segunda-feira, 8 de março de 2021

Ainda é preciso insistir na necessidade do Dia Internacional da Mulher

 

É um dia que celebra os direitos que as mulheres conquistaram até agora e lembra que ainda há muito por fazer. Com efeito, em vários pontos do globo, as mulheres não venceram causas como o direito ao voto, à igualdade salarial, a maior representação em cargos de liderança, a proteção em situações de violência física ou psicológica ou o acesso à educação. E o Papa, no voo de regresso do Iraque vincou aos jornalistas que há mulheres humilhadas, mulheres vendidas, mulheres escravizadas, mulheres mutiladas, mulheres sequestradas e exploradas, mulheres descartadas, mulheres que são objeto de tráfico, mulheres assassinadas.   

O Dia Internacional da Mulher, a 8 de março, é assinalado desde o início do século XX, embora com variações no dia das celebrações. Em 1975, a ONU começou a celebrar esta data, mas só a 16 de dezembro de 1977 é que a data foi oficialmente reconhecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 32/142.

O tema para 2021 é “As mulheres na liderança: Alcançar um futuro igualitário num mundo de COVID-19”, para destacar o papel das mulheres no combate a um dos maiores desafios atuais para a Humanidade e tendo em conta que a igualdade de género é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

A este respeito, a Comissão Europeia emitiu, a 5 de março, uma declaração em que reconhece que “a pandemia de covid-19 não poupou ninguém” e foi “especialmente difícil para as mulheres em todo o mundo”, pois médicas, enfermeiras, professoras, vendedoras em lojas – empregos muitas vezes oferecidos a mulheres – estiveram na linha da frente da pandemia, e assumiram, muitas vezes, ainda mais responsabilidades em casa”. Por isso, deixa uma palavra de agradecimento às mulheres pela sua coragem, compaixão e contributo “na luta contra esta crise, mantendo as nossas sociedades, os nossos sistemas de saúde e de prestação de cuidados e a maioria dos serviços essenciais a funcionar”. Porém, observa que as mulheres, embora “constituam a maioria dos trabalhadores de primeira linha no setor dos cuidados de saúde”, “praticamente não estiveram representadas nos processos decisórios relativos à pandemia”. E exemplifica com o facto de serem homens 85,2 % dos participantes nos grupos de trabalho nacionais dedicados à covid-19 de 87 países, incluindo 17 Estados-membros da UE.

Ora, devendo a igualdade de género estar “no cerne da recuperação após a pandemia” e prevendo o RMRR (Regulamento Mecanismo de Recuperação e Resiliência) a promoção da igualdade de género e de oportunidades na preparação e execução dos planos nacionais de recuperação e resiliência (PRR), a Comissão insta a que as mulheres estejam mais bem representadas na lideranças, seja na política seja nos conselhos de administração das empresas.

Nestes termos, além dos esforços que vem fazendo no sentido de uma maior igualdade entre homens e mulheres na Europa e no resto do mundo, a Comissão, para concretizar um dos elementos cruciais da Estratégia da UE para a Igualdade de Género, apresentou uma proposta que inclui novas medidas com vista à “aplicação do princípio da igualdade salarial”, uma vez que “a igualdade de género é um dos princípios fundamentais do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, bem como do ambicioso plano de ação desta semana para a sua aplicação”, e “está igualmente no âmago da ação externa da UE”. E o Plano de Ação da UE em igualdade de género (PAG III) define uma agenda ambiciosa e operacional para promover a igualdade e garantir que as mulheres e as jovens em todo o mundo estão habilitadas a participar na edificação da democracia, justiça, paz e segurança. Com efeito, a pandemia de covid-19, exacerbando as desigualdades existentes na sociedade, pôs as mulheres em grande risco, incluindo, mesmo nas suas próprias casas.

Por isso, a Comissão apresentará nova proposta para combater a violência baseada no género na UE. Com efeito, nos países nossos parceiros, a iniciativa conjunta UE/ONU “Spotlight” adaptou as ações prioritárias para a eliminação de todas as formas de violência baseada no género às necessidades urgentes. Todavia, a Comissão tem consciência de que é difícil preservar os progressos arduamente conquistados. Portanto, há que lutar para que a Europa continue a estar na vanguarda dos direitos das mulheres, pois o retrocesso não pode ser uma opção.

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Entretanto, a Vice-Presidente Vera Jourová e a Comissária Helena Dalli apresentaram, pela Comissão, a Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025 (doravante Estratégia).

