quinta-feira, 18 de março de 2021

Incentivos a morar e trabalhar no interior

 

Não é realidade de agora, mas é efetivamente no litoral que se concentra a maior parte da nossa população e o interior está cada vez mais despovoado.

Além da necessidade de os cidadãos migrarem com vista obtenção de melhores condições de trabalho e, consequentemente, melhores condições de vida, tanto o poder político como os investidores encerraram postos de trabalho e atendimento no interior, quer públicos, quer privados. E as tentativas de contrariação da realidade, tendente a aumentar, têm sido de parco impacto. Não passam seguramente apenas pela abertura e melhoria de estradas, que possibilitam as entradas, mas também as saídas.  

Entretanto, o Governo tem vindo a implementar medidas de incentivo a que os portugueses optem pelas regiões do interior para trabalharem e para viverem, no que é acompanhado por muitas autarquias que, por si, apresentam apoios a quem procura mudar de vida.

O Executivo criou a medida “Emprego Interior MAIS”, que o oferece um financiamento de 2633 euros a quem se mudar para o interior, com um acrescento de 20% por cada elemento do agregado familiar que acompanhe essa mudança e com a possibilidade de comparticipação dos custos de transporte de bens, até ao máximo de 4.827 euros para a totalidade do apoio, mediante candidatura.

Esta medida faz parte do programa “Trabalhar no Interior” apresentado a 3 de fevereiro de 2020 pela Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, num fórum em Bragança, e que abriu uma linha de financiamento para apoiar quem quiser ir viver para o interior.

O programa inclui incentivos de contratação para empresa e de apoio ao regresso dos emigrantes, bem como projetos de incentivo às redes mais acessíveis para habitar no interior. Os estágios profissionais que se realizem no interior terão a majoração de 10 pontos percentuais na comparticipação da bolsa pelo IEFP e a majoração em 20% do prémio-emprego (conversão do contrato de estágio em contrato sem termo). A nível da formação profissional, o Governo visava abrir 13 “Centros Qualifica” e flexibilizar as regras relativas ao número mínimo de alunos por curso.

Para incentivar o regresso dos imigrantes, o programa “Trabalhar no Interior” beneficia igualmente da medida de apoio ao regresso de emigrantes, prevista no programa “Regressar”, através da majoração de 25% para os emigrantes que regressem e se fixem no interior.

Aos trabalhares que decidam mudar-se para o interior, o Governo promete ajudar na habitação, através do programa “Habitar no Interior, apoiando o desenvolvimento de redes de apoio locais e regionais para a divulgação e implementação do “Chave na Mão. Para tanto, criou uma rede que integra as CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional), o IHRU (Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana) e os respetivos municípios. Um dos objetivos é garantir rendas mais acessíveis a qualquer trabalhador que tenha intenções de se mudar para essas regiões.

Paralelamente, o Governo apresentou o +CO3S(constituir, concretizar e consolidar sinergias e oportunidades), um conjunto de programas transversais e multissetoriais dedicados a empresas, entidades da economia social e entidades do sistema científico e tecnológico. Na primeira fase, o +CO3SO disponibilizou uma verba de 426 milhões de euros, com um impacto estimado de 665 milhões de euros de investimento e a criação direta de cerca de 4.200 postos de trabalho.

O +CO3S tem várias modalidades complementares: emprego, competitividade, conhecimento e digital. O “+CO3SO Emprego visa apoiar o emprego e o empreendedorismo, incluindo o empreendedorismo social, pelo apoio à criação de postos de trabalho em PME e entidades da economia social. Para tal, mobilizou 240 milhões de euros de fundos europeusmais de metade dos quais para territórios do interior, e intentou criar mais de 3.800 novos postos de trabalho. O “+CO3SO Competitividade” pretende captar investimentos exclusivamente para o interior, com um conjunto de avisos de concurso lançados pela primeira vez em simultâneo e em contínuo até metade do ano, prevendo a criação de 424 postos de trabalho. O “+CO3SO Conhecimento quer ajudar as empresas a aumentar o valor das suas atividades, pela cocriação de conhecimento, inovação e valor na economia local, para se tornarem mais competitivas no futuro. O “+CO3SO Digital visa ajudar a modernizar e a tornar mais eficientes os setores agroalimentar, da saúde, turismo, automóvel, com recurso às novas tecnologias. Estes dois últimos programas mobilizam 50,5 milhões de euros, num investimento total de 76 milhões de euros, prevendo-se a criação de 424 postos de trabalho.

Por outro lado, existem benefícios fiscais oferecidos pelo Estado a quantos se desloquem para os territórios do interior. Se as famílias que transfiram a sua residência permanente para estes municípios do interior têm direito a um aumento do limite das deduções em IRS durante 3 anos, os estudantes inscritos em instituições de ensino do interior têm direito a um aumento de 10% nas despesas educativas, elevando-se o limite global para a dedução de 800 para 1.000 euros se a diferença for relativa às despesas relativas a rendas de imóveis, que podem ser englobadas nesse campo, como se lê no Guia Fiscal do Interior.

