A 7 de dezembro, 2.º domingo da
preparação litúrgica (Advento) para o Natal, fomos em visita a Matilde Luís, a
mais recente das nossas sobrinhas-netas. A neonata fizera o seu primeiro mensiversário
na véspera.
Matilde, que não fala ainda, já
balbucia, segue pelo ouvido a proveniência de sons que vêm sendo emitidos pelos
circunstantes, olha fixamente nas diversas direções e esboça o ledo sorriso,
com o mesmo à vontade com que surge em choro motivado pela necessidade
momentânea e/ou pelo desconforto. A menina é, em todo o caso, o cuidado
ternurento dos progenitores, o enlevo dos avós e o encanto de quem dela se aproxima.
Nota-se que percebe as manifestações de carinho de quem lho ofereça e parece retribuir,
na sua singela maneira, a correspondência encantadora a quem lhe faz um mínimo
de bem.
A visita a Matilde, no Mindelo, em ambiente de
prendas natalícias e no contexto de empático acolhimento da parte da mãe Gisela
e do pai Luís, faz lembrar o Natal daquele que se fez menino para que os homens
e mulheres crescessem em dignidade, ganhassem em liberdade, obtivessem a
felicidade a que têm direito e com a qual estão comprometidos em dever
solidário e fraterno. E leva a pensar neste mundo de opostos em que, a par das
crianças que sentem o carinho da família, a abundância material e/ou cultural e
um rumo de futuro, existe o grande número de meninos e meninas que são jogados
à sua sorte, sem ambiente humano e sem futuro à vista – ultrajados pelo mundo
do consumismo e do descarte. Por isso, saudamos as iniciativas de solidariedade
social, sobretudo aquelas que se direcionam às crianças que sofrem penúria, a
fome, a pobreza e a exclusão.
Por outro lado, a visita à menina
fez-me pensar sobre a origem do nome “Matilde” ou aquele que traduz a sua
versão popular, “Mafalda”.
***
Matilde é nome português que provém,
pelo latino Mathilda, do germânico Machthildis, termo composto de macth ou maths (força) e hild
ou hald (combate). Assim, Matilde será “aquela
que é forte no combate” ou “a guerreira forte”.
Assim, Ana Belo, no seu Mil e tal nomes próprios (1997:
Arte Plural, edições),
ensina que Mafalda, embora empreste relevância ao casal e à relação conjugal
partilhada e estável, é muito decidida, autónoma e enérgica. Embora corra o
risco de desfazer rapidamente aquilo que construiu na paciência e persistência,
devido ao seu espírito dominador e sem debilidades, todavia, a sua imaginação fértil
constitui uma forte mais-valia na vida social e profissional. (pg
162).
Já Matilde, a forma mais nobre do
nome, é, para a mencionada autora, a “mulher obstinada e organizada”, mas “a quem
não falta delicadeza e diplomacia”. Defensora e seguidora de “uma certa rigidez
de princípios”, mostra “uma faceta pragmática”, que “luta arduamente pelos seus
objetivos”. Todavia, as normas de vida impedem-na de cair na desonestidade ou
na intolerância. “Confia especialmente em quem ama, sendo uma companheira
dedicada”. (pg 179).
Ana Belo, para justificar o nome de
Mafalda, refere que Dom Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, casara
com a filha de Amadeu II, de Saboia, à qual chamavam Mahald. Sendo nome difícil de pronunciar por causa da aspiração do h, em pouco tempo passou a ser verbalizado
por “Mafalda”, à boa maneira galaico-portuguesa.
Também se chamou Mafalda uma
filha de Dom Sancho I, que veio a ser dada em casamento ao rei Enrique I de
Castela.
Por seu turno, Orlando Neves, no
seu Dicionário de nomes próprios (2002:
Editorial Notícias),
também apresenta, mas com mais dados, Santa Mafalda, infanta de Portugal e
rainha consorte de Castela, referida por Ana Belo. Nascida em 1202, Dom Sancho
deu-a por esposa a Henrique I de Castela, contra a vontade da infanta –
casamento que não chegou a ser consumado, pelo que foi anulado pelo Papa
Inocêncio III. Regressada a Portugal, reforma o Mosteiro de Arouca e dirige as
monjas cistercienses. Morre em 1252 em odor de santidade, tendo Pio VI aprovado
o seu culto. (pg 177).
Quanto a Matilde, Ana Belo (op
cit, pg 179) evoca
várias rainhas e imperatrizes, em que se destaca Mathilde de Flandres, a Rainha
Matilde, esposa de Guilherme, o conquistador. E Orlando Neves (op
cit, 187) apresenta Santa
Matilde, rainha da Alemanha em 919, casada com o imperador Henrique I, o
Passarinheiro. Foi mãe de Otão, o Grande, imperador da Alemanha, e de Bruno,
arcebispo de Colónia. Neves faz ainda referência a Matilde Serao, escritora
italiana, e Matilde Rosa Araújo, escritora portuguesa.
***
Porém, é de recordar que a menina
que visitámos tem um outro nome próprio Luís
e não um apelido. Também este nome vem do germânico chlodowig, depois Ludwig,
derivado de hlod (glória) e wig (combatente), que originou o italiano Ludovico (ex: Ludovico Sforza, o Mouro, e Ludovico
Ariosto, poeta italiano).
Há ainda quem encontre a origem de Luís
em all + wisa, a significar “sábio eminente”, que estaria na origem de Clóvis, Clodoveu, Ludovico, Aloísio, Eloísa e Alvisa. Sendo assim,
Luís será o combatente glorioso (que atinge a glória) ou o sábio eminente (que
exercita a sabedoria, a cultiva e a manifesta).
Segundo Ana Belo (op
cit: pg 159), o
pessimista Luís, procura sublimar a realidade que o desencanta. Mas, por vezes,
fecha-se em si mesmo e culpabiliza-se por ser diferente dos outros e demasiado
exigente. Embora falador e um tanto megalómano, manifesta-se calmo, paciente e
sincero, receia expor-se e procura trabalhar sozinho. Necessita de amor, sofrendo
com a rutura, com o abandono e com uma decisão difícil.
Destacam-se nomes como: Luís II,
da Baviera; Luís IX, santo, e Luís XIV, o rei Sol, ambos de França; Luís I, de Portugal,
que aboliu a escravatura; Luís Lumière, pai do cinema, Luís Buñuel e Luis Male,
também no cinema; Ludwig Van Beethoven e Luís Amstrong, na música; Luís Aragón
e Luís Pirandelo, escritores; Louis Pasteur, na esterilização e nas vacinas; Luís
Gay-Lussac, na Física; Louis Braille, na escrita para invisuais; e Luís de Camões,
na epopeia.
E Orlando Neves (op
cit: pgs 174 e 175)
destaca ainda, além de outros: São Luís Gonzaga, o sonhador com as Missões, que
morreu jovem; são Luís de Monforte e São Luís de Córdova. Refere também o realizador
cinematográfico italiano Luchino Visconti e o filósofo francês Louis Althusser.
Além de abordar os nomes portugueses de Luís
e Luísa, no feminino, aponta os
mesmos nomes de Luís e Luísa, em espanhol; Lewis e Louise, em
inglês; Louis e Louise, em francês; Luigi
e Luchino, em italiano; e Ludwig e Luisa, em alemão.
Também o nome Luís se usa em ligação com outros, como
em Luís Filipe, Luís Maria ou Luís Miguel.
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