sexta-feira, 12 de junho de 2015

No 30.º aniversário da assinatura do Tratado de Adesão à CEE

Passando hoje, dia 12 de junho, o 30.º aniversário da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE, será oportuno relembrar o acontecimento, as diligências prévias e algumas das consequências.
Efetivamente, a 12 de junho de 1985, Portugal assinou o tratado de adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE). O Primeiro-Ministro, Mário Soares, liderou a comitiva que, após as necessárias diligências, algumas bem duras (Que o diga o Dr. António Marta, responsável pela condução técnica das negociações!), formalizou, nos Claustros do Mosteiro dos Jerónimos, a entrada do país no projeto europeu.
Portugal atravessava uma grave crise financeira, acentuada pela recessão da economia mundial. Com efeito, no decurso da revolução de 25 de abril de 1974, a perda do razoável mercado colonial, acrescida da necessária integração de milhares e milhares de residentes nas antigas colónias – aos quais se deu a denominação de retornados nacionais – a economia portuguesa ficou numa visível situação periférica e com uma acentuada dependência externa. Foi nesse contexto que o país começou a olhar fixamente para o mercado europeu (o mercado comum) e formalizou o pedido de adesão à CEE em 1977. Porém, foi só na década seguinte que esse pedido teve resposta efetiva (assinado a 12 de junho de 1985, entrou em vigor a 1 de janeiro de 1986), em simultâneo com a Espanha, naquele que foi o 3.º alargamento do grupo europeu.
A Comunidade Económica Europeia faz parte do processo de formação do que hoje é a União Europeia (UE), que teve, na sua origem, a intenção de fomentar o progresso económico, a liberdade e uma paz duradoura entre os estados vizinhos da Europa. Tem a sua origem em 1950 na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) com seis países fundadores:  Alemanha, Bélgica, Itália, França, Luxemburgo e os Países Baixos, que deram os primeiros passos para a união dos países da Europa.
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Se a situação económica portuguesa refletia os sobressaltos que as consequências da revolução de abril trouxe ao país e aos seus nacionais, a conjuntura europeia estava marcada por grandes mudanças estruturais dentro da própria organização transnacional, facto que, por várias vezes, conduziu a considerável atraso das negociações da adesão.
De facto, o pedido de adesão havia sido formalmente acolhido a 28 de março de 1977, tendo apenas sido aprovado a 29 de março de 1985, depois de muita pressão do governo do Bloco Central político. O tempo de apreciação foi de oito anos e um dia, período durante o qual a CEE se foi certificando da solidez e credibilidade do novo sistema político português, concedendo ao mesmo tempo algumas ajudas monetárias ao abrigo dos acordos anteriores. 
As questões levantadas durante o tempo das negociações centraram-se na agricultura, nas pescas e na indústria portuguesa, bem como na necessidade de Portugal não se tornar num contribuinte líquido do orçamento comunitário, numa primeira fase. 
O texto assinado em 1985 impunha uma fase transitória de acordo com as liberdades a serem instituídas no espaço europeu – pessoas, bens e capitais. Assim, a liberdade de trabalhadores só entrou em vigor a partir de 1993, enquanto a liberdade de estabelecimento teve efeito imediato, o que era vantajoso sobretudo para os países ricos. Quanto à circulação de bens, o limite estabelecido foi também janeiro de 1993, de forma que Portugal tivesse tempo de suprimir os direitos aduaneiros para passar a reger-se pela PEC (Pauta Exterior Comum). No atinente à liberdade de circulação de capitais, Portugal mostrou-se mais conservador, tentando proteger as empresas nacionais do domínio europeu, beneficiando para tal de alguma tolerância. O mesmo tipo de política protecionista foi aplicado a setores-chave como o dos têxteis e da agricultura, onde a evolução foi feita lentamente de modo a possibilitar a remodelação (ou reconversão) do sistema agrícola. Relativamente à tributação, Portugal não conseguiu deixar de vir a tornar-se num contribuinte líquido, apesar de ter conseguido a devolução parcial do IVA até 1991. Por outro lado, o país beneficiou dum sistema de ajudas monetárias que visava o apoio ao desenvolvimento do país e a sua real integração no conjunto europeu.
