952) colhem-se alguns dados da biografia divulgada aquando da beatificação por João Paulo II, a 4 de novembro de 2001.
Nasceu em Avelino (Itália), a 16 de janeiro de 1872. Frequentada a escola primária e o ensino técnico em Nápoles, prosseguiu os estudos a Roma. Enquanto frequentava a Universidade Gregoriana para estudos de Filosofia, em setembro de 1891, entrou no Seminário do Instituto para as Missões Estrangeiras em Milão, a cursar Teologia, tendo sido ordenado sacerdote no dia 19 de maio de 1894, na Catedral de Milão.
A 27 de setembro de 1895, partiu para a Missão de Toungoo, na Birmânia Oriental (hoje, Myanmar), onde trabalhou em três períodos durante uma década até que, em 1907, se repatriou definitivamente, mercê de grave enfermidade.
De 1909 em diante, por mais de 40 anos, dedicou-se com todas as forças, mediante os escritos e obras, à difusão da ideia missionária no meio do povo e do clero. Para “resolver do modo mais radical possível o problema da cooperação dos católicos no apostolado”, fundou, com a aprovação e Bento XV, a 31 de outubro 1916, a União Missionária do Clero, hoje presente em todo o mundo católico e que inclui nas suas fileiras, seminaristas, religiosos, religiosas, leigos e leigas, elevada por Pio XII a Pontifícia (PUM), em 1956, tornando-se a 4.ª das POM, ao lado da Obra da Propagação da Fé, da Obra da Infância Missionária e da Obra de São Pedro Apóstolo – estas já Pontifícias, desde 1922.
Como diretor de Le Missioni Cattoliche desde 1909, fundou, em 1914, o folheto popular de grande difusão Propaganda Missionária e, em 1919, Itália Missionária, dedicada à juventude.
Por incumbência da Sagrada Congregação de Propaganda Fide, abriu em Ducenta (Caserta), para um maior desenvolvimento missionário do Sul da Itália, o Seminário Meridional Sagrado Coração, para as Missões Estrangeiras, projeto que encorajava desde há muito tempo.
Em 1924, foi eleito Superior-Geral do Instituto para as Missões Estrangeiras de Milão, que em 1926, pela união com o Seminário Missionário de Roma, por vontade de Pio XI, se tornou o PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras). Por mandato da Assembleia Geral do PIME (1934), participou, em 1936, na fundação das Missionárias da Imaculada.
De 1937 a 1941, a Sagrada Congregação de Propaganda Fide nomeou-o chefe do Secretariado Internacional da União Missionária do Clero. E, quando, em 1943, foi erigida a Província Meridional do PIME, Padre Manna tornou-se o seu primeiro Superior, transferindo-se assim para Ducenta, onde fundou Venga il tuo Regno, publicação missionária para as famílias.
Além disso o fundador da UMC escreveu vários opúsculos e livros, que deixaram uma marca duradoura, como Operarii autem pauci, I Fratelli separati e noi, Le nostre Chiese e la propagazione del Vangelo e Virtù Apostoliche. Apresentou propostas inovadoras acerca dos métodos missionários, antecipando o Concílio Vaticano II. Destas obras permanece, sobretudo, o exemplo duma vida animada por uma paixão missionária total que provação alguma ou doença jamais diminuiu, por mais que o tenha feito sofrer. G. B. Tragella, seu primeiro biógrafo, definiu-o justamente como “uma alma de fogo”. O seu lema – “Toda a Igreja, para o mundo inteiro!” – acompanhou-o até ao fim. Falecido em Nápoles, a 15 de setembro de 1952, os seus restos mortais repousam em Ducenta, no “seu Seminário”, que em 13 de dezembro de 1990 foi visitado pelo Papa João Paulo II.
Os procedimentos para a Causa de Beatificação, iniciados em Nápoles, em 1971, concluíram-se em Roma, a 24 de abril de 2001, com o decreto pontifício sobre o milagre atribuído ao Beato.
