Do mesmo modo que solicitamos que seja em nós santificado o
Vosso Nome, pedimos que o Reino de Deus se torne presente em nós. Também aqui a
oração corresponde à preocupação da fé. Os crentes aguardam que o Reino de Deus
se faça realidade e pedem-no. Escutam atentamente Jesus quando Ele proclama: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15).
No povo judeu
muitos esperavam o começo do Reino de Deus, o seu Reino. Acreditavam que Deus
virá, na pessoa do Messias, completar o que eles não podiam fazer por si
próprios: vencer os inimigos do seu povo, expulsar os romanos do país, e
reinar, desde Jerusalém – o centro do mundo – sobre todas as nações, como um
rei poderoso sobre o trono de David. Mas Jesus fala duma outra maneira do Reino
de Deus, do seu Reino: conta histórias através de imagens, parábolas. Ele diz: O Reino de Deus é semelhante à semente que o
semeador lançou à terra (Mt 13,1-9). É semelhante ao grão de mostarda que se
tornou uma árvore (Mt
13,31-32), ao fermento que uma mulher toma e amassa com
três medidas de farinha (Mt 13,33), a um tesouro escondido no campo (Mt 13,44).
Jesus diz aos
seus discípulos que vivam de tal maneira que os outros vejam através da sua fé,
esperança e caridade, que o Reino de Deus está a crescer; que deixem os seus
calculismos. E, porque só o Pai conhece o dia e a hora, importa que sejam
vigilantes a fim de não faltarem à festa de Deus e vão suplicando: Venha a nós o vosso Reino! Depois,
garante que aqueles que sabem ser pobres no seu íntimo perante Deus e aqueles
que são perseguidos por amor da justiça possuem o Reino dos Céus (cf Mt 5,3.10).
Esta petição dominical do Reino é
feita e atendida na oração de Jesus (cf Jo 17,17-20), presente e eficaz na Eucaristia;
ela produz o seu fruto na vida nova segundo as bem-aventuranças (cf Mt 5,13-16; 6, 24;
7,12-13) – cf CIC, 2821.
A nuclearidade da pregação do Reino
Com efeito, o tema do Reino torna-se nuclear na pregação de
Cristo. Se é certo que, para os judeus do tempo de Jesus, o reino messiânico
corresponderia à esperada intervenção divina maravilhosa de índole política (vd Mt 4.3.6.9.20.21; Jo 6,14-15; Ap
1,6), Jesus desenvolve a
ideia do Reino de Deus noutras vertentes bem diferentes. O Reino de Deus (Marcos) ou Reino dos Céus (Mateus) tem a primazia na pregação de Jesus (vd Mt 4,23; 9,35; 11,12; 13,31-49; Mc 1,15; Lc 1,33;
12,31; 16,16; 17,20; Jo 12,13-15; 18,36). Jesus apresenta a sua ação na linha do reinado messiânico
escatológico anunciado pelos profetas – que não conforme à ideia que os seus
contemporâneos tinham formado (Is 35,5-6; 61,1-3; Mt 4,23; 12,28; Lc 7,21-22). Os apóstolos proclamam o Evangelho
do Reino (Mt 10,7) dado a conhecer somente aos humildes
(Mt 11,25) e, depois do Pentecostes, o Reino é
tema central da pregação apostólica (At 14,22; 19,8;20,25; 28,23-31; 1Ts 2,12). O Reino de Deus, dom de Deus (Mt 5,3; 13,44-50; 18,1-4; 20,1-16;
1Cor 6,9; Gl 5,21; Ef 5,5)
é com o fermento na massa (Mt 13,33; Lc 13,20-21) e como a semente (Mt
13,1-52; 9,18-23),
crescerá pelo seu próprio poder como o grão (Mc 4,26-29). Converter-se-á numa grande árvore (Mt 13,31-33; Mc 4,31-32). E estará em crescimento até à
Parusia (Mt 6,10;
9,37-38; 11,12-19; 13,25-34.44-52; Mc 2,19; Lc 21,31; 32,14-26; Jo 2,1-11;4,35;
At 1,9-11).
