Angela
Merkel, chanceler alemã, em conferência de imprensa do dia 22 de junho, em
Berlim, depois de a Presidente da Comissão Europeia ter apresentado o PRR
alemão já aprovado, lamentou a ausência de regras comuns na União Europeia (UE) para as deslocações de pessoas e deu o exemplo de
Portugal, que permitiu viagens de e para o Reino Unido, o que apoda de
retrocesso. E, preocupada com a disseminação da variante Delta da covid-19 na
Europa, vincou:
“Agora temos esta situação em Portugal. Talvez tivéssemos podido
evitá-la. É por isso que devemos trabalhar ainda mais. (…) Avançámos nos
últimos meses, mas não até onde eu gostaria que a União Europeia estivesse.”.
Na mesma
conferência de imprensa, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia,
considerou que é apenas uma “questão de tempo” até que a variante Delta se
torne dominante no continente europeu e acrescentou que “é importante continuar
a vacinar o mais rápido possível”.
Entretanto,
os países da UE chegaram a um acordo para coordenar as suas regras e facilitar
as viagens dentro do bloco comunitário no verão, com a adoção dum certificado
verde, e também preveem a possibilidade de voltar a impor restrições em caso de
emergência. Assim, a partir de 1 de julho, qualquer pessoa que possua um
certificado sanitário europeu, atestando que foi vacinada, que está imunizada
após ter sido contaminada ou que testou negativo à covid-19, poderá viajar
dentro da UE sem necessitar de fazer mais testes ou de cumprir quarentena.
A chanceler
alemã anota que Portugal tem responsabilidades acrescidas por estar a presidir
ao Conselho da UE. Porém, salientando que países como como Alemanha e França
impuseram restrições às viagens do Reino Unido devido à rápida propagação da
variante Delta (detetada na Índia) do
SARS-CoV-2, adiantou:
“Fizemos progressos bastante bons nos últimos meses [no que toca à
pandemia], mas ainda não estamos onde eu gostaria que a UE estivesse”.
Estas
declarações foram feitas dias antes de os líderes europeus se reunirem numa
cimeira europeia em Bruxelas e quando Portugal regista números diários de
infeções que apenas se comparam com os níveis de fevereiro.
No dia 22,
registaram-se seis mortes associadas à covid-19, 1.020 novos casos de infeções
confirmadas pelo coronavírus SARS-CoV-2 e um novo aumento nos internamentos.
Em Portugal,
a variante Delta do novo coronavírus SARS-CoV-2, a mais transmissível, que já é
dominante na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) (em 60% dos
casos; no Norte ainda não chega aos 15%), onde
aumentaram drasticamente as infeções, circula em 92 países, como indicou no dia
21 a Organização Mundial da Saúde (OMS), salvaguardando que as vacinas continuam eficazes contra esta estirpe, ao
prevenirem doença grave e morte.
Segundo a
líder técnica de resposta à covid-19 na OMS, Maria Van Kerkhove, a variante
Delta, identificada pela primeira vez na Índia, “está a disseminar-se
rapidamente” e “tem maior transmissibilidade do que a variante Alpha”, inicialmente
diagnosticada no Reino Unido.
O líder do
PSD, depois de a chanceler alemã ter criticado a falta de regras comuns na UE relativamente
às viagens, dando como exemplo a situação de aumento dos contágios em Portugal,
que, a seu ver, “poderia ter sido evitada”, publicou no Twitter a seguinte
nota:
“Não bastava termos sido tratados com uma vexatória desconsideração
pelo Reino Unido, a quem prestamos futebolística vassalagem, e ainda temos de
ouvir a justa indignação da chanceler alemã”.
Na
perspetiva de Rui Rio, o Governo do PS liderado por António Costa está a fazer
Portugal passar “por uma vergonha desnecessária”.
Em reação à colagem crítica do líder
socialdemocrata a Angela Merkel, o PS acusa Rui Rio de “incoerência” por ter
criticado o Governo neste momento e considerado “justas”
as palavras da chanceler alemã sobre o aumento de casos de covid-19 em Portugal.
Assim, Ana
Catarina Mendes, líder do grupo parlamentar do PS, lembrando que, “em maio, o
PSD criticava o Governo por não ter ainda anunciado a abertura aos voos do
Reino Unido, que vaticinava de trágico para o turismo nacional”, comentou na
sua página do Facebook:
“Não há, de facto, limites para a incoerência quando agora se reclama
contra uma medida que antes se reivindicava. Em maio, o PSD criticava o Governo
por não ter ainda anunciado a abertura aos voos do Reino Unido, que vaticinava
de trágico para o turismo nacional.”.
