sexta-feira, 17 de junho de 2016

E depois do ensino secundário...

Está a decorrer a 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário e dos exames de equivalência à frequência a nível de escola, bem como as provas de aptidão profissional dos cursos profissionais.
Os cursos científico-humanísticos orientam-se predominantemente para o ingresso no ensino superior e os profissionais e artísticos orientam-se predominantemente para a inserção direta no mundo do trabalho. Todavia, as coisas não ficam assim encerradas. Por um lado, os diplomados com o primeiro tipo de cursos podem não pretender a prossecução de estudos e aproveitar a oportunidade que lhes surja de emprego ou de empreendedorismo ou, ainda, não ter obtido média de classificação suficiente para os cursos pretendidos; por outro lado, a oferta de emprego para os diplomados com os cursos profissionais não é automática nem fácil e a lei permite-lhes o acesso ao ensino superior segundo os cursos que frequentaram e concluíram com êxito, desde que reúnam as condições gerais e específicas de ingresso. Ademais, embora isso não seja fácil, as escolas mantêm a oferta de possibilidades, a nível do exame e do trabalho pessoal, aos alunos que pretendam capacitar-se para a mudança de curso através da sujeição ao respetivo exame.
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A fim de cada um poder fazer a escolha o mais acertadamente possível, Catarina G. Barosa, na separata que integra a revista Visão, do passado dia 16, sugere o exercício pessoal de análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), já que “devemos fazer em função do que somos e não ser em função do que fazemos” – eis “a regra de ouro deste jogo de risco moderado”.   
De facto, antes da escolha de curso, cumpre conhecermos bem as nossas forças (strengths) e fraquezas (weaknesses) – fatores da nossa personalidade, capacidades e competências; e as oportunidades (opportunities) e constrangimentos (threats) – fatores condicionantes que nos apresenta ou está na iminência de nos apresentar a envolvente.
É conveniente começar pelos dados positivos: as forças, que abrangem as nossas competências mais fortes e que estão sob a nossa influência e controlo. Uma forma de as encontrar é procurar respostas a perguntas como as seguintes:
O que sabemos faz melhor? O que nos da mais prazer e sentimento de realização? Quais as nossas capacidades intelectuais? Quais as nossas virtudes como pessoas? O que fazemos de bem e bem feito? O que é que tem estado sob a nossa responsabilidade e controlo? De que recursos dispomos? O que possuímos de melhor em relação aos demais? O que faz com que nos considerem e nos estimem?
A seguir, devemos listar os aspetos negativos ou a melhorar: as fraquezas, que abrangem as competências que estão sob a nossa influência mas que, de alguma forma, atrapalham e/ou não geram vantagens de sucesso pessoal e social. Devem ser bem estudadas e mensuradas, pois é possível frequentemente revertê-las em forças. Algumas delas podem causar grandes problemas.

Podemos encontrá-las na resposta a perguntas como as seguintes:

Tenho sido capaz de cumprir aquilo que me proponho? Deixo-me levar pela preguiça ou por solicitações de facilitismo, falta de rigor, desrespeito pelos compromissos? Tenho sido capaz de influenciar positivamente os companheiros. Em que áreas do saber e/ou da atividade tenho experimentado mais dificuldades?
Quanto à influência da envolvente, é preciso ter em conta que ninguém vive sozinho nem pode furtar-se à influência e pressão do meio. Assim, a envolvente disponibiliza-nos oportunidades ou forças externas à nossa pessoa e ao círculo familiar, que influenciam positivamente as nossas escolhas e a nossa programação de vida, mas sobre as quais não temos controlo. E apresenta, a pari, ameaças ou constrangimentos, que são as forças externas que não sofrem a nossa influência e que pesam negativamente nas nossas opções e programações.  
A este nível, as oportunidades que devemos espreitar serão, por exemplo, as ofertas de emprego disponíveis, a oferta de formação superior em relação ao local onde residimos, a disponibilidade de bolsas de estudo para a frequência de estabelecimentos de ensino superior público ou a capacidade financeira de frequentar o ensino superior privado, a existência de residências de estudantes, a existência de vagas nos cursos, a rede de transportes, o conhecimento de docentes do ensino superior. As oportunidades podem advir de fatores económicos e logísticos, como a melhoria das rendas e do crédito, a rede de estabelecimentos, transportes, associações e empresas. Outro fator que pode influenciar o fomento de oportunidades são as ações políticas do Estado, como a opção de investir em infraestruturas ou as políticas educativas e fiscais.

No atinente às ameaças, podemos ser considerá-las como um desafio que nos é imposto e que pode condicionar a nossa capacidade de opção e sucesso. Entre elas, contam-se, por exemplo, o ter de ficar a viver longe da família, o que até pode contribuir para a emancipação real; o risco de desemprego associado à escolha feita (por exemplo, qual a saída profissional de um curso de filosofia ou de Serviço Social?).

Feito o exercício pessoal de análise SWOT, é conveniente discutir estes aspetos com algumas pessoas que nos conheçam bem e em quem depositemos confiança e imaginar as possíveis saídas profissionais dos cursos que o mercado educacional oferece. Sendo este apenas um caminho, que não esgota as cautelas a ter quanto à escolha de curso ou de trabalho, porém, é a via simples de nos esclarecermos, tomarmos consciência do que somos, para coerentemente decidirmos o que havemos de fazer. 

