Embora em tese, as novas TIC constituam uma poderosa
mais-valia educativa, todavia, muitos ainda não encontraram correlação direta
entre o seu uso e a melhoria dos resultados escolares.
No entanto, há estudiosos que entendem que se a Internet, os tablets, os computadores, os aplicativos e outras plataformas forem
usadas para estimular a imaginação e o espírito de pesquisa dos alunos e
amparar o trabalho do professor, com objetivos claros e de forma moderada,
podem ter impactos positivos não só nas classificações, mas também no
desenvolvimento de habilidades e no empenhamento dos estudantes.
Assim, é de exigir que a utilização das tecnologias
seja, para garantia de êxito, acompanhada de reformas doutra ordem, como: currículo
(escolar), avaliação e desenvolvimento profissional dos docentes – o que em
Portugal fica ao critério do pundonor dos educadores e professores.
Com base no debate e na opinião de especialistas, vertidos
no referido documento, a BBC Brasil enunciou “dez tendências da tecnologia da
educação” ou dez tendências conexas com o uso das novas (tecnologias de
informação e comunicação) TIC em contexto de aula e ambientes similares de aula
(como ações de formação em empresas) e experiências de uso na prática. Seguimos
a síntese elaborada por Paula
Adamo Idoeta da BBC
Brasil, com os ajustes adequados ao conhecimento da realidade portuguesa. Nestes
termos, é necessário e conveniente:
1- Acrescentar
valor ao trabalho do professor em vez de o substituir ou mecanizar. É tentador o
docente ou quem tem funções similares proceder à construção ou aquisição de
materiais didáticos (pequenos textos, esquemas, imagens, powerpoints, CD, Internet)
e em sala de aula ou de formação fazer a exibição, precedida de uma nota introdutória
e acompanhada de um ou outro considerando. A ação ficará circunscrita a uma
aula expositiva com contornos de inovação, mas que fica bem distante de um
momento de interatividade. Não se ultrapassa o objetivo da memorização, embora
com menos tempo do que se o aluno escutasse a explicação oral, tomasse notas e
estudasse pelo manual. O professor como que fica substituído ou mecanizado pelas
novas TIC. Tal utilização de meios dificilmente melhora resultados.
Segundo Francesc
Pedró, representante da UNESCO para educação, em primeiro lugar, será
conveniente levar os professores a que se
interroguem sobre o tipo de problemas e dificuldades que enfrentam e
pensem como as tecnologias os podem ajudar a ultrapassá-los”. Daí, o professor passa de transmissor
de conhecimento a mediador – orientando os alunos com instruções, feedback,
contexto, exemplos e questões-chave no quadro de cada projeto e identificando o
dispositivo tecnológico mais adequado a cada momento (ainda que tenha eventualmente
de ser o papel, o lápis e a borracha – sobretudo quando os outros meios falharem). Não adianta, pois, usar as novas TIC
apenas por usar: se não se definirem objetivos claros e não se fizer
articulação com o currículo escolar, pouco valor se adiciona às metodologias
tradicionais.
2- Melhorar
processos, sem precisar de os mudar radicalmente. As tecnologias não têm de descaraterizar as aulas:
devem servir de auxiliares de professores e alunos para trabalho de conteúdos
mais abstratos e facilitar as aprendizagens. As novas TIC podem ajudar os alunos na visualização de gráficos
matemáticos, experimentações científicas, imagens, esquemas, fórmulas; no
tratamento de dados; no cálculo; na digitalização, duplicação e análise de textos
e documentos.
A síntese evocada revela que “um estudo com 125
estudantes das 7.ª e 8.ª séries na Colômbia concluiu que recursos tecnológicos
nesse tipo de atividade aumentou em 81% a capacidade dos estudantes em
interpretar e utilizar gráficos.
3- Os tablets ganham o espaço de laptops e desktops. O tablet tende a ganhar terreno pelo facto
de ser portátil e mais barato. O citado documento da Unesco prevê que o tablet individual seja adquirido pelos
pais ou emprestado pelos poderes públicos, como uma tendência de médio prazo na
educação.
