domingo, 17 de agosto de 2025

Contemplar Nossa Senhora para recuperar a esperança em tempos difíceis

 
Leão XIV conduziu a oração mariana e cristológica do Angelus na solenidade da Assunção de Nossa Senhora, a 15 de agosto, na emblemática Praça da Liberdade, em Castel Gandolfo, onde cerca de 2,5 mil pessoas o receberam com gritos de “Viva o papa!”
O Pontífice citou o texto referente a Nossa Senhora, do Capítulo VIII da Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II, segundo o qual “a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na Terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o povo de Deus ainda peregrino, até que venha o dia do Senhor (cf 2Pe 3,10)”.
Leão XIV salientou que “Maria, que Cristo ressuscitado levou consigo, em corpo e alma, para a glória, brilha como ícone de esperança para os seus filhos peregrinos na História”. E sustentou que “essa verdade da nossa fé está em perfeita sintonia com o tema do jubileu que estamos a viver: Peregrinos de esperança”.
Para o Santo Padre, o peregrino precisa de “uma meta que oriente a sua viagem”, que seja “bonita, atraente, que guie os seus passos e que o revigore, quando está cansado, que reavive sempre no seu coração o desejo e a esperança”. Por isso, enfatizou que, no caminho da existência, “essa meta é Deus, amor infinito e eterno, plenitude de vida, de paz, de alegria e de todo o bem”.
“O coração humano sente-se atraído por tal beleza e, enquanto não a encontra, não é feliz e, efetivamente, corre o risco de não a encontrar, se se perder no meio da floresta escura do mal e do pecado”, disse o Papa, assegurando que “é aí que está a graça”, pois “Deus veio ao nosso encontro, assumiu a nossa carne, feita de terra e, simbolicamente, digamos que a levou consigo para o Céu, isto é, para Deus”.
“É o mistério de Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado pela nossa salvação; e inseparável d’Ele está também o mistério de Maria, a mulher de quem o Filho de Deus recebeu a carne, e o mistério da Igreja, corpo místico de Cristo”, desenvolveu o Santo Padre.
Disse o bispo de Roma que este é “um único mistério de amor e, portanto, de liberdade” e explicou: “Assim como Jesus disse sim, Maria também disse sim, acreditou na palavra do Senhor. E toda a sua vida foi uma peregrinação de esperança com o Filho de Deus e seu, uma peregrinação que, através da Cruz e da Ressurreição, A conduziu à pátria, ao abraço de Deus. […] Por isso, enquanto estivermos a caminho, como indivíduos, como família, em comunidade, especialmente, quando as nuvens chegarem e o caminho se tornar incerto e difícil, levantemos o olhar, olhemos para ela, nossa Mãe, e reencontraremos a esperança que não engana”, encorajou o Pontífice.
Depois do Angelus, o Papa rogou a intercessão de Nossa Senhora pela paz. “Ela, como Mãe, sofre pelos males que afligem os seus filhos, especialmente, os pequenos e os frágeis”, disse, vincando que Nossa Senhora confirmou isso, com muitas mensagens e aparições, ao longo da História e que a proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora ao céu ocorreu, enquanto o Mundo ainda vivia as consequências da Segunda Guerra Mundial. “No entanto, não devemos desistir de ter esperança: Deus é maior do que o pecado dos homens. Não devemos resignar-nos à prevalência da lógica do conflito e das armas. Com Maria, acreditamos que o Senhor continua a socorrer os seus filhos, lembrando-Se da sua misericórdia. Só nela é possível reencontrar o caminho da paz”, garantiu Leão XIV.
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Obviamente, a intervenção papal antes do Angelus no dia da Assunção de Maria está em linha com o discurso homilético da missa da solenidade, cujo tema pode ser enunciado deste modo: “Maria chama-nos à vida e mostra que todos podemos vencer a morte com Cristo.”
Leão XIV celebrou, na solenidade da Assunção de Nossa Senhora, missa na paróquia de São Tomás de Villanova, em Castel Gandolfo.
