segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

“Curiosidades do Vaticano, edição póstuma de livro de LMR”

A um ano do falecimento de Luís Miguel Rocha (LMR) e a três anos da renúncia de Bento XVI, a Porto Editora vem, a instâncias do irmão Nuno, a proceder à edição póstuma do livro Curiosidades do Vaticano, sobre táticas e artifícios da Santa Sé.
Segundo o JN de hoje, dia 29 de fevereiro, Nuno Rocha garante que irá prosseguir na senda de “levar o mais longe possível o nome a obra” do escritor.
Refira-se que o Vaticano e o Papa protagonizam a maior parte dos livros (sobretudo romances) que LMR editou. O último Papa, Bala Santa, A mentira sagrada ou A filha do Papa tornaram-se verdadeiros bestsellers do ficcionista investigador falecido aos 39 anos de idade e a quem a doença impediu de concluir o romance que tinha entre mãos sobre a resignação de Bento XVI. Crê-se que, apesar de inacabado, a Porto Editora, que o tem em análise, poderá vir a decidir-se pelo seu interesse, dado que o autor ia partilhando muitas das informações na sua página do Facebook atinentes à matéria e por ser vontade do próprio publicar tal material em livro.
De acordo com as palavras de Nuno Rocha, o irmão terá começado a interessar-se pelo Vaticano a partir da publicação do seu primeiro livro, Um pais encantado, que mais tarde se transmutou em A virgem, e também pelo facto de ter sido técnico de imagem da TVI.
Tanto os escritos anteriores como o ora em edição revela um variado complexo de curiosidades históricas e atuais do Vaticano, incluindo quer as histórias de paixões, ódios e intrigas, quer aspetos de óbvio anedotismo episódico, quer ainda decisões papais que ainda hoje influenciam a vida comum, como o calendário gregoriano ou as origens dos anos bissextos. 
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Curiosidades do Vaticano” aborda uma diversificada panóplia de temas como: a nível físico – a colunata da Praça de São Pedro, Basílica de São Pedro às escuras, o Obelisco do Vaticano, terra de ninguém, a linha de caminho-de-ferro mais pequena do mundo, Palácio Apostólico, capelas do no Palácio Apostólico, a sala das relíquias, as salas de Estado no Palácio Apostólico, as escadarias de Estado no Palácio Apostólico, o Arquivo Secreto do Vaticano, a Biblioteca do Vaticano, os Jardins do Vaticano e a planta do Vaticano; a nível político – Papas assassinados, os guardas suíços assassinados, L’ Osservatore Romano, as forças de segurança no Vaticano, a agência de serviços secretos do Vaticano, serviço de proteção civil no Vaticano, guarda suíça, o Estado do Vaticano, o uniforme da guarda suíça e os feriados do Vaticano; a nível eclesiástico, os nomes pontifícios, a nacionalidade dos Papas, a correspondência de Francisco, Scala Santa, fumo branco, João XXIII com a resposta na ponta da língua, o supremo tribunal da Penitenciaria Apostólica, o jogo de poderes na eleição do Papa, as facções que ditarão (ditaram) a eleição do sucessor de Bento XVI, o vencimento do Santo Padre, os títulos do Papa, as cartas escritas ao Santo Padre, Roncalli o sargento eleito Papa, um processo contra o Papa, as declarações de Bento XVI sobre a infância de Jesus, o ritual de passamento de um Papa, o pontificado mais longo, conclave, o mandato de cardeal, os títulos dos vários membros da hierarquia católica, deveres e poderes do Santo Padre, Papa Júlio II uma força da natureza, Leão X o bon vivant, a alcunha do Papa João Paulo II, Sisto V o Papa implacável que transformou Roma, resignações e rejeições na eleição para Papa e o 11 de fevereiro de 1929; e a nível de curiosidade, proibição de entrar no Vaticano, non fare il Portoghese, o calendário gregoriano, a Santa Sé e a pedofilia, as mulheres que influenciaram os Papas, seleção de futebol do Vaticano, os critérios de escolha, interpretação e tradução dos livros sagrados que compõem a Bíblia (religião e teologia), as máquinas de multibanco no Vaticano, as mensagens sub-reptícias nas obras de Miguel Ângelo, animais domésticos no Vaticano, São Valentim, Vaticano é um paraíso, a influência do Vaticano nos dias da semana, o lugar com o maior consumo de vinho do mundo, as pinturas da Basílica de São Pedro, o Carnaval no Vaticano e o Domingo de Ramos no Vaticano. 
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O JN aponta, por antecipação, como curiosidades dos Papas e do Vaticano contidas no livro:
- O Papa trabalha de graça, ou seja, o seu vencimento é zero e está impedido de possuir uma conta bancária.
- Pio IX terá, com 31 anos de pontificado (entre junho de 1846 e fevereiro de 1878), consubstanciado o pontificado mais longo, contra o pontificado de Estêvão, que durou uns magros três dias, sem ter inaugurado formalmente o exercício do ministério petrino.
- Os mais de 800 habitantes do Vaticano têm um estatuto único: não pagam impostos, eletricidade e telefone; e o litro de gasóleo não vai além dos 35 cêntimos.
- A recolha dos resíduos sólidos urbanos é feita pela autarquia romana.
- Por respeito à tradição ou para impressionar turistas, os terminais de multibanco são em latim, não oferecendo alternativas noutras línguas, sendo que a sequência das secções é universal e as notas saem em euros.
