sexta-feira, 10 de março de 2023

Governo ganha com as despesas da mudança para a sede da CGD

 

De acordo com o respetivo comunicado, o Conselho de Ministros, na sua reunião de 9 de março, autorizou a realização da despesa necessária à concretização das obras de beneficiação e de adaptação do edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em Lisboa, com vista à concentração física de entidades públicas naquele edifício. 

Segundo o governo, “a concentração de serviços e gabinetes num único espaço físico potencia sinergias, estimula a criação de redes de comunicação mais próximas, sedimenta o trabalho colaborativo e permite ganhos de eficiência na gestão dos imóveis utilizados pelo Estado”.

Nestes termos, “estima-se uma poupança de cerca de 800 mil euros por ano, em rendas atualmente pagas pelo Estado a privados, e cerca de cinco milhões de euros por ano em encargos com a gestão de serviços como: segurança, manutenção, limpeza, jardinagem, fornecimento de energia elétrica e fornecimento de água”. Além disso, “os imóveis públicos que serão desocupados – avaliados em cerca de 600 milhões de euros – poderão ser objeto de rentabilização”, contribuindo para o reforço da “oferta habitacional”. É um projeto alinhado com o Programa do Governo, que define como meta “a reconfiguração do funcionamento e organização interna da Administração Central do Estado”, e com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), “através da reforma funcional e orgânica da Administração Pública, prevista na componente C19 ‘Administração Pública — Capacitação, Digitalização e Interoperabilidade e Cibersegurança’.”

A mudança já constava num comunicado de 23 de março de 2022, emitido pelo gabinete do primeiro-ministro reconduzido sobre a orgânica do XXIII Governo Constitucional, cuja orgânica fora apresentada, no dia anterior, por António Costa ao Presidente da República (PR).

Nos termos do comunicado, o primeiro-ministro informava ter decidido avançar com “a concentração de ministérios num só espaço físico”, sendo os ministérios com responsabilidade direta na execução do PRR os primeiros a concentrar-se na sede da CGD, o que deveria ocorrer “até ao final do ano 2022”, os quais ficariam sob coordenação da Presidência do Conselho de Ministros. Porém, já em fevereiro daquele ano, em declarações aos jornalistas, António Costa, admitia a possibilidade de proceder, na nova legislatura, à deslocalização de vários ministérios, concentrando-os no edifício que atualmente serve de sede à CGD.

Contudo, os ganhos de 600 milhões de euros na libertação de imóveis, bem como de 800 mil euros anuais de renda e os cerca de cinco milhões de poupança em encargos anuais em gestão de serviços, não são grátis. Estima-se em 40 milhões de euros o investimento a fazer até ao final da legislatura, no processo de concentração de serviços do Estado no edifício sede da CGD, valor avançado pelo secretário de Estado da Presidência, André Moz Caldas, na sede da CGD, Lisboa, em conferência de imprensa conduzida pela ministra da Presidência. Mariana Vieira da Silva.

Em relação aos custos para o Estado resultantes do processo de mudança e de concentração no edifício sede da CGD, o secretário de Estado referiu que a resolução agora aprovada pelo governo é de autorização da despesa em 5,4 milhões de euros mais o imposto sobre o valor acrescentado (IVA). “Nem todos os pisos do edifício da CGD terão a mesma necessidade de obras. Ao longo da legislatura (até 2016), o investimento global estimado será de 40 milhões de euros”, adiantou.

Por sua vez, a ministra da Presidência frisou que, ao longo do processo, o Estado pode libertar um conjunto significativo de edifícios, com ganhos de 600 milhões de euros, tendo em conta o preço do metro quadrado, ficando excluídos, neste conjunto de edifícios, os do Terreiro do Paço por terem “caraterísticas próprias e específicas”. Nesta avaliação de 600 milhões de euros, estão incluídos os edifícios da Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, o Ministério da Economia e do Mar, os do Ministério da Educação nas avenidas Infante Santo e 24 de Julho, bem como edifícios arrendados a privados, como é o caso do Ministério da Saúde. “Pretendemos naturalmente que esta operação seja favorável do ponto de vista da poupança para o Estado, não apenas ao nível financeiro, mas também em matéria de organização”, salientou a ministra.

