Está
a decorrer a 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário e dos exames de
equivalência à frequência a nível de escola, bem como as provas de aptidão
profissional dos cursos profissionais.
Os
cursos científico-humanísticos orientam-se predominantemente para o ingresso no
ensino superior e os profissionais e artísticos orientam-se predominantemente
para a inserção direta no mundo do trabalho. Todavia, as coisas não ficam assim
encerradas. Por um lado, os diplomados com o primeiro tipo de cursos podem não
pretender a prossecução de estudos e aproveitar a oportunidade que lhes surja
de emprego ou de empreendedorismo ou, ainda, não ter obtido média de
classificação suficiente para os cursos pretendidos; por outro lado, a oferta
de emprego para os diplomados com os cursos profissionais não é automática nem
fácil e a lei permite-lhes o acesso ao ensino superior segundo os cursos que
frequentaram e concluíram com êxito, desde que reúnam as condições gerais e
específicas de ingresso. Ademais, embora isso não seja fácil, as escolas mantêm
a oferta de possibilidades, a nível do exame e do trabalho pessoal, aos alunos
que pretendam capacitar-se para a mudança de curso através da sujeição ao
respetivo exame.
***
A
fim de cada um poder fazer a escolha o mais acertadamente possível, Catarina G.
Barosa, na separata que integra a revista Visão,
do passado dia 16, sugere o exercício pessoal de análise SWOT (Strengths,
Weaknesses, Opportunities, Threats), já que “devemos fazer em função do que somos e não ser em
função do que fazemos” – eis “a regra de ouro deste jogo de risco
moderado”.
De
facto, antes da escolha de curso, cumpre conhecermos bem as nossas forças (strengths) e fraquezas (weaknesses) – fatores da nossa personalidade,
capacidades e competências; e as oportunidades (opportunities)
e constrangimentos (threats)
– fatores condicionantes que nos apresenta ou está na iminência de nos
apresentar a envolvente.
É conveniente
começar pelos dados positivos: as forças,
que abrangem as nossas competências mais fortes e que estão sob a nossa influência
e controlo. Uma forma de as encontrar é procurar respostas a perguntas como as
seguintes:
O que sabemos faz melhor? O que nos da
mais prazer e sentimento de realização? Quais as nossas capacidades
intelectuais? Quais as nossas virtudes como pessoas? O que fazemos de bem e bem
feito? O que é que tem estado sob a nossa responsabilidade e controlo? De que
recursos dispomos? O que possuímos de melhor em relação aos demais? O que faz
com que nos considerem e nos estimem?
A seguir, devemos listar os aspetos negativos ou a
melhorar: as fraquezas, que abrangem as competências que estão sob a nossa influência mas
que, de alguma forma, atrapalham e/ou não geram vantagens de sucesso pessoal e social. Devem
ser bem estudadas e mensuradas, pois é possível frequentemente revertê-las em
forças. Algumas delas podem causar grandes problemas.
Podemos
encontrá-las na resposta a perguntas como as seguintes:
Tenho sido capaz de cumprir aquilo que me proponho?
Deixo-me levar pela preguiça ou por solicitações de facilitismo, falta de
rigor, desrespeito pelos compromissos? Tenho sido capaz de influenciar
positivamente os companheiros. Em que áreas do saber e/ou da atividade tenho
experimentado mais dificuldades?
Quanto à
influência da envolvente, é preciso ter em conta que ninguém vive sozinho nem
pode furtar-se à influência e pressão do meio. Assim, a envolvente disponibiliza-nos oportunidades ou
forças externas à nossa pessoa e ao círculo familiar, que influenciam
positivamente as nossas escolhas e a nossa programação de vida, mas sobre as
quais não temos controlo. E apresenta, a
pari, ameaças ou constrangimentos, que são as forças externas que não
sofrem a nossa influência e que pesam negativamente nas nossas opções e
programações.
A este nível,
as oportunidades que devemos espreitar serão, por exemplo, as ofertas de
emprego disponíveis, a oferta de formação superior em relação ao local onde
residimos, a disponibilidade de bolsas de estudo para a frequência de
estabelecimentos de ensino superior público ou a capacidade financeira de
frequentar o ensino superior privado, a existência de residências de
estudantes, a existência de vagas nos cursos, a rede de transportes, o
conhecimento de docentes do ensino superior. As oportunidades podem advir de
fatores económicos e logísticos, como a melhoria das rendas e do crédito, a
rede de estabelecimentos, transportes, associações e empresas. Outro fator que
pode influenciar o fomento de oportunidades são as ações políticas do Estado,
como a opção de investir em infraestruturas ou as políticas educativas e
fiscais.
No atinente às ameaças, podemos ser considerá-las como um desafio que nos é imposto e que pode condicionar a nossa capacidade de opção e sucesso. Entre elas, contam-se, por exemplo, o ter de ficar a viver longe da família, o que até pode contribuir para a emancipação real; o risco de desemprego associado à escolha feita (por exemplo, qual a saída profissional de um curso de filosofia ou de Serviço Social?).
Feito o exercício pessoal de análise SWOT, é conveniente discutir estes aspetos com algumas pessoas que nos conheçam bem e em quem depositemos confiança e imaginar as possíveis saídas profissionais dos cursos que o mercado educacional oferece. Sendo este apenas um caminho, que não esgota as cautelas a ter quanto à escolha de curso ou de trabalho, porém, é a via simples de nos esclarecermos, tomarmos consciência do que somos, para coerentemente decidirmos o que havemos de fazer.
