A
um ano do falecimento de Luís Miguel Rocha (LMR) e a três anos da renúncia de
Bento XVI, a Porto Editora vem, a instâncias do irmão Nuno, a proceder à edição
póstuma do livro Curiosidades do Vaticano,
sobre táticas e artifícios da Santa Sé.
Segundo
o JN de hoje, dia 29 de fevereiro,
Nuno Rocha garante que irá prosseguir na senda de “levar o mais longe possível
o nome a obra” do escritor.
Refira-se
que o Vaticano e o Papa protagonizam a maior parte dos livros (sobretudo
romances) que LMR
editou. O último Papa, Bala Santa, A mentira sagrada ou A filha
do Papa tornaram-se verdadeiros bestsellers
do ficcionista investigador falecido aos 39 anos de idade e a quem a doença
impediu de concluir o romance que tinha entre mãos sobre a resignação de Bento
XVI. Crê-se que, apesar de inacabado, a Porto Editora, que o tem em análise,
poderá vir a decidir-se pelo seu interesse, dado que o autor ia partilhando
muitas das informações na sua página do Facebook atinentes à matéria e por ser
vontade do próprio publicar tal material em livro.
De
acordo com as palavras de Nuno Rocha, o irmão terá começado a interessar-se
pelo Vaticano a partir da publicação do seu primeiro livro, Um pais encantado, que mais tarde se
transmutou em A virgem, e também pelo
facto de ter sido técnico de imagem da TVI.
Tanto
os escritos anteriores como o ora em edição revela um variado complexo de
curiosidades históricas e atuais do Vaticano, incluindo quer as histórias de
paixões, ódios e intrigas, quer aspetos de óbvio anedotismo episódico, quer
ainda decisões papais que ainda hoje influenciam a vida comum, como o
calendário gregoriano ou as origens dos anos bissextos.
***
“Curiosidades do Vaticano” aborda uma
diversificada panóplia de temas como: a nível físico – a colunata da Praça
de São Pedro, Basílica de São Pedro às escuras, o Obelisco do Vaticano, terra
de ninguém, a linha de caminho-de-ferro mais pequena do mundo, Palácio
Apostólico, capelas do no Palácio Apostólico, a sala das relíquias, as salas de
Estado no Palácio Apostólico, as escadarias de Estado no Palácio Apostólico, o
Arquivo Secreto do Vaticano, a Biblioteca do Vaticano, os Jardins do Vaticano e
a planta do Vaticano; a nível político – Papas
assassinados, os guardas suíços assassinados, L’ Osservatore Romano, as forças de segurança no Vaticano, a agência
de serviços secretos do Vaticano, serviço de proteção civil no Vaticano, guarda
suíça, o Estado do Vaticano, o uniforme da guarda suíça e os feriados do
Vaticano; a nível eclesiástico, os nomes pontifícios, a nacionalidade dos
Papas, a correspondência de Francisco, Scala
Santa, fumo branco, João XXIII com a resposta na ponta da língua, o supremo
tribunal da Penitenciaria Apostólica, o jogo de poderes na eleição do Papa, as
facções que ditarão (ditaram) a eleição do sucessor de Bento
XVI, o vencimento do Santo Padre, os títulos do Papa, as cartas escritas ao
Santo Padre, Roncalli o sargento eleito Papa, um processo contra o Papa, as
declarações de Bento XVI sobre a infância de Jesus, o ritual de passamento de
um Papa, o pontificado mais longo, conclave, o mandato de cardeal, os títulos
dos vários membros da hierarquia católica, deveres e poderes do Santo Padre,
Papa Júlio II uma força da natureza, Leão X o bon vivant, a alcunha do Papa João Paulo II, Sisto V o Papa
implacável que transformou Roma, resignações e rejeições na eleição para Papa e
o 11 de fevereiro de 1929; e a nível de curiosidade, proibição de
entrar no Vaticano, non fare il Portoghese,
o calendário gregoriano, a Santa Sé e a pedofilia, as mulheres que
influenciaram os Papas, seleção de futebol do Vaticano, os critérios de
escolha, interpretação e tradução dos livros sagrados que compõem a Bíblia (religião
e teologia),
as máquinas de multibanco no Vaticano, as mensagens sub-reptícias nas obras de
Miguel Ângelo, animais domésticos no Vaticano, São Valentim, Vaticano é um
paraíso, a influência do Vaticano nos dias da semana, o lugar com o maior
consumo de vinho do mundo, as pinturas da Basílica de São Pedro, o Carnaval no
Vaticano e o Domingo de Ramos no Vaticano.
***
O
JN aponta, por antecipação, como
curiosidades dos Papas e do Vaticano contidas no livro:
-
O Papa trabalha de graça, ou seja, o seu vencimento é zero e está impedido de
possuir uma conta bancária.
-
Pio IX terá, com 31 anos de pontificado (entre junho de 1846 e
fevereiro de 1878),
consubstanciado o pontificado mais longo, contra o pontificado de Estêvão, que
durou uns magros três dias, sem ter inaugurado formalmente o exercício do ministério
petrino.
-
Os mais de 800 habitantes do Vaticano têm um estatuto único: não pagam
impostos, eletricidade e telefone; e o litro de gasóleo não vai além dos 35
cêntimos.
-
A recolha dos resíduos sólidos urbanos é feita pela autarquia romana.
-
Por respeito à tradição ou para impressionar turistas, os terminais de
multibanco são em latim, não oferecendo alternativas noutras línguas, sendo que
a sequência das secções é universal e as notas saem em euros.
-
A seleção de futebol, formada por guardas suíços e italianos, fundada por João
Paulo II em 1978, conta zero vitórias em jogos oficiais e um empate (este frente a San Marino).
