sábado, 21 de outubro de 2023

Dados relevantes do perfil do Papa São João Paulo II

 

Apelidado de papa peregrino, São João Paulo II, o magno (o seu nome era Karol Józef Wojtyła), nasceu a 18 de maio de 1920, em Wadowice, pequena cidade a 50 quilómetros de Cracóvia. Era o mais novo dos três filhos de Karol Wojtyla e de Emília Kaczorowska. A irmã Olga faleceu antes de ele nascer; a mãe, em 1929, o irmão mais velho, Edmundo, que era médico, em 1932; e o pai, suboficial do exército, em 1941. Ficou, pois, muito cedo, sem familiares diretos.
O seu santo onomástico era são Carlos Borromeu. Embora tenham vivido em épocas diferentes, estão unidos por histórias parecidas que São João Paulo II evocou na audiência de 4 de novembro de 1981. Karol é o equivalente polaco a Carlos. Ambos sofreram tentativas de assassinato, participaram em concílios e compartilharam o amor pelos pobres e doentes.
Em 1948, obteve o doutoramento em Teologia pela Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, com uma tese sobre o tema da fé nas obras de são João da Cruz; e, em 1953, obteve o doutoramento em Filosofia pela Universidade Católica de Lublin, com a tese “Avaliação da possibilidade de fundar uma ética católica sobre a base do sistema ético de Max Scheler”.
A 14 de outubro, 10 dias após o funeral do Papa João Paulo I, teve início conclave que elegeu o cardeal Wojtyła no segundo dia, tendo assumido o nome pastoral de João Paulo II.
São João Paulo II foi o primeiro papa não italiano desde Adriano VI (1522-1523). Foi o papa que fez mais viagens, somando 129 países, e quem mais fez beatificações e canonizações – 1.340 beatos e 483 santos. Também foi o primeiro a visitar uma sinagoga, a Casa Branca (EUA) e Cuba.
Foi um grande diplomata. Durante o seu pontificado, aumentou o número de nações que contam com relações diplomáticas com a Santa Sé. Passou de 85 países, em 1978, para 174, em 2003.
Os Estados Unidos da América (EUA), que antes tinham status de delegação junto à Santa Sé, a União Europeia (EUA), a Ordem Militar Soberana de Malta e a maioria das nações do antigo bloco comunista estabeleceram relações diplomáticas durante este pontificado, que também estabeleceu “relações de natureza especial” com a Federação Russa e com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
A sua afeição aos jovens impeliu-o a iniciar, em 1985, as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Nas 19 edições da JMJ celebradas ao longo de seu pontificado, foram reunidos milhões de jovens de todo o Mundo. E a sua atenção para com a família manifestou-se com os encontros mundiais das famílias, que inaugurou em 1994.
Sobreviveu a mais de um atentado. A 13 de maio de 1981, foi alvejado, na Praça de São Pedro, pelo turco Mehmet Al Agca; e, a 12 de maio de 1982, em Fátima, Portugal, aonde o Papa havia chegado para agradecer a Maria pela sua vida, depois do atentado de 1981, o padre cismático Juan Krohn tentou apunhalá-lo com um sabre-baioneta, mas foi logo preso. É, entretanto, conhecido, pelo menos, mais um atentado, o de muçulmanos que tentaram fazer explodir o avião em que o Papa viajava durante sua visita às Filipinas, cujas autoridades frustraram o plano.
Em 12 de março de 2000, pediu perdão pelas faltas cometidas por membros da Igreja Católica em toda a sua História. Fazendo referência à discriminação para com as mulheres, os pobres e as etnias, a 15 de junho de 2004, pediu perdão pela Inquisição, “por erros cometidos no serviço da verdade por meio do uso de métodos que não tinham nada a ver com o evangelho”.
Promulgou o Catecismo Universal da Igreja Católica, fruto do sínodo especial de bispos de 1985 dedicado ao Concílio Vaticano II. Reformou o Código de Direito Canónico e o Código de Cânones das Igrejas Orientais. Reorganizou a Cúria Romana. E, entre os documentos do seu Magistério, estão incluídos 14 encíclicas, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas e 45 cartas apostólicas. Reforçou os esforços ecuménicos e os do diálogo inter-religioso.
São João Paulo II morreu a 2 de abril de 2005. Aquando dos seus funerais, a multidão bradava: “Santo, súbito!” No dia 28 do mesmo mês, o Papa Bento XVI dispensou o tempo de cinco anos de espera, após a sua morte, para se iniciar a causa de beatificação e de canonização. A causa foi aberta oficialmente pelo cardeal Camillo Ruini, vigário-geral para a diocese de Roma, a 28 de junho de 2005. Bento XVI beatificou-o a 1 de maio de 2011 e Francisco canonizou-o, junto com São João XXIII, a 27 de abril de 2014.