O já citado Pedró, representante da UNESCO, afirma que
os desktops e laptops continuarão úteis para trabalhos escritos e para equipar
alunos carentes que não tenham acesso à tecnologia do tablet. E, em Portugal, os governos de Sócrates fomentaram a
distribuição gratuita dos pequenos computadores “Magalhães” a crianças dos
primeiros anos de escolaridade e a aquisição em condições bastante acessíveis
de computador portátil e Internet a
professores, alunos e formandos. Mas existe a tendência de os governos
aproveitarem mais os equipamentos móveis já possuídos pelos próprios estudantes
(smartphones e tablets) e focarem os seus investimentos em aplicativos e redes
potentes.
4- Pensar na
Internet além dos sites de buscas e das redes sociais. Os professores notam que as tarefas tradicionais são muitas
vezes resolvidas pelos alunos com buscas pouco criteriosas na Internet e pelo velho “CtrlC+CtrlV” (os
comandos de computador de copiar e colar).
O projeto GLOBE
(www.globe.gov) conecta mais de 4 mil escolas do mundo com
cientistas. Os alunos recolhem dados ambientais das suas regiões e enviam-nos a
especialistas, que ajudam na sua análise e sugerem soluções para problemas do
meio ambiente local. Plataformas como a Padlet
(http://padlet.com/features), usadas por alunos da rede pública brasileira,
ajudam estudantes e professores a construir projetos online em conjunto. Os alunos criam os seus próprios websites, que estimulam diversas
habilidades e a produção de conteúdos próprios.
Em Portugal, muitas escolas elaboram manuais de
orientação de pesquisa em Internet e
redes sociais e de elaboração e apresentação de trabalhos académicos. Eu
próprio elaborei um.
5- Estabelecer conexões com o mundo real. Se as novas TIC facilitarem a conexão da sala de aula
com o mundo exterior, terão um papel crucial no ensino. Vejam-se os exemplos:
Estudantes de anos finais do ensino fundamental, nos
EUA, criaram o seu próprio anuário escolar digital e um tour virtual dum museu local, para o mostrar aos estudantes mais
novos da mesma escola – o que resultou em maior motivação e compromisso dos
alunos com os estudos. 55 alunos equipados com computadores simularam durante
as aulas, no Equador, a abertura dum restaurante. Usaram softwares como o Excel para
controlar os gastos e plataformas para desenvolver um website do projeto, desenhar panfletos, etc. Numa escola da área rural
na Colômbia, os alunos receberam tablets
para um projeto de proteção da bacia hídrica local e análise de amostras do solo.
Com a ajuda de apps educacionais,
agarraram a oportunidade de aprender os elementos da tabela periódica.
Iniciativas destas proporcionam oportunidades para
exercitar e aplicar competências, em que os estudantes se motivam e se envolvem
muito mais no percurso das aprendizagens.
6- Estimular
a criação, cooperação e interação. Os estudantes
aprendem mais quando usam as novas TIC para criar novos conteúdos por si mesmos
em vez de serem meros recetores.
Neste âmbito há boas práticas de turmas e escolas que
criam e debatem conjuntamente bases de dados sobre determinados assuntos em
plataformas de construção coletiva como o Knowledge
Forum (www.knowledgeforum.org). No Chile, na cidade de Puente Alto, alunos do 4.º
ano do ensino fundamental participaram num projeto interdisciplinar de línguas
e artes, com o escopo de entender e valorizar os povos nativos. Realizaram
pesquisas em grupo, criaram uma história sobre um dos povos, gravaram e
editaram o seu próprio vídeo do projeto.
Os resultados indicam que a compreensão de conteúdos é
maior em ambientes dinâmicos e interativos do que se fossem usados apenas os livros
didáticos e cadernos auxiliares.
