segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Gratidão da Igreja de Moçambique a Leão XIV pelo seu apelo à paz

 
“Exprimo a minha proximidade à população de Cabo Delgado, em Moçambique, vítima de uma situação de insegurança e de violência que continua a causar mortes e a provocar deslocados. Ao apelar para que estes nossos irmãos e irmãs não sejam esquecidos, convido-vos a rezar por eles e manifesto a esperança de que os esforços dos responsáveis do país consigam restabelecer a segurança e a paz naquele território”, disse o Papa Leão, depois da recitação mariana e cristológica do Angelus, a 24 de agosto, com a multidão reunida na Praça de São Pedro.
Esta eloquente referência papal induziu o bispo eleito de Quelimane e secretário da Conferência Episcopal Moçambicana, Dom Osório Citora Afonso, a expressar a alegria de toda a nação pelas palavras de proximidade do Santo Padre Leão XIV. E Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, bispo da diocese de Pemba, considerou: “O Pontífice fez compreender ao Mundo que não existem guerras dignas de serem esquecidas, porque todo o conflito fere a vida e ofende a dignidade da pessoa humana.”
O apelo pela paz em Cabo Delgado, proferido por Leão XIV, foi como um bálsamo refrescante espalhado sobre as feridas ainda abertas de um povo que, há quase dez anos, tem de lidar com episódios de violência cada vez mais cruéis e frequentes. “Convido-vos [a todos] – instou o Santo Padre, dirigindo-se ao Mundo inteiro – a rezardes por eles e expresso a esperança de que os esforços dos responsáveis do país consigam restabelecer a segurança e a paz naquele território”.
“As palavras do Papa fizeram-nos sentir amados por toda a Igreja universal. Saber que, no seu coração, está a nossa dramática situação encheu de alegria toda a nação”. 
Quando Dom Osório Citora Afonso respondeu, por telefone, às perguntas dos media do Vaticano, estava prestes a partir para a sua nova diocese, da qual tomará posse no próximo dia 31 de agosto.
Da voz do novo pastor da segunda província mais populosa daquele país da África Oriental, percebe-se toda a tensão, o medo e o desânimo pelos recentes ataques de bandos armados que devastaram não só Cabo Delgado, mas também outros numerosos distritos: “Por exemplo, foram atingidos os de Macomia, Chiúre e Muidumbe. Os resultados são sempre os mesmos: mortos e feridos. Mas também muitos deslocados: após os últimos episódios de violência, estima-se que, pelo menos, oito mil pessoas se tenham deslocado”, apontou o bispo.
São números que se somam aos já gigantescos divulgados, há poucos dias, pela Médicos Sem Fronteiras (MSF): somente entre 20 de julho e 3 de agosto, na região de Cabo Delgado, foram 57 mil os deslocados. E o fluxo parece aumentar cada dia mais.
Dom Osório Citora revela que este imenso rio de pessoas que tentam salvar-se de tiroteios, de atentados e de sequestros está a deslocar-se, lentamente, para algumas áreas mais tranquilas do Norte e do Sul. E acrescenta: “Estas pessoas precisam, realmente, de tudo. Depois de abandonarem as suas casas e as suas terras, não têm mais nada. Caminharam a pé, durante dias, e dias e agora estão exaustas.”
Não faltam esforços, por parte do governo, para as ajudar. E a Igreja local também está na linha de frente: em Cabo Delgado, por exemplo, os jesuítas tomaram uma decisão radical, enviando uma equipa de missionários com a missão de apoiá-los, tanto material quanto psicologicamente. Uma ação de proximidade que, explica o bispo eleito de Quelimane, “se concretizou também com uma missão entre os deslocados que a nossa Conferência Episcopal realizou, há pouco tempo. Quatro bispos, em representação de todas as províncias eclesiásticas, foram ouvir e assumir as suas dores e sofrimentos. Partilharam com os sacerdotes que estão lá todas as preocupações e todos os anseios de esperança. Mas também pusemos em prática ações de solidariedade concreta, como a coleta, todos os domingos, de bens de primeira necessidade para distribuir a quem realmente passa fome e sede.”
Há uma vizinhança verdadeira. Na província de Nampula, a mais de 700 quilómetros ao Sul de Cabo Delgado, Dom Osório Citora viu, com os próprios olhos, famílias pobres acolherem outras famílias pobres que deixaram para trás tudo o que possuíam para salvar a vida: “Este é o sinal do amor verdadeiro, da verdadeira proximidade”, disse.
Em entrevista aos media do Vaticano, Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, bispo da diocese de Pemba, que também abrange toda a província de Cabo Delgado, reiterou que essas violências insensatas “continuam a causar a destruição de vidas humanas, de numerosas infraestruturas e estão a gerar uma insegurança generalizada”.  Por isso, também ele agradeceu, do fundo do coração, a Leão XIV: “O Papa, com o seu apelo, fez compreender ao Mundo que não existem guerras dignas de serem esquecidas, porque todo o conflito fere a vida e ofende a dignidade da pessoa humana”.