***
É
óbvio que a ação vaticana e o trabalho da Santa Sé vão muito mais além das
curiosidades de LMR ou das ficções plasmadas nas suas obras, por mais
interessantes que sejam as primeiras a nível histórico e humano ou por mais
legítimas e verosímeis que sejam os factos e as criações das personagens de
seus romances.
Se nos
ativermos às meras curiosidades, muitas delas já não são inéditas: entre
outras, já se sabia, por exemplo, das mensagens secretas deixadas por Miguel
Ângelo e outros artistas do Renascimento nas suas obras.
O
novo livro das inutilidades, de
António Costa Santos (ed. Guerra e Paz, 2011), brinda-nos com algumas
curiosidades dos Papas e do Vaticano, a saber:
-
Dos 266 Papas registados, pelo menos 33 tiveram morte violenta;
-
O Papa João XII foi espancado até à morte em 963, com 18 anos, pelo marido de
uma mulher por alegadamente ter mantido com ela um caso.
-
Quatro Papas terão morrido na cama em circunstâncias imorais: Leão VII (936-939); João VII (955-964); João XIII (965-972); e Paulo II (1467-1471).
-
Há mais de 80 santos com o nome de João. Papas são 25, contando João XXIII, João
Paulo I e João Paulo II.
-
A reunião para eleger o Papa denomina-se conclave desde 1268 – assembleia fechada
com chave. Foram os habitantes de Viterbo que, ano e meio após a morte de
Clemente IV (1265-1268),
na falta de decisão sobre o novo Papa, fecharam os cardeais deixando-lhes
apenas pão e água, pelo que a eleição de Gregório X (1271-1277) se tornou rápida a partir daquele
momento.
-
O Papa Adriano VI (1522-1523) morreu asfixiado por uma mosca que se lhe encravou
na traqueia quando bebia água numa fonte.
-
O mestre-de-cerimónias do Papa Paulo III (1534-1549), Biagio da Cesena, considerava
o Juízo Final, que Miguel Ângelo
pintou em 1541 na Capela Sistina, um afresco mais adequado para banhos públicos
ou tabernas do que para uma capela. O artista vingou-se retratando-o entre os condenados
pintado com orelhas de burro e uma cobra a morder-lhe os genitais. Biagio bem se
queixou ao Papa, que retorquiu: “Meu filho, o meu poder chega ao Céu, mas não
ao inferno; se Ângelo te lá colocou, lá ficarás”.
-
O Juízo Final, por causa dos nus, quase foi destruído pela
Inquisição. Os hipócritas da época decidiram chamar um pintor secundário,
Daniel de Volterra, que teve a coragem de profanar uma obra-prima. Volterra colocou roupas nos nus
da pintura de Miguel Ângelo e, por isso, foi ridicularizado. Esta triste
figura, junto com seus auxiliares, ficou conhecido na história como "Os Tapa Traseiros".
-
O Papa Paulo IV (1555-1559) ficou tão perturbado quando viu os nus no teto da
Capela Sistina que mandou Miguel Ângelo cobri-los com roupas.
-
O Papa Pio IV (1559-1565)
comia batatas como remédio contra o cansaço, 24 anos depois de os espanhóis
terem descoberto o tubérculo (tartufo blanco) no Peru.
-
O Papa Urbano VIII (1623-1644) ameaçou de excomunhão, em 1624, os utilizadores de
rapé e todos os que fumassem junto a uma igreja.
-
O Papa João XXIII (1958-1963) foi sargento do exército italiano na Primeira
Guerra Mundial.
-
Nas igrejas do Vaticano, não se celebram casamentos.
-
Miguel Ângelo, pintor, escultor, arquiteto e estilista, foi quem desenhou, no
início século XVI, o uniforme vermelho, amarelo e azul-escuro da Guarda Suíça.
-
Está reservado para habitação do Papa um T5300. O Palácio Apostólico tem 5 mil
quartos, 200 salas de espera, e 100 gabinetes de leitura, servidos por 200
casas de banho. As mensagens Urbi et Orbi
são proferidas a partir da varanda da fachada principal do Palácio Apostólico,
ao passo que as alocuções dominicais são proferidas a partir dos aposentos oficiais
reservados ao Papa. Francisco não utiliza como residência pessoal o Palácio Apostólico,
a não ser para as mensagens dominicais, mas duas dependências na Domus Sanctae Marthae.
-
A atual Basílica de São Pedro, em Roma, esteve em construção durante 106 anos,
desde 1506.
-
O Vaticano é um dos Estados europeus que só confinam com um outro país. Os outros
são: San Marino, Mónaco, Dinamarca e Portugal.
-
Durante os primeiros séculos da
Igreja, os primeiros bispos de Roma, continuaram a usar seus nomes de batismo,
após a eleição. O uso de escolher um novo nome começou em 533 com a eleição de Mercúrio, que
entendeu não ser apropriado para um papa ostentar o nome de um deus pagão
romano e decretou que ele deveria ser chamado de João II (523-526).
Desde o final do século X os
papas tem habitualmente escolhido um novo nome durante o seu pontificado, no
entanto, até ao século XVII alguns
pontífices usaram os nomes de batismo. O último papa a usar seu nome de batismo
foi Marcelo II, em 1555.
***
Ultrapassando
a mera curiosidade valerá a pena estudar o Vaticano pela simbólica e monumentalidade,
pela teologia e doutrina, pela diplomacia e política, pela organização e estudo,
pela arte e ciência, pela fé e espiritualidade, pelo odor a história e sémen de
futuro.
2016.02.29 – Louro
de Carvalho
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