Os responsáveis pelo Santuário de Fátima pretendem, a
partir das celebrações centenárias das Aparições (2016-2017), enroupar a Mensagem de Fátima de novas linguagens
para chegar a quem não se sente “sintonizado” com Fátima, em nome da utilidade
universal dos seus conteúdos.
Quem o referiu foi o próprio reitor, Padre Carlos
Cabecinhas, em conferência de imprensa que decorreu hoje, dia 3 de fevereiro,
na sala 13 de setembro, do Centro Pastoral Paulo VI.
No pressuposto de que os peregrinos serão sempre o
“ponto de interesse” do Santuário, o seu reitor afiançou:
“Toda a
programação foi feita a pensar nas pessoas: nos peregrinos habituais e nas suas
necessidades e expectativas, mas também naqueles que não estão tão ligados a
Fátima, que queremos atrair e acolher”.
Embora o Santuário tente congraçar o superior
interesse espiritual dos peregrinos e a missão da Igreja com a natural
curiosidade e busca de satisfação de turistas, intelectuais e simples
forasteiros, a vertente preponderante do programa assume o tom celebrativo.
Disse, a este respeito, o Padre Cabecinhas que o Santuário preparou e organizou
um programa celebrativo que acentua “o impacto de Fátima no âmbito da fé, dos
dinamismos sociais, da cultura e do seu significado enquanto mensagem de paz”.
O plano de atividades ancorado no itinerário temporal
de preparação para as celebrações centenárias, iniciado em 2010, está
alicerçado num “itinerário temático” gerador de “uma linha condutora ao longo
de todo o ciclo”, ficando bem patente aos olhos de todos a razão de ser das
diversas iniciativas, “enquadrando-as num horizonte orientador”. Segundo as
palavras do reitor:
“O
itinerário elaborado apresenta os temas significativos da Mensagem de
Fátima através de um percurso que se procurou coeso, de modo a salientar as
ideias unificadoras entre eles, a distinguir os aspetos centrais dos mais
secundários e a encontrar uma perspetiva de abordagem e as indispensáveis
chaves de leitura”.
Foram incluídas várias e diversificadas propostas no
âmbito do que é “próprio da missão dum santuário cristão”. Nesta ordem de
ideias foi dito que, “em muitos casos”, foi o Santuário a assumir a organização
e realização dos projetos”, mas, noutros, recorreu ao estabelecimento de
“parcerias com outras entidades”.
De todo o esforço do Santuários e das parcerias
estabelecidas resultam iniciativas que tendem a melhorar “as condições de
acolhimento dos peregrinos” e que passam “a fazer parte das ofertas habituais
do santuário”; haverá atividades “efémeras” e criação de património “que
permanecerá como herança para as gerações futuras”.
Na reta final do programa do centenário das Aparições,
até outubro de 2017, o plano de atividades apresenta uma “forte componente
cultural”, com a preocupação de atingir todos os públicos, uma vez que “a fé
cristã é sempre uma fé incarnada, que assume, transforma e produz cultura”,
evidentemente sem a ela se circunscrever, mas incorporando-a no seu dinamismo.
***
A propósito da fé incarnada na cultura, o Padre
Cabecinhas enquadra o fenómeno de Fátima na economia da antropologia teológica.
Com efeito, dada a sua matriz cristã, o dado fatimita não escapa à lei da
incarnação. Ao invés, desde há quase um século, o dinamismo fatimita exprime-se
“nas formas culturais do ambiente em que nasceu e se desenvolveu; mas, ao mesmo
tempo, marca a cultura envolvente e dá origem a novas expressões culturais”.
Logo a partir deste mês de fevereiro, centena e meia
de projetos insuflam vida a uma celebração “aberta ao público em geral”, que
ousa “celebrar, evocar, fazer festa, refletir, contemplar e orar”.
A agenda de eventos atempadamente delineada pelo
Santuário de Fátima abrange várias expressões e géneros, como exposições,
congressos, colóquios e concertos, entre outros.
O reitor declarou aos jornalistas que a visita do Papa
Francisco, em maio de 2017 será, segundo se espera, a “iniciativa mais marcante
de toda a vivência do centenário”, mas assegurou que seria “injusto ignorar o
conjunto abrangente de iniciativas que se dirigem ao público em geral para
chegar ao maior número de pessoas possível”.