***
Porque e quando é que Deus não reina? Evidentemente que é
porque e quando não fazemos a vontade do Pai.
E quando para Ele começou o reino que sempre existiu e nunca
deixará de ser? É óbvio que existe desde o princípio do mundo, mas
explicitamente quando Jesus o apresenta e o adquire pela sua Paixão. Por isso e
porque ele é dom temos que o pedir e assumir como nosso. Pedimos a vinda do
nosso reino, prometido por Deus e adquirido pelo sangue e paixão de Cristo, a
fim de que nós, que fomos outrora escravos do mundo, reinemos depois, conforme
Ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer: Vinde, benditos de meu Pai,
tomai posse do reino que vos está preparado desde a origem do mundo (Mt 25,34).
Pode-se igualmente entender que o próprio Cristo é o reino de
Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o
mais depressa possível. Sendo Ele a ressurreição, Nele ressurgimos e assim se
pode pensar que Ele é o reino de Deus e Nele reinaremos. Pedimos, é claro, o
reino de Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre a ele oposto, mas
em que ele se realiza. Ora, quem já renunciou ao mundo está acima desse reino
terrestre e das suas honrarias.
Como o reino somente se realiza se for plenamente cumprida a
vontade do Pai, nós rezamos: Seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu. Não o rezamos para que Deus faça o que
quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer, pois ninguém impedirá Deus
de fazer tudo quanto Ele quiser. Mas, porque o diabo se opõe a que nossa
vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a
vontade de Deus e a sua obra. Tudo isto resultará do seu auxílio e proteção,
porque ninguém é forte por suas próprias forças, mas é a indulgência e a
misericórdia de Deus que o protegem. Finalmente, manifestando a fraqueza de
homem, diz o Senhor: Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de
renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que eu quero, mas o que tu queres (Mt 26,39).
A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas
palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a disciplina nos
costumes; não fazer injúrias; tolerar as injúrias recebidas; manter a paz com
os irmãos; amar a Deus de todo o coração; amá-Lo por ser Pai; temê-Lo por ser
Deus; nada absolutamente antepor a Cristo, pois também Ele não antepôs coisa
alguma a nós; aderir inseparavelmente à Sua caridade; estar ao pé da Sua cruz
com coragem e confiança; tratando-se da luta pelo Seu nome e honra, mostrar
firmeza ao confessá-Lo por palavras; no interrogatório, manter a confiança
Naquele por quem combatemos; e, na morte, conservar a paciência que nos coroará
– tudo isto é querer ser coerdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é
realizar a vontade do Pai. – cf Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, Bispo e Mártir
(Nn. 13-15: CSEL 3, 275-278, séc. III); e Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Petrópolis,
1985, pgs1289-1295).
***
Deus reina em todo o
lugar aonde trouxe a salvação definitiva. O seu Reino chegou a toda a parte
onde os homens conheceram e acolheram a Deus pela palavra de Jesus. Ali, ela pode
atuar sem ser mal interpretada. Os crentes já não veem Deus apenas cingido dos direitos
de poder soberano ou como o salvador mais poderoso que os outros, mas também O
reconhecem nas humilhações de Seu Filho e no amor que os une. Desta verdade primordial,
própria de Evangelho brotam o amor e a misericórdia – fonte da única Salvação e
do poder no verdadeiro sentido. E, com a passagem do tempo, vamos desfrutando
de alguns frutos do Reino de Deus, que, embora ainda não consumado, já começou.
Os filhos de Deus, reconciliados neste Reino, tornam-se fermento evangélico na
sociedade. Assim, toda a realidade do homem – com seus projetos, trabalhos e
construções económicas e políticas – se encaminha para uma meta comum: tudo e
todos hão de voltar para o Pai.
Compete-nos trabalhar
empenhadamente para venha o Reino de justiça e de verdade, de paz e amor, mas
este Reino não está sujeito à nossa ao ou má vontade, à nossa indiferença ou
entusiasmo. O Reino de Deus virá connosco ou sem nós, porque na realidade ele
está mesmo entre nós. Resta-nos fazê-lo nosso. (cf La
Biblia latinoamerica, 1995, San Pablo:nota
a Mt 6,9).
