É a chave de leitura apresentada por Dom Ivo Scapolo, Núncio Apostólico em Portugal, na Peregrinação destes dias 12 e 13 de junho em Fátima, a que presidiu.
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A
Peregrinação Internacional Aniversária de junho evocou a segunda aparição da Virgem
aos três Pastorinhos e foi a
segunda grande peregrinação deste ano pastoral que teve como tema “Louvai o Senhor, que levanta os fracos”, expressão que orienta toda
a atividade pastoral do
Santuário neste ano.
E já contou com grupos estrangeiros,
nomeadamente espanhóis e italianos, que se inscreveram nos serviços do
Santuário de Fátima.
Neste dia fez-se,
também, memória da chegada à Cova da Iria, da Imagem de Nossa Senhora de
Fátima, que se venera na Capelinha, que se realizou há 101 anos.
Neste dia 13,
a peregrinação viveu o seu primeiro momento com o Rosário, às 9 horas, seguido
da Missa Internacional, com a Palavra ao doente, e finalizou com a Procissão do
Adeus.
Todas as
celebrações da peregrinação de junho, que tiveram, pela primeira vez,
interpretação em Língua Gestual Portuguesa, foram transmitidas no site do
Santuário, TV e Rádio canção Nova, Rádio Renascença, Rádio Maria, tendo a missa
deste domingo tido transmissão em canal aberto na TVI. Além disso, o Santuário
disponibilizou vários ecrãs no Recinto para concitar a melhor participação dos
peregrinos. Tudo isto num evidente esforço de inclusão.
O Recinto de
Oração do Santuário voltou a registar a lotação máxima prevista para estas
celebrações, conforme as regras de segurança estabelecidas pelo Santuário, em
articulação com as autoridades de saúde, desde o início da pandemia, que impõem
o cumprimento da distância física entre os peregrinos, o uso da máscara e o
recebimento da comunhão apenas na mão e no lugar de cada grupo de peregrinos, para
evitar deslocações comprometedoras do distanciamento.
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Na primeira
homilia proferida na Cova da Iria, durante a celebração da Palavra que se
seguiu à Procissão das Velas, no dia 12, Dom Ivo Scapolo destacou que o Coração
Imaculado de Maria reflete “a força infinita do Amor misericordioso” de Deus,
que “detém o mal” e “transforma consciências”. Vincou a “feliz e significativa
coincidência” da sua estreia como presidente duma celebração em Fátima com a
memória litúrgica do Coração Imaculado de Maria, de que fala a segunda
Aparição, segundo o relato de Lúcia, e que se celebrou neste sábado. E
acentuou:
“Sabemos
que foi uma missão que a Irmã Lúcia realizou com muita intensidade, fidelidade
e perseverança, encontrando um importante apoio da parte dos vários Papas”.
De facto, em
1942, o Papa Venerável Pio XII, que havia sido consagrado Bispo no dia 13 de
maio de 1917, estendeu a toda a Igreja a Memória Litúrgica do Coração Imaculado
de Maria, estabelecendo que deveria celebrar-se no dia seguinte à Solenidade do
Sagrado Coração de Jesus, que se assinalou no passado dia 11. Em 1996, para lhe
dar maior importância, São João Paulo II elevou-a à categoria de Memória
Litúrgica obrigatória. Além disso, em diversas ocasiões, vários Papas,
respondendo aos pedidos de Lúcia, efetuaram, em comunhão com os bispos de todo
o mundo, a consagração da Igreja e de toda humanidade ao Coração Imaculado de
Maria. Também o Papa Francisco cumpriu um “Ato de Consagração a Nossa Senhora
de Fátima” no dia 13 de outubro de 2013, na Praça de São Pedro, no final da
Missa por ocasião da Jornada Mariana. Por isso, o presidente da
Peregrinação exortou:
“Ao
recordar a missão que a Virgem Maria confiou aos três pastorinhos – e de
maneira particular a Lúcia – de estabelecer no mundo a devoção ao seu Imaculado
Coração, convido-vos a fazer como própria, nesta noite especial, umas partes do
Ato de entrega a Nossa Senhora de Fátima, que São João Paulo II realizou diante
da mesma Imagem da Virgem de Fátima, na Praça de São Pedro, em 25 de
março de 1994, no contexto do Ano Jubilar da Redenção, em comunhão com os
Bispos de todo o mundo”.