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Há muitos dias na vida de João Paulo II que podiam ser considerados como o dia mais feliz da sua vida: por exemplo, o fim da II Guerra Mundial, a ordenação sacerdotal ou quando foi nomeado bispo, cardeal ou papa. Entretanto, segundo o próprio, o dia mais feliz da sua vida foi quando canonizou Santa Faustina Kowalska, religiosa da Polónia, sua terra natal.
Karol Wojtyla tinha aproximadamente 18 anos quando a religiosa morreu (a 5 de outubro de 1938). Porém, não conhecera a vida de Faustina, nem a mensagem da Divina Misericórdia até entrar num seminário clandestino durante a Segunda Guerra Mundial; e quando as conheceu, isso teve um impacto profundo em sua vida.
Devido a uma tradução errada para Italiano do Diário da Divina Misericórdia e a outras questões que não foram resolvidas, o Vaticano proibiu a divulgação da devoção na década de 1950. Mas a sua divulgação começou meio ano antes de o cardeal Wojtyla ser eleito sucessor de Pedro.
Entretanto, João Paulo II dedicou à Divina Misericórdia a sua segunda encíclica Dives in Misericordia (Rico em Misericórdia). E, no livro “Testemunho de Esperança: A biografia do papa João Paulo II”, o autor norte-americano George Weigel escreveu que João Paulo II falou pessoalmente sobre o impacto da Irmã Faustina na sua vida e no seu ministério. “Quando era arcebispo da Cracóvia, Wojtyla defendeu a irmã Faustina, quando a sua ortodoxia foi questionada em Roma, após a sua morte, devido, em grande parte, à tradução errada do seu diário para o Italiano, e promoveu a causa da sua beatificação. João Paulo II, que disse sentir-se espiritualmente ‘muito próximo’ da irmã Faustina, estava a ‘pensar nela, durante muito tempo’, quando começou a escrever a Dives in Misericordia”. Em muitas ocasiões do seu pontificado, João Paulo II escreveu ou falou sobre a importância de pedir a Deus a Divina Misericórdia para o Mundo inteiro. Em 19 de abril de 1993, o pontífice beatificou a irmã Faustina e, na homilia, elogiou o modo através do qual levou as pessoas ao coração misericordioso de Cristo.
A 30 de abril de 2000, João Paulo II canonizou Santa Faustina no que disse ter sido – como foi conhecido mundialmente – “o dia mais feliz da minha vida”. “É grande a minha alegria, ao propor, hoje, à Igreja inteira, como dom de Deus para o nosso tempo, a vida e o testemunho da irmã Faustina Kowalska. Pela divina Providência, a vida desta humilde filha da Polónia esteve completamente ligada à História do século XX, que, há pouco, deixámos para trás. De facto, foi entre a primeira e a segunda guerra mundial que Cristo lhe confiou a sua mensagem de misericórdia.” E o Papa acrescentou: “Aqueles que recordam, que foram testemunhas e participantes nos eventos daqueles anos e nos horríveis sofrimentos que daí derivaram para milhões de homens, bem sabem que a mensagem da misericórdia é necessária.”
No 2.º domingo da Páscoa, celebra-se a festa da Divina Misericórdia, que São João Paulo II instituiu e que Jesus pediu nas suas mensagens à irmã Faustina. Nesse dia, são concedidas graças especiais – semelhantes a indulgência – a quem se confesse e receba a comunhão. Jesus prometeu que as almas que realizassem esses requisitos nesse mesmo dia seriam devolvidas ao seu estado batismal puro, entre outras graças.
Antes da morte da irmã Faustina, a 5 de outubro de 1938, já a devoção à Divina Misericórdia se tinha difundido pela Polónia.
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Na missa a que presidiu no santuário de Jasna Gora, a 5 de junho de 1979, de visita à Polónia, João Paulo II evocou o “santuário de Santa Edwiges em Trzebnica nas vizinhanças de Wroclaw: “Faço-o por uma razão particular. A Providência Divina, nos seus imperscrutáveis desígnios, escolheu o dia 16 de outubro de 1978 como o dia de viragem na minha vida.” E explicitou: “A 16 de outubro, festeja a Igreja, na Polónia, Santa Edwiges e, por isso, sinto-me em particular dever de oferecer hoje pela Igreja na Polónia esta oração à santa que, além de ser a padroeira da reconciliação para as nações confinantes, é também a padroeira do dia da eleição do primeiro polaco para a cátedra de Pedro”.
João Paulo II recordou que santa Edwiges, esposa de Henrique, da dinastia dos Piastos, chamado o Barbudo, provinha da família bávara dos Andechs. “Entrou na História da nossa pátria e, indiretamente, na de toda a Europa no século XIII, como a mulher perfeita (Pr 31, 10) de que fala a Sagrada Escritura”, precisou. E prosseguiu: “Na nossa memória está especialmente vincado o acontecimento cujo protagonista foi o seu filho, o príncipe Henrique, o Pio. Foi ele quem opôs eficaz resistência à invasão dos Tártaros, invasão que, em 1241, passou pela Polónia vinda do Oriente, da Ásia, só se detendo na Silésia, nas imediações de Legnica.”