Ao deixar a residência papal, uma grande multidão de fiéis aguardava-o para o saudar com aplausos. A missa foi concelebrada por cerca de vinte sacerdotes, entre eles o bispo de Albano, Dom Vincenzo Viva. E teve a participação de fiéis da cidade de Castel Gandolfo e do coral que foi composto por cantores de vários corais romanos, tanto da Santa Sé quanto da diocese de Albano.
Na homilia, proferida em italiano, o Papa disse que os fiéis celebraram, de forma diferente, naquele dia, a Páscoa de Jesus, o que muda a História: “Em Maria de Nazaré está a nossa história, está a História da Igreja imersa na Humanidade comum”, disse, acentuando: “Tendo encarnado nela, o Deus da vida, o Deus da liberdade venceu a morte. Sim, hoje contemplamos como Deus vence a morte, sem nunca prescindir de nós.”
Leão XIV lamentou que a morte, que Jesus esvaziou de poder com o seu sim, ainda se espalhe “quando as nossas mãos crucificam e os nossos corações estão prisioneiros do medo e da desconfiança”.
Depois de dizer que a confiança, o amor e o perdão prevaleceram na cruz, frisou que “Maria somos nós quando, não fugimos, somos nós quando respondemos com o nosso sim ao seu sim”.
Elogiou o exemplo dos mártires do nosso tempo, cujo sim continua vivo e “ainda contraria a morte”. E disse que este é um dia de alegria e instou os fiéis a “escolher como e para quem viver".
No dizer do Papa Leão, na Terra, todas as histórias, mesmo a da Mãe de Deus, são breves e têm um fim. Porém, nada se perde. Assim, quando uma vida se encerra, a sua unicidade brilha com mais clareza.
Sobre o Evangelho do dia, em que Lucas narra a visita de Nossa Senhora a Isabel, o Papa referiu que “a surpreendente fecundidade da estéril Isabel confirmou Maria na sua confiança: antecipou a fecundidade do seu sim, que se prolonga na fecundidade da Igreja e de toda a Humanidade, quando a Palavra renovadora de Deus é acolhida”.
“Assim”, disse Leão XIV, “a Ressurreição entra também hoje no nosso mundo”. “As palavras e as escolhas de morte parecem prevalecer, mas a vida de Deus interrompe o desespero através de experiências concretas de fraternidade e de novos gestos de solidariedade”.
Todavia, “o cântico de Maria, o Magnificat, fortalece na esperança os humildes, os famintos, os dedicados servos de Deus”, afirmou o Papa, considerando que quando nascem os vínculos através dos quais “opomos o bem ao mal” e a morte à vida, “vemos que com Deus nada é impossível”.
“Às vezes, infelizmente, onde prevalecem as seguranças humanas, com um certo bem-estar material e a acomodação que adormece as consciências, a fé pode envelhecer. É então que surge a morte, sob a forma de resignação e lamentação, nostalgia e insegurança”, disse o Papa, lamentando que as pessoas continuem a buscar amparo nos assuntos do mundo: “o amparo dos ricos e dos poderosos, que geralmente acompanha o desprezo pelos pobres e humildes”.
Porém, na ótica do Sumo Pontífice, a Igreja “vive nos seus membros frágeis e rejuvenesce, graças ao Magnificat deles”. Assim, também hoje “as comunidades cristãs pobres e perseguidas, os testemunhos de ternura e perdão nos locais de conflito, os construtores da paz e os edificadores de pontes num Mundo despedaçado são a alegria da Igreja, a sua fecundidade permanente, os primeiros frutos do Reino que vem”; e muitas dessas pessoas são mulheres e Igreja exortou-as a deixarem-se converter por seus testemunhos e a “escolher a vida”, pois, ao longo da existência, “temos motivos para ver, em Maria, assunta ao Céu, o nosso destino”.
Maria “é-nos dada como sinal de que a Ressurreição de Jesus não foi um evento isolado, uma exceção. Todos nós, em Cristo, podemos tragar a morte”, enfatizou Leão XIV, deixando claro que Nossa Senhora é o “entrelaçamento de graça e liberdade que impele cada um de nós à confiança, à coragem, ao envolvimento na vida de um povo”.