Embora a UE seja líder mundial na igualdade entre homens e mulheres e tenha feito progressos notáveis, mantêm-se a violência e os estereótipos baseados no género: uma em cada três mulheres já foi vítima de violência física e/ou sexual; e, embora o número de homens com diplomas universitários seja inferior ao de mulheres, estas ganham, em média, 16 % menos do que eles, e só 8 % dos cargos de presidente executivo das grandes empresas na UE são ocupados por mulheres. Mais: ainda nenhum Estado-membro da UE concretizou a igualdade entre homens e mulheres, sendo lentos os progressos e persistindo as disparidades no trabalho, salários, assistência e pensões. Para colmatar tais disparidades e colocar a Europa a atingir todo o seu potencial nas empresas, na política e na sociedade, a Estratégia define um conjunto de ações-chave ambiciosas a realizar nos próximos 5 anos, incluindo: pôr fim à violência e aos estereótipos baseados no género; assegurar a igualdade de participação e de oportunidades no mercado de trabalho, incluindo a igualdade salarial; e alcançar um equilíbrio de género na tomada de decisões e na política. Compromete-se a assegurar que a perspetiva de género seja integrada em todos os domínios de intervenção da UE. E as ditas ações visam promover integralmente a igualdade entre homens e mulheres na Europa e no resto do mundo.

A Estratégia descreve o modo como a Comissão cumprirá em concreto a promessa da sua Presidente Ursula von der Leyen segundo a qual a Europa oferece oportunidades iguais para todos os que partilham as mesmas aspirações.

A Presidente da Comissão Europeia, declarou: 

A igualdade de género é um princípio fundamental da União Europeia, mas não é ainda uma realidade. Nas empresas, na política e na sociedade em geral, só poderemos concretizar plenamente o nosso potencial se utilizarmos todos os nossos talentos e diversidade. Utilizar apenas metade da população, metade das ideias ou metade da energia não é suficiente. A Estratégia para a Igualdade de Género pretende incentivar e acelerar os progressos para promover a igualdade entre homens e mulheres.”.

Constitui uma das principais prioridades da Estratégia a iniciativa de reforço do princípio da igualdade salarial através da transparência salarial. E a Comissão insistirá na adoção da proposta de diretiva de 2012 da melhoria do equilíbrio de género nos conselhos de administração das empresas e apresentará nova iniciativa legislativa de combate à violência baseada no género – iniciativa sobre a qual foi lançada consulta pública em fevereiro. Paralelamente, a adesão da UE à Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e à Violência Doméstica (Convenção de Istambul) continua como prioridade fundamental, pelo que, em junho de 2020, a Comissão adotou a primeira estratégia da UE em matéria de direitos das vítimas, intensificando ainda mais a sua luta contra a violência baseada no género.

Outra componente importante da Estratégia é a luta contra a violência sobre as mulheres, vindo o ato legislativo sobre os serviços digitais que a Comissão propôs em dezembro de 2020, apoiar a Estratégia e com vista a maior harmonização e atualização das regras aplicáveis aos prestadores de serviços digitais, abordando os conteúdos ilegais difundidos pelos utilizadores e prevendo salvaguardas para a proteção dos direitos fundamentais. No Plano de Ação para a Educação Digital e na Agenda de Competências para a Europa, a Comissão anunciou uma panóplia de ações destinadas a promover uma participação equilibrada em termos de género em profissões relacionadas com as TIC e o desenvolvimento de competências digitais. E a Garantia para a Juventude reforçada apoia medidas de combate aos preconceitos de género e à discriminação no aconselhamento e na orientação em matéria de emprego.

Em conformidade com os objetivos definidos no Plano de Ação para os Meios de Comunicação Social e o Setor Audiovisual, a Comissão lançará uma campanha de sensibilização para o género e a diversidade centrada em modelos inspiradores nos setores do audiovisual e dos meios de comunicação social, campanha que se enquadra num esforço mais amplo de promoção do equilíbrio de género e da diversidade no setor criativo e cultural, incluindo ações no âmbito da vertente MEDIA do programa Europa Criativa.

A dimensão de género está ainda integrada no programa Horizonte Europa e no novo EEI para a Investigação e a Inovação. A inclusão e a igualdade são também princípios fundamentais do programa Erasmus+, que apoia as empresárias do setor social e as mulheres no mundo académico, ajudando a abrir novos domínios de investigação sobre a igualdade de género, sustentabilidade e empoderamento das mulheres. E, a destacar as realizações das mulheres europeias nos domínios da investigação, inovação, educação, cultura e desporto, Mariya Gabriel, Comissária responsável pela Inovação, Investigação, Cultura, Educação, Juventude e Desporto, lançou uma campanha nos meios de comunicação social, #EUwomen4future.

O Centro Comum de Investigação da Comissão e o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) lançaram em conjunto o Portal de Acompanhamento da Estratégia para a Igualdade de Género para a Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025.

