Elvira Maria
Correia Fortunato – licenciada em Engenharia dos Materiais pela Faculdade
de Ciências e Tecnologia da universidade Nova de Lisboa, doutorada nas áreas de Microeletrónica
e Optoeletrónica, professora
catedrática e investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia e vice-reitora
da predita universidade – venceu
o Prémio Pessoa 2020, como anunciou
o júri, numa transmissão ‘online’, neste dia 11 de março.
A 34.ª edição do Prémio, no valor
de 60 mil euros, contemplou uma investigadora que, entre outras invenções, é
reconhecida pelo trabalho com o transístor de papel e também pela criação do
primeiro ecrã do mundo totalmente transparente. É especialista pioneira
mundial na eletrónica de papel, nomeadamente em transístores, memórias,
baterias, ecrãs, antenas e células solares. É considerada a “mãe” do transístor de papel.
O seu doutoramento foi orientado
pelo cientista e investigador Rodrigo Martins, um dos inventores do papel
eletrónico, com quem é casada, desde 1986 e com quem tem uma filha.
O Prémio Pessoa é uma iniciativa do semanário Expresso e da Caixa Geral de Depósitos que visa “representar uma
nova atitude, um novo gesto, no reconhecimento contemporâneo
das intervenções culturais e científicas produzidas por
portugueses”.
O júri deste ano é composto por Francisco Pinto Balsemão, presidente,
Emídio Rui Vilar, vice-presidente, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira
Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel
Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato
Soromenho-Marques – elementos de diversificada proveniência académica e de setor
de atividade.
O anúncio do Prémio Pessoa 2020 deveria ter acontecido a 11 de
dezembro, mas foi adiado para este dia 11, por causa da pandemia de
Covid-19.
O Presidente da República não perdeu a oportunidade de felicitar, de imediato,
a cientista considerando que é “um reconhecimento merecido”. E disse-o nos termos
seguintes:
“O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
congratula calorosamente a professora doutora Elvira Fortunato pelo Prémio
Pessoa 2020, um reconhecimento merecido pela importância do
seu trabalho na área da eletrónica flexível, com grande impacto na indústria
mundial e que demonstra uma preocupação ambiental pelo uso de
materiais ecossustentáveis, recicláveis e de baixo custo” – lê-se numa nota
publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet.
O Chefe de Estado elogia a laureada pela sua “excelência a nível científico
e de inovação” e destaca os “inúmeros prémios e distinções a nível
internacional” atribuídos à cientista portuguesa, “pioneira na área de
eletrónica flexível, em particular nos transístores de papel”:
“Em 2015 foi nomeada presidente da comissão
organizadora das comemorações do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades
Portuguesas, e é desde junho de 2016, por nomeação do Presidente da República,
membro do Conselho das Ordens Nacionais portuguesas. Foi-lhe atribuído o grau
de grande-oficial da Ordem do Infante Dom Henrique em 2010.”.
Também o Ministro
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, felicitou a
cientista pela distinção com o Prémio Pessoa 2020, considerando-a um “exemplo
para todas as jovens”. “É um exemplo para todas as jovens sobre o papel das
mulheres na ciência e no avanço das ciências e tecnologias dos materiais”,
sublinhou o Ministro numa reação enviada à Lusa.
E Pinto
Balsemão, que preside ao júri, declarou que Elvira Fortunato, de 56 anos,
foi distinguida com o Prémio Pessoa por “uma carreira de excecional projeção,
dentro e fora do país” e pelo “contributo notável para o desenvolvimento
científico, tecnológico e de inovação português”.
É de
anotar que em 2020, a cientista foi galardoada com outro prémio. Efetivamente,
a 23 de setembro de 2020, Elvira
Fortunato foi, durante o European Research
and Innovation Days, declarada a vencedora do prémio
europeu Horizon Impact Award 2020, que
distingue os projetos financiados pela União Europeia, no âmbito do programa Horizonte 2020, cujos resultados criaram
impacto social na Europa e no mundo. O prémio de 10 mil euros foi atribuído
ao projeto “Invisible”,
que permitiu desenvolver o primeiro ecrã produzido com materiais sustentáveis.
O ecrã foi desenvolvido no Centro de Investigação de
Materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA, em parceria com a
Samsung. Foi o único projeto português a
chegar aos dez finalistas e já foi comercializado por
diversas empresas e integra uma nova área tecnológica ao serviço de diferentes
indústrias, como a impressão a jato de tinta ou
os diagnósticos médicos inteligentes.
Para Elvira Fortunato, “este prémio representa um
reconhecimento do trabalho de investigação numa área pioneira a nível europeu e
gostaria de o dedicar à melhor equipa do mundo: CENIMAT|i3N”, como
referiu então a vencedora, em comunicado.
***
A partir
de agora, Elvira Fortunato junta ao
seu vasto curriculum o Prémio Pessoa
2020. É a sétima mulher e, também, a sétima cientista, a ser distinguida
com o maior galardão atribuído em Portugal a personalidade das áreas da
Ciência, Artes ou Cultura cuja obra mais se tenha destacado no respetivo ano.
