Passará, a 22 de agosto, o VI centenário da conquista de
Ceuta pelos portugueses. No entanto, como a preparação próxima da expedição
começou meses antes e os portuenses se reconhecem na colaboração prestada por
todos os meios ao seu alcance à concretização do desígnio de Dom João I, o Centro Histórico do Porto escolheu o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
para colocar a Ribeira em rota de comemoração dos 600 anos do início da expansão, que se consubstanciou na gesta dos
Descobrimentos. Foi por força da expansão que os portugueses são um povo
repartido em pedaços pelo mundo. Por outro lado, Camões, que ficara ferido em
Ceuta – numa surpresa das
tribos cabilas, de que pôde salvar-se
pela sua valentia, perdeu o olho direito, acidente a que ele chama “o fruto
acerbo de Marte” –, viajou até à Índia onde exerceu os cargos para
que foi designado.
Do seu lado, os portuenses construíram os navios e
forneceram armas e mantimentos para o lançamento da epopeia dos Descobrimentos.
Foi do sacrifício portuense que se
originou a lenda e a alcunha de tripeiro. Segundo a lenda, as gentes do Porto ofereceram
toda a carne à frota organizada pelo Infante D. Henrique e ficou apenas com as
miudezas, em que se destacam as tripas, para seu alimento. Neste sentido foi a míngua
a aguçar a arte gastronómica dos portuenses de modo que fizeram das tripas um alimento,
hoje apreciado por muitos, em cujo número me incluo.
Mas o Porto, na sua idiossincrasia hospitaleira, de
boa convivência, determinada e resoluta, sempre que é necessário estar presente
em prol das grandes causas da lucidez, do progresso e da solidariedade, sabe
dizer “sim”.
A ora considerada Cidade Invicta, que fizera das “tripas coração”, recordou e
festejou, a 10 de junho, o esforço dos tripeiros. Segundo o que se lê na
imprensa, a Zona Histórica teve música, espetáculo de rua e animação até ao
final da tarde.
A festa zarpou da Ribeira do Porto e passou por
Miragaia e pela Praça do Infante. A cidade aproveitou o ensejo de relembrar o
povo que ergueu os mais de 70 navios e equipou os navegadores que partiram do
Douro para integrar a armada rumo a Ceuta.
Em dia de festejo das descobertas, houve que mostrar como
eram os artistas de antanho. O cais da Estiva serviu de palco às oficinas
para ver e aprender as artes e os ofícios mais procurados há 600 anos.
Desde as 10 horas às 19, lá estiveram
o sapateiro na confecção e conserto de calçado, o mestre e o ajudante ferreiro na execução de espadas, o
vassoureiro na preparação e arranjo de vassouras, o marceneiro no talhar de colheres de pau e mulheres no cozinhar em
panelas de ferro. A memória foi avivada por uma equipa de atores que participa na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira,
estando todos os componentes vestidos à
época.
A manhã constituiu também o momento para participar na prova lúdico-desportiva “Do Porto para o Mundo”, organizada pelo “World of
Discoveries”, em Miragaia, e para espreitar uma visão mais contemporânea dos
Descobrimentos do artista urbano
Oker que fez uma intervenção num elétrico, na Praça do Infante.
À tarde, a Casa do Infante abriu-se, entre as 15 e as 16 horas, aos mais pequenos com
uma sessão de vídeo e teatro de
marionetas para a representação da história infantil sobre a lenda
“Das Tripas Coração”, de Adélia
Carvalho.
Também às
15 horas, o historiador
Joel Cleto lançou-se pelo Centro Histórico com a música dos Hai-Luz
e a dança do Grupo de Folclore da Escola Secundária Infante D. Henrique “à
descoberta das histórias e lendas da Tomada de Ceuta”.
O percurso a pé
, cuja inscrição prévia era obrigatória, mas gratuita (até ao máximo de
40 participantes, que se obteve), teve partida no Largo da Estação de S. Bento, passou
pela Torre dos 24, pelas ruas de Sant’ Ana e dos Mercadores e pela Casa do
Infante, onde trocou palavras com D. João I e Filipe de Lencastre. A viagem
prosseguiu até Miragaia para encontrar o Infante D. Henrique. E, por fim, desaguou, às 17 horas, na Praça
do Infante e no Cais da Estiva.
Na Ribeira, junto à Praça do
Cubo, o Douro foi o pano de fundo do
espetáculo de rua “Barco no Horizonte”,
concebido por Paulina Almeida, com dança, teatro e música, inspirado pelas
viagens das descobertas. Entre
as 16 e as 18 horas, os preparativos saíram às ruas da zona ribeirinha e à Praça do Cubo. A
partida ocorreu entre as 18 e as
19 horas no cais da Ribeira.
O grupo Hai-Luz
atuou entre as 17,30 e as 18 horas na Casa do Infante, ao mesmo tempo
que, às 18 horas, foi inaugurada a
exposição “Ceuta Ontem, Ceuta Hoje” sobre
os 600 anos dos Descobrimentos no World os Discoveries. O comissário da mostra,
coproduzida com a cidade autónoma de Ceuta e com o Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, é Luís Adão da Fonseca.
O dia de memórias e de celebração terminou com o baile medieval no Cais da
Estiva, a partir das 19 horas, protagonizado pelos Hai-Luz e pelo Grupo
de Folclore da Escola Secundária Infante D. Henrique.
Ceuta seria a primeira
possessão portuguesa em África, ponto estratégico para a exploração Atlântica
que começava a ser efetuada.
Na sua conquista se empenharam
as mais altas figuras do Reino: desde logo, o Rei Dom João, o da Boa Memória; o
Condestável Dom Nuno Álvares Pereira; os três Infantes filhos mais velhos de
Dom João I (Dom Duarte, o Príncipe herdeiro; Dom
Pedro, Duque de Coimbra; e Dom Henrique, Duque de Viseu) – o nervo principal da
“Ínclita Geração”; o marechal
Gonçalo Vasques Coutinho; e o Conde de Viana, D. Pedro de Meneses.
Sem comentários:
Enviar um comentário