O sentido do
Reino
O pedido para que o Reino de Deus venha é geralmente interpretado como uma referência à
crença, comum na época, de que a figura do Messias traria o Reino de Deus. Tradicionalmente, a
vinda do Reino de Deus é vista como um dom divino recebido na oração e não uma
conquista humana. Esta ideia é muitas vezes contestada por grupos que acreditam
que o Reino virá pelas mãos dos fiéis que trabalharam por um mundo melhor.
Acredita-se, pela convicção destes indivíduos, que a ordem de Jesus para
alimentar o faminto e vestir os necessitados é o Reino referido por Ele.
A Bíblia do
Peregrino (BP), que traduz essa frase como “venha
o teu reinado”, observa que: o reinado de Deus é o exercício de seu
poder; o pedido da vinda do reinado de Deus é o pedido da sua realização
histórica final, descrita nos Salmos (vd Sl 98/97,8-9), e corresponde ao anúncio primordial da boa
nova, por obra de João Batista e de Jesus, um período no qual Deus regerá
a história dos homens (cf Sl (82/81,8; Sl 98/97,1); tal pedido não é fatalismo nem resignação (cf Mt 7,21;
12,50; 26,42); deve-se
pedir a vinda do Reino pois é um processo que se manifestou
primeiramente em Jesus e também deve se manifestar em nós.
A Tradução
Ecuménica da Bíblia (TOB), que traduz
essa frase como “faz com que venha o teu Reinado”, observa que: a tradução
literal seria, que o teu Reinado venha;
pede-se que o Reinado inaugurado por Jesus se manifeste e seja
definitivamente reconhecido por toda a terra; em Mateus (Mt 3,2), João Batista havia-se referido a esse Reinado
como “Reinado dos Céus”, em conformidade com uma tradição judaica que
evitava pronunciar o Nome de Deus; a expressão “Reinado dos Céus” não designa
um “reino celeste”, mas o Reino Daquele que está nos céus (cf Mt 5,48;
6,9; 7,21) sobre o mundo; nalgumas passagens
do Antigo Testamento também se faz referência ao Reino de Deus,
tais como nos Salmos (vg Sl 22,29; 103,19; 145,11-13); a expressão “Reinado de Deus” também é empregada no
Evangelho de Mateus (Mt 12,28; 19,24; 21,31; 21,41); alguns manuscritos
apresentam essa frase em Lucas (Lc 11,2) como “Faz
vir sobre nós o teu Reinado”, outros substituem esse pedido (ou o
anterior) por “Faz vir o Teu Espírito sobre
nós, e que ele nos purifique”, podendo tal opção decorrer da influência
da liturgia do Batismo.
Podemos e devemos dizer do Reino de Deus que ele é
inseparável de Jesus, do agora da salvação de Deus, do transbordar da sua graça
na história, do rasgar da história aos pobres e infelizes, do bálsamo derramado
nos corações quebrantados, da palavra de alento aos que já nada esperam, do
aproximar das vidas concretas à possibilidade da salvação de Deus.
Aonde Jesus chegava, chegava o Reino; onde Jesus
estava, mostrava-se o Reino de Deus. Quando as pessoas tocavam em Jesus,
tocavam o Reino; quando O viam, estavam a ver o Reino. Quando escutavam as
parábolas, escutavam a gramática insuspeita do Reino. Jesus viveu a sua vida
como a manifestação extraordinária do Reino. O Reino coincidia com a presença
de Jesus, e esta vinda de Jesus provocava efeitos extraordinários em muitas
vidas.
