De verdade, a escola é chamada para
tudo, mas tem de ser, pois são cada vez mais e mais diversificadas as temáticas
para as quais o cidadão precisa de ter boa formação, dados os riscos que a
humanidade está a correr. A solução não estará na criação de mais áreas
disciplinares ou curriculares não disciplinares, a par das disciplinas que tradicionalmente
integram o currículo académico. E o problema não se resolve remetendo os temas
para a transversalidade disciplinar ou curricular, mas pela forte valorização
da área da educação para a cidadania, servida por uma equipa multidisciplinar.
Para isso, importa libertar a
escola do afunilamento curricular no “teste”, na “prova final” e no “exame nacional”,
acabar com a pergunta despudorada se isso conta para a nota, o que postula que se
ponham as coisas no seu devido lugar: a escola básica é fundamentalmente para
formar cidadãos com suficiente suporte de ferramentas para o seu
desenvolvimento pessoal e social: e a escola secundária é para dotar o cidadão
de currículo académico que lhe permite fazer opções de ingresso no mundo do
trabalho e/ou de prossecução nos estudos superiores. E mal é que a escola
secundária seja induzida a verificar se o aluno serve para este ou para aquele
curso superior. Devem ser as instituições do ensino superior a selecionar os
seus alunos (estou a
bradar ao vento). Ao invés, andamos a privar os
alunos da aquisição de conhecimentos estruturantes e do desenvolvimento de capacidades
importantes na fase adiantada da adolescência.
Em tempos idos, a prioridade,
digamos, extracurricular disciplinar era a educação ambiental, área que não
pode ser subestimada. E, nos últimos tempos, o acento é posto na educação
climática, o que é deveras pertinente. Assim, a 22 de junho, o Ministro da
Educação defendeu a importância da educação climática nas escolas, vincando que
os alunos são capazes de estimular as famílias e comunidades a aderir ao
movimento por vida mais sustentável. No encontro online “Educação pelo clima”, promovido pela
Comissão Europeia que reuniu professores, alunos, e decisores políticos, Brandão
Rodrigues, questionado sobre a “sua educação de sonho para iniciativas
climáticas no futuro”, disse que “é aquela que coloca os alunos no centro da
mudança nas nossas sociedades” e que a aposta tem de passar por uma educação
climática que forme os jovens “a serem os catalisadores dessa mudança,
estimulando as suas famílias, as redes fechadas e as comunidades a aderirem ao
movimento de uma vida mais sustentável”.
Por seu turno, Pramod Kumar Sharma, da Fundação para a
Educação Ambiental – Eco-Escolas, disse que “Educação não é só o que se aprende
na escola”, mas também a forma como através dela se consegue chegar às
famílias: enfim, “precisamos de pensar para lá das escolas”.
Vários dos presentes defenderam a ideia de que pela educação
ambiental se promovem valores e mudam atitudes e comportamentos. O Ministro
disse que este é um trabalho que deve começar com os mais novos, os “de tenra
idade”. E Max Eisenbart, estudante holandês envolvido no “Spark the movement”, sustentou
que a questão ambiental não pode ser algo extra curricular, mas “precisamos de
tempo no currículo (…) e os professores precisam de
liberdade”.
Uma outra ideia defendida por Brandão Rodrigues é a de que o
currículo deve ser uma “estrutura dinâmica e flexível, capaz de abranger outras
áreas do conhecimento, além das tradicionais”, sendo a educação climática
certamente “uma dessas áreas”. Por isso, frisou a importância de os decisores
políticos facilitarem a formação de professores nesta área assim como de se desenvolverem
“materiais de apoio pedagógico para professores e alunos com foco na educação
climática para todos os níveis de ensino”. Mais: neste processo, os alunos
pedem para serem ouvidos e para fazerem parte do trabalho que deve ser
colaborativo. E, no pressuposto de que a crise climática só se resolve todos
estivermos juntos, o referido estudante holandês disse que “têm de ouvir as
nossas ideias e trabalhar connosco”. “Espero
que deem um espaço para discutirmos este assunto”, acrescentou, pedindo que
seja uma discussão que envolva estudantes, professores, decisores políticos e
empresários.
Tudo isto vem na esteira do projeto online que
está a nascer, a “Coligação da Educação
para o Clima”, que permite criar uma comunidade europeia sem fronteiras,
que envolva as comunidades escolares e outros atores educacionais. Através duma
plataforma online, é possível a um aluno numa aldeia do interior
conhecer um projeto de outra escola situada do outro lado da Europa, permitindo
o intercâmbio de experiências e conhecimentos em toda a UE. A ideia é que a
plataforma europeia sirva para desbloquear, desenvolver ou reutilizar ações que
tenham sido bem-sucedidas e que permitam desenvolver uma sociedade neutra para
o clima. Neste projeto não há limite de idades, nem discriminação quanto ao
tipo de instituição de ensino.
