quinta-feira, 18 de junho de 2015

Se calhar, somos mesmo gregos...

Durante quatro anos, andaram os próceres da governança sob troika e ultratroika a clamar que Portugal não é a Grécia e António Costa, apesar de ter saudado os resultados das últimas eleições legislativas gregas, apressou-se a declarar que o seu PS não é o Syriza.
Agora, que a União Europeia e o Governo grego parece não virem a chegar a um acordo de solução condigna para a Grécia e grata para a UE, sob acusações mútuas, exatamente no considerado dia D para a Grécia, o Presidente da República de Portugal, que não participa nas reuniões do Eurogrupo, declara, do alto da sua sabedoria infalível, que “a Europa não pode ceder a chantagens”. Todavia, espera que “na 25.ª hora” surja o milagroso acordo com o governo de Atenas”, adiantando que “seria bom para todos os países da UE”.
O Eurogrupo, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional, que o Syriza conseguiu que se chamassem “instituições” em vez de troika (Isto faz-se lembrar Marcello Caetano, que reformava as instituições mudando-lhes a designação) acusam a Grécia de não proceder às reformas necessárias, enquanto o Governo grego acusa os credores de querem espezinhar a Grécia com as suas excessivas exigências.
A isto, Cavaco Silva, alinhado com o Governo de Passos Coelho, na teoria do “bom aluno” da Europa (teoria, aliás, de génese cavaquista), sentenciou: “A Europa não pode ceder a chantagens, venham elas de dentro do seu espaço ou fora dele”. São estas algumas das palavras do Chefe do Estado de Portugal, em Bucareste, numa conferência de imprensa para balanço das suas visitas de Estado à Bulgária e à Roménia, em que confessou não dispor de informações positivas sobre um eventual acordo entre as autoridades gregas e os credores. No dia da reunião do Eurogrupo, o Presidente Cavaco admitiu que a União Europeia terá entrado numa “área de resultados imprevisíveis” e que, apesar de as instituições europeias estarem mais bem preparadas para “um acidente (a saída da Grécia da zona euro e da própria UE), alguns efeitos ocorrerão e não serão positivos”.
Quanto aos efeitos colaterais em Portugal da eventual saída da Grécia, o Presidente mostra-se convicto de que “Portugal tem neste momento uma reserva de fundos financeiros para manter a economia durante, vários, vários meses”.
Não respondendo diretamente sobre o impacto de uma já muito provável saída da Grécia do espaço da UE nos programas partidários e na campanha eleitoral portuguesa, perorou: “O povo português compreende bem a diferença entre a situação de Portugal e da Grécia e reconhece que os dois países seguiram caminhos diferentes na implementação dos programas de ajustamento”. Talvez tenha querido dizer que os portugueses se sujeitaram a todas as imposições da troika e os gregos foram resistindo até ao limite.
Ora, não sei se, ironicamente se zombeteiramente, quis deixar, a propósito da realidade grega, um eloquente aviso (Cavaco faz sempre questão em avisar e avisar que já tinha avisado) a Portugal e aos partidos em processo eleitoral: “O governo grego foi aprendendo que a realidade é diferente dos sonhos e das promessas que vão sendo feitas em campanha eleitoral”.
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Por seu turno e em nome do Governo, o Ministro da Presidência afirmou, em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros de hoje, dia 18, que o Executivo aguarda uma decisão conjunta europeia sobre a Grécia e estará atento a eventuais turbulências nos mercados. Porém, não antecipa cenários e só lidará com eles quando acontecerem.
Questionado se o Governo discutiu algum plano para a eventual (e cada vez mais provável) saída da Grécia da zona euro, declarou que “as decisões sobre a Grécia são decisões europeias, não são decisões de países individualmente considerados”.
Sobre a hipótese de mudanças na estratégia de pagamentos antecipados da dívida portuguesa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Marques Guedes respondeu que isso não estava a ser equacionado e reiterou que a antecipação do pagamento da dívida ao FMI “é a estratégia que melhor defende os interesses financeiros nacionais e os contribuintes portugueses”, reafirmando que o executivo PSD/CDS-PP pretende prossegui-la.
Adiantou que, de momento, o caso grego não afeta rigorosamente nada aquela estratégia e que espera que não venha a afetar, mas que “não podemos antecipar, conscientemente, qualquer tipo de turbulência que venha a ocorrer nos mercados”. E, pegando nas palavras do Primeiro-Ministro e da Ministra das Finanças, reporta-se ao país como “perfeitamente dotado de meios financeiros e de capacidade financeira”, sendo “com base nos nossos próprios recursos que nós resolvemos as nossas obrigações” e não estando “a contar com interferências estranhas” ao processo da “antecipação dos nossos próprios pagamentos”.
