sexta-feira, 25 de junho de 2021

Da importância da educação climática nas escolas e não só

 

De verdade, a escola é chamada para tudo, mas tem de ser, pois são cada vez mais e mais diversificadas as temáticas para as quais o cidadão precisa de ter boa formação, dados os riscos que a humanidade está a correr. A solução não estará na criação de mais áreas disciplinares ou curriculares não disciplinares, a par das disciplinas que tradicionalmente integram o currículo académico. E o problema não se resolve remetendo os temas para a transversalidade disciplinar ou curricular, mas pela forte valorização da área da educação para a cidadania, servida por uma equipa multidisciplinar.
Para isso, importa libertar a escola do afunilamento curricular no “teste”, na “prova final” e no “exame nacional”, acabar com a pergunta despudorada se isso conta para a nota, o que postula que se ponham as coisas no seu devido lugar: a escola básica é fundamentalmente para formar cidadãos com suficiente suporte de ferramentas para o seu desenvolvimento pessoal e social: e a escola secundária é para dotar o cidadão de currículo académico que lhe permite fazer opções de ingresso no mundo do trabalho e/ou de prossecução nos estudos superiores. E mal é que a escola secundária seja induzida a verificar se o aluno serve para este ou para aquele curso superior. Devem ser as instituições do ensino superior a selecionar os seus alunos (estou a bradar ao vento). Ao invés, andamos a privar os alunos da aquisição de conhecimentos estruturantes e do desenvolvimento de capacidades importantes na fase adiantada da adolescência.   
Em tempos idos, a prioridade, digamos, extracurricular disciplinar era a educação ambiental, área que não pode ser subestimada. E, nos últimos tempos, o acento é posto na educação climática, o que é deveras pertinente. Assim, a 22 de junho, o Ministro da Educação defendeu a importância da educação climática nas escolas, vincando que os alunos são capazes de estimular as famílias e comunidades a aderir ao movimento por vida mais sustentável. No encontro online Educação pelo clima”, promovido pela Comissão Europeia que reuniu professores, alunos, e decisores políticos, Brandão Rodrigues, questionado sobre a “sua educação de sonho para iniciativas climáticas no futuro”, disse que “é aquela que coloca os alunos no centro da mudança nas nossas sociedades” e que a aposta tem de passar por uma educação climática que forme os jovens “a serem os catalisadores dessa mudança, estimulando as suas famílias, as redes fechadas e as comunidades a aderirem ao movimento de uma vida mais sustentável”.

Por seu turno, Pramod Kumar Sharma, da Fundação para a Educação Ambiental – Eco-Escolas, disse que “Educação não é só o que se aprende na escola”, mas também a forma como através dela se consegue chegar às famílias: enfim, “precisamos de pensar para lá das escolas”.

Vários dos presentes defenderam a ideia de que pela educação ambiental se promovem valores e mudam atitudes e comportamentos. O Ministro disse que este é um trabalho que deve começar com os mais novos, os “de tenra idade”. E Max Eisenbart, estudante holandês envolvido no “Spark the movement”, sustentou que a questão ambiental não pode ser algo extra curricular, mas “precisamos de tempo no currículo (…) e os professores precisam de liberdade”.

Uma outra ideia defendida por Brandão Rodrigues é a de que o currículo deve ser uma “estrutura dinâmica e flexível, capaz de abranger outras áreas do conhecimento, além das tradicionais”, sendo a educação climática certamente “uma dessas áreas”. Por isso, frisou a importância de os decisores políticos facilitarem a formação de professores nesta área assim como de se desenvolverem “materiais de apoio pedagógico para professores e alunos com foco na educação climática para todos os níveis de ensino”. Mais: neste processo, os alunos pedem para serem ouvidos e para fazerem parte do trabalho que deve ser colaborativo. E, no pressuposto de que a crise climática só se resolve todos estivermos juntos, o referido estudante holandês disse que “têm de ouvir as nossas ideias e trabalhar connosco”. “Espero que deem um espaço para discutirmos este assunto”, acrescentou, pedindo que seja uma discussão que envolva estudantes, professores, decisores políticos e empresários.

Tudo isto vem na esteira do projeto online que está a nascer, a “Coligação da Educação para o Clima”, que permite criar uma comunidade europeia sem fronteiras, que envolva as comunidades escolares e outros atores educacionais. Através duma plataforma online, é possível a um aluno numa aldeia do interior conhecer um projeto de outra escola situada do outro lado da Europa, permitindo o intercâmbio de experiências e conhecimentos em toda a UE. A ideia é que a plataforma europeia sirva para desbloquear, desenvolver ou reutilizar ações que tenham sido bem-sucedidas e que permitam desenvolver uma sociedade neutra para o clima. Neste projeto não há limite de idades, nem discriminação quanto ao tipo de instituição de ensino.