Neste sentido, disse Anne Karjalainen, membro do Comité
Europeu das Regiões e Presidente da Comissão SEDEC (Commission for Social Policy, Education, Employment and
Culture):
“A população adulta também precisa de ser
envolvida. Temos de ser inclusivos, não podemos discriminar ninguém.”.
No trabalho de desenho de novas estratégias que garantam a
sustentabilidade ambiental, são convidados a participar os especialistas da
área da ciência e os responsáveis económicos.
A “Coligação da
Educação para o Clima” foi anunciada em dezembro de 2020 e a ideia é criar
uma comunidade participativa pan-europeia para a educação para o clima. A
plataforma ‘online’ deverá nascer em novembro, no Dia da Educação para o Clima.
Até lá, entre julho e novembro, irão realizar-se ‘workshops’ para que as
pessoas interessadas nestes projetos possam perceber como se envolver a criar a
futura comunidade.
A comissária para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação
e Juventude, Mariya Gabriel, sublinhou o trabalho realizado até ao momento e a
importância de “conhecer modelos e melhores práticas que depois irão inspirar
novas práticas”.
***
Mais
em pormenor, é de assentar em que a “Coligação
da Educação para o Clima” pretende cocriar uma comunidade educacional participativa para apoiar as mudanças necessárias para uma
sociedade neutra para o clima. E fá-lo procurando inspirar, desenvolver e tirar
partido das capacidades educativas
europeias inovadoras, bem como, enquanto comunidade, decidindo coletivamente, agindo de forma colaborativa e adaptando-se de
forma sustentável.
Tem por objetivos:
criar uma comunidade liderada por professores e alunos com as suas escolas
e redes e outros atores educacionais; aprender com o máximo de experiências
relevantes possível; e fragmentar a ponte entre os setores da educação,
domínios e pessoas. Para tanto, é
preciso que cada elemento participe na cocriação desta comunidade que envolve
a comunidade educacional e as iniciativas da UE, apoia o intercâmbio de
experiências e conhecimentos em educação em toda a UE e oferece um espaço
online colaborativo para desbloquear, desenvolver e reutilizar ações
inovadoras, concretas e envolventes de educação para o clima.
A
“Coligação da Educação para o Clima” visa reunir toda a
comunidade educacional da UE: professores, educadores, alunos, alunos,
treinadores e pais em todos os níveis e tipos de instituição; e pessoas ativas
em todo o sistema educacional, dos cuidados na primeira infância à aprendizagem
de adultos. Também convida as partes interessadas na educação e outros
organismos de educação a nível local, regional, nacional e europeu. Apoiará as mudanças necessárias “por meio do envolvimento
qualitativo da comunidade e trocas”, por forma a: mobilizar todos os atores educacionais
relevantes; convidar à participação e à imaginação; conectar atores que
trabalham para uma abordagem de sistema escolar mais integrada; construir
capacidade através da cocriação de experiências de aprendizagem; e desenvolver
habilidades e competências orientadas para o futuro de alunos e professores. E,
“por meio de estruturas, processos e práticas comunitárias inclusivas”, quer: a
adoção de uma abordagem de aprendizagem holística e inclusiva de longo prazo; a
união da educação com a ciência e os negócios, vinculando-os às estratégias de
mudança climática regionais ou nacionais existentes ou emergentes; e a realização
de experiências fundamentadas e grupos principais engajados para facilitar
resultados qualitativos.
Tudo isto
postula a criação de uma comunidade inclusiva e envolvente, de uma comunidade
curiosa que leve a explorar o máximo de possibilidades, de uma comunidade
criativa e inovadora, de uma comunidade diversificada que estenda a mão e
compartilhe.
A coligação apoia a criação de uma comunidade pan-europeia que faça
sentido, antes de mais nada, para cada um e para a comunidade educativa. Isso inclui alunos, professores, instrutores e partes
interessadas em todos os níveis e tipos de instituição. Juntos, queremos
inspirar, desenvolver e aproveitar iniciativas e ações educativas europeias
inovadoras. O objetivo é apoiar as mudanças necessárias para uma sociedade
neutra para o clima.
A comunidade de Educação para o Clima vive pelo empenhamento e compromisso
de todos e de cada um. Oferece apoio a cada pessoa, à comunidade da educação,
para desenvolver e partilhar ideias de educação sustentável e ações concretas
em toda a UE.
