É o tema da 1.ª edição do Festival de Ecologia Integral, evento organizado
em Montefiascone, região de Viterbo, que oferece, a partir deste dia 24 de junho
até ao dia 27, debates, mesas redondas, uma exposição e concertos sobre temas
ligados à encíclica Laudato si’ – iniciativa
da associação “Rocca dei Papi, para uma
ecologia integral”.
O Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, abriu o Festival de Ecologia Integral, nesta
tarde, com a sua Lectio
magistralis. E seguir-se-ão três dias de encontros, exposições, mesas
redondas e concertos.
Dom Fabio Fabene, Arcebispo titular de Montefiascone e secretário da
Congregação para as Causas dos Santos, sublinhou que o Festival tem como ponto
de referência a encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, de 24 de maio de 2015, e nos convida a
“redescobrir a ecologia espiritual que quer reconstituir a relação essencial
com Deus Criador, encorajando um maior contacto com a natureza”. Ao mesmo
tempo, dá-nos conta de que “a beleza naturalista da paisagem na qual estamos
imersos e que vai do mar aos Apeninos nos abre para um olhar contemplativo e
para um renovado espanto que se torna louvor, alegria e gratidão”.
Após as saudações do Vice-Presidente da Região do Lazio, Daniele Leodori,
da Comissária Extraordinária do Município de Montefiascone, Anna De Luna, e do
General Davide De Laurentis, Vice-Comandante das Unidades Florestais,
Ambientais e Agroalimentares dos Carabineiros, o Cardeal Parolin fez, como se
disse, uma lectio magistralis sobre o tema do Festival,
apresentada por dom Fabio Fabene e Mario Morcellini, Diretor da Escola Superior
de Comunicação e Media Digital da Unitelma Sapienza.
Neste tempo marcado pela pandemia, não pode faltar a referência explícita à
responsabilidade comum em relação à criação: o grito da terra e o grito dos
pobres ressoam e chamam a todos para um novo modo de vida. Como Francisco
declarou na conferência eclesial de Florença, diante de nós não temos “uma
época de mudança”, mas “uma mudança de época”. É com esta ideia subjacente que,
ao final do Festival, será entregue o prémio “Custódio da Criação” a uma série
de pessoas e empresas italianas e locais comprometidas com a promoção da
ecologia integral. E Dom Fabio Fabene vinca:
“Será um
momento bonito e festivo para recomeçarmos juntos planeando, após o
encerramento da pandemia, uma nova maneira de viver redescobrindo os laços que
nos unem uns aos outros, à Terra e a Deus Criador e Senhor do céu e da terra”.
Por ocasião da abertura do Festival, às 16 horas, também foi cortada a fita
da exposição ao ar livre da bioarquitetura criada pela Bioarchitecture
Foundation, presidida pelo Professor Wittfrida Mitterer e que permanecerá
aberta até 30 de setembro. A exposição, ao ar livre, ao longo das ruas do
centro histórico de Montefiascone, é apresentada como caminho
educativo-informativo nos mais importantes projetos de bioarquitetura italiana
e internacional.
***
Com a publicação da susodita encíclica, desencadearam-se
inúmeras iniciativas. E, a nível de campanhas, o destaque vai para a “Campanha Laudato si’ por um meio
ambiente mais limpo”.
Efetivamente,
a Comissão Católica dos Leigos do Zimbabué lançou, como contribuição para uma
nova gestão do meio ambiente, em colaboração com a Rede dos Profissionais
Católicos do Zimbabué (CPNZ) e o apoio
da Nunciatura Apostólica, uma campanha para preservar o meio ambiente no
espírito da Laudato si’, com o
objetivo incentivar a sociedade a proteger o meio ambiente levando as pessoas a
práticas sustentáveis em todos os empreendimentos empresariais.
Segundo o Padre Alfonce Kugwa, diretor da Comissão de Comunicações da Conferência dos Bispos Católicos
do Zimbábue, a taxa de
degradação ambiental continua a crescer no Zimbábue como noutros lugares, com
grandes implicações para a flora, a fauna e a vida marinha. Por isso, chegou o
momento de os seres humanos tomarem medidas imediatas para evitar mais danos ao
habitat comum. Na encíclica, o Papa apela ao diálogo “com todos sobre a nossa
Casa Comum” (Ls 3) e sustenta que “precisamos “de um
confronto que una todos, porque o desafio ambiental que estamos vivendo e as
suas raízes humanas nos preocupam e tocam a todos” (Ls 14). O texto papal inspirou a CPNZ a decidir fazer a sua
parte para a proteção da Criação.
