De acordo com o artigo 130.º da Constituição, Karol Nawrocki jurou: “Ao assumir, pela vontade da Nação, o cargo de Presidente da República da Polónia, juro solenemente que irei permanecer fiel às disposições da Constituição, salvaguardar firmemente a dignidade da Nação, a independência e a segurança do Estado, e que o bem da Pátria e a prosperidade dos seus cidadãos serão sempre o meu imperativo supremo.”
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Na ótica da politóloga, a atual presidência será marcada pela intensidade das iniciativas legislativas. O presidente anuncia que tem muitos projetos de lei prontos, que encaminhará para a maioria parlamentar. “A questão é se esses projetos de lei são viáveis, dadas as circunstâncias económicas e financeiras em que se encontra a Polónia. Não sabemos, mas parece que teremos uma presidência ativa em termos legislativos”, diz Ewa Marciniak.
De acordo com a politóloga, Karol Nawrocki difere do antecessor, que deixa o Palácio Presidencial, após 10 anos, em termos de personalidade: “Enquanto se pode dizer que o presidente Duda tem uma personalidade psicologicamente suave, já o presidente Nawrocki é visto pela sociedade como tendo uma personalidade forte, um homem que persegue os seus objetivos com determinação, tentando alcançá-los com o apoio adequado dos políticos que compõem a sua base administrativa”, explicitou a entrevistada, vincando que “as primeiras leis, a primeira visita” tornar-se-ão “a base da imagem pública de Karol Nawrocki”.
Segundo a especialista, há, na Polónia, uma situação de coabitação, ou seja, os governantes vêm de um meio diferente e o presidente, vindo de outro meio, faz parte do poder executivo. E ela refere que alguns dos colegas cientistas entendem que não será coabitação, mas “uma luta permanente pela vantagem, [isto é,] quem vai encurralar quem, quem vai ganhar alguma batalha, em termos de imagem e política”. Porém, na perspetiva da especialista, não se trata de “os políticos entrarem nesse confronto político, porque continuamos a ser nós os sujeitos da política”, pois, “como sociedade, ou perdemos ou ganhamos com isso”.
De acordo com a última sondagem da United Surveys para a Wirtualna Polska, a maioria dos Polacos pensa que “o presidente Karol Nawrocki não vai construir uma cooperação harmoniosa com o governo de Donald Tusk”, sendo o risco de conflito entre o chefe de Estado e o Conselho de Ministros percebido por 62,1% dos inquiridos e apenas 21,4% acreditando num futuro acordo.
A politóloga diz-se “preocupada com
as suas cores nacionais”, não sabendo “até que ponto permitirão uma boa relação
entre o interesse nacional da Polónia e o interesse da Polónia como membro da
União Europeia [UE] e como membro da comunidade mundial”. Por isso, na sua
opinião, “esta será uma grande tarefa”, cuja verificação se fará,
através da atitude em relação à Ucrânia e à continuação da assistência da
Polónia à Ucrânia, na luta contra a Federação Russa”.
Na primeira volta das eleições
presidenciais, Slawomir Mentzen, da Confederação, um dos partidos mais à
direita, obteve 14,81% dos votos. E, não tendo passado à segunda volta, “apelou
a Karol Nawrocki e a Rafal Trzaskowski, que se defrontaram na segunda
volta, para assinarem um documento que tinha preparado”.
A “Declaração de Toruń” visava
mostrar quem Slawomir Mentzen apoiaria e para quem transferiria os seus
eleitores. Continha exigências importantes para os apoiantes. Por
exemplo, Nawrocki garantiu que “não assinaria uma lei que aumentasse os impostos
ou contribuições existentes e não ratificaria quaisquer tratados da UE que
enfraquecessem a Polónia”. E, no dizer de Ewa Maricniak, Karol Nawrocki “assinou,
sem hesitar, esses pontos”, dizendo “que os cumpriria e que satisfaria
esses critérios”, o que o colocaria, em grande medida no ambiente ideológico da
Confederação, e não do Lei e Justiça [PiS].