7- Pensar
em novas formas de avaliar os alunos
A produção de novos conteúdos, a utilização de novas
metodologias, o manuseamento de novos materiais, tudo isto implica nova
formulação e avaliação das aprendizagens. Não é consequente estimular os alunos
à utilização de novas TIC, com novos conteúdos e desempenhos e continuar com
uma avaliação baseada fundamentalmente em provas escritas ou até
acrescentar-lhe de modo postiço a avaliação no domínio das novas TIC, mas como
que em regime acessório e não em função do real valor acrescentado pelo uso
eficiente e eficaz dessas tecnologias.
É, pois, necessário propor tarefas que estimulem a
relação com o conteúdo e a reflexão, lançando desafios maiores aos alunos que
estão equipados com mais e melhores tecnologias. Não podem as escolas olvidar a
sua responsabilidade de desenvolver e avaliar as habilidades digitais dos
alunos. Apesar de usarem os seus apetrechos digitais o dia inteiro, os alunos
orientam-nos para as tarefas que mais lhes interessam, não necessariamente para
o seu desenvolvimento intelectual – o que leva a uma limitação das
aprendizagens.
Países como o Chile e Portugal já fazem avaliações do
grau de competência digital dos seus estudantes, mas não em total coerência com
as possibilidades que ela poderia proporcionar.
8- Usar
jogos que estimulem e facilitem as aprendizagens. Se bem usados, os videojogos podem exigir do aluno
análise de situações, concentração e conhecimentos das matérias estudadas, ao
mesmo tempo em tornam as aprendizagens mais vivenciais e divertidas. É a
relevância do aspeto lúdico da didática
Manoel Dantas, diretor-geral da Clickideia – provedora de conteúdo educacional para escolas
públicas e privadas, com sede em Campinas (SP) – afiança a importância dos
jogos no diálogo com a realidade e história locais. A empresa desenvolveu, com
alunos do Rio Grande do Norte, um jogo interativo que aborda um massacre
ocorrido na invasão holandesa no Estado, em 1645. E, no Peru, alguns alunos
participaram na construção dum jogo em 3D baseado num episódio da independência
(a rebelião de Cusco, de 1814), que foi usado como complemento de aulas e
melhorou o rendimento da turma.
Todos reconhecem a relevância, nas aprendizagens, dos
filmes, dos livros em Banda desenhada, dos postais, das canções, dos diapositivos,
dos powerpoints animados, etc. Porém,
importa advertir que a componente lúdica não pode deixar de mobilizar a componente
do incómodo e do esforço nas aprendizagens, sem o que estas se tornarão
excessivamente reduzidas.
9- A customização
e personalização geram vantagens pedagógicas. Algumas
plataformas online permitem a
personalização dos conteúdos pelas diversas regiões (por exemplo, atividades
ligadas à história e ao costume regionais e locais) e até mesmo por cada aluno,
de acordo com os seus pontos fortes e fracos. Trata-se dum ensino adaptativo,
“que desenha um perfil do aluno e identifica a forma como ele melhor aprende”,
refere Dantas, da Clickideia, já
citado.
Também o software
brasileiro Geekie constitui outra
plataforma que usa este método e, ao interagir com o estudante, percebe as suas
aptidões e dificuldades e giza-lhe um plano de estudos apropriado.
10- A chave
da eficiência e do sucesso é o planeamento. O uso das
novas TIC será mais eficaz se for não aleatório, mas planeado, com objetivos
claros.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento, em estudo
de julho passado sobre eficiência da tecnologia na educação, sugere: objetivos
de aprendizagem específicos, em áreas básicas, como matemática e idiomas, ou em
habilidades, como pensamento crítico e colaboração; coordenação de
componentes-chave: infraestrutura tecnológica, conteúdo e recursos humanos; estratégia
de avaliação e monitorização de projetos, com cumprimento de etapas e noção do
impacto que ele pretende criar; e garantia de que a iniciativa não seja
isolada, mas parte dum plano sustentável ao longo do tempo na escola ou na rede
de ensino.
***
Depois, em educação como na vida
quotidiana, importa que as novas TIC não sejam absorventes, despersonalizantes
ou ensimesmadoras dos indivíduos, cujos patrões familiares e amigos não
permitem horas, dias fins de semana de descanso nem férias tranquilas.
Enfim, pela humanização e rendibilização
das novas TIC!
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