As reflexões
do Papa revelam que a humanidade é responsável pela destruição do meio ambiente
e que somente através do esforço humano será possível preservá-lo. Assim, no
espírito da Laudato si’, os leigos
católicos do Zimbábue iniciaram um projeto que tem como objetivo principal
aumentar a conscientização sobre a encíclica de 2015 e incentivar uma melhor
gestão ambiental. O projeto, destinado a todos os cidadãos do país,
especialmente a crianças e jovens, convida a promover e a participar em
atividades para cuidar do meio ambiente em comunidades individuais, em todos os
lugares do Zimbábue.
Na verdade,
algumas práticas são diretamente responsáveis pela degradação ambiental, tais
como o desmatamento, a mineração ilegal, os incêndios florestais, o lançamento
de papel e plástico por toda parte. Por isso, a campanha tem como objetivo
desencorajar tais ações. Os jovens são incitados a fazer a sua parte mantendo o
ambiente limpo.
O Padre
Johane Maseko, coordenador da Comissão Católica dos Leigos do Zimbábue, frisou
que a campanha visa formar uma consciência sobre o conteúdo da Laudato si’ e encorajar um estilo de
vida ligado ao bem-estar ambiental e ao Evangelho. O facto de referir sempre o
projeto à Laudato si’ visa despertar
o interesse pelo documento e a curiosidade dos indivíduos em lê-lo. E diz Padre
Maseko:
“Visa sensibilizar as pessoas para que
possam ‘cultivar e preservar o paraíso’ que é nosso mundo. O esforço é o de
ajudar as pessoas a entender a conexão entre o cuidado com o meio ambiente e a
oração, como o Papa Francisco enfatizou ao lembrar na encíclica que ‘um crime
contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus’ (cf
Ls 8).”.
São a
pobreza e o desemprego que levam muitos jovens a envolverem-se na mineração
ilegal e outras formas ilícitas de renda, que produzem grandes danos ao meio
ambiente, tais como a mineração não organizada e o desmatamento. As florestas
estão a ser destruídas sem consideração pelos mineiros ilegais, os “makorokoza”,
na “corrida do ouro”: escavam de qualquer forma e em qualquer lugar até acharem
que podem encontrar o metal precioso. A visita a Kwekwe, Gokwe, Kadoma,
Bindura, Mazowe, Mberengwa, entre outros lugares, dá uma boa ideia dos enormes
danos infligidos ao meio ambiente e levanta questões sobre o nosso futuro
comum. E diz um minerador da periferia de Kadoma:
“É a pobreza que está nos obriga a tudo
isso. Estamos desempregados: é um facto, não há trabalho. As nossas famílias
precisam de comida e a única maneira de sobreviver é vir até a kumakomba (minas
ilegais) para procurar ouro. Nós também nos preocupamos com o meio ambiente,
mas não podemos fazer outra coisa.”.
É também a
ganância por dinheiro que tem contribuído para a destruição do meio ambiente. A
distribuição caótica e aleatória das terras por proprietários para fins económicos,
a fim de criar áreas residenciais em áreas urbanas, resultou na proliferação de
estruturas habitacionais nas áreas húmidas do país e em outros lugares não
destinados ao desenvolvimento. De facto, a migração para as cidades deu em
superlotação urbana, o que, por sua vez, comprometeu e complicou os padrões de
higiene de muitas partes do Zimbábue. Muito pouco se tem feito para melhorar as
condições de abastecimento de água e saneamento. O rebentamento frequente de
canos de esgoto, o fornecimento irregular de água e o abandono de lixo em todos
os lugares são fonte de grande preocupação para os habitantes da cidade. Nesse
contexto, a Igreja, com a ajuda dos leigos, está a tentar reduzir a ameaça de
poluição ambiental no país.
Através da
campanha, a Igreja procura sensibilizar as comunidades para a necessidade de
priorizar a proteção ambiental com a proteção de florestas, áreas húmidas, recursos
hídricos, vida selvagem e camada de ozono. E incentiva o plantio de árvores, o
tratamento adequado, a reciclagem de resíduos e o fim duma cultura descartável,
que contamina o meio ambiente e promove a mudança climática.