Para isso, segue
uma abordagem científica e transparente ao co-projetar a coligação; constrói um
espaço online colaborativo para uma comunidade emergente de Educação para o
Clima para desbloquear, desenvolver e reutilizar iniciativas de educação
concretas nos níveis europeu, nacional, regional e local; permite que cada
elemento faça recolhas, crie ideias, mostre, promova e implemente a sua
iniciativa cocriada; e fornece apoio à comunidade a nível da UE através de uma
plataforma de comunidade social
O trabalho
de construção da “Coligação da Educação para o Clima” começou em dezembro de 2020 com a mira de criar uma
coligação, uma comunidade ativa e em evolução. Os promotores quiseram ouvir
todos os membros relevantes da comunidade educacional, para que, sabendo das necessidades
desta, pudessem equacionar os requisitos para cocriar, moldar e apoiar a Educação
para o Clima por forma a criar um modelo de comunidade funcional e em evolução.
Isso inclui
a cocriação dum centro de comunidade online ainda este ano, o que se fará
em três fases de envolvimento: mapear, explorar e identificar as partes interessadas
relevantes na educação; convocar, discutir e alinhar em torno dos blocos
de construção da coligação; e desenhar participativamente a coligação.
O
design da coligação é um processo participativo, cocriado e iterativo. Foi
pedido a professores e alunos com as suas escolas e redes, bem como a outros
atores da educação e iniciativas existentes, que se envolvessem. Com eles, se
constrói a coligação por meio da ampliação, do apoio e da promoção de ações
educativas participativas e cocriadas.
A 10 de dezembro
de 2020, abriu-se uma pesquisa Education for Climate Coalition.
A pesquisa
convidou a comunidade educacional (professores, alunos e outras
pessoas interessadas) em toda a
UE a dizerem quem são, o que fazem e como podem ser ajudados.
Entre 10 de
dezembro de 2020 e 31 de janeiro de 2021, foram recebidas 576
contribuições .
Para
mobilizar experiências de educação, conhecimento e redes em toda a UE, falou-se
com “os decisores”. E, com base na pesquisa e no mapeamento de iniciativas de
educação em toda a UE, puderam selecionar-se e contactar-se pessoas para
colaborar. Foram selecionadas com base em critérios que garantem uma
diversidade de projetos presentes em nossa fase de codesign. Esses professores,
alunos e outros envolvidos em atividades de educação verde foram os primeiros a
serem convidados para grupos focais e workshops. Assim começou o trabalho
de coprojetar a coligação e validar o protótipo.
Numa série
de grupos de foco e workshops entre março e junho de 2021, definiu-se porque deve a comunidade existir
e o que ela aspira alcançar, o que poderá
a comunidade agregar como valor e como poderá a comunidade facilitar o
envolvimento no futuro (por meio de uma plataforma online). Todos esses elementos são parte dum protótipo de
projeto de coligação lançado no primeiro encontro comunitário de Educação para
o Clima em junho de 2021.
Desde o
início, a comunidade educacional informou, consultou e formou a coligação. Mais
de 80 embaixadores do grupo central compartilharam: as suas histórias,
experiências e percepções; os seus fatores de sucesso; os seus principais
desafios; e os seus sonhos de educação.
Enfim, pretende-se
apoiar a criação duma comunidade pan-europeia participativa para a educação
para o clima, que faz sentido, antes de
tudo, para cada um dos atores e cada uma das instituições da comunidade
educacional (alunos, professores, instrutores e partes
interessadas em todos os níveis e tipos de instituição). Com esta comunidade, quer-se apoiar para inspirar,
desenvolver e aproveitar as capacidades educacionais europeias
inovadoras, capacidades que podem apoiar as mudanças necessárias para uma
sociedade neutra para o clima.
A participação
ativa e empenho de cada um são essenciais. Só assim esta comunidade emergente de Educação para o Clima pode ser um
sucesso.
E ainda há
mais a fazer para moldar a comunidade. A opinião de cada um é vital para criar
uma comunidade participativa que apoie atividades educacionais inovadoras. Por isso,
a coligação continua o trabalho comunitário com base neste protótipo. De julho a outubro, está aberta uma
série de workshops voltados para a comunidade. Este trabalho desembocará
no primeiro “Dia da Educação para o Clima
em novembro de 2021, lançando um espaço comunitário colaborativo online” (https://education-for-climate.ec-europa.eu/_en).
***
É de referir que também a ONU promove a Educação
Climática, integrando a Educação
para o Desenvolvimento Sustentável (no âmbito dos ODS / objetivos do
desenvolvimento sustentável), através da UNESCO e da Unicef, que disponibilizam recursos e
atividades educativas, em diversos idiomas, para crianças e jovens, trabalhando
a mudança climática a partir de muitas questões globais, como: desigualdade e ética; desigualdade de género; produção, transformação e transporte de alimentos; construção de infraestruturas; e tecnologias.
***
Há muito
que fazer: a temática é candente.
2021.07.25 – Louro de Carvalho
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