Escolher curso ou trabalho não pode decorrer do mais usual, da moda ou do que escolhem os companheiros; o que verdadeiramente interessa é aquilo por que deve optar cada pessoa, pois é ela que responde face ao destino que traça para si mesma. Depois, é de ter em conta que todos os cursos disponibilizados são dotados de planos de estudos que lhes garantem utilidade, importância e prestígio, já validados pelas academias e pela sociedade. Não há, assim, que discutir se são cursos de 1.ª ou de 2.ª categoria, cabendo a cada um selecionar o que julga mais adequado. É ainda de considerar que, nos tempos que correm e qualquer que seja o curso que se frequente e conclua, não fica tolhida a capacidade de a pessoa se aplicar a qualquer tipo de ocupação, não valendo a pena discutir se a tarefa que a sociedade lhe confia pertence ou não à formação que adquiriu. Conhecemos médicos escritores e filólogos, matemáticos historiadores, engenheiros gestores, arquitetos músicos e atores… Por outro lado, a ninguém pode garantir-se emprego para toda a vida ou que o conteúdo profissional seja tão especializado como alguns mentores fazem crer. Sem deixar de considerar a vantagem da especialização, cada vez mais se exige a capacidade de polivalência. Mas um curso constitui uma inestimável ferramenta de capacitação pessoal e socioprofissional, que abre horizontes, sem enclausurar ninguém num ramo de atividade de modo a não poder mudar. Hoje não se afigura viável emprego para toda a vida ou carreira profissional sem sobressaltos. E é preciso criar a convicção de que não é a profissão que dê um estatuto social elevado ou de alto prestígio que gera a felicidade, mas a ocupação que torne a pessoa útil a si e à sociedade.
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A este respeito, o Expresso online, de hoje, dia 17, dá-nos conta de que o Portal Infocursos – ou “plataforma online Infocursos”, criada há 3 anos, com o objetivo de dar mais informação sobre os cursos superiores em funcionamento e ajudar os alunos nas suas escolhas – disponibiliza informação atualizada sobre desemprego, desistências e classificações finais por curso, no público e no privado. Mais assegura a acentuação da tendência para a feminização do ensino superior no último ano, bem como a queda do número de estudantes estrangeiros.
Um dos indicadores disponíveis (relevante), com evolução favorável, é o desemprego, aferido pelo número de diplomados nos últimos anos e pelo número de inscritos no IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional). Aqui a diferença entre os diplomados do ensino público e do privado é residual: 8,1% contra 8,8% no particular. As diferenças são mais acentuadas por área de estudos, com o Serviço Social a registar a maior taxa de desemprego (15% entre os licenciados em escolas públicas e mais de 17% entre diplomados por escolas privadas). Seguem-se, por ordem decrescente: Arquitetura (13,4%), sendo recordista do desemprego o curso de Arquitetura na Escola Superior Artística do Porto (cerca de 40% dos seus diplomados entre 2010/11 e 2013/14 estão atualmente registados no IEFP); Psicologia (12,5%); Educação Básica (12,4%); e Jornalismo/Comunicação Social (12,3%). Em contraponto, os estudantes de Medicina não têm de se preocupar com trabalho pois, a taxa de desemprego dos cursos de Medicina é nula. É certo que também a Enfermagem é das áreas com menos desemprego: com efeito só 2,9% dos que se licenciaram nesta área em instituições públicas entre 2011 e 2014 estão registados no IEFP. Porém, a precariedade e os baixos salários levaram, segundo a OE (Ordem dos Enfermeiros), quase 13 mil profissionais a emigrar só nos últimos 5 anos. Aliás, 47% dos enfermeiros que se formam requerem à OE o certificado necessário para exercer a profissão no estrangeiro.
Por sua vez, o abandono do ensino superior no final do 1.º ano do curso caiu pelo terceiro ano consecutivo, fixando-se em 2015 nos 9,8% nas licenciaturas de instituições públicas e 2,3% no caso dos mestrados integrados. No privado, é mais elevado, fixando-se, em média, nos 13%.
Já a tendência para a feminização do ensino superior continua a acentuar-se: entre 2014 e 2015, o número de cursos onde as raparigas estão em maioria passou de 796 para 847, sendo que, em 485 cursos, mais de dois terços dos estudantes são raparigas. No total, elas representam 53% dos estudantes do ensino superior. As licenciaturas mais feminizadas são as da área da formação de professores, seguindo-se Enfermagem, Psicologia e Serviço Social. Do outro lado, posicionam-se os cursos de Engenharia, em especial Mecânica, Eletrotécnica e Informática, onde a grande maioria dos estudantes são rapazes. No total, há 103 cursos, sobretudo destas áreas, onde as raparigas são menos de 10%.
O número de alunos estrangeiros também diminuiu entre 2014 e 2015, passando de 15.241 para 14.470 em licenciaturas e mestrados integrados (ensino público e privado). O maior número está em Direito na Universidade de Coimbra (382 entre os 2188 inscritos em 2014/15), seguindo-se Medicina Dentária no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (privado, com 169 estrangeiros, entre os 653 inscritos). E, em Gestão de Negócios Internacionais no Instituto Politécnico de Bragança, mais de metade dos alunos tem nacionalidade estrangeira (39 alunos em 56 inscritos).
Ora, refletindo e conversando sobre esta panóplia de dados, é possível fazer uma escolha com ínfima margem de erro. O futuro interpela, a sociedade espera, a pessoa merece!
2016.06.17 – Louro de Carvalhoo

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