O papa explicou que “Henrique o Pio caiu, é certo, no campo de batalha, mas os Tártaros foram obrigados a retirar-se, e nunca mais voltaram tão perto do Ocidente nas suas incursões. Atrás do heroico filho, estava a mãe, que lhe infundia coragem e recomendava a Cristo Crucificado a batalha de Legnica”. “Oxalá este papa, que hoje fala aqui do alto de Jasna Gora, possa servir eficazmente a causa da unidade e da reconciliação no Mundo contemporâneo. Não deixeis de o ajudar nisto com as vossas orações em toda a terra polaca”, concluiu.
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Em 2003, por ocasião do centenário do motu proprio Tra le sollecitudini, sobre a renovação da música sacra, João Paulo II enunciou princípios para renovar o canto litúrgico.
Observando que “é preciso sublinhar, acima de tudo, que a música destinada aos sagrados ritos deve ter como ponto de referência a santidade”, pelo que retomou as palavras de são Paulo VI: “Se não se possui, ao mesmo tempo, o sentido da oração, da dignidade e da beleza, a música instrumental e vocal impede por si o ingresso na esfera do sagrado e do religioso.”
 “A mesma categoria de ‘música sacra’ – advertiu – recebeu um alargamento de significado, a ponto de incluir repertórios que não podem entrar na celebração, sem violar o espírito e as normas da mesma Liturgia”. A reforma de São Pio X visava purificar a música de igreja da contaminação da música profana teatral, que poluíra, em muitos países, o repertório e a prática musical litúrgica. E o Papa Wojtyła advertiu que nem todas as formas musicais são aptas para a celebração litúrgica.
Outro princípio é “o da singeleza das formas”, ou seja, “pode existir uma música destinada à celebração dos sagrados ritos que não seja, antes, ‘verdadeira arte’, capaz de ter a eficácia ‘que a Igreja deseja obter, acolhendo na sua liturgia a arte dos sons’”. Entretanto, “esta qualidade por si só não é suficiente”, advertiu. Os vários momentos litúrgicos exigem uma expressão musical própria, apta a fazer emergir a natureza do rito, “ora proclamando as maravilhas de Deus, ora manifestando sentimentos de louvor, de súplica ou ainda de melancolia pela experiência da dor humana, uma experiência, porém, que a fé abre à perspetiva da esperança cristã”.
João Paulo, o magno destacou o valor da inculturação na música litúrgica, mas assinalou que “cada inovação nesta delicada matéria deve respeitar os critérios peculiares, como a investigação de expressões musicais, que correspondam à participação necessária de toda a assembleia na celebração e que evitem, ao mesmo tempo, qualquer concessão à leviandade e à superficialidade”.
“O espaço sagrado da celebração litúrgica jamais deve tornar-se um laboratório de experiências ou de práticas de composição e de execução, introduzidas sem uma verificação atenta.”
O canto gregoriano “ocupa um lugar particular”, pois continua a ser “um elemento de unidade na liturgia romana”. “São Pio X ressaltava que a Igreja ‘o herdou dos antigos padres’, ‘guardando-o ciosamente durante os séculos nos seus códigos litúrgicos’ e ainda hoje o ‘propõe aos fiéis’ como seu, considerando-o ‘como supremo modelo de música sacra’.”
Em geral, disse João Paulo II, o aspeto musical da celebração litúrgica não pode ser relegado nem à improvisação, nem ao arbítrio de pessoas, individualmente, mas há de ser confiado a uma direção harmoniosa, no respeito das normas e das competências, como significativo fruto de uma formação litúrgica adequada”. Portanto, no campo litúrgico, o Papa polaco enfatizou a urgência da sólida formação dos pastores e dos fiéis leigos. São Pio X insistia na formação musical do clero, insistência reforçada pelo Vaticano II, no sentido de se lhe dar a devida importância nos Seminários, nos Noviciados, nas casas de estudo e noutros institutos e escolas católicas.
São João Paulo II reconheceu o valor da música litúrgica popular, mas disse fazer sua a regra geral que São Pio X formulara: “Uma composição, para a Igreja, é tanto sacra e litúrgica quanto mais se aproximar, no andamento, na inspiração e no sabor, da melodia gregoriana, e tanto menos é digna do templo, quanto mais se reconhece disforme daquele modelo supremo.”
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Aqui se deixam estes dados, alguns deles bastante obnubilados, mas que atestam a preocupação litúrgica e pastoral do Papa cuja espiritualidade é deveras inspiradora para todos.

2023.10.21 – Louro de Carvalho


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