quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Novas linguagens para a Mensagem de Fátima

Os responsáveis pelo Santuário de Fátima pretendem, a partir das celebrações centenárias das Aparições (2016-2017), enroupar a Mensagem de Fátima de novas linguagens para chegar a quem não se sente “sintonizado” com Fátima, em nome da utilidade universal dos seus conteúdos.
Quem o referiu foi o próprio reitor, Padre Carlos Cabecinhas, em conferência de imprensa que decorreu hoje, dia 3 de fevereiro, na sala 13 de setembro, do Centro Pastoral Paulo VI.
No pressuposto de que os peregrinos serão sempre o “ponto de interesse” do Santuário, o seu reitor afiançou:
“Toda a programação foi feita a pensar nas pessoas: nos peregrinos habituais e nas suas necessidades e expectativas, mas também naqueles que não estão tão ligados a Fátima, que queremos atrair e acolher”.
Embora o Santuário tente congraçar o superior interesse espiritual dos peregrinos e a missão da Igreja com a natural curiosidade e busca de satisfação de turistas, intelectuais e simples forasteiros, a vertente preponderante do programa assume o tom celebrativo. Disse, a este respeito, o Padre Cabecinhas que o Santuário preparou e organizou um programa celebrativo que acentua “o impacto de Fátima no âmbito da fé, dos dinamismos sociais, da cultura e do seu significado enquanto mensagem de paz”.
O plano de atividades ancorado no itinerário temporal de preparação para as celebrações centenárias, iniciado em 2010, está alicerçado num “itinerário temático” gerador de “uma linha condutora ao longo de todo o ciclo”, ficando bem patente aos olhos de todos a razão de ser das diversas iniciativas, “enquadrando-as num horizonte orientador”. Segundo as palavras do reitor:
“O itinerário  elaborado apresenta os temas significativos da Mensagem de Fátima através de um