O Movimento
Católico Global pelo Clima ou Global Catholic Climate Movement (WCCM) teve, já na Quaresma de 2020, a ideia de desenvolver
uma Via-Sacra que pudesse ligar as 14 estações da prática litúrgica com a Encíclica
Laudato si’ do Papa Francisco. A
intenção foi refazer o caminho de Cristo em direção à sua morte na Cruz e,
depois, a Ressurreição para, em tempo de pandemia, restaurar um lampejo de
esperança no futuro.
Nestes termos,
nasceu então a “Via-Sacra Laudato si’ ”, que apresenta uma nova leitura da
devoção quaresmal da Via-Sacra e compagina a preocupação com o cuidado da Casa
Comum à luz da Encíclica de Francisco. Esta iniciativa mantém, nesta Quaresma
de 2021, pertinente atualidade e podendo provocar forte impacto espiritual.
Esta
iniciativa, surgida da colaboração, da partilha e da consciência pessoal,
constitui um percurso espiritual que inclui experiências e reflexões geradas
pela necessidade de rezar durante o confinamento a que os países se submeteram
por causa da pandemia do novo coronavírus. É um trabalho conjunto do Movimento
Católico Global pelo Clima e da Cube Radio, a emissora radiofónica oficial do
Instituto Universitário Salesiano de Veneza e Verona (IUSVE).
Entretanto,
a Cube Radio, emissora oficial do IUSVE, colaborou com o WCCM na criação de uma
Via-Sacra digital para a Quaresma de 2021, acrescentando às meditações e textos
das 14 estações uma série de gráficos adequados ao compartilhamento nas redes
sociais – uma inovação relativamente ao ano passado. E o Padre Nicola
Giacopini, diretor da IUSVE, explica:
“Com este serviço esperamos ter oferecido a muitos jovens uma
oportunidade a mais para refletir e rezar durante esta Quaresma, tão marcada
pelas restrições da emergência sanitária”.
Em cada
estação foi inserido um jovem com roupa contemporânea, sinal da participação,
em primeira pessoa, no sofrimento de Cristo e na proximidade com os mais
frágeis. E Marica Padoan, coordenadora da equipa gráfica da Cube Radio, explica:
“Todas as vezes que o madeiro da Cruz aparece, tem um broto verde, um
sinal de esperança na Ressurreição, mas também uma referência ao Livro de
Ezequiel e ao Evangelho de Lucas: ‘se é assim que o lenho verde é tratado, o
que acontecerá com o seco?’.”.
O grupo de trabalho
ligado à emissora académica do IUSVE desenvolveu o projeto digital em
colaboração com alguns professores que apoiaram a equipa na coerência gráfica e
pastoral: Luca Chiavegato, Federico Gottardo e Carlo Meneghetti, bem como o
responsável pela comunicação integrada, Michele Lunardi.
A Via-Sacra
está publicada nas redes sociais da Cube Radio e no site do Setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé,
Na verdade,
os períodos de confinamento provocam em muitas pessoas uma sensação de solidão,
de abandono e de afastamento do seu grupo de referência, situação psicossocial
e moral que tem sido quebrada pela presença do outro, muitas vezes mediada pela
tela ou ecrã.
O trabalho
nasceu espontaneamente da base em resultado da consciência da necessidade
coletiva de rezar e de se confiar ao Senhor para ter a esperança de superar a
situação crítica que o vírus vem causando a nível planetário já desde março de
2020.
Antonio
Caschetto, coordenador dos Círculos
Laudato si’ na Itália, testemunha o grande envolvimento tanto ao nível da
escrita das meditações como ao nível de fruição. E o fruto deste compromisso
foi o grande número de pessoas que participaram ao vivo, através da Web, na prática litúrgica da Via-Sacra
em 2020. Foi o início duma caminhada comum que nasceu na esteira da de Cristo,
que nos deu, com a Cruz sobre os ombros, a salvação, caminhada que hoje
continua a ter premência humana e espiritual.
As
meditações da Via-Sacra inspiradas na Laudato
si’ tomaram forma mercê da colaboração de numerosas equipas. E a sinergia
entre o Movimento Católico Global pelo Clima da Itália e da África foi fundamental,
apoiada pelo grupo da comunicação para o Movimento e por muitos animadores e
representantes dos vários círculos italianos.
As
meditações ligadas às estações individuais estão relacionadas com os temas da Laudato si’ e à experiência particular
de pandemia, o que levou à reflexão sobre a fragilidade e o sofrimento de todo
o planeta. Por exemplo, as lágrimas enxugadas por Verónica estão correlacionadas
com as do povo sírio e com as dos pobres. A morte de Cristo na Cruz levou a
refletir sobre as muitas mortes causadas pelo coronavírus, o que pôs o mundo de
cócoras e colocou as pessoas de joelhos diante de Deus e dos irmãos.
Antonio
Caschetto trabalha desde Assis na formação de Animadores Laudato si’ e, além de ser coordenador dos programas
italianos do Movimento Católico Global pelo Clima, integra uma equipa
internacional de “Eco espiritualidade”.