Nesse Ato de
Consagração, Dom Ivo Scapolo pediu proteção “à Mãe dos homens e dos
povos”, num tempo marcado “pelo sofrimento” para que ilumine a humanidade “nos
caminhos da fé, da esperança e da caridade” – na sequência factual da pandemia
e dos seus efeitos devastadores na vida de tantas pessoas e famílias, “nomeadamente
as mortes, a doença, a precarização da vida económica”, temas que foram lembrados
na Recitação do Rosário e na Oração dos Fiéis, pedindo a intercessão de Nossa
Senhora para que o “seu coração Imaculado seja para todos conforto no desânimo
e na solidão”.
Desafiou,
pois, o Núncio Apostólico os peregrinos presentes na Cova da Iria na noite do
dia 12, a consagrarem-se ao Coração Imaculado de Maria para nele encontrarem a
consolação de Deus e a luz que precisam para as suas vidas, recorrendo à oração
feita por São João Paulo II, na Praça de São Pedro, no Vaticano, diante da
Imagem que se venera na Capelinha das Aparições.
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Na homilia deste dia 13, o prelado diplomata sublinhou o papel de Maria
como colaboradora do plano de salvação de Deus e considerou os Pastorinhos como
frutos desse plano. Com efeito,
como referiu, as aparições de Maria, em diferentes países e continentes, como
em Fátima há 104 anos, “expressam a atenção de Deus pela humanidade”.
E explicou:
“Ela, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja,
continua a colaborar para ajudar-nos a cumprir na história da humanidade a
missão que seu Filho Jesus deixou aos seus Apóstolos, de anunciar o Evangelho e
de batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É no marco deste
grande plano de Salvação que Deus quis que a Virgem Maria interviesse muitas
vezes na história da Igreja.”.
Sobre a
condição de Maria como Mãe da Igreja, o presidente da celebração observou:
“Como Mãe da Igreja Ela ama-nos e
toma cuidado de nós; por isso, Ela vem ao nosso encontro para nos indicar o
caminho de conversão a seguir e os instrumentos a utilizar para ser dignos, um
dia, de entrar na Casa de Deus Pai”.
E,
relativamente às aparições na Cova da Iria, declarou:
“As aparições que a Virgem Maria
realizou aqui em Fátima há 104 anos fazem parte desta missão que a Virgem Maria
está a realizar, pedindo também a nossa colaboração. Como pediu aos três
pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, que colaborassem para a salvação das
almas, sobretudo para a conversão dos pecadores, assim também hoje nos pede a mesma
colaboração.”.
Aliás, nesta
segunda homília que proferiu em Fátima, onde pela primeira vez presidiu a uma
peregrinação internacional, o diplomata da Santa Sé encareceu o papel dos três Pastorinhos,
chamados a colaborar neste plano de Deus. E explanou:
“Podemos dizer que os três Pastorinhos
são como o grão de mostarda que – apesar da sua fragilidade e pequenez, não
obstante tantas ameaças, incompreensões, dificuldades e obstáculos, graças à
obra do Espírito e à ajuda maternal da Virgem Maria – estiveram na origem da
realidade deste Santuário de Fátima onde tanta gente, como neste momento, vem
abrigar-se à sua sombra, buscando consolação, força, graças para si e para os
seus entes queridos”.
Há aqui uma
explícita referência ao grão de mostarda a que é comparado o Reino de Deus nos
termos da segunda parábola enunciada na passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,26-34) proclamada na liturgia deste 11.º domingo do Tempo
Comum no Ano B. Porém, o Núncio Apostólico, não só tem como subtexto a
comparação do Reino à pequena semente – que, lançada à terra, germina, cresce e
produz, por si e sucessivamente, a planta, a espiga e o trigo maduro –, como vai
ao ponto de comparar os Pastorinhos à predita semente, núcleo de eficácia e
discrição, aquilo a que são chamados todos e cada um dos crentes. Ao mesmo tempo, recordou todos aqueles e todas aquelas que procuram o Santuário em busca
de “consolação”, de “conforto” e de “esperança”, reiterando o incentivo aos peregrinos
de Fátima a viverem a devoção ao Imaculado Coração de Maria, de que a Serva de
Deus Lúcia de Jesus foi promotora incansável. E verificou:
“Tanta gente vem a este lugar para
perceber no seu coração as mesmas palavras que Nossa Senhora disse a Lúcia
neste mesmo lugar, em 13 de junho de 1917: ‘Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá a Deus’.”.