O novo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 reforça a integração da perspetiva de género nas despesas do orçamento da UE, em especial através dos fundos estruturais da UE. A Next Generation UE presta especial atenção à igualdade de género. E, em especial, os planos nacionais de recuperação e resiliência (PRR) definirão de que forma os investimentos e as reformas que serão financiados pelo MRR (Mecanismo de Recuperação e Resiliência) contribuirão para promover a igualdade de género e a igualdade de oportunidades para todos.

Fora da UE, o Alto Representante/Vice-Presidente Josep Borrell e a Comissária Jutta Urpilainen apresentaram uma série de ações de reforço da igualdade de género e do empoderamento das mulheres graças ao novo Plano de Ação em matéria de igualdade de género (PAG III) para 2021-2025 para 2021-2025. O lançamento da Iniciativa Spotlight pela Comissão Europeia e as Nações Unidas aborda o problema da violência baseada no género a nível mundial.

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Em suma, as ações concretas – e suas motivações – em prol da igualdade no período de 2020-2025 na UE, sintetizam-se no seguinte:

- Na UE, 33 % das mulheres foram vítimas de violência física e/ou sexual, tendo 55 % sido vítimas de assédio sexual. Ora, as mulheres na Europa não podem estar sujeitas a violência nem a estereótipos nocivos. Por isso, a Estratégia apela à adoção de medidas legais para criminalizar a violência contra as mulheres e a Comissão pretende alargar os domínios da criminalidade em que é possível introduzir uma harmonização em toda a Europa a formas específicas de violência contra as mulheres, incluindo o assédio sexual, o abuso de mulheres e a mutilação genital feminina. Proporá também uma lei sobre os serviços digitais para clarificar as medidas que se esperam das plataformas de combate às atividades ilegais em linha, incluindo a violência em linha dirigida contra as mulheres.

- Na UE, as mulheres ganham, em média, 16 % menos do que os homens e continuam a ter obstáculos no acesso e na permanência no mercado de trabalho. Ora, a igualdade entre homens e mulheres é condição essencial para uma economia inovadora, competitiva e próspera. Tendo em conta os desafios demográficos, a transição ecológica e a transição digital, ajudar as mulheres a encontrar emprego em setores caraterizados por uma escassez de competências, em particular o setor tecnológico e o da inteligência artificial, terá impacto positivo na economia europeia. Para obviar à desigualdade salarial, a Comissão lançou uma consulta pública sobre a transparência salarial e apresentou medidas vinculativas. Para permitir que as mulheres prosperem no mercado de trabalho, a Comissão redobrará os esforços para fazer cumprir as normas da UE em matéria de conciliação entre vida profissional e vida familiar, a fim de que as mulheres e os homens tenham verdadeira possibilidade de escolha no respeita ao seu desenvolvimento a nível pessoal e profissional. A igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, na inclusão social e no ensino, continuará a ser acompanhada no âmbito do Semestre Europeu.

- As mulheres continuam sub-representadas em cargos de chefia, inclusive nas maiores empresas da UE, em que só 8 % dos cargos de diretor executivo são ocupados por mulheres. A fim de permitir que as mulheres assumam a liderança nas empresas, a Comissão incentivará a adoção da proposta de 2012 relativa ao equilíbrio entre homens e mulheres nos conselhos de administração das empresas. E promoverá a participação das mulheres na política, inclusive nas eleições para o Parlamento Europeu de 2024, nomeadamente através de financiamento e de partilha de boas práticas. Para dar o exemplo, a Comissão procurará alcançar um equilíbrio de 50 % entre homens e mulheres em todos os níveis de gestão até ao final de 2024.

- Sob a liderança da Comissária para a Igualdade, Helena Dalli, e com o apoio do recém-criado grupo de trabalho para a igualdade, a Comissão incluirá igualmente uma perspetiva de género em todas as políticas e iniciativas importantes da UE, a dita integração da perspetiva de género. Os principais desafios lançados à UE, incluindo as alterações climáticas e a transformação digital, têm uma dimensão de género. Os objetivos da Estratégia para a Igualdade de Género refletir-se-ão igualmente nas ações da UE em todo o mundo, promovendo o empoderamento das mulheres e a luta contra a violência baseada no género.

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Por fim, julgo oportuno recordar as palavras do Papa em 8 de março de 2020:

A mulher é a harmonia, é a poesia, é a beleza. Sem ela, o mundo não seria assim tão belo. Não seria harmónico. (…) Onde as mulheres são marginalizadas, é um mundo estéril, porque as mulheres não só dão a vida, mas nos transmitem a capacidade de olhar além, de sentir as coisas com o coração mais criativo, mais paciente, mais tenro..

Fala-se tanto de integração e inclusão. Como é que pode rejeitar-se ou subvalorizar-se a mulher?

2021.03.08 – Louro de Carvalho

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