Foi beatificado com outros sete Bem-Aventurados. O Papa São João Paulo II disse na homilia da Celebração Eucarística disse:
“Também no Padre Paulo Manna nós percebemos um reflexo especial da glória de Deus. Ele consumiu a inteira existência pela causa missionária. Em todas as páginas dos seus escritos sobressai viva a pessoa de Jesus, centro da vida e razão de ser da Missão. Numa das suas Lettere ai Missionari (cartas aos missionários), afirma: ‘O missionário, de facto, não é nada, se não se revestir da pessoa de Jesus Cristo.[...] Só o missionário que copia fielmente Jesus Cristo em si mesmo [...] pode reproduzir a Sua imagem nas almas dos outros’ (Lettere 6). Na realidade, não existe Missão sem santidade, como insisti na Encíclica Redemptoris Missio (A Missão do Redentor): ‘A espiritualidade da Igreja é um caminho para a santidade. Faz-se necessário suscitar um novo ardor de santidade entre os missionários e em toda a comunidade cristã’ (RM, 90). [...] O exemplo deles e a sua poderosa intercessão proclamam, com efeito, o anúncio da salvação oferecida por Deus a todas as pessoas em Cristo. Acolhamos o testemunho deles, servindo, de nossa parte a Deus, ‘de modo louvável e digno’, para caminhar, assim, sem impedimentos, para os bens prometidos (cf Coleta). Amém!”.
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No seu discurso de 4 de junho, Francisco reconhece que o Espírito Santo, através da intuição de Paulo Manna e da mediação da Sé Apostólica, conduziu a Igreja a “uma consciência sempre maior da própria natureza missionária, que amadureceu a partir do Concílio Vaticano II”. Paulo Manna, no dizer do Papa, “compreendeu muito bem que formar e educar no mistério da Igreja e na sua intrínseca vocação missionária é uma finalidade que diz respeito a todo o povo de Deus, na variedade dos estados de vida e dos ministérios”. A este propósito, o fundador da Obra pronunciava-se no II Congresso Internacional da UMC nos seguintes termos:
“Das tarefas da União Missionária, algumas são de natureza cultural, outras de natureza espiritual, outras para finalidades práticas e organizativas. A União Missionária tem a tarefa de iluminar, inflamar, agir organizando os sacerdotes, e através deles, todos os fiéis, com vista às missões”.  
Todavia, formar bispos e padres para a missão não significava reduzir a PUM a uma realidade meramente clerical, mas torná-la apoio à hierarquia no serviço à missionariedade da Igreja, própria de todos: fiéis e pastores, casados e virgens consagrados, Igreja universal e Igrejas particulares. Oferecendo este serviço com a caridade que lhe é própria, os Pastores mantêm a Igreja, sempre e em toda a parte, em estado de missão, que é, em última análise, obra de Deus, participada por todos os fiéis, graças ao Batismo, à Confirmação e à Eucaristia.
Na ótica papal, é a missão que faz a Igreja e “a mantém fiel ao desejo salvífico de Deus”. Por consequência, embora seja importante a preocupação com a arrecadação e distribuição das ajudas económicas administradas em favor de tantas igrejas e cristãos necessitados, é necessário não se limitar a Obra somente a este aspeto. A este respeito, o Pontífice adverte:
“Necessita-se de uma ‘mística’. Devemos crescer em paixão evangelizadora. Eu tenho medo – confesso – de que a vossa obra permaneça muito organizacional, perfeitamente organizativa, mas sem paixão. Isso até uma ONG pode fazer, mas vocês não são uma ONG! A União sem paixão não serve; sem ‘mística’ não serve. E, se devemos sacrificar algo, sacrifiquemos a organização, prossigamos com a mística dos Santos.”.
Segundo o Papa, a União Missionária necessita da mística dos Santos e dos Mártires, que motiva o generoso trabalho de formação permanente para a missão, que não é um curso apenas intelectual, mas que tem de ser efetivamente inserido nesta onda de paixão missionária, testemunho e martírio. E as Igrejas de recente formação “poderão transmitir às Igrejas de antiga fundação, às vezes sobrecarregadas pela sua história e um pouco cansadas, o ardor da fé jovem, o testemunho da esperança cristã, amparada pela coragem admirável do martírio”.
Na sequência deste raciocínio validado pela sua visão e pela experiência da Igreja, Francisco encoraja os participantes na predita assembleia e, mediante eles, todos os cristãos a servirem “com grande amor as Igrejas que, graças aos mártires, nos testemunham como o Evangelho nos torna partícipes da vida de Deus, e a fazerem-no por atração e não por proselitismo”.
E, aproveitando o ensejo, o Papa pretende que o Ano Santo da Misericórdia incuta e reforce nos cristãos “o ardor missionário que consumia o beato Paulo Manna e do qual surgiu a Pontifícia União Missionária, para continuar hoje a fazer arder, apaixonar, renovar, repensar e reformar o serviço que esta Obra é chamada a oferecer a toda a Igreja”.
É um ensinamento colocado à disposição de todos a contrariar o cristianismo que passa pela Europa, pela tona e sem força como o café descafeinado (mas muito cremoso) ou a censurar os cristãos “múmia”, imóveis e incaraterísticos (“parados… não fazem mal, mas também não fazem bem”)!

2016.06.08 – Louro de Carvalho

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