Escolher curso ou trabalho não
pode decorrer do mais usual, da moda ou do que escolhem os companheiros; o que
verdadeiramente interessa é aquilo por que deve optar cada pessoa, pois é ela
que responde face ao destino que traça para si mesma. Depois, é de ter em conta
que todos os cursos disponibilizados são dotados de planos de estudos que lhes
garantem utilidade, importância e prestígio, já validados pelas academias e pela
sociedade. Não há, assim, que discutir se são cursos de 1.ª ou de 2.ª
categoria, cabendo a cada um selecionar o que julga mais adequado. É ainda de considerar
que, nos tempos que correm e qualquer que seja o curso que se frequente e
conclua, não fica tolhida a capacidade de a pessoa se aplicar a qualquer tipo
de ocupação, não valendo a pena discutir se a tarefa que a sociedade lhe confia
pertence ou não à formação que adquiriu. Conhecemos médicos escritores e
filólogos, matemáticos historiadores, engenheiros gestores, arquitetos músicos
e atores… Por outro lado, a ninguém pode garantir-se emprego para toda a vida ou
que o conteúdo profissional seja tão especializado como alguns mentores fazem
crer. Sem deixar de considerar a vantagem da especialização, cada vez mais se
exige a capacidade de polivalência. Mas um curso constitui uma inestimável ferramenta
de capacitação pessoal e socioprofissional, que abre horizontes, sem
enclausurar ninguém num ramo de atividade de modo a não poder mudar. Hoje não
se afigura viável emprego para toda a vida ou carreira profissional sem
sobressaltos. E é preciso criar a convicção de que não é a profissão que dê um
estatuto social elevado ou de alto prestígio que gera a felicidade, mas a ocupação
que torne a pessoa útil a si e à sociedade.
***
A este respeito, o Expresso online,
de hoje, dia 17, dá-nos conta de que o Portal
Infocursos – ou “plataforma online Infocursos”,
criada há 3 anos, com o objetivo de dar mais informação sobre os cursos
superiores em funcionamento e ajudar os alunos nas suas escolhas – disponibiliza
informação atualizada sobre desemprego, desistências e classificações finais
por curso, no público e no privado. Mais assegura a acentuação da tendência
para a feminização do ensino superior no último ano, bem como a queda do número
de estudantes estrangeiros.
Um dos indicadores disponíveis (relevante), com evolução favorável, é o desemprego, aferido
pelo número de diplomados nos últimos anos e pelo número de inscritos no IEFP (Instituto de
Emprego e Formação Profissional). Aqui a
diferença entre os diplomados do ensino público e do privado é residual: 8,1%
contra 8,8% no particular. As diferenças são mais acentuadas por área de
estudos, com o Serviço Social a registar a maior taxa de desemprego (15% entre os
licenciados em escolas públicas e mais de 17% entre diplomados por escolas
privadas). Seguem-se, por ordem decrescente:
Arquitetura (13,4%), sendo recordista do desemprego o
curso de Arquitetura na Escola Superior Artística do Porto (cerca de 40%
dos seus diplomados entre 2010/11 e 2013/14 estão atualmente registados no IEFP); Psicologia (12,5%); Educação Básica (12,4%); e
Jornalismo/Comunicação Social (12,3%). Em
contraponto, os estudantes de Medicina não têm de se preocupar com trabalho
pois, a taxa de desemprego dos cursos de Medicina é nula. É certo que também a Enfermagem
é das áreas com menos desemprego: com efeito só 2,9% dos que se licenciaram
nesta área em instituições públicas entre 2011 e 2014 estão registados no IEFP.
Porém, a precariedade e os baixos salários levaram, segundo a OE (Ordem dos
Enfermeiros), quase 13
mil profissionais a emigrar só nos últimos 5 anos. Aliás, 47% dos enfermeiros
que se formam requerem à OE o certificado necessário para exercer a profissão no
estrangeiro.
Por sua vez, o abandono do ensino superior no final do
1.º ano do curso caiu pelo terceiro ano consecutivo, fixando-se em 2015 nos
9,8% nas licenciaturas de instituições públicas e 2,3% no caso dos mestrados
integrados. No privado, é mais elevado, fixando-se, em média, nos 13%.
Já a tendência para a feminização do ensino superior
continua a acentuar-se: entre 2014 e 2015, o número de cursos onde as raparigas
estão em maioria passou de 796 para 847, sendo que, em 485 cursos, mais de dois
terços dos estudantes são raparigas. No total, elas representam 53% dos
estudantes do ensino superior. As licenciaturas mais feminizadas são as da área
da formação de professores, seguindo-se Enfermagem, Psicologia e Serviço
Social. Do outro lado, posicionam-se os cursos de Engenharia, em especial
Mecânica, Eletrotécnica e Informática, onde a grande maioria dos estudantes são
rapazes. No total, há 103 cursos, sobretudo destas áreas, onde as raparigas são
menos de 10%.
O número de alunos estrangeiros também diminuiu entre 2014 e 2015, passando
de 15.241 para 14.470 em licenciaturas e mestrados integrados (ensino
público e privado). O maior
número está em Direito na Universidade de Coimbra (382 entre os
2188 inscritos em 2014/15),
seguindo-se Medicina Dentária no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (privado, com
169 estrangeiros, entre os 653 inscritos). E, em Gestão
de Negócios Internacionais no Instituto Politécnico de Bragança, mais de metade
dos alunos tem nacionalidade estrangeira (39 alunos em 56 inscritos).
Ora, refletindo e conversando sobre esta panóplia de dados, é possível
fazer uma escolha com ínfima margem de erro. O futuro interpela, a sociedade
espera, a pessoa merece!
2016.06.17 – Louro de Carvalhoo
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