Ewa Marciniak considera que Andrzej
Duda não criou um ambiente político, tendo, agora, o presidente o
ensejo de o criar. Contudo, adverte que “a energia das eleições,
a energia da campanha eleitoral é uma energia completamente diferente daquela
com que um candidato anterior e, hoje, já como pessoa que exerce o cargo de
presidente, tem de funcionar”.
Prevê a especialista que haja “a possibilidade de algum tipo de união da direita”, sobretudo, em clima “antiTusk”, pois, de acordo com as primeiras palavras do presidente, “essa é uma das regras fundamentais ou uma das narrativas e ações fundamentais: ser contra a coligação governante”.
Por outro lado, a politóloga salienta “a falta de experiência política de Nawrocki”. Com efeito, até agora, ele foi presidente do Instituto da Memória Nacional (IPN) e foi diretor do Museu da Segunda Guerra Mundial, atividades administrativas, mas não políticas”, embora “embelezadas com cores políticas”, vinca Ewa Marciniak.
Como não é conhecido na arena internacional, nem mesmo na UE, “terá de reconstruir a sua posição e a situação inicial em que se encontra”; e “os rótulos que lhe foram atribuídos, durante a campanha eleitoral, sugerem que não será uma tarefa fácil, porque, afinal, os presidentes dos países são pessoas já experientes”. Tais rótulos têm a ver com a sua vida privada, nomeadamente, “a situação pouco clara” no atinente à aquisição de uma habitação” e “as lutas desportivas”, lutas que, por mais que alguns líderes da direita mostrem que são algo normal, não são normais”. Serão estas questões que mais marcarão a sua pessoa, a longo prazo, segundo a especialista.
A diretora do CBOS, pensando que a primeira visita do presidente ao estrangeiro será ao Vaticano ou aos Estados Unidos da América (EUA), lembra que, durante a campanha presidencial, foi recebido, na Casa Branca pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e apoiado pelo candidato presidencial de extrema-direita, George Simion.
Ewa Marciniak frisando que, até ao momento, Karol Nawrocki é o líder, em termos de capital de confiança, em muitas sondagens, sustenta que “isto é um fenómeno único, porque se trata de um crédito muito grande”, mas “as pessoas ainda não sabem bem como será”. Na verdade, “este crédito [de confiança] mostra, realmente, que parte dos polacos encara esta presidência com alguma esperança”, mas outra parte (35 a 36%), “encara Karol Nawrocki com desconfiança”, pelo que “ele terá de gerir a confiança e a desconfiança”.
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A eleição de Nawrocki ocorreu depois de meses de crescentes tensões culturais e políticas sob a administração liberal do primeiro-ministro, Donald Tusk, no poder, desde dezembro de 2023, e sinaliza uma potencial recalibração do poder e uma disputa renovada sobre a identidade política, moral e espiritual da Polónia.
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Concorreu com uma plataforma que enfatiza os valores católicos e o conservadorismo cultural e político, prometendo manter laços estreitos entre o governo e a Igreja, afirmando a fé como “um pilar fundamental da cultura nacional”. Na campanha, ganhou manchetes, ao destruir, publicamente, um exemplar do livro Género Queer: Memórias, sinalizando a oposição firme a políticas sociais progressistas. Prometeu vetar qualquer legislação que liberalize aborto na Polónia ou introduza uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, citando a doutrina da Igreja sobre ética sexual e a necessidade de proteger as estruturas familiares tradicionais.
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Com
o novo presidente, ganhará o cristianismo mais expressão ou consolidar-se-á a
extrema-direita? Desconfio de políticos que enchem a boca com a doutrina da
Igreja. Invocam-na para os seus intentos, mas, quando lhes convém, metem-na na gaveta.
Veja-se: há tanto democrata-cristão (com este rótulo ou não) a bradar pela
defesa da vida humana, mas a defender o aborto, a eutanásia, a pena de morte, a
prisão perpétua, a guerra, o massacre, a discriminação, a exploração laboral,
etc.
2025.08.08 – Louro de Carvalho
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