A líder
parlamentar do PS citava as palavras de Rio, que acusou o Governo de fazer
Portugal passar “por uma vergonha desnecessária”, observando que, após a
“vexatória desconsideração” do Reino Unido, os portugueses têm de “ouvir a justa
indignação da chanceler alemã”.
Por seu
turno, Augusto Santos Silva garante que foram cumpridas as regras na entrada
de britânicos. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, lembrando
que Portugal fez “em relação aos britânicos o que a partir de 1 de julho será
mandatório no âmbito da UE”, assegurou, neste dia 23, que Portugal cumpriu as
regras de saúde pública relativamente à entrada de turistas britânicos, depois
das críticas de Angela Merkel à descoordenação europeia quanto a viagens na UE,
nomeadamente à entrada de cidadãos britânicos em território português. E
explicou:
“O que nós dissemos foi que os viajantes britânicos que vêm para
Portugal, apresentando um teste negativo à chegada, podem entrar em Portugal.
Não vejo que seja, de alguma maneira, escancarar Portugal aos ingleses sem o
cuidado de verificar as suas condições de saúde no que diz respeito à covid-19.”.
Falando na comissão
parlamentar de Assuntos Europeus e respondendo a uma pergunta do PCP sobre
regras de viagens para os cidadãos da UE, Santos Silva observou:
“É difícil compreender as posições de alguns
governos dos Estados-membros que agora querem propor novos critérios. O que nós fizemos em relação aos britânicos é
o que a partir de 1 de julho será mandatório no âmbito da UE.”.
Todavia, o Presidente da República elogiou a chanceler alemã pelo seu papel
na UE, mas considerou inevitável haver regras diferentes no espaço europeu
sobre entradas e saídas em cada Estado-membro. Marcelo, falando aos jornalistas, em Lisboa, após a visita a um (novo) centro de vacinação contra a covid-19 num pavilhão da Cidade Universitária para pessoas a partir dos 50
anos de idade sem agendamento, declarou:
“Há uma coisa que temos de reconhecer,
independentemente do que ela diga: é a gratidão que devemos à chancelerina
Angela Merkel por aquilo que fez pela Europa. Isso nós todos agradecemos e é
bom que seja dito agora que está a três meses de sair”.
Questionado
sobre as críticas que a chanceler fez à falta de regras comuns na UE quanto
às viagens, apontando como exemplo “uma situação em Portugal que talvez pudesse
ter sido evitada”, o Chefe de Estado contrapôs que “é uma inevitabilidade” cada
Estado-membro adotar as suas regras. E desenvolveu:
“O que disse a
chancelerina Angela Merkel corresponde a um problema europeu, isto é, na Europa
cada país decidiu unilateralmente quer a entrada quer a saída dos outros
europeus, quer as formas de restrição interna de acordo com a evolução da
epidemia (…) E como na Europa
tem havido ciclos diferentes, tem havido momentos em que os vários Estados se
queixam uns dos outros. Nós já nos queixámos da Alemanha, a certa altura,
quando um membro do Governo alemão veio falar unilateralmente do que se ia
passar em relação a portugueses, aparentemente sem o conhecimento do Governo
português. (…) Todos os Estados, de alguma maneira, já se queixaram alguma
vez daquilo que se passou noutros Estados.”.
Marcelo, sustentando
que “era difícil” ter havido melhor coordenação de regras na UE, frisou:
“Idealmente,
eu cheguei a pensar, no início, que fosse possível haver decisões comuns sobre
entradas, saídas em todos os Estados da União Europeia. Mas isso era supor que
a epidemia tinha o mesmo processo em todos ao mesmo tempo. E aprendeu-se em
2020 e voltou a aprender-se em 2021 que isso não acontecia, porque nuns casos a
epidemia vinha de Leste para Ocidente, noutros casos de Ocidente para Leste.”.
Por isso, o
Chefe de Estado concluiu que “uma coisa é a teoria, outra coisa é a prática”.
A seguir a estas
declarações, o Presidente da República deixou um elogio a Merkel, observando
que “na política quando se chega ao fim de uma carreira não há gratidão, há
depois uns tempos mais tarde”. E reforçou:
“E
a gratidão fica expressa, que nós não esquecemos o que ela fez pela Europa,
quando pensamos no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e pensamos nos
fundos europeus, ela foi essencial para que isso acontecesse. E é importante
que o digamos quando está tão perto do fim da sua longa carreira política.”.
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