Pelo Tratado firmado, como se disse, a 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, Portugal foi admitido efetivamente como membro de pleno direito da Comunidade Económica Europeia (CEE).
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Entre o pedido de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, em 1977, até à assinatura do Tratado, em 1985, decorreram oito anos e um dia de negociações integrando pareceres, acordos e declarações, tendo-se registado diligências públicas significativas em relação a esta matéria nos anos de 1977, 1978, 1980, 1982, 1984 e 1985.
A 11 de março de 1977, na sua alocução alusiva ao pedido, Mário Soares classificava o ato como:
Em primeiro lugar, desafio para Portugal, pois não ignoramos de modo algum as nossas fraquezas nem as nossas atuais dificuldades. Desafio também para a Europa, pois, ao bater-lhe à porta, sentimos que exprimimos a dimensão europeia das mudanças políticas e sociais ocorridas ou em curso no sul da Europa. Ignorar esta realidade nova só iria aumentar as diferenças que separam ainda, em termos económicos, esta Europa do sul da Europa do norte, com todos os perigos de desintegração e de rutura para a Europa, a longo prazo.
Tomando em consideração aqueles largos anos de negociações, é possível estabelecer uma cronologia com os elementos seguintes:
- 11 de março de 1977 – o Primeiro-Ministro português, Mário Soares, explica as razões do pedido de adesão, no decorrer de uma visita à Comissão, em Bruxelas.
- 28 de março de 1977 – o Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português, José Medeiros Ferreira, dirige uma carta ao Presidente do Conselho, onde, em conformidade com a posição tomada pela Assembleia da República, é pedida a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, de acordo com o disposto no artigo 237.º do Tratado que institui a CEE.
 - 20 de abril de 1978 – a Comissão Europeia faz uma comunicação sobre o alargamento onde analisa a situação dos diferentes setores da economia portuguesa.
- 19 de maio de 1978 – a Comissão Europeia pronuncia-se a favor da adesão, tecendo considerações complementares sobre a forma como Portugal estava a assimilar as políticas e os regulamentos comunitários e sobre o modo como o poderia fazer futuramente.
- 6 de junho de 1978 – o Conselho de Ministros da Comunidade Económica Europeia pronuncia-se, por unanimidade, a favor do pedido português.
- 18 de dezembro de 1980 – sendo Carlos Alberto da Mota Pinto o Primeiro-Ministro, é aprovado o acordo, sob forma de troca de cartas entre a Comunidade Económica Europeia e a República Portuguesa, relativo à criação de uma ajuda de pré-adesão a favor de Portugal, que totalizou 100 milhões de ecus (O ecu era a moeda de referência para as permutas financeiras no quadro da CEE: ainda não havia o euro, circulando no respetivo país amoeda nacional) e se destinou a projetos ou programas de melhoramentos das estruturas industriais, modernização dos setores agrícola e das pescas e desenvolvimento de infraestruturas.
- 17 de novembro de 1982 – sendo Francisco Pinto Balsemão o Primeiro-Ministro, por resolução do Parlamento Europeu (JOCE C 334/82, pg. 54), o PE reitera a vontade política de ver a Espanha e Portugal juntarem-se à Comunidade, o mais tardar a 1 de janeiro de 1984.
- 25 e 26 de junho de 1984 – o Conselho Europeu de Fontainebleau confirma que as negociações para a adesão de Espanha e Portugal devem ser concluídas, o mais tardar, até 30 de setembro de 1984, comprometendo-se até lá, a Comunidade a envidar esforços, designadamente criando as condições adequadas para o êxito do alargamento quer nas negociações com Espanha relativamente ao setor das pescas quer na reforma da organização comum do mercado do vinho.
- 24 de outubro de 1984 – é assinada, em Dublin, uma Declaração Comum do Conselho Europeu, Governo Português e Comissão Europeia, tendo tanto a Comunidade como Portugal constatado um consenso sobre um número importante de capítulos das negociações e sendo definido o objetivo de o novo alargamento da Comunidade se tornar uma realidade em 1 de janeiro de 1986.