E, mercê da sua experiência nessa área, foi capaz de ajudar a coordenar a redação
das meditações da Via-Sacra, tudo em sintonia com um dos principais convites do
Papa na Laudato si’: “tomar dolorosa consciência, ousar,
transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim,
reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar”. Ora, é, como testemunha
Caschetto, a escolha de transformar em consciência dolorosa até o nosso pecado
em relação ao planeta que impulsiona mais “a ouvir o grito da terra e dos
pobres”. Com efeito, o grito da terra é indissociável do grito dos pobres, que
não podem esperar e que a recusa ou a lentidão do abandono dos caprichos da
parte dos grandes, ricos e poderosos impede de resolver o problema da pobreza e
miséria que alastra pelo orbe.
A leitura da
Laudato si’ em contexto de pandemia
trouxe de volta novas perspetivas que revelam a atualidade e a emergência dos
temas propostos pela encíclica. A estigmatização, na Via-Sacra organizada pelo
WCCM, de práticas económicas e sociais injustas e a chamada de atenção para os
pobres e as diversas fragilidades que marcam os seres humanos são aspetos que
podem ajudar a reativar a consciência, na esperança de podermos entender como
mesmo um pequeno gesto individual pode levar a mudanças em nível planetário.
A meditação
da última estação põe em foco, em especial, a relação do homem com a Criação, perceção
que mudou significativamente após o período de confinamento dentro das paredes
de casa. Do sofrimento emerge um sinal claro de esperança. Com efeito, como se
lê na meditação, “esta epidemia é um verdadeiro rochedo”, pelo que devemos ter
consciência disso e, ao mesmo tempo, “tirar força deste momento de dificuldade,
para que este epílogo seja realmente um novo começo para nós”. Estes anos difíceis
que passam para todos podem ser transformados em valiosa lição também a nível
de consciência ambiental e constituir um desafio que pode levar a humanidade a evoluir
e a amadurecer no que diz respeito ao cuidado da Casa Comum.
É necessário
olhar a natureza como uma aliada e não como ameaça. Por isso, o itinerário
litúrgico de seguimento da via da Cruz de Cristo propõe um caminho de
reconciliação connosco mesmos e com o que nos rodeia, homens e meio ambiente.
As ações
humanas que prejudicam o planeta podem ser crimes reais em termos jurídicos.
“A indiferença de Pilatos que marca o nosso tempo diante de crimes e
injustiças causadas por uma economia extrativista, que está a prejudicar a
nossa Casa Comum e os nossos irmãos e irmãs, é fruto do medo de ir contra a
corrente, de se posicionar entre os últimos e com os últimos, porque tomar partido
custa muito caro. E assim Pilatos, com o seu silêncio, entrega o inocente e entrega-o
aos outros para ser crucificado.” – sublinha o professor Marco Monzani,
jurista, criminologista e professor universitário, que comenta a primeira
estação da Via-Sacra.
O criminologista
destaca, por exemplo, como a apropriação clandestina dos elementos naturais dos
quais as tribos indígenas vivem por parte das multinacionais será um crime muito
grave. Monzani no ensaio “A Mãe Terra
está cansada”, escrito a quatro mãos com Emilio C. Viano, dedicado ao tema
dos crimes contra o nosso planeta, destacou:
“As vítimas de escolhas ambientais causadas pelo homem ainda são pouco
reconhecidas como tais pela opinião pública e pelas agências de controlo formal
e quase não são consideradas de forma alguma pelas escolhas políticas. A
sociedade, tal como está organizada hoje, não vai à procura das vítimas. Devem
ser as próprias vítimas a chamar a atenção para um problema que a sociedade é
incapaz de resolver por si só.”.
Marco
Monzani, que também é presidente da AIC (Associação Italiana de Criminologia) e membro da ISC (Board of Directors della International
Society of Criminology), espera que
haja em breve uma mudança, para que os mais fracos que precisam ser defendidos,
não atacados, possam ser respeitados e apoiados e para que “a mãe terra se
torne um lugar de todos e para todos, também em vista do bem daqueles que virão
depois de nós”.
A Via-Sacra responde
a algumas necessidades fundamentais: disponibilizar um instrumento de reflexão
e oração aos usuários confinados em suas residências por conta da emergência
sanitária; criar 14 imagens que remetem à iconografia clássica da Via Crucis, revisitando-as com gráficos
contemporâneos e em formatos adequados às redes sociais; e permitir interação
social.
Em cada
estação um jovem é representado ao lado de Cristo sofredor, uma forma de
recordar a participação do mundo juvenil neste caminho litúrgico, bem como um
elemento ligado à terra e outro ligado ao céu, um sinal ao mesmo tempo da
Sacrifício eucarístico que “une o céu e a terra” (Laudato si’, 236), ambos dos sofrimentos que o nosso planeta também encontra
em decorrência de poucos cuidados e crimes ambientais.
Clicar em
cada estação disponibilizará: o ícone da estação; o texto do Evangelho
extraído do livrinho litúrgico da Via
Crucis presidido pelo Papa Francisco em 2020; e uma curta meditação
escrita trata da edição de março de 2020 editada pelo Global Catholic Climate Movement.
Mais uma
forma de viver em Quaresma em modo de caminhada para a Páscoa olhando para o
céu, na oração, olhando para a obra da Criação, de que devemos cuidar e
completar e abstermo-nos de a diminuir ou aniquilar, e olhando para quem sobre
a doença, a pobreza, a exploração ou o descarte, em jeito de partilha.
2021.03.23 – Louro de Carvalho
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