Deus
criou o mundo; as criaturas povoam-no e usufruem dele.
Os arquitetos
desenham magistralmente o mundo; os engenheiros executam-no em boa segurança se
não houver azar.
Os filósofos
pretendem interpretar o mundo; os políticos conduzem-no, às vezes bem mal, e
poderiam transformá-lo.
Os cientistas
pesquisam o mundo e dão-no a conhecer; os técnicos mexem-no e remexem-no.
Os agricultores
e os mineiros revolvem o mundo; os operários completam-no e diversificam-no.
Os artistas
recriam e embelezam o mundo; os poetas sentem-no e cantam-no.
Os geógrafos
e os cosmógrafos descrevem o mundo sincronicamente; os historiadores narram-no
ao logo dos milénios em notável, embora sempre discutível diacronia.
Os antropólogos
explicam o lado humano do mundo; os sociólogos tentam entendê-lo e têm a veleidade
de o avaliar.
Os geólogos
minam o mundo e pesquisam os seus lugares mais recônditos; os biólogos vivem-no
e captam-lhe os segredos mais bem urdidos da vida.
Os
físicos conhecem o mundo, palpam-no e equacionam as suas leis; os matemáticos numeram-no
e codificam-no.
Os geómetras
medem o mundo, figuram-no e lançam as bases de outros patamares do mundo; os construtores
diversificam-no e alteram o seu ordenamento.
Os crentes
rezam o mundo e zelam pela sua integridade; os músicos entoam-no e enchem-no de
melodia, harmonia e ritmo.
Os turistas
percorrem o mundo por curiosidade e necessidade de repossuo; os peregrinos sofrem-no
e calcorreiam-no alegremente por motivos religiosos e por indizível necessidade
de o apreenderem, de se purificarem e de o purificarem.
Os inimigos
atacam o mundo; os cosmófilos defendem-no.
Os depredadores
destroem o mundo e desmantelam os seus ecossistemas; os ecologistas e ambientalistas
preservam-no e protegem-no.
Os militares,
em nome dos políticos, armam o mundo e tanto o podem reordenar e preservar como
o podem danificar e destruir; os civis usufruem-no, às vezes, de forma
anárquica ou de modo narcisista.
Os estrategos
planeiam e projetam o mundo; os operacionais reorganizam-no e retocam-no.
Os exploradores
procuram o mundo e, nele, os sítios mais inóspitos; os missionários tentam
convertê-lo sob a moção do Espírito.
Os malandros
gozam o mundo; os diligentes desenvolvem-no.
Os empresários
organizam-se no mundo e ganham-no; os trabalhadores sustentam-no.
A máquina
dinamiza o mundo; a inteligência e a vontade controlam-no e avaliam-no.
Os sábios
saboreiam o mundo e ensinam a conhecê-lo e tomar-lhe o gosto; os curiosos e
humildes aprendem-no.
Os grandes
governam direta ou indiretamente o mundo; os pequenos aguentam-no.
Os contabilistas
calculam o mundo e conferem os resultados das atividades mundanas; os administradores
gerem-no, nem sempre bem.
Os economistas
perspetivam o mundo; os financeiros orçam-no, compram-no e vendem-no.
Os parcimoniosos
poupam o mundo; os pródigos esbanjam-no.
Os críticos
questionam o mundo; os jornalistas noticiam-no e reportam-no.
Os descontentes
queixam-se do mundo e fogem dele; os corajosos enfrentam-no e pacificam-no.
Os maledicentes
esconjuram o mundo e tentam fugir dele; os bendizentes elogiam-no como obra
divina e humana e abençoam-no.
Os fracos
temem o mundo; os fortes encaram-no de olhos serenos e confiantes.
A matéria
constitui o mundo físico; o espírito transcende-o e aponta para um mundo novo.
Os poderosos
pensam que são donos do mundo; os cidadãos sabem que são administradores,
habitantes e peregrinos.
Os seres
humanos de mal com a vida amaldiçoam o mundo, culpam-no de tudo e fogem dele; os
seres humanos de olhar puro contemplam-no e gostam dele, porque sabem que Deus
governa, ilumina e providencia.
E quem
pode efetivamente renovar e transformar o mundo?
O Espírito
que sopra onde quer e faz ouvir a sua voz (Jo 3,8) e Aquele que renova todas as
coisas (cf
Ap 21,5) ou, dito de
outro modo, Aquele que enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, não para condenar
o mundo, mas para o salvar (Jo 3,17) ou, ainda, Aquele que veio para que tenhamos vida e
a tenhamos em abundância (cf Jo 10,10).
2021.03.17 – Louro de Carvalho
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