Conhecida pelos seus trabalhos nas áreas da eletrónica
transparente e eletrónica do papel, concentrou toda a sua investigação numa
área pioneira a nível mundial, que induziu a aproximação da ciência aos objetos
do quotidiano, acessíveis a todos. A descoberta do papel enquanto condutor de
eletricidade, a partir de material reciclado embebido em óxidos metálicos,
permite, por exemplo, a criação de painéis, baterias ou transístores de uso
quotidiano. As suas descobertas
estão já patenteadas em vários países e são usadas no fabrico de ecrãs ou mesmo
de painéis fotovoltaicos em miniatura aplicáveis, por exemplo, em guarda-sóis
capazes de carregar o telemóvel durante uma estada na praia.
Assim, a aproximação do
trabalho da Academia às empresas é uma das principais originalidades desta
investigadora, que,
entre outras descobertas, permitiu a utilização de sensores eletrónicos
aplicados em simples embalagens para monitorização precisa do estado de
conservação dos produtos até ao consumidor final.
Ao longo da última década, foram vários os prémios
recebidos por Elvira Fortunato, que, em outubro do ano passado, dizia já
lhes ter perdido a conta. “São muitos, umas dezenas”, dizia,
ao celebrar a conquista do Horizon Impact Award.
A investigadora e cientista confessou-se “muito feliz” e “muito grata” pela
atribuição do Prémio Pessoa 2020. Mais sublinhou reiteradamente que está duplamente
feliz pelo facto de o prémio ter sido atribuído a uma mulher e por ter sido atribuído
à ciência.
Numa primeira reação, garantiu já ter destino para os 60 mil euros do prémio,
que é uma iniciativa do Expresso com
o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos: “Vou
dar uma festa muito grande, com a família, os amigos e a minha equipa (…) quando
a pandemia acabar, claro” e para “celebrar
tudo”.
Com uma longa carreira na investigação científica na
área da eletrónica, Elvira Fortunato junta o Prémio Pessoa 2020 a uma longa
lista de galardões que lhe foram sendo atribuídos ao longo da carreira. “Mas este é diferente”, como vinca, uma
vez que, “além de ser o maior prémio
atribuído em Portugal, é transversal a vários domínios que vão para além da
ciência”.
O júri destacou o “percurso
académico nacional e internacional de grande consistência” e a “exemplar
capacidade” demonstrada pela cientista para aproximar a universidade das
empresas, vencendo muitas das barreiras burocráticas e administrativas
existentes”.
A cientista garante que trabalha “para o mundo” e
vários dos projetos de investigação que desenvolveu se traduzem já em patentes
para o fabrico de objetos tão quotidianos como os ecrãs de computador, de
tablets ou de um simples telemóvel.
É de salientar o que ela diz dos portugueses, de si própria
e o do que temos em Portugal, ou seja, que “nós,
os portugueses, somos grandes”, lamentando que “muitos olhem para Portugal de uma forma pequena”. Com efeito,
licenciou-se em Engenharia de Materiais, seguiu para o mestrado e o doutoramento
sempre sem sair do país e da ‘sua’ Universidade Nova, embora haja tido
necessidade de recorrer a bibliotecas, arquivos e laboratórios estrangeiros,
pois a ciência e a técnica não conhecem fronteiras. Por isso, dedica este prémio,
além da sua “família”, a um dos seus mestres na Faculdade de Ciência e
Tecnologia: Fernando Santana, que foi, durante 12 anos, diretor daquela escola
e presidiu à Academia de Engenharia.
E os observadores acham normal que um dos primeiros
destinos do Prémio Pessoa 2020 seja a celebração “com a família e a equipa de
investigação e estudantes”, tudo em Portugal e com os portugueses, pois tem
aqui “as suas raízes e principais referências”. E foi com uma das mensagens de
felicitações, enviada por um colega e amigo logo depois de saber do Prémio Pessoa,
que a cientista encerrou a conversa com o Expresso:
“Ele escreveu: a ciência tem importância
em Portugal e os protagonistas portugueses importância no mundo. E eu gostei
imenso”.
“As Cientistas – 52 mulheres que mudaram o mundo”, em inglês “Women in Science”, é uma obra
infanto-juvenil de Rachel Ignotofsky, publicada em 2016 pela
editora Ten Speed Press, nos Estados Unidos, e pela Editora Blucher, no Brasil,
sobre 52 mulheres notáveis nas áreas das Ciências, Tecnologias, Engenharia
e Matemática (CTEM), da Antiguidade aos nossos dias e
de diversas nacionalidades. O livro esteve muitas semanas na lista de bestsellers do The New York Times, tendo sido vendidas cerca de 15.000 cópias
até Agosto de 2017.
A obra,
cujas ilustrações permitem recrear a ambiência e a personalidade das mulheres
retratadas, proporciona uma versão mais humana do próprio mundo da ciência.
O prefácio à
edição portuguesa dá conta da relevância da tradução e adaptação dada ao prelo
pela Bertrand, em 2018, que conta com o apoio da CIG (Comissão
para a Cidadania e a Igualdade de Género), pois
inscreve-se na missão e valores defendidos pela CIG e, “para ultrapassar os limites
impostos por este projeto editorial, que obrigavam à seleção de apenas duas
cientistas portuguesas”, contou com o contributo da AMONET (Associação
Portuguesa de Mulheres Cientistas).
A versão em
língua portuguesa conta com duas cientistas portuguesas, Branca Edmée
Marques e Elvira Fortunato, para lá das restantes 50 presentes na
edição original. Ada Lovelace, Wang Zhenyi e Hertha Marks Ayrton são
algumas das cientistas retratadas na obra.
***
Um prémio português atribuído a uma cientista, uma
mulher, uma portuguesa!
2021.03.11 –
Louro de Carvalho
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