E, evocando
mais uma vez a sobredita passagem evangélica, que aponta que os frutos virão só
no tempo da colheita, não aparecendo “como, quando e quanto esperávamos”, disse
que “temos de confiar em Deus, convencidos de que a nossa colaboração não foi
inútil” e sublinhou:
“É Deus que salva, porém, pede a
nossa colaboração, que é constituída por tudo o que podemos fazer de bem e de
bom: orações, sacrifícios, penitências, serviços, doações, testemunhos,
iniciativas corajosas e criativas, obras de misericórdia corporal e espiritual”.
Por isso, Dom
Ivo Scapolo lembrou que é preciso “deixar que o fogo do amor que enche o seu
coração possa expandir-se também no nosso coração, a fim de também nós podermos
difundir este incêndio de amor”. E esclareceu:
“Também nos pede que rezemos muito,
sobretudo a oração do Rosário, para conduzir as mentes e os corações a uma cada
vez maior sintonia com os sentimentos com os quais ela colaborou no grande
Plano de salvação”.
Por fim, o
diplomata da Santa Sé, natural de Pádua, rematou a homilia evocando a memória (festa em
Portugal e solenidade em Lisboa) de Santo
António de Lisboa, de Pádua ou de todo o mundo, como lhe chamou o Papa Leão
XIII, “ao qual” – disse – “estou particularmente afeiçoado, uma vez que
concluiu a sua peregrinação terrena na minha cidade, onde é muito amado e
venerado”. E, terminou a sua alocução aos peregrinos com uma oração do santo
português, dedicada à Virgem Maria, que se transcreve:
“Senhora
nossa, única esperança nossa, suplicamos-te que ilumines as nossas mentes com o
esplendor da tua graça, que nos aqueças com o calor da tua visita e que nos
reconcilies com o teu Filho, para que possamos merecer chegar ao esplendor da
sua glória”.
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Na usual
palavra ao doente, Pedro Santa Marta, da Associação dos Servitas de Nossa
Senhora de Fátima, lembrou as palavras de esperança que a Senhora legou a Lúcia
e convidou todos os que sofrem” a oferecerem, “com ternura e reconhecimento à
Mãe do Céu”, pela remissão dos pecados e conversão dos pecadores a “grande
riqueza” do seu sofrimento e das suas dores.
“Nunca esqueçais algo que já sabeis:
Deus é amor! Um amor imenso, terno e acolhedor, exigente e justo (…) e como
prova desse amor enviou-nos o Seu Filho, que se fez homem e nos salvou, através
da Sua pregação, do imenso sofrimento da Sua paixão e morte. E enviou-nos Nossa
Senhora que, com a sua imensa ternura, veio pedir a nossa consagração a Deus,
através da consagração ao Seu Imaculado Coração, convidando-nos a intensificar
a nossa oração e a oferecer o nosso caminho de conversão e salvação.” –
pediu.
No dia em
que a Igreja celebra a memória de Santo António de Lisboa, o Cardeal Dom
António Marto, Bispo de Leiria-Fátima recebeu, por intermédio do Núncio
Apostólico, mensagens de felicitações pela sua festa onomástica da parte do
Papa, do Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, e do Substituto
para os Assuntos Gerais, Monsenhor Edgar Peña Parra:
“Fraternas felicitações pela sua
festa onomástica com particular menção da sua pessoa e intenções junto do
Senhor, pedindo-lhe que continue a cumulá-lo com seus dons enquanto,
agradecido, lhe envio, extensiva a familiares e toda a sua diocese, a bênção
apostólica, continue a rezar por mim” – escreveu o Santo Padre.
Dom António
Marto agradeceu, na palavra final à assembleia, as felicitações pontifícias e
pediu a Dom Ivo que fizesse chegar ao Papa o “afeto de todos os peregrinos
presentes na Cova da Iria” e a certeza de que a Sua intenção está sempre
presente nas orações dos que vêm a Fátima.
“Que Nossa Senhora de Fátima O abençoe e lhe
dê a coragem para o exercício do Seu ministério, neste momento difícil, seja
para a Igreja, seja para a humanidade” – disse o purpurado fatimita, que
endereçou também uma mensagem de afeto a todos os que não puderam estar na Cova
da Iria neste 12 de junho, em especial os doentes.
***
Que Fátima e
o Santuário não esmoreçam e prossigam cada vez com mais ardor o múnus da
evangelização, da espiritualidade e da atenção afetiva e efetiva a quem mais
precisa.
2021.06.13 – Louro de Carvalho
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