Depois, no que respeita às negociações em curso nas instâncias europeias, segundo o Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Portugal “está, como todos os outros países europeus, empenhado em encontrar uma solução para o problema da Grécia, que não é de agora”. Todavia, escapou-se ao desenvolvimento do tema, remetendo-o para as inconclusivas reuniões de hoje dos ministros da Economia e das Finanças da União Europeia (Ecofin) e da zona euro (Eurogrupo) e presumivelmente depois do Conselho Europeu”, reafirmando que terá de haver “uma decisão europeia”, não fazendo “sentido absolutamente nenhum haver posições individualizadas”.
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Também hoje o líder parlamentar do PS e seu antigo secretário-geral, Ferro Rodrigues – depois de confrontado com a exigência do chefe de Estado, Cavaco Silva, no sentido de que as regras da União Europeia sejam respeitadas por todos os Estados-membros, incluindo a Grécia – afirmou que as regras defendidas pelo Presidente da República levaram a Grécia ao desastre e advertiu que o futuro da Europa requer “bom senso”.
Chegou mesmo a dizer que “as regras que o senhor Presidente da República fala são as regras que na Grécia deram um péssimo resultado, pois, “o que aconteceu na Grécia foi que uma austeridade absolutamente desvairada – com quedas do produto e aumentos do desemprego ainda maiores do que em Portugal –, conduziu o país a uma situação absolutamente insustentável”.
O dirigente socialista acha, pois, “natural que os governantes e povo grego queiram sair dessa situação” de austeridade:Estamos perante uma questão que exige bom senso de todos e que não tem nada a ver com uma lógica tipo de professor primário. Está em causa o futuro da Europa”.
Em defesa da sua posição, o presidente do Grupo Parlamentar do PS citou artigos que têm sido publicados na mais influente imprensa mundial, como, por exemplo, o Financial Times: “Não há nenhuma certeza sobre o que vai acontecer [em caso de rutura] e ainda na quarta-feira o [jornal] Financial Times, que tem uma influência grande a vários níveis na União Europeia, tinha um editorial muito duro, alertando para a necessidade de se chegar a um consenso em que ninguém perdesse a face”.
Sobre a influência de eventual alteração do panorama europeu nos programas partidários e na campanha eleitoral o experiente político, revelou-se lacónico e ambíguo, dizendo que haverá sempre influência, mas que a situação não se alterou.
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Que o Presidente da República esteja tranquilo com as questões relacionadas com a Grécia, não espanta, tal como não espanta o seu confessado alívio pela solução encontrada para a TAP, “vendida” ou a acabar de vender por dez milhões de euros, que não de contos (20 meses de ordenado de Jorge de Jesus), a um grupo económico luso-americano tão sólido que, para sanear a empresa, tenciona vender aviões para depois os alugar e, para a recapitalizar, conta com as migalhas do Estado brasileiro através de um dos seus bancos. Assim, só tenho pena de que o Presidente, que assegurou aos investidores e depositantes a segurança financeira confiável do BES/GES, com resultados tão positivos, não tenha manifestado a sua satisfação com a nacionalização, há tempos, da EDP e da REN pelo Estado chinês!
Quanto à posição do Chefe do Estado e do Governo, lamento que: persistam na obediência acrítica às lideranças europeias na culpabilização dum país que se encontra em situação periclitante, mandando às malvas o projeto europeu; hipocritamente remetam para a formalidade das decisões europeias rejeitando qualquer hipótese de sugestão de cada Estado-Membro, no esquecimento de que a Europa é feita de países e não é uma entidade abstrata; timidamente se limitem a dizer que o país tem uma almofada financeira para os próximos meses e que a Grécia não afeta o plano de pagamento antecipado da dívida portuguesa ao FMI; e deslavadamente declarem que o fenómeno grego não vai afetar, em Portugal, nem os programas dos partidos nem a campanha eleitoral ou que digam candidamente que esperam (talvez do céu) uma solução europeia sem por ela lutarem.

Porque é que, em vez de repropalarem que Portugal não é a Grécia, se limitam a dizer que para já não há nada a temer e que, se houver turbulência de mercados, então se agirá? Será que, afinal, também seremos a Grécia?

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