Perante os jornalistas, além da componente financeira, a governante procurou sustentar a tese de avultados ganhos de eficiência resultantes concentração de serviços do governo no edifício sede da CGD, destacando as questões da eficiência energética e do arquivo de documentos. “Haverá ganhos que resultam da concentração de serviços, com a maximização de serviços comuns e partilhados, designadamente com viagens que deixarão de ser realizadas. Teremos, ainda, uma centralização ao nível de pagamentos de salários, de prestação de serviços a diferentes serviços públicos, que passarão a estar concentrados, beneficiando de ganhos de escala”, defendeu.

Numa primeira fase, com as obras num dos pisos do edifício da CGD – o sétimo – serão libertados 8,5 mil metros quadrados, que acrescem aos 3,5 mil metros quadrados já ocupados.

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Terminada a reestruturação da CGD em 2020, esta negociou com o Governo a extinção do seu fundo de pensões, que era dono do edifício sede e o responsável pelo pagamento das pensões de reforma de cerca de 13 mil profissionais. Com a extinção do fundo de pensões, a responsabilidade do pagamento das pensões ficou para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), recebendo 3.018 milhões de euros do banco público, e o património passou para o banco do Estado. Ao mesmo tempo, acordou com o governo a transferência do imóvel para o Estado (o acionista), sob a forma de dividendo em espécie, a juntar aos 352 milhões de euros de dividendo em dinheiro. 

A CGD vai sair, na totalidade, do edifício que é a sua sede desde os anos 90 (obra então fortemente criticada pelo sobredimensionamento). E, agora, dispersa por 90 mil metros quadrados, procura um espaço com 30 mil metros quadrados, como revelou o presidente da comissão executiva, Paulo Macedo. E, enquanto busca alternativa, manter-se-á nalguns apartamentos da sede atual, mediante uma renda a pagar ao Estado, cujo montante será acordado, após a avaliação do imóvel. E o primeiro-ministro só ali terá gabinete depois de Paulo Macedo ter saído dali,

Entretanto, haverá extinções de cargos governamentais, implicando mudanças nas secretarias-gerais dos ministérios, que começam a mudar-se já neste ano.

Há já alguns serviços a funcionar no espaço, como a secretária-geral da Presidência do Conselho de Ministros e o CEGER (Centro de Gestão da Rede Informática do Governo), mas os gabinetes ministeriais só irão depois das obras que ainda vão começar. Vão, numa primeira fase, juntar 8,5 mil metros quadrados aos 3,2 mil metros já ocupados.

Com a CGD sairão os seus atuais serviços sociais – para os quais terá de encontrar também albergue. O edifício conta com campo de futebol, espaços de lazer, perfumaria, espaços médicos, entre outros – equipamentos que, segundo a ministra, podem ficar para os serviços sociais da administração pública. O que ficará é a Culturgest, que “permanecerá enquanto espaço cultural”. O edifício passa todo para a propriedade do Estado, mas este equipamento fica salvaguardado.

A despesa é estimada e o calendário é incerto, mas as primeiras obras estão prestes a começar.

Depois das primeiras obras, cujo prazo é de quatro meses após o necessário ok do Tribunal de Contas (TdC), dar-se-á a transferência dos primeiros ministérios – Habitação, Infraestruturas, Economia, Coesão, Agricultura e Ambiente –, mas ainda sem data certa, esperando a ministra que seja até ao fim de 2023. Depois virão outros, como Saúde ou Educação. Só há três ministérios que permanecerão nos seus edifícios: Finanças, Defesa e Negócios Estrangeiros. Isto, por razões de representação, nos dois últimos casos, já que, no caso do primeiro, não foi dada justificação.