E, além destas medidas do Governo, de âmbito nacional, para atrair pessoas que queiram ir para o interior, têm surgido outras, da parte das autarquias do interior na tentativa de cativarem esses mesmos cidadãos. São medidas complementares às do Executivo que permitem aceder a benefícios fiscais, a custos mais reduzidos, na habitação, ou mesmo a “cheques” para fomento da natalidade em regiões em que a população que resiste está bastante envelhecida.

Para informar os portugueses sobre os municípios que oferecem mais apoios para quem quer habitar ou trabalhar no interior, a Deco Proteste criou um mapa interativo que indica, a nível nacional, os que se destacam nesse sentido e as vantagens oferecidas por cada um. Dos 308 concelhos portugueses, são sete os que mais incentivos oferecem aos seus residentes, nos mais variados âmbitos.

Assim, Oleiros, no distrito de Castelo Branco, é o concelho do país que mais incentivos oferece, em diversas áreas, a quantos se propuserem a passar a morar na área do município.

Destacam-se as vantagens ao nível do IRS e do IMI. No primeiro dos casos, aos habitantes do município é devolvida a totalidade de participação do seu IRS, ou seja, 5%. E, no segundo, é de sublinhar o facto de a taxa se fixar em 0,3000%, o valor mínimo nacional. No atinente à habitação, sobressai a atribuição de 5.000 euros para compra ou construção duma nova casa, destinada a todas as famílias residentes e recenseadas em Oleiros há, pelo menos, dois anos – desde que um dos conjugues tenha, no máximo, 35 anos de idade. E, além de medidas de apoio à criação de emprego e de apoio à 3.ª idade, entre muitas outras, o município oferece o apoio de 5.000 euros, faseado no período de 3 anos, para alimentação ou artigos essenciais para crianças, pelo nascimento de cada filho, o qual tem de estar registado como natural de Oleiros.

Em segundo lugar, está Boticas, do distrito de Vila Real, que, à semelhança daquilo que ocorre com Oleiros, oferece benefícios ao nível do IRS, com as devoluções a ficarem-se pelo valor máximo (5%), e do IMI, fixado no mínimo de 0,3000%. No concernente a incentivos à natalidade, o município apoia mensalmente, com um subsídio no valor de 50 euros, todas as crianças naturais de Boticas e ali residentes, com idades entre os 5 meses e os 3 anos. E todos os recém-nascidos no concelho, cujos pais morem no concelho há mais de um ano, são recompensados com o montante de 1.000 euros. No âmbito da habitação, encontra-se em vigor a medida de isenção do pagamento das taxas de licenciamento necessárias para a realização de obras em edifícios antigos. No tocante à construção de habitação, Boticas reduz em 50% o valor das taxas associadas, para jovens até aos 35 anos, inclusive, ou para casais cuja média de idade não ultrapasse esse mesmo valor.

O concelho de Sardoal, no distrito de Santarém, fixou o IMI num patamar bastante baixo – 0,3250% –, embora já superior ao que acontecia nos casos anteriores. No campo da habitação, tanto oferece incentivos à construção através do desconto de 10% nas taxas para todos os indivíduos detentores de Cartão Jovem, como ao arrendamento, sendo nestes casos aplicada uma taxa de apenas 0,20%, contrastando com os habituais 0,325%). No âmbito dos incentivos à natalidade, mas apenas mediante a apresentação de faturas que comprovem a compra de artigos infantis, os pais serão apoiados mensalmente com o valor de 60 euros. E é de salientar que os indivíduos pertencentes a grupos carenciados serão ajudados através da aplicação de tarifas reduzidas no abastecimento de água e podem ainda beneficiar de outros apoios adicionais.

Também Barcelos, no distrito de Braga, se destaca pelos elevados apoios que oferece a todos aqueles que optem por descobrir (ou redescobrir) a região. Um dos incentivos que mais se destaca é o reduzido IMI ali cobrado, que se encontra nos 0,3500%. Porém, o município dá diversos incentivos no âmbito da habitação, sendo de realçar a redução das taxas de licenciamento, para jovens entre os 18 e os 35 anos, na construção ou aquisição de casa, bem como apoios ao arrendamento, à realização de obras e à recuperação de casas degradadas. As populações mais carenciadas podem ser apoiadas em diferentes vertentes: pagamento das rendas de habitação, reconstrução de habitações em condições precárias, pagamento integral dos transportes destinados a alunos com deficiências severas e refeições escolares gratuitas ou com desconto.

Cinfães, no distrito de Viseu, é também uma boa opção para quem deseja viver no interior, devido à existência de inúmeros apoios que se encontram em vigor na região. Com o IMI fixado no valor mínimo de 0,3000%, a autarquia garante a devolução de 2% do IRS aos munícipes.