“Não tenhamos medo de escolher a vida! Pode parecer perigoso, imprudente”, mas “somos discípulos de Cristo”, garantiu aos fiéis o Santo Padre concluindo: “É o seu amor que nos impele, corpo e alma, no nosso tempo. Como indivíduos e como Igreja, já não vivemos para nós mesmos. É precisamente isso – e só isso – que difunde a vida e a faz prevalecer. A nossa vitória sobre a morte começa precisamente agora.”
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Na linha da nossa ligação filiar a Maria, cuja história pode ser a nossa e cujo destino deve ser o nosso, é de recordar que, no dia 14 de agosto, um manto de Nossa Senhora de Guadalupe, vindo do México, foi benzido e enviado em missão na arquidiocese de São Paulo (SP). A missa de envio foi celebrada pelo arcebispo São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, na paróquia Imaculada Conceição, no bairro do Ipiranga.
O manto, que significa acolhimento e proteção, faz parte do Apostolado do Rosário e do Manto da Santíssima Virgem de Guadalupe, criado, em 2010, na cidade mexicana de Guadalajara, por Naty de Anda, com o propósito de promover a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, através da oração comunitária do terço. A iniciativa foi autorizada pelo então arcebispo de Guadalajara, cardeal Juan Sandoval Iñiguez, em 23 de maio de 2011.
“O apostolado nasceu a pedido da Santíssima Virgem de Guadalupe, com a intenção de cobrir os fiéis sob seu manto e de lhes oferecer a sua amorosa proteção maternal, para que a sua fé cresça como um grão de mostarda”, de acordo com o site do Manto de Guadalupe. Maria pede que nos deixemos levar pela sua mão, para que Ela nos leve para os braços do seu filho amado Jesus Cristo nosso Senhor.
O manto 838, destinado à cidade de São Paulo, depois de benzido, foi recebido pela equipa de custódios numa missão no México, no dia 12 de março deste ano, e chegou à capital paulista no dia 14 do mesmo mês. O seu custódio é Jorge Makoto Shintani.
Em São Paulo, a equipa responsável pelo manto tem a missão de o levar a locais que precisam de assistência espiritual, como hospitais, paróquias, grupos de oração, famílias e pessoas enfermas.
O manto é um sacramental. Segundo o número 1667 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), os sacramentais são “sinais sagrados por meio dos quais, imitando, de algum modo, os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos, principalmente, de ordem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a receção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida”.
O uso do manto é um signo visível mostrando o desejo de pedir à Santa Maria de Guadalupe a graça especial de proteção e de amparo.
O primeiro manto chegou ao Brasil, em 2016, para uma equipa de custódios no Rio de Janeiro (RJ). A partir desse trabalho, outras equipas se formaram e passaram a custodiar novos mantos. Atualmente, há 23 mantos em 12 Estados do país.
As equipas são formadas por leigos e/ou religiosos dispostos a levar o manto aonde forem chamados. Todo o grupo tem um padre como diretor espiritual. Os custódios são os responsáveis pelo manto e pela missão do Apostolado do Rosário e do Manto da Santíssima Virgem de Guadalupe, na sua cidade.
O manto de Guadalupe exibe, de um lado, as estrelas como aparecem no Ayate de são Juan Diego e, do outro, um mapa-múndi bordado destacando o estado de Jalisco, onde o apostolado começou; a Cidade do México, com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, indicando o local de sua aparição; o Vaticano, com as chaves que representam o papa como guia espiritual; Belém, com as letras “JHS”, símbolo do Pão da Vida; e, por fim, o lugar para onde o manto está a ser enviado: um continente, um país ou uma cidade.
Que a proteção de Maria foi invocada desde os alvores do cristianismo está patente na que é tida como a mais antiga oração mariana formulada em contexto eclesial:
“Sub tuum praesidium confugimos, sancta Dei Genitrix, nostras deprecationes ne despicias in necessitates; sed a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta.”
“À tua proteção nos acolhemos, santa Mãe de Deus, não desprezes as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livra-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.”

2025.08.16 – Louro de Carvalho


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