- A seleção de futebol, formada por guardas suíços e italianos, fundada por João Paulo II em 1978, conta zero vitórias em jogos oficiais e um empate (este frente a San Marino).
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É óbvio que a ação vaticana e o trabalho da Santa Sé vão muito mais além das curiosidades de LMR ou das ficções plasmadas nas suas obras, por mais interessantes que sejam as primeiras a nível histórico e humano ou por mais legítimas e verosímeis que sejam os factos e as criações das personagens de seus romances.
Se nos ativermos às meras curiosidades, muitas delas já não são inéditas: entre outras, já se sabia, por exemplo, das mensagens secretas deixadas por Miguel Ângelo e outros artistas do Renascimento nas suas obras.
O novo livro das inutilidades, de António Costa Santos (ed. Guerra e Paz, 2011), brinda-nos com algumas curiosidades dos Papas e do Vaticano, a saber:
- Dos 266 Papas registados, pelo menos 33 tiveram morte violenta;
- O Papa João XII foi espancado até à morte em 963, com 18 anos, pelo marido de uma mulher por alegadamente ter mantido com ela um caso.
- Quatro Papas terão morrido na cama em circunstâncias imorais: Leão VII (936-939); João VII (955-964); João XIII (965-972); e Paulo II (1467-1471).
- Há mais de 80 santos com o nome de João. Papas são 25, contando João XXIII, João Paulo I e João Paulo II.
- A reunião para eleger o Papa denomina-se conclave desde 1268 – assembleia fechada com chave. Foram os habitantes de Viterbo que, ano e meio após a morte de Clemente IV (1265-1268), na falta de decisão sobre o novo Papa, fecharam os cardeais deixando-lhes apenas pão e água, pelo que a eleição de Gregório X (1271-1277) se tornou rápida a partir daquele momento.
- O Papa Adriano VI (1522-1523) morreu asfixiado por uma mosca que se lhe encravou na traqueia quando bebia água numa fonte.
- O mestre-de-cerimónias do Papa Paulo III (1534-1549), Biagio da Cesena, considerava o Juízo Final, que Miguel Ângelo pintou em 1541 na Capela Sistina, um afresco mais adequado para banhos públicos ou tabernas do que para uma capela. O artista vingou-se retratando-o entre os condenados pintado com orelhas de burro e uma cobra a morder-lhe os genitais. Biagio bem se queixou ao Papa, que retorquiu: “Meu filho, o meu poder chega ao Céu, mas não ao inferno; se Ângelo te lá colocou, lá ficarás”.
- O Juízo Final, por causa dos nus, quase foi destruído pela Inquisição. Os hipócritas da época decidiram chamar um pintor secundário, Daniel de Volterra, que teve a coragem de profanar uma obra-prima. Volterra colocou roupas nos nus da pintura de Miguel Ângelo e, por isso, foi ridicularizado. Esta triste figura, junto com seus auxiliares, ficou conhecido na história como "Os Tapa Traseiros".
- O Papa Paulo IV (1555-1559) ficou tão perturbado quando viu os nus no teto da Capela Sistina que mandou Miguel Ângelo cobri-los com roupas.
- O Papa Pio IV (1559-1565) comia batatas como remédio contra o cansaço, 24 anos depois de os espanhóis terem descoberto o tubérculo (tartufo blanco) no Peru.
- O Papa Urbano VIII (1623-1644) ameaçou de excomunhão, em 1624, os utilizadores de rapé e todos os que fumassem junto a uma igreja.
- O Papa João XXIII (1958-1963) foi sargento do exército italiano na Primeira Guerra Mundial.
- Nas igrejas do Vaticano, não se celebram casamentos.
- Miguel Ângelo, pintor, escultor, arquiteto e estilista, foi quem desenhou, no início século XVI, o uniforme vermelho, amarelo e azul-escuro da Guarda Suíça.
- Está reservado para habitação do Papa um T5300. O Palácio Apostólico tem 5 mil quartos, 200 salas de espera, e 100 gabinetes de leitura, servidos por 200 casas de banho. As mensagens Urbi et Orbi são proferidas a partir da varanda da fachada principal do Palácio Apostólico, ao passo que as alocuções dominicais são proferidas a partir dos aposentos oficiais reservados ao Papa. Francisco não utiliza como residência pessoal o Palácio Apostólico, a não ser para as mensagens dominicais, mas duas dependências na Domus Sanctae Marthae.
- A atual Basílica de São Pedro, em Roma, esteve em construção durante 106 anos, desde 1506.
- O Vaticano é um dos Estados europeus que só confinam com um outro país. Os outros são: San Marino, Mónaco, Dinamarca e Portugal.
- Durante os primeiros séculos da Igreja, os primeiros bispos de Roma, continuaram a usar seus nomes de batismo, após a eleição. O uso de escolher um novo nome começou em 533 com a eleição de Mercúrio, que entendeu não ser apropriado para um papa ostentar o nome de um deus pagão romano e decretou que ele deveria ser chamado de João II (523-526). Desde o final do século X os papas tem habitualmente escolhido um novo nome durante o seu pontificado, no entanto, até ao século XVII alguns pontífices usaram os nomes de batismo. O último papa a usar seu nome de batismo foi Marcelo II, em 1555.
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Ultrapassando a mera curiosidade valerá a pena estudar o Vaticano pela simbólica e monumentalidade, pela teologia e doutrina, pela diplomacia e política, pela organização e estudo, pela arte e ciência, pela fé e espiritualidade, pelo odor a história e sémen de futuro.
2016.02.29 – Louro de Carvalho


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