Uma das novidades será uma exposição no Vaticano, em
2018, cujos objetivos serão patentear a relação entre “Fátima e a Santa Sé” e
constituir uma forma de “balanço” de todo o período celebrativo do Centenário
das Aparições.
Sendo expectável um significativo “aumento de
peregrinos” em todas as celebrações deste 100.º aniversário, o reitor assegurou
que esta instituição “tem procurado colaborar com as diversas entidades e
instituições” para alcançar a “maior segurança possível em todos os eventos”.
Porém, não deixou de advertir que é preciso recusar toda a “linguagem
alarmista” para não “fazer o jogo dos grupos terroristas”, pois qualquer
alarmismo significaria confessar e aceitar a vitória do terrorismo. Por isso,
apelou a que não se embarque “nesse tipo de linguagem alarmista em relação aos
perigos que possa haver”. Tomam-se as precauções e continua-se a “achar que Fátima
é um lugar seguro”.
***
Entre as cerca de 150 iniciativas previstas e acima
mencionadas, conta-se uma projeção na fachada da Basílica de Nossa Senhora do
Rosário sobre Fátima como “fonte de luz”.
Por seu turno, Carla Abreu Vaz, assessora do Serviço
Executivo do Centenário das Aparições de Fátima, reforçou a intenção de “ir ao
encontro de um público diversificado”. Neste sentido, serão oferecidas “novas
propostas de oração”, cursos de formação e de aprofundamento teológico para a
divulgação da Mensagem de Fátima e uma ampla “reflexão artística”.
Concluir-se-ão, de 21 a 24 de junho de 2017, as
jornadas de estudo com um congresso internacional “Pensar Fátima, Leituras Interdisciplinares”.
Além disso, o Santuário promoverá um concurso de
escolas católicas, prémios de fotografias, concertos, novas obras de arte e um
programa musical, cultura e artístico, “desafiando vários artistas a olhar para
Fátima”. A este propósito, Carla Vaz acentuou:
“O Santuário
de Fátima continuará a usar linguagens contemporâneas para comunicar e refletir
sobre a Mensagem de Fátima e para dar a conhecer o seu património, que tem já
100 anos”.
Em maio deste ano de 2016, será apresentada pela Vortice Dance Company a dança
contemporânea evocativa da Mensagem de Fátima. E, em outubro de 2017, serão
interpretadas pelo Coro e Orquestra Gulbenkian, sob a batuta da Maestrina Joana
Carneiro, as obras musicais encomendadas a James MacMillan e Eurico Carrapatoso.
Estas duas iniciativas são exemplos particularmente relevantes de uma aproximação
a linguagens da atualidade.
Mas haverá mais: um Centenário de Vozes (100 spots na rádio); um mural on
line de testemunhos; os ciclos de conferências (um em cada
ano temático com a realização de cinco conferências em cada ano); o simpósio de 2016 Eu Vim para que tenham Vida; o Congresso Mariano-Mariológico, da
Pontifícia Academia Mariana; a produção de diversos vídeos e filmes; várias
publicações; a Revista Cultural Fátima
XXI; exposições e concertos. Neste setor, é de relevar o Ciclo de Órgão, para além do Grande
Concerto inaugural de Olivier Latry, interpretando uma obra de João Pedro
Oliveira, que integra seis concertos com a execução obras que representam
períodos de 100 anos de música alemã, francesa, música sacra, contemporânea e hinos
marianos. Além deste, haverá o Ciclo de
Música Sacra e o Ciclo Musical Ouvir
Fátima.
Serão ainda outros destaques desta vasta
programação cultural “Tropário para uma
pastora de ovelhas mansas”, uma peça para coro, piano e acordeão sobre
fragmentos das Memórias da Irmã Lúcia
e os concertos evocativos dos Pastorinhos.
***
O Santuário pretende
ainda o lançamento de um novo site e
de uma aplicação para dispositivos móveis que tem em vista facilitar a visita
dos peregrinos e do público em geral.
Relativamente aos custos do programa das celebrações,
o reitor do Santuário de Fátima não abriu o jogo, mas adiantou que a reitoria
virá, “oportunamente, dar informações sobre o custo de todas estas
iniciativas”.
Será um centenário digno do país ou serão o país e a Igreja
Católica em Portugal dignos do centenário? Certamente que não serão os
verdadeiros peregrinos que se escandalizarão com tantas coisas novas!
2016.02.03 –
Louro de Carvalho
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