O concelho tem o “Programa de Apoio ao Arrendamento”, que subsidia o arrendamento no mercado privado a famílias com dificuldades económicas. Por outro lado, o programa “Nascer em Cinfães”, de incentivo à natalidade, oferece o subsídio de 1.000 euros a cada criança nascida, registada e residente no município, destinado a ser gasto em lojas locais. E, no atinente à educação dos mais jovens, o município oferece os manuais e materiais escolares aos estudantes do 1.º ciclo, os transportes escolares a todos os alunos até ao 12.º ano e bolsas de estudo para o Ensino Superior ou para Cursos Tecnológicos e Superiores Profissionais .

No distrito de Castelo Branco encontra-se, além do já mencionado, outro município que é de realçar pelos inúmeros apoios que oferece aos seus residentes e trabalhadores. É Idanha-a-Nova, que devolve a totalidade de participação do IRS aos seus habitantes (5%) e onde o IMI se encontra fixado no valor mínimo nacional, de 0,3000%. Trata-se dum município que detém um elevado conjunto de medidas direcionadas aos mais jovens, com as viagens em transportes públicos ou escolares gratuitas para os alunos desde o infantário até ao ensino secundário e com os manuais a oferecidos aos estudantes do 1.º ciclo ou de níveis de ensino inferiores. Nos infantários e jardins de infância, não é cobrada qualquer prestação mensal aos pais e as refeições são gratuitas. O concelho oferece ainda incentivos à criação de emprego (nomeadamente através de apoios ao investimento), ajudas à população carenciada e habitação a preços controlados e o Cartão Raiano +65, destinado a pessoas com mais de 65 anos, a reformados por invalidez ou a pessoas com deficiência, que oferece uma série de benefícios nos âmbitos dos transportes, saúde, bem-estar e cultura, entre outros.

A fechar a lista dos municípios que oferecem mais apoios a quem trabalha ou reside nos mesmos encontra-se Anadia, no distrito de Aveiro, que se destaca pela sua baixa taxa de IMI, fixada no mínimo nacional (0,3000%). E, no respeitante ao IRS, a autarquia garante a devolução de 2% aos munícipes. O município dá nas vistas pelo projeto “Invest em Anadia, programa de promoção do empreendedorismo, investimento e criação de empresas que oferece apoios municipais – tais como apoios com despesas e bolsas de empreendedorismo e incubação –, bem como benefícios fiscais – nomeadamente, a isenção do pagamento de IMI e a redução do IMT – a empresas e indivíduos que se proponham desenvolver os seus negócios no concelho. E, no âmbito da educação, garante o transporte escolar dos alunos, oferece os cadernos de atividades a alunos do 1.º ciclo do ensino básico e serve as refeições escolares a todos os alunos do Escalão A. Além disso, os jovens pertencentes a famílias com dificuldades económicas têm direito a bolsa de estudo para o ensino superior.

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É de recordar que, a 21 de dezembro de 2020, a Ministra da Coesão Territorial defendeu, em Cinfães, a revisão do mapa dos municípios de território de baixa densidade e desafiou os municípios a iniciar essa discussão sobre o interior e o interior mais profundo. A governante respondia às reivindicações apresentadas pelo presidente da Câmara Municipal de Cinfães, após reunião com o executivo camarário, no decorrer duma visita ao concelho.

Em declarações aos jornalistas, a Ministra considerou que o mapa dos territórios do interior “corresponde a dois terços do país” e que surgiu na sequência duma proposta da Associação Nacional de Municípios (ANMP), utilizando “um conjunto de indicadores para definir os municípios” que, na altura, o Governo aprovou. Porém, reconheceu que o mapa está desatualizado, até para permitir negociar medidas de benefícios fiscais, “por exemplo, semelhantes às regiões periféricas, junto da Comissão Europeia”, nunca tendo o país qualquer hipótese se as propuser para dois terços do país”. Mas “terá maior probabilidade de sucesso de negociação com a UE se for um território mais delimitado”, acrescentou.

A governante sustenta que é uma discussão política a fazer e que “isto tem de partir dos municípios”, devendo ser eles a “iniciar esse exercício de revisão”, quer dos indicadores a considerar para os territórios do interior, económico e social, quer, dentro do mapa do interior, para “aquilo que seja o interior mais profundo de modo a permitir medidas distintas”.

E a autarquia faria chegar à Ministra ANMP “um conjunto de medidas muito objetivas, quantificáveis” que possam ajudar a tornar o mapa mais coeso para discussão entre os pares.

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Mas vai devagar: até 15 de janeiro deste ano, ainda só tinham sido aprovadas 77 candidaturas (222 pessoas) das 2007 apresentadas (740 pessoas)!

2021.03.18 – Louro de Carvalho

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