De acordo com a informação prestada hoje, dia 29 de julho, à agência Ecclesia, pela sua presidente, chegou a
seu termo a
intensa campanha da JOC (Juventude Operária Católica) contra o desemprego, mas a “defesa da dignidade e do
trabalho” continua depois de um périplo que revelou “verdades, mostrou projetos
de integração e permitiu descobrir caminhos”.
Lisandra Rodrigues, presidente nacional da JOC verifica que
as taxas de desemprego ainda estão muito longe dos 0%. Enquanto assim for,
muito será, segundo esta dirigente daquele movimento eclesial, “o trabalho por
fazer na defesa da dignidade de todos e do trabalho para todos”, porque os
jovens “não podem ficar sem trabalho, sem perspetivas e sem esperança”.
Em comunicado hoje divulgado, a JOC apresentou a sua análise
e reflexão em torno da Campanha Nacional 2014/2015, que teve como tema/apelo ‘Dá emprego aos teus sonhos, dá trabalho à
tua vida!’.
Nesta campanha, que se iniciou em fevereiro
de 2014 e terminou no dia 25 de julho de 2015, houve oportunidade de ir ao
encontro de jovens e adultos em situação de desemprego.
Este movimento da ação católica – que surgiu na Bélgica, em 1925, pela mão
do padre Joseph Cardijn e chegou a Portugal 10 anos depois, tendo assumido como
missão “a libertação dos jovens trabalhadores – acredita que é prioritário o acesso ao trabalho para todos e, por
isso, pôs em marcha esta Campanha Nacional contra o Desemprego com o lema/apelo:
“Dá emprego aos teus sonhos, dá
trabalho à tua vida” – apelo que nunca será sobejamente repetido.
A JOC não pode aceitar a tentativa
que a sociedade vem desenvolvendo – e que se sente em muitos momentos e lugares
– de olhar para o desemprego com resignação, aceitando-o como algo natural e
inevitável. Ora, o desemprego tem de ser denunciado como um problema estruturante
da nossa sociedade – conclui a reflexão dos jocistas, que alertam para o facto
de o conceito de “desempregado”, sobretudo nas camadas mais jovens, ter “provocado
bastante inquietação”.
Neste contexto, em alinhamento com os movimentos internacionais
congéneres e com o discurso papal, por diversas vezes expresso, identificam os
jovens “à procura do primeiro emprego e os jovens nem-nem” (ou “nim”) – jovens que não estudam, nem
trabalham e que não se incluem “muitas vezes” na conceção de desempregado.
Com efeito, o Papa Francisco, Francisco em discurso que dirigiu aos trabalhadores da Sardenha,
em setembro de 2013, explicitou,
sem tergiversação, que “onde não há trabalho, falta a dignidade”.
Assim, o Pontífice insuflou uma boa dose de “coragem” no auditório adulto e juvenil,
apelando: “Não deixeis que vos roubem a esperança!”. Por isso, é necessário “perseguir como prioritário o objetivo do
acesso ao trabalho para todos ou da sua manutenção”.
Por seu turno, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) revela, na publicação anual Education at a Glance, de 2014, que Portugal tem a terceira mais alta proporção de
jovens com baixas qualificações da OCDE e é o décimo país do mundo com “maior percentagem” de jovens
até aos 29 anos que “estão inativos e um dos países onde esta realidade mais se
acentuou”: representam já quase 17% da
população entre os 15 e os 29 anos.
Ademais, a JOC vem alertar (e trata-se de alerta não inédito; aliás, regista a controvérsia
gerada em torno das estatísticas) para o facto de “o número real de desempregados do nosso
país” ser “francamente superior ao apresentado nas estatísticas”, adiantando
cinco de várias razões para que isto aconteça, a saber:
Muitos dos jovens candidatos a trabalho, pela primeira, vez não se
inscrevem nos centros de emprego; muitas pessoas que sabem não reunirem as
condições do exercício do direito de perceção do subsídio de desemprego também
não se inscrevem; as pessoas que se encontram inscritas no respetivo centro de
emprego, mas que, temporariamente, são inseridas em cursos de formação são
retiradas da lista de desempregados; as pessoas que se encontram em CEI (Contratos
de Emprego Inserção) são excluídas da contagem; e os que desistem de procurar
emprego neste país e, acabam por emigrar, contribuem também para que os dados
oficiais acusem alguma redução.
A taxa de desemprego (= população desempregada / população ativa x
100) que nos apresentam é, pois, falaciosa por não incluir todas
estas pessoas.
O relatório World Employment and Social Outlook,
divulgado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), na véspera do
arranque do Fórum de Davos, regista que há, atualmente, 201 milhões de pessoas
no desemprego. É certo que a situação melhorou nos Estados Unidos e no Japão.
Porém, permanece difícil noutras economias avançadas, mormente na Europa. Em
Portugal, a taxa de desemprego (ajustada de sazonalidade) situou-se nos 13,9% em novembro
último, segundo dados do INE. São mais de 700.000 as pessoas sem trabalho. Os
mais jovens, entre os 15 e os 24 anos, são os mais afetados e a taxa de
desemprego nesta faixa populacional atinge no nosso país os 35,6%.
A este respeito, Guy Ryder,
Director Geral da OIT, referiu que, “a boa notícia é que o número de
trabalhadores em situação precária caiu em todo o mundo”. Não obstante, não é
aceitável que quase metade da população ativa não tenha acesso a condições básicas,
a um emprego decente. E o problema, sublinha o responsável da OIT, é ainda pior
para as mulheres.
***
Durante um ano e meio de campanha e perante as descobertas
feitas, vários grupos da JOC sentiram o apelo de partilhar com os demais o que
estavam a refletir e a viver, denunciando, anunciando e procurando respostas em
conjunto. Foram, assim, muitas as ações desenvolvidas, como: workshops sobre empregabilidade e
debates sobre o desemprego; participação ativa no 1.º de maio; encontro de
formação sobre ‘projeto individual de vida’; ações de rua durante o Carnaval; e
a produção de “artigos e manifestos” – e, por parte da JOC, “tudo isto sem
descurar a importância do acompanhamento pessoal tão importante e necessário na
descoberta e assunção da nossa dignidade como pessoas e trabalhadores”.
O lema/apelo enunciado pela Campanha é assumido por muitos desempregados com quem o
movimento católico contactou, que não baixam os braços, se mantêm perseverantes
na procura de uma oportunidade, investem na sua formação, ou abraçam novos
desafios, constituindo-se como exemplo e fonte de esperança para outros.
Ao longo desta reflexão jocista, foram também vários os sinais que
encheram a JOC de esperança e a fazem acreditar que “unidos
vencemos o desemprego”. Os seus militantes falam de todos
aqueles que tinham identificado como desempregados e que neste momento já não o
são; dos gestos de solidariedade que se multiplicam para com quem atravessa
situações de maior dificuldade; e das diversas organizações que ficaram a
conhecer e que fazem um trabalho tão meritório e imprescindível junto dos
desempregados mostrando que vale mesmo a pena correr ao encontro da ‘ovelha
perdida’. Jesus apela-nos a largar as 99 ovelhas, ou seja, todos os que estão
bem e mais facilmente podem caminhar sem o nosso apoio, para irmos ‘resgatar a
ovelha perdida’ (cf Mt
18,10-14; Lc 15,3-7), os
que têm a sua dignidade posta em causa, os que se encontram sem rumo,
desorientados, desempregados.
A transformação pessoal, necessária para o
avanço da transformação da sociedade, começa então a acontecer quando menos se
espera. O assistente de um grupo de jovens partilhava assim a sua reflexão:
“Conheci uma
família em que um dos membros do casal estava desempregado e a quem acabei por
ajudar. Senti que quando
conseguimos dar nome e rostos ao desemprego, tornamo-nos mais sensíveis.
Todos conhecemos alguém desempregado. E se esta crise trouxe algo de bom, foi
precisamente o facto de nos tornarmos mais sensíveis a esta questão.”
Por seu turno, Rick Boxx, Presidente do Integrity
Resource Center, dizia:
“Quando sou
abordado por alguém a pedir ajuda na busca dum novo emprego, procuro fazer mais
do que simplesmente sugerir alguns possíveis locais de trabalho. Converso com a pessoa sobre os seus
interesses, sonhos, desejos. Isto nem sempre é fácil, especialmente
se a pessoa nunca dedicou tempo a pensar nestas questões”.
***
A JOC, na sua análise reflexiva da
realidade, seguiu a metodologia da ação católica, que se sintetiza nos três
verbos: VER, JULGAR e AGIR. Com efeito, a
realidade, complexa e lancinante, postula um olhar atento, minucioso e
compassivo. Sobre ela é necessário fazer o discernimento, ou seja, perceber os reais
sinais do bem e os reais sinais do mal (e
ver o que de bom e de mal temos mesmos fenómenos) – um juízo não condenatório, mas um
juízo segundo o coração de Deus. E é preciso agir para que nada do que está mal
permaneça tal como está e os sinais do bem sobressaiam perante os demais.
Assim, quem olha para esta realidade não
pode deixar de denunciar, anunciar e comprometer-se em conjunto pela transformação
segundo o querer de Deus
Não é fácil, mas é possível e é urgente!
Assim, o apelo
do Papa à esperança foi sentido pelos jocistas portugueses nas diversas etapas
da Campanha, em que pretenderam: levar esperança aos que se encontram
desalentados e sem perspetivas e com eles procurar soluções que os tornem
protagonistas da sua vida.
Porém, esta esperança assenta
em sinais encontrados logo ao longo do primeiro ano: muitos jovens e adultos
que não desistem, que diariamente lutam para que a sua condição de desempregado
se altere; várias formas de solidariedade, que se vão multiplicando para fazer
face às dificuldades causadas pelo desemprego; associações que se constituem
para fazer face ao desemprego. Mas, neste âmbito, o movimento jocista destaca o
trabalho desenvolvido pelos GEPE (Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego),
um projeto de voluntariado e de solidariedade entre pessoas à procura de
emprego. Os GEPE constituem-se como espaços de encontro, entre pessoas à
procura de emprego, comprometidas em entreajudar-se nessa procura ativa,
combatendo assim o isolamento a que muitas vezes os desempregados estão
sujeitos e alargando as redes de contactos.
Em toda a caminhada, a
realidade foi encarada com um olhar cristão, percebendo as interpelações que
Jesus Cristo faz à transformação da pessoa e do meio.
2015.07.29 – Louro de Carvalho
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