“É uma reforma muito importante”, vincou a ministra da Presidência aos jornalistas, justificando com a “centralização de serviços comuns e partilhados, com ganhos de escala, melhorias muito significativas de articulação”. Contudo, tal articulação eliminará algumas das atuais funções.

Com efeito, existem “entidades cujas principais funções são precisamente o apoio à ligação dos edifícios – parque automóvel, pagamento de salários, conjunto de serviços comuns –, que resultará numa reorganização”, frisou a governante, dizendo que “tudo o que hoje em dia é separado passará a ser partilhado”, pelo que terá de haver uma “reorganização das secretarias-gerais”. Até ao verão, o governo apresentará a reorganização, que será em prol da grande capacidade, de que o Estado tem necessidade, de resposta dos serviços. “Podermos maximizar, para não repetir, é uma vantagem financeira, mas não apenas financeira, de mas também trabalho em conjunto” – vincou.

Para já, o que disse a governante é que o edifício passará a contar, no final do processo, em 2026, com mais de 100 entidades e mais de 5 mil funcionários a trabalhar em conjunto – ainda que a segurança de junção de tantos ministérios não tenha sido tema da conferência de imprensa.

Com as transferências previstas até 2026, o governo pensa libertar 40 edifícios atualmente ocupados pelos serviços e gabinetes avaliados em 600 milhões de euros. Porém, esse montante não resulta de uma avaliação independente: foi calculado com base no preço por metro quadrado das zonas em que se encontram a partir dos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O Governo indicou, no comunicado de 9 de março, que o objetivo era colocar parte destes edifícios (não todos) no mercado habitacional. Isso pode significar ou a sua “alienação ou a utilização na esfera pública, seja nos municípios, seja do Estado central”, disse a ministra. “Há uns mais adequados à habitação. Noutros, pelas suas caraterísticas, essa solução não é a melhor”.

Há mais edifícios, que não estão enquadrados neste número, já que a sua libertação não será feita de forma a pô-los no mercado. São os casos dos imóveis onde estão os Ministérios da Agricultura e da Justiça, no Terreiro do Paço, Lisboa, ou da parte do Palácio Nacional da Ajuda, também Lisboa, em que se encontra o Ministério da Cultura.

O Governo estima poupar 800 mil euros em rendas anuais atualmente pagas aos privados para a ocupação de alguns edifícios – como o Ministério da Saúde –, a que acrescem 5 milhões de euros anuais por “encargos com a gestão de serviços”. Tal poupança foi calculada com base nos gastos que o governo agora tem nos vários edifícios e nas despesas atualmente pagas pela CGD nessas funções. São, portanto, ainda estimativas.

O primeiro-ministro também terá um espaço de trabalho no edifício da Avenida João XXI, no 8.º piso, mas São Bento continuará a ser a sua residência oficial. Porém, só ocupará esse novo espaço quando a CGD sair definitivamente. Não se sabe quando, pois não é dos pisos que já tenha calendário. Atualmente, esse piso é ocupado pela administração da CGD. Até aqui, no planeamento das mudanças, houve alguma tensão por não fazer sentido, do ponto de vista de Estado, a cúpula da CGD estar, no edifício, andares acima da liderança do governo, o que deixa de ser problema: António Costa chegará somente após a saída de Paulo Macedo.

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A crer nas contas como estimado acima, é de espantar como um banco público, que se fortalece com a magreza das poupanças de tantas carteiras medianas ou pobres (e com despedimentos, eliminação de balcões, taxas e taxinhas, além de péssimo atendimento), consegue passar tantos dividendos (em dinheiro e em espécie) ao acionista. E é de censurar toda a ruinosa gestão com que mimou o povo, a ponto de se crer que a venda a privados, a preço de pataco era inevitável.

2023.03.10 – Louro de Carvalho

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