***
Também em torno da Laudato
si’, surgiu a “Cuidar da Casa Comum”, uma iniciativa duma rede de instituições, obras e
movimentos da Igreja Católica e pessoas a título individual. Propõe-se
contribuir para a prossecução dos seguintes objetivos: aprofundar e difundir o
pensamento da encíclica sobre o cuidado da casa comum, nomeadamente no âmbito
das respetivas instituições, organizações, obras e movimentos; acompanhar, no
espaço eclesial, as questões ecológicas de âmbito nacional e mundial,
evidenciando as suas causas e consequências e equacionando-as à luz da Laudato si’, de modo a promover a tomada de
consciência coletiva acerca da sua relevância e urgência; promover nas comunidades
cristãs e nos respetivos espaços (paróquias, escolas, obras,
movimentos e comunidades eclesiais) uma efetiva conversão ecológica e
sugerir caminhos de atuação concreta com vista à adoção de procedimentos coerentes
com uma ecologia integral; proporcionar instrumentos de análise que permitam
pensar o futuro do Planeta, da Humanidade e da sociedade global de que somos
parte; aprofundar e difundir a teologia da Criação; e incentivar a celebração
em comum do Dia Mundial da Criação.
Para a prossecução destes objetivos, a Rede, além de outras iniciativas,
promove a criação de grupos locais empenhados na promoção de uma ecologia
integral (focos de
conversão ecológica) aos quais proporcionará instrumentos de aprofundamento
da encíclica e guiões com sugestões para iniciativas de conversão ecológica a
nível pessoal e comunitário; e propõe-se criar e manter um sítio na net para
promover a difusão do pensamento da encíclica, incentivar a reflexão sobre
estilos de vida pessoal e coletiva em favor de uma ecologia integral, partilhar testemunhos de
gestos e comportamentos de ecologia integral, fazer pontes
com iniciativas relevantes que ocorram no espaço eclesial e na sociedade civil.
A Rede é uma plataforma aberta à participação ecuménica, animada por uma
Comissão de Coordenação, apoiada por uma Comissão Executiva, uma Comissão de apoio
teológico e científico e uma Comissão de informação e documentação.
Funciona através
de “focos de conversão ecológica”, que são pequenos grupos (entre 5 e 10 pessoas) constituídos para responder aos apelos de Francisco na
Laudato si’, designadamente para fomentar
uma conversão ecológica no seio
da respetiva comunidade.
Os focos têm
por missão escutar o grito da nossa Casa Comum “contra o mal que lhe
provocamos”, identificar, na vida quotidiana, “o uso irresponsável” dos bens da
Terra, criar no seio das respetivas comunidades pontes de diálogo com vista à
construção de uma ecologia integral,
tanto no plano dos comportamentos individuais com no das opções e práticas das
comunidades da sua área de influência. Procuram realizar na paróquia sessões de
divulgação da Laudato si’ e de
sensibilização acerca das questões ecológicas, como a poluição ambiental, as
alterações climáticas, a perda da biodiversidade, as desigualdades e a exclusão
social.
Os focos promoverão espaços celebrativos e de oração
nas comunidades a que pertencem. Cada foco, que designará um dos seus membros
para o representar na Rede, compromete-se a partilhar a sua experiência de
reflexão e ação com os demais através da plataforma da Rede.
Na verdade, “viver a
vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto
secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa”
(Ls 217).
***
E o debate e o trabalho do cuidado das pessoas e da
casa comum, iniciados expressamente, a 19 de março pelo Papa Francisco, prosseguem,
pois é preciso ouvir o grito da terra, o grito dos pobres, o grito do céu. Para
tanto, urge estabelecer, promover e alimentar uma ecologia integral, no quadro da assunção
do novo paradigma contemporâneo segundo o qual tudo forma “um grande todo” com
todas as realidades interconectadas, influenciando-se umas às outras. Nesse
sentido, o processo de construção do oikos (do
grego, casa, morada, ambiente comum) tem como força motriz a relação, que permite que “tudo
esteja interligado”, ou seja, “tudo está em relação”, “tudo é coligado”, “tudo
está conectado”.
A partir do paradigma da ecologia integral, entendem-se
as dinâmicas sociais e institucionais em todos os níveis como afirma o
Papa:
“Se tudo está em relação, também o estado de saúde das
instituições de uma sociedade comporta consequências para o ambiente e para a
qualidade da vida humana […] Em tal sentido, a ecologia social é
necessariamente institucional e atinge progressivamente diversas dimensões que
vão do grupo social primário, a família, até a vida internacional, passando
pela comunidade local e a Nação.” (Ls 142).
O paradigma da ecologia integral é capaz de manter
unidos fenómenos e problemas ambientais (aquecimento global, poluição,
exaustão dos recursos, desflorestamento, etc.) com questões que não são, normalmente, associadas à agenda ecológica em
sentido estrito, como a pobreza, a qualidade de vida nos espaços urbanos ou a
problemática dos transportes públicos.
Na encíclica, o
Papa concorda com um grande número de cientistas sobre as mudanças climáticas e
proclama a necessidade de uma aliança entre sociedade, ciências e
religiões para o cuidado da criação.
2021.06.24 – Louro de Carvalho
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