Recentemente, uma delegação da Conferência Episcopal foi recebida pelo Presidente da República, Daniel Chapo, que quis conhecer as reivindicações e propostas da Igreja local: “Eu também fazia parte dessa delegação”, lembra Dom Orósio Citora e prossegue: “Com o presidente, falamos da urgência de pôr fim à violenta insurreição que ensanguenta o país. Quais são as saídas? Em primeiro lugar, o diálogo sincero com aqueles que estão a levar por diante a guerra e, depois, o diálogo também na sociedade civil, necessário para isolar os grupos criminosos. Mas não só isso. É preciso também criar condições de vida dignas para os jovens, porque são eles que estão a ser usados por aqueles que querem matar, para se apoderarem dos recursos económicos do subsolo, como os ricos depósitos de gás”.
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Em reação ao apelo do Papa Leão XIV por Cabo Delgado, Moçambique, durante o Angelus do domingo, 24 de agosto, o Bispo de Pemba, D. António Juliasse Ferreira Sandramo, reafirmou que a mensagem do Santo Padre é um ato da sua maior proximidade para com o nosso povo que sofre, horrivelmente, de uma guerra que não deve cair no esquecimento”.
Em declarações à Rádio Vaticano – Vatican News, Dom António Juliasse reagiu, assim, às palavras do Papa Leão que, no dia 24, depois do Angelus, pediu aos fiéis que não se esqueçam dos irmãos e das irmãs de Cabo Delgado, vítimas de uma situação de insegurança e de violência que continua a provocar mortes e deslocados.
O prelado reitera que, de facto, a guerra nesta província do Norte de Moçambique, que se iniciou em 2017, continua a provocar destruições de vidas, de infraestruturas, de bens diversos, e limita a possibilidade de qualquer desenvolvimento.
O Bispo de Pemba sublinhou, em seguida, ser necessário que o convite do Santo Padre para que a guerra em Cabo Delgado não caia no esquecimento é um “grande incentivo para que os esforços pela paz sejam revigorados” e para que “o povo vítima da guerra, particularmente, os deslocados internos e tantos outros que portam traumas, encontrem alguma ajuda, a partir da solidariedade do Mundo inteiro”.
Toda a guerra ultraja a dignidade da pessoa humana. Para Dom António Juliasse, o Sumo Pontífice está a dizer de forma muito simples que “não existem guerras dignas do esquecimento, porque toda a guerra fere a vida e ultraja a dignidade da pessoa humana”. E conclui reafirmando que Cabo Delgado continua a viver ataques vigorosos, mortes, destruições e que a insegurança é generalizada.
É urgente restaurar a segurança e a paz no país. A este respeito, não será excessivo reescrever e reler que o Papa Leão XIV, após a oração do Angelus, a 24 de agosto, expressou a sua proximidade ao povo de Cabo Delgado, vítima de uma situação de insegurança e de violência que continua a provocar mortes e deslocados. “Ao mesmo tempo que apelo para que não se esqueçam destes nossos irmãos e irmãs, convido-vos a rezar por eles e expresso a minha esperança de que os esforços dos líderes do país consigam restaurar a segurança e a paz naquele território”, clamou o Santo Padre.
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Diferentemente de Cabo Delgado, da Ucrânia ou da Faixa de Gaza, onde a guerra deixa um rasto largo e intenso de destruição de vidas humanas, da integridade da vida física e psíquica, de culturas, de património edificado e de património natural, o Borgo Laudato si’, de Castel Gandolfo, na Itália, vai ser inaugurado, a 5 de setembro, por Leão XIV.
Trata-se de uma ampla catedral natural e ecológica, um espaço dedicado ao cuidado da criação que estará aberto ao público. O local é inspirado na encíclica Laudato si’, publicada, em 2015, pelo Papa Francisco.
O local, que tem sido refúgio de verão para papas há séculos, acolhe, desde 2023, a iniciativa de Francisco para mostrar “como o cuidado pela criação e o respeito pela dignidade humana podem ser concretizados e harmoniosos, conforme os princípios da fé, por meio da formação, do trabalho e da colaboração”, segundo um comunicado divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O espaço será inaugurado no ano que marca a primeira década da publicação da encíclica, numa cerimónia simples composta pela Liturgia da Palavra e pelo rito de bênção. 
Segundo a Santa Sé, estarão presentes representantes da Cúria Romana e de instituições que colaboraram no lançamento do projeto.
O cantor Andrea Bocelli e o seu filho Matteo unir-se-ão à oração, com o seu talento artístico.
Antes, Leão XIV visitará o local, “percorrendo os seus principais espaços e encontrando-se com funcionários, colaboradores, suas famílias e todas as pessoas que, de diferentes maneiras, animam a vida do Borgo Laudato si’: religiosos, formadores, estudantes, comunidades locais, parceiros e benfeitores”.
A Santa Sé apresenta o evento como “o fruto de uma jornada que entrelaça espiritualidade, educação e sustentabilidade, com o objetivo de oferecer um espaço aberto, acessível e inclusivo para a formação, a reflexão e a experiência de uma relação mais consciente e respeitosa com a criação”. Em maio, poucos dias depois do décimo aniversário da publicação da encíclica Laudato si’, Leão XIV fez a sua primeira visita ao local. Desde então, o Papa passou boa parte das suas férias de verão em Castel Gandolfo, retomando a tradição interrompida por Francisco.

2025.08.25 – Louro de Carvalho


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