Gente que se julgava morta, que se acreditava perdida num
emaranhado de existência que não conseguia deslindar... passou a encontrar em
Jesus Cristo a possibilidade duma vida nova. Por exemplo, Maria Madalena, de
quem Jesus retirou sete demónios, esta mulher, rejeitada, perdida de si mesma,
encontra-se em Jesus Cristo e reencontra nele o desejo de ser. Os próprios
discípulos já sabiam muitas coisas acerca de Deus, mas em Jesus Cristo ouvem o
que não sabiam. Sabiam andar de barco no mar da Galileia, mas não sabiam andar sobre
as ondas. Sabiam amontoar e repartir o pão, mas não sabiam multiplicá-lo nem
sabiam que o pão também pode saciar uma fome interior, uma fome do coração. Dos
pecadores, que eram apontados a dedo, dizia-se: “não têm possibilidade de
salvação”. Ora, a surpresa com que Zaqueu desceu daquela árvore para acolher
Jesus em sua casa, ou aquela com que Levi se levantou do seu posto de cobrança
para se tornar discípulo do Senhor – isto é o Reino de Deus presente, é o Reino
de Deus atuante, um Reino sem fronteiras, não segundo a lógica dos homens, mas
numa torrente do amor divino que vai crescendo, crescendo, como uma maré que
quer tocar tudo e todos.
O Reino de
Deus já está presente no meio de vós. Não
digamos que está aqui ou além. O Reino está presente como uma realidade em si.
O Reino depende de Deus e não da nossa tentação de limitar, de criar
fronteiras, de separar. Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino
de Deus, Jesus respondeu-lhes: A vinda do
Reino de Deus não é observável, não se pode dizer: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali.
Pois, eis que o Reino de Deus está no meio de vós (Lc 17,20-21).
Este é o grande anúncio de Jesus: O Reino de Deus está no meio de vós! Está dentro de nós, no meio do
mundo, no interior da História como semente. É este o maravilhoso tesouro a
descobrir. Deus já está presente! E o que precisamos é de nos tornar sensíveis
a essa presença. O Reino de Deus é já uma realidade, um fermento. E, se é
verdade que o Reino de Deus é também uma realidade escatológica, uma realidade
do futuro, uma coisa que a gente já vê, mas que ainda há de chegar na sua
plenitude, que neste momento existem sinais, a verdade é que sabendo nós que
ele é dom futuro, o Reino de Deus é já uma realidade do hoje da nossa vida.
Hoje a nossa vida está envolvida pelo Reino de Deus. O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer
esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e
cresce, sem ele saber como (Mc 4,26-27).
Tal como os alquimistas medievos diziam que, sem um pingo de ouro, não se consegue
fabricar o ouro, também sem um pingo do Reino de Deus nós não conseguimos
construir o Reino de Deus, nem sequer conseguiremos pedi-lo e esperá-lo. O
Reino de Deus é, no fundo, a súmula de toda a esperança. É aquela realidade de
Deus que se entrosa misteriosamente com as esperanças mais íntimas e fundas, porque
no Reino de Deus nós temos a plenitude, a concretização do amor de Deus.
Basta-nos o Reino de Deus e tudo o resto é acréscimo. (cf José Tolentino Mendonça, in Pai nosso que estais na terra, ed. Paulinas,2014).
A assunção
do Reino na doutrina do “aqui e agora” da Igreja
No Novo Testamento, a palavra
grega basileia e a palavra latina regnum podem
traduzir-se por realeza (nome
abstrato de estatuto régio),
reino (nome concreto) ou reinado (nome abstrato de ação). O Reino de Deus está diante de
nós, aproximou-se no Verbo encarnado, foi anunciado através de todo o Evangelho
e veio na morte e ressurreição de Cristo. O Reino de Deus vem desde a Ceia de
Cristo e, na Eucaristia, está no meio de nós. O Reino virá na glória, quando
Cristo o entregar ao Pai:
É mesmo
possível [...] que o Reino de Deus signifique o próprio Cristo, a Quem todos os
dias desejamos que venha e cuja Vinda queremos que aconteça depressa. Do mesmo
modo que Ele é a nossa ressurreição, pois n’Ele ressuscitamos, assim pode ser
Ele próprio o Reino de Deus, porque n’Ele reinaremos (cf CIC,2816).