- 18 de dezembro de 1984 – é adotado o segundo acordo de pré-adesão, em que se  se estabeleceu uma comparticipação financeira de 50 milhões de ecus, visando essencialmente as estruturas dos setores agrícola e das pescas.
- 31 de maio de 1985a Comissão Europeia emite parecer ao Conselho favorável à adesão, considerando que o alargamento das Comunidades ao Reino de Espanha e à República Portuguesa contribuirá, nomeadamente, para consolidar a defesa da paz e da liberdade na Europa.
- 11 de junho de 1985 – o Conselho decide que o Reino de Espanha e a República Portuguesa podem tornar-se membros da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e, ao mesmo tempo, noutra decisão da mesma data, aceita igualmente os pedidos de admissão destes países na Comunidade Económica Europeia e na Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA).
- 12 de junho de 1985 – é assinado o Tratado de Adesão da República Portuguesa à Comunidade Económica Europeia (CEE) e à Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA) em Lisboa, nos Claustros do Mosteiro dos Jerónimos.
Por força do Tratado, que entraria em vigor a 1 de janeiro de 1986, Portugal torna-se o 11.º membro das Comunidades.
Assinaram o Tratado: o Primeiro-Ministro, Mário Soares, o Vice-Primeiro-Ministro, Rui Machete, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, e o Ministro das Finanças e do Plano, Ernâni Lopes.
Mário Soares, no seu discurso da cerimónia referiu-se à adesão nos termos seguintes:
Para Portugal, a adesão à CEE representa uma opção fundamental para um futuro de progresso e modernidade. Mas não se pense que seja uma opção de facilidade. Exige muito dos portugueses, embora lhes abra simultaneamente, largas perspetivas de desenvolvimento.
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A circunstância política que então contextualizou a assinatura do tratado constituiu desde logo um mau presságio: o Primeiro-Ministro que assinou o documento que vinculava Portugal estava já sob a espada do anátema sobre o Governo em funções, já que a rodagem de um determinado automóvel à cidade da Figueira da Foz levou a que o congresso do PSD ditasse uma nova liderança partidária na pessoa de Cavaco Silva, que anunciou denunciar o contrato de legislatura com o PS imediatamente após a assinatura daquele documento, ato que ia implicar, a muito curto prazo, a dissolução da Assembleia da República, a que se seguiriam eleições legislativas e a consequente destruição do Governo do bloco central político.
Garantia-se a liberdade de circulação de pessoas, capitais e bens e a empregabilidade em qualquer país do espaço europeu. Tornámo-nos um país de subsídio-dependentes, enquanto se esmigalharam a agricultura, as grandes empresas, as pescas, a marinha mercante. A floresta arde em grandes dimensões em cada verão (cada vez mais longo) que passa, país fica esmagado pelas diretivas da UE – o novo rosto da CEE – que atingem todos os setores da vida dos cidadãos dos Estados-Membros. As forças armadas portuguesas são o mártir da penúria financeira e do despeito governamental. Sendo difícil reeditar o bloco central político, mantém-se de pedra e cal o bloco central de interesses e, também por isso, a alternância política em pouco ultrapassa as malhas de estilo, fracassada que foi a política da 3.ª via. Os capitais circulam efetivamente, mas usualmente de dentro para fora, se excetuarmos os legais RERT (regimes excecionais de regularização tributária)
Passados 30 anos, é mesmo preciso relançar o debate sobre o projeto europeu e proceder à criação de um sistema que induza a articulação entre a supervisão europeia e autonomia de Cada Estado-Membro. Talvez seja proveitosa a retoma do texto de Mário Soares, em 1977, acima transcrito. Haja vontade política em cada país e lucidez nas instituições europeias!
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Cf A assinatura da adesão à CEE [em linha]. http://ensina.rtp.pt/artigo/a-assinatura-da-adesao-a-cee/, ac. 2015-06-12
Tratado de adesão à CEE, in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-06-12]. Disponível na Internet:  .

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