Neste sentido, disse Anne Karjalainen, membro do Comité Europeu das Regiões e Presidente da Comissão SEDEC (Commission for Social Policy, Education, Employment and Culture):

A população adulta também precisa de ser envolvida. Temos de ser inclusivos, não podemos discriminar ninguém.”.

No trabalho de desenho de novas estratégias que garantam a sustentabilidade ambiental, são convidados a participar os especialistas da área da ciência e os responsáveis económicos.

A “Coligação da Educação para o Clima” foi anunciada em dezembro de 2020 e a ideia é criar uma comunidade participativa pan-europeia para a educação para o clima. A plataforma ‘online’ deverá nascer em novembro, no Dia da Educação para o Clima. Até lá, entre julho e novembro, irão realizar-se ‘workshops’ para que as pessoas interessadas nestes projetos possam perceber como se envolver a criar a futura comunidade.

A comissária para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, Mariya Gabriel, sublinhou o trabalho realizado até ao momento e a importância de “conhecer modelos e melhores práticas que depois irão inspirar novas práticas”.

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Mais em pormenor, é de assentar em que a “Coligação da Educação para o Clima” pretende cocriar uma comunidade educacional participativa para apoiar as mudanças necessárias para uma sociedade neutra para o clima. E fá-lo procurando inspirar, desenvolver e tirar partido das capacidades educativas europeias inovadoras, bem como, enquanto comunidade, decidindo coletivamente, agindo de forma colaborativa e adaptando-se de forma sustentável.

Tem por objetivos: criar uma comunidade liderada por professores e alunos com as suas escolas e redes e outros atores educacionais; aprender com o máximo de experiências relevantes possível; e fragmentar a ponte entre os setores da educação, domínios e pessoas. Para tanto, é preciso que cada elemento participe na cocriação desta comunidade que envolve a comunidade educacional e as iniciativas da UE, apoia o intercâmbio de experiências e conhecimentos em educação em toda a UE e oferece um espaço online colaborativo para desbloquear, desenvolver e reutilizar ações inovadoras, concretas e envolventes de educação para o clima.

A “Coligação da Educação para o Clima” visa reunir toda a comunidade educacional da UE: professores, educadores, alunos, alunos, treinadores e pais em todos os níveis e tipos de instituição; e pessoas ativas em todo o sistema educacional, dos cuidados na primeira infância à aprendizagem de adultos. Também convida as partes interessadas na educação e outros organismos de educação a nível local, regional, nacional e europeu. Apoiará as mudanças necessárias “por meio do  envolvimento qualitativo da comunidade e trocas, por forma a: mobilizar todos os atores educacionais relevantes; convidar à participação e à imaginação; conectar atores que trabalham para uma abordagem de sistema escolar mais integrada; construir capacidade através da cocriação de experiências de aprendizagem; e desenvolver habilidades e competências orientadas para o futuro de alunos e professores. E, “por meio de estruturas, processos e práticas comunitárias inclusivas”,  quer:  a adoção de uma abordagem de aprendizagem holística e inclusiva de longo prazo; a união da educação com a ciência e os negócios, vinculando-os às estratégias de mudança climática regionais ou nacionais existentes ou emergentes; e a realização de experiências fundamentadas e grupos principais engajados para facilitar resultados qualitativos.

Tudo isto postula a criação de uma comunidade inclusiva e envolvente, de uma comunidade curiosa que leve a explorar o máximo de possibilidades, de uma comunidade criativa e inovadora, de uma comunidade diversificada que estenda a mão e compartilhe.

A coligação apoia a criação de uma comunidade pan-europeia que faça sentido, antes de mais nada, para cada um e para a comunidade educativa. Isso inclui alunos, professores, instrutores e partes interessadas em todos os níveis e tipos de instituição. Juntos, queremos inspirar, desenvolver e aproveitar iniciativas e ações educativas europeias inovadoras. O objetivo é apoiar as mudanças necessárias para uma sociedade neutra para o clima.

A comunidade de Educação para o Clima vive pelo empenhamento e compromisso de todos e de cada um. Oferece apoio a cada pessoa, à comunidade da educação, para desenvolver e partilhar ideias de educação sustentável e ações concretas em toda a UE.

Para isso, segue uma abordagem científica e transparente ao co-projetar a coligação; constrói um espaço online colaborativo para uma comunidade emergente de Educação para o Clima para desbloquear, desenvolver e reutilizar iniciativas de educação concretas nos níveis europeu, nacional, regional e local; permite que cada elemento faça recolhas, crie ideias, mostre, promova e implemente a sua iniciativa cocriada; e fornece apoio à comunidade a nível da UE através de uma plataforma de comunidade social

O trabalho de construção da “Coligação da Educação para o Clima” começou em dezembro de 2020 com a mira de criar uma coligação, uma comunidade ativa e em evolução. Os promotores quiseram ouvir todos os membros relevantes da comunidade educacional, para que, sabendo das necessidades desta, pudessem equacionar os requisitos para cocriar, moldar e apoiar a Educação para o Clima por forma a criar um modelo de comunidade funcional e em evolução.

Isso inclui a cocriação dum centro de comunidade online ainda este ano, o que se fará
em três fases de envolvimento: mapear, explorar e identificar as partes interessadas relevantes na educação; convocar, discutir e alinhar em torno dos blocos de construção da coligação; e desenhar participativamente a coligação.

 O design da coligação é um processo participativo, cocriado e iterativo. Foi pedido a professores e alunos com as suas escolas e redes, bem como a outros atores da educação e iniciativas existentes, que se envolvessem. Com eles, se constrói a coligação por meio da ampliação, do apoio e da promoção de ações educativas participativas e cocriadas.

A 10 de dezembro de 2020, abriu-se uma pesquisa Education for Climate Coalition.

A pesquisa convidou a comunidade educacional (professores, alunos e outras pessoas interessadas) em toda a UE a dizerem quem são, o que fazem e como podem ser ajudados.

Entre 10 de dezembro de 2020 e 31 de janeiro de 2021, foram recebidas 576 contribuições .

Para mobilizar experiências de educação, conhecimento e redes em toda a UE, falou-se com “os decisores”. E, com base na pesquisa e no mapeamento de iniciativas de educação em toda a UE, puderam selecionar-se e contactar-se pessoas para colaborar. Foram selecionadas com base em critérios que garantem uma diversidade de projetos presentes em nossa fase de codesign. Esses professores, alunos e outros envolvidos em atividades de educação verde foram os primeiros a serem convidados para grupos focais e workshops. Assim começou o trabalho de coprojetar a coligação e validar o protótipo.  

Numa série de grupos de foco e workshops entre março e junho de 2021, definiu-se porque deve a comunidade existir e o que ela aspira alcançar, o que poderá a comunidade agregar como valor e como poderá a comunidade facilitar o envolvimento no futuro (por meio de uma plataforma online). Todos esses elementos são parte dum protótipo de projeto de coligação lançado no primeiro encontro comunitário de Educação para o Clima em junho de 2021.

Desde o início, a comunidade educacional informou, consultou e formou a coligação. Mais de 80 embaixadores do grupo central compartilharam: as suas histórias, experiências e percepções; os seus fatores de sucesso; os seus principais desafios; e os seus sonhos de educação.

Enfim, pretende-se apoiar a criação duma comunidade pan-europeia participativa para a educação para o clima, que faz sentido, antes de tudo, para cada um dos atores e cada uma das instituições da comunidade educacional (alunos, professores, instrutores e partes interessadas em todos os níveis e tipos de instituição). Com esta comunidade, quer-se apoiar para inspirar, desenvolver e aproveitar as capacidades educacionais europeias inovadoras, capacidades que podem apoiar as mudanças necessárias para uma sociedade neutra para o clima.

A participação ativa e empenho de cada um são essenciais. Só assim esta comunidade emergente de Educação para o Clima pode ser um sucesso.

E ainda há mais a fazer para moldar a comunidade. A opinião de cada um é vital para criar uma comunidade participativa que apoie atividades educacionais inovadoras. Por isso, a coligação continua o trabalho comunitário com base neste protótipo. De julho a outubro, está aberta uma série de workshops voltados para a comunidade. Este trabalho desembocará no primeiro “Dia da Educação para o Clima em novembro de 2021, lançando um espaço comunitário colaborativo online” (https://education-for-climate.ec-europa.eu/_en).

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É de referir que também a ONU promove a Educação Climática, integrando a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (no âmbito dos ODS / objetivos do desenvolvimento sustentável), através da UNESCO e da Unicef, que disponibilizam recursos e atividades educativas, em diversos idiomas, para crianças e jovens, trabalhando a mudança climática a partir de muitas questões globais, como: desigualdade e ética; desigualdade de género; produção, transformação e transporte de alimentos; construção de infraestruturas; e tecnologias.

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Há muito que fazer: a temática é candente.

2021.07.25 – Louro de Carvalho

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