A petição Venha a nós o vosso Reino é o Marana
Tha, o clamor do Espírito e
da esposa, Vem, Senhor Jesus! (Ap 22,20):
Mesmo
que esta oração não nos tivesse imposto o dever de pedir a vinda do Reino,
teríamos espontaneamente soltado este grito com a pressa de irmos abraçar o
objeto de nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar de Deus, invocam
o Senhor a grandes gritos: Até quando,
Senhor, até quando tardarás em pedir contas do nosso sangue aos habitantes da
terra? (Ap 6,10). Eles devem,
com efeito, alcançar justiça, no fim dos tempos. Por isso, clamamos: “Apressa, portanto,
Senhor, a vinda do Teu Reino!” (cf CIC
2817).
O Concílio Vaticano II faz abundantes
referências ao Reino de Deus e à sua justiça. Sem mais delongas e pormenores, sublinhe-se
que a Lumen Gentium lhes dedica todo o
n.º 6, reportando-o como mistério, como proximidade, manifestação por palavras
e obras na presença de Cristo, corroborada pelos milagres. Acentua, por outro
lado, o seu caráter seminal, germinante e frugífero e a sua índole nuclear na
missão da Igreja. Também a Gaudium et
Spes, no seu n.º 1, apresenta a Igreja que, sentindo-se peregrina a caminho
do Pai e almejando a realização do reino de Deus, se propõe dialogar com o
mundo nas suas alegrias, dramas e anseios para melhor servir o homem e anunciar
o Reino.
Mais sistematicamente, entretanto, se
referem ao Reino de Deus, a propósito da Oração dominical o Catecismo da Igreja
Católica (CIC) e o seu Compêndio (CCIC), como se dá a entender a seguir, assumindo bem a lex orandi como lex credendi.
Na oração do Senhor, trata-se
sobretudo da vinda final do Reino de Deus pelo regresso de Cristo (cf Tt 2,13) – desejo que não distrai a Igreja
da sua missão no mundo, antes a empenha nela. Porque, desde o Pentecostes, a
vinda do Reino é obra do Espírito do Senhor, para continuar a sua obra no mundo e consumar toda a santificação (cf CIC 2818). O Reino de Deus [...] é justiça, paz
e alegria no Espírito (Rm 14,17). Os últimos tempos em que nos encontramos (cf Heb 1,2; Gl 4,4) são os da efusão do Espírito Santo.
Trava-se desde então um combate decisivo entre a carne e o Espírito:
Só um
coração puro pode dizer com confiança: Venha
a nós o vosso Reino. É preciso ter passado pela escola de Paulo para dizer:
Que o pecado deixe de reinar no vosso
corpo mortal (Rm 6,12). Quem se
conserva puro nos seus atos, pensamentos e palavras é que pode dizer a Deus: Venha a nós o vosso Reino! (cf CIC 2819).
Discernindo segundo o Espírito, os
cristãos distinguem (distinção,
não separação) entre o
crescimento do Reino de Deus e o progresso da cultura e da sociedade em que
estão inseridos (cf CIC
2819). A vocação do
homem para a vida eterna não lhes suprime, antes reforça, o dever de aplicar as
energias e os meios recebidos do Criador no serviço da justiça e da paz neste
mundo (cf GS,22) – cf CIC,2820.
Em
suma, nesta
segunda significativa petição do Pai-nosso, a Igreja orante tem em vista
principalmente o regresso de Cristo e a vinda final do reinado de Deus, mas
reza igualmente pelo crescimento do Reino de Deus no hoje das nossas
vidas (cf CIC,2859). Ou seja, quer a
Igreja que os homens se preparem para a vinda do Filho de Deus fazendo que o
Reino já presente cresça aqui e agora, graças à santificação dos homens no Espírito e
graças ao seu empenho ao serviço da justiça e da paz, segundo o código das
Bem-aventuranças (cf CCIC, 590). Este pedido é, como se disse, o grito do Espírito e da Esposa: Vem Senhor Jesus (Ap 22,20).
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