sexta-feira, 3 de julho de 2015

Cerimónia de prestação de honras de Panteão Nacional a Eusébio

Decorreu hoje, dia 3 de julho, a cerimónia de prestação de honras de Panteão Nacional a Eusébio da Silva Ferreira. É a 12.ª personalidade a receber honras de Panteão, a primeira do mundo desportivo e o primeiro português nascido em África.
A sequência cerimonial teve início às 15,15 horas, no Cemitério do Lumiar, com a saída da urna com os restos mortais do excelso jogador do Benfica e da Seleção Nacional, desaparecido em janeiro do ano de 2014.
Às 15 horas e 45 minutos, o Padre Delmar Gomes Barreiros celebrou uma missa de participação restrita, na igreja do Seminário da Luz, com a presença da família, após o que o cortejo seguiu para o Estádio da Luz, onde teve lugar a primeira curta paragem. Aqui estiveram Luís Filipe Vieira, José Eduardo Moniz, Luís Nazaré (respetivamente, o presidente, o vice-presidente e o presidente da Mesa da Assembleia-Geral), além de Rui Costa e Vilarinho, entre outros, a que se juntaram entre 300 e 400 pessoas para verem o cortejo.
O cortejo percorreu depois a Avenida Eusébio da Silva Ferreira, passando pela 2.ª Circular, Campo Grande e Marquês de Pombal. Uma segunda paragem ocorreu no Alto do Parque Eduardo VII, junto à Bandeira Nacional, onde a urna foi deslocada do carro fúnebre para o armão militar de tração animal.
O cortejo prosseguiu a sua marcha para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Assembleia da República (AR). Na sede da FPF, várias figuras do futebol nacional prestaram homenagem ao Pantera Negra, entre as quais o presidente da FPF Fernando Gomes, o selecionador Fernando Santos, João Vieira Pinto, Humberto Coelho, entre outras; junto à AR, muitas pessoas aplaudiram a passagem da urna e alguns deputados estiveram nas escadarias, tal como a presidente da Assembleia da República.
No Panteão Nacional, a cerimónia teve início às 19 horas, com a entrada do cortejo pelo Campo de Santa Clara, e decorreu com a presença das entidades oficiais e dos convidados. Entretanto, no Campo de Santa Clara estiveram mais de 200 pessoas a assistir aos diversos atos públicos, a partir de um ecrã gigante que transmitia a emissão da RTP.
Depois da interpretação do Hino Nacional por Dulce Pontes, em modo de fado, António Simões fez o elogio fúnebre a Eusébio da Silva Ferreira.
Durante a cerimónia usaram ainda da palavra protocolar o Presidente da República, Aníbal António Cavaco Silva, que presidiu à cerimónia na sua qualidade de máximo representante da República, e a Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção Esteves, a representante do órgão responsável pela decisão da prestação das honras panteónicas e pela organização da cerimónia.
Foi projetado um vídeo com imagens do futebolista e Rui Veloso interpretou duas canções, “África”, tema que, conforme refere o artista, teve oportunidade de cantar com Eusébio há cerca de 20 anos, na Ajuda, durante um jantar de amigos, e “Nunca me esqueci de ti”, que espelha a saudade do artista e do povo português pelo insigne “onomatóforo” de Portugal pelo mundo.
Às 20 horas, depois de assinado o Termo de Sepultura pelo Presidente da República, pela Presidente da Assembleia da República e pelo Primeiro-Ministro, a Banda da Guarda Nacional Republicana executou o Hino Nacional. Foi por força deste documento que o King foi colocado na sala 2 do Panteão.
A seguir, a urna foi transportada e escoltada por militares da GNR, até à sala em que a arca tumular se encontra e onde ficará depositada no Panteão, junto do general Humberto Delgado, do escritor Aquilino Ribeiro e da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen.
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Das palavras proferidas no decurso da prestação das honras de panteão, destacam-se alguns segmentos, como a seguir se discrimina.
Dulce Pontes, convidada pela família para homenagear Eusébio, declarou, momentos antes de ensaiar a sua participação na cerimónia, que se trata de “um momento muito especial” e também complicado de gerir, sobretudo porque se cruzou algumas vezes com o Pantera Negra, uma delas para promover o Europeu de 2004 e outra num concerto de Andrea Bocelli. A artista cantou A Portuguesa (o Hino Nacional) depois de o caixão ter chegado ao monumento, quase quatro horas depois da saída do cemitério, num cortejo que visitou, como se disse, locais emblemáticos da capital e do futebolista.
Quanto ao encontro com Bocelli, Dulce Pontes revela que “Ele adorava Andrea Bocelli. Foi lindo vê-los os dois”. Quanto a Eusébio e à homenagem, disse:
“Há um sentimento de uma densidade muito grande... o Eusébio irradiava humildade, com aquele fundo de dignidade muito forte, não precisava de abrir a boca. Depois, nós sabemos como foi o tempo dele, jogava mesmo por amor à camisola, não havia aquelas quantias chorudas. Ao mesmo tempo, é um bocado estranho. É uma honra que é prestada e que é merecida, é uma homenagem, mas é denso. E, sendo o Hino Nacional, ainda mais denso se torna. Não sei como vai ser, mas vai ser com toda a alma.”. 
O presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) defendeu, em declarações à Lusa, que Eusébio deveria ter uma estátua ou o nome de uma rua em Maputo. No dia em que o corpo de Eusébio foi trasladado para o Panteão Nacional, em Lisboa, Feisal Sidat considerou “justo e oportuno” atribuir-lhe “um lugar digno” e lamentou que o Governo moçambicano não tenha ainda prestado a devida homenagem à antiga estrela do futebol mundial que nasceu na então cidade de Lourenço Marques.
Eusébio era uma “figura muito querida no país”, à semelhança do antigo capitão do Benfica Mário Coluna, que morreu no ano passado em Maputo, e ambos “vão ficar para sempre no coração dos moçambicanos”. O responsável pela FMF destacou também a figura do 'pantera negra' no bairro da Mafalala, na capital moçambicana, onde cresceu e começou a jogar futebol e “onde mesmo os mais jovens recordam a sua memória”.
Por seu turno, o presidente da FPF, Fernando Gomes, considerou que esta é “uma justa homenagem”, Humberto Coelho recordou a forma como Eusébio “representou Portugal no desporto e no futebol como ninguém”, Fernando Santos lembrou o primeiro jogo do futebolista pelo Benfica e João Pinto falou da importância do antigo jogador para a seleção nacional.
O Padre Delmar Gomes Barreiros declarou:
“A Pátria está em festa. Ao recebermos os restos mortais de Eusébio, recebemos um herói. (…). Estamos num momento que é de honra para nós: como cristãos, como profissionais do desporto, como cidadãos. Ao Benfica só desejaria uma coisa: passado de glória, futuro de vitória”.
Antes dos atos públicos frente à igreja de santa Engrácia, Telmo Correia, deputado do CDS-PP e autor da proposta para a trasladação, disse à SIC que o “Eusébio é um herói popular”, salientando o momento histórico, pois o antigo futebolista “é o primeiro português nascido em África a ter essa honra”.
Também Bagão Félix, falando aos jornalistas sobre o King, assegurou: “Eusébio libertou-se da lei da morte, através da memória”.
Ao melhor amigo de Eusébio no futebol, António Simões, coube o discurso inaugural, em que fez um breve elogio fúnebre ao herói:
“Ele dizia que eu era o irmão branco dele. Acrescento então que eras o irmão de todas as cores, do compromisso, ternura e lealdade (...) Não morreu. Só se ausentou fisicamente. Com o seu afastamento, nós é que morremos em parte. No meu caso, uma grande parte.”.
Do seu lado, Assunção Esteves pronunciou palavras protocolares adequadas ao momento e à figura nacional homenageada, de que se destacam as seguintes:  
“Eusébio era o fazedor dos afetos da alegria. A alegria que Espinosa diz que nos aproxima mais da liberdade, que é “força maior de ser e estar no mundo”. Ele gerava uma coesão positiva que a todos nos ligava. Também por isso a homenagem do Parlamento o chama para a celebração de todos os consensos. Porque ele sintetiza o reconhecimento unânime do valor, a pura concordância acima de todas as preferências particulares, metáfora, afinal, do próprio jogo da democracia.”.
E, Cavaco Silva, encerrando a sequência de discursos protocolares, sentenciou:
Como desportista, como ser humano, Eusébio da Silva Ferreira esteve sempre acima, muito acima, das querelas e das controvérsias que marcam o nosso quotidiano. A admiração que temos pela sua personalidade invulgar é partilhada por todos os Portugueses, sendo transversal a divisões ideológicas ou simpatias clubísticas. Eusébio é, na verdade, património de todos. Na família e nos seus próximos, naqueles que tiveram o privilégio de o conhecer de perto, deixou um indelével e bem português sentimento de saudade. Para todos os outros, incluindo as novas gerações, o ‘Pantera Negra’ é uma referência como desportista, que se destacou, como poucos no mundo, pela sua arte nos relvados mas também pelo seu calor humano e pela simpatia que de imediato despertava nos seus semelhantes. Eusébio é, verdadeiramente, uma figura nacional. (…).
Encarava com surpreendente humildade a grandeza do seu génio. Admirado por milhões, tratava todos e cada um com uma extraordinária simplicidade, a simplicidade natural dos que são verdadeiramente grandes, que nada precisam de mostrar e exibir, porque têm a consciência serena do seu valor e da sua grandeza. (…).
Hoje evocamos a sua personalidade da forma mais elevada e solene com que a República homenageia os seus maiores. Ao conceder a Eusébio da Silva Ferreira honras de Panteão Nacional, o Estado português exprime a sua gratidão por um campeão do desporto, uma lenda do futebol que é admirada em todo o mundo.
Eusébio da Silva Ferreira é um traço de união entre os Portugueses, mas também no mundo lusófono. (…). É o imenso afeto que nos deu que hoje queremos devolver-lhe, em sinal de gratidão pelo que significou como desportista e pelo que foi como ser humano.
O seu exemplo irá perdurar na nossa memória. E agora, a partir de hoje, Eusébio não estará apenas nos nossos corações. Repousará, lado a lado, com os grandes nomes da nossa vida pública e da nossa cultura. Eusébio da Silva Ferreira, como poucas personalidades do século XX, foi amado genuinamente pelo povo português, por um país inteiro. A República portuguesa, ao prestar-lhe esta homenagem, vai ao encontro desse sentimento do nosso povo, praticando um ato verdadeiramente democrático, através do qual se faz justiça a um português excecional e raro, cuja memória devemos honrar.
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Penso que a cerimónia lega metaforicamente para a História uma boa foto do herói, dos decisores, da entidade organizadora, do povo e também, neste caso, o Presidente da República, que, assumido hic et nunc como lídimo representante do povo, logrou a pronúncia de um autêntico elogio fúnebre numa perspetiva holística genuína. Di-lo quem também o critica!

Honra, pois, a Eusébio da Silva Ferreira, o herói que emergiu do seio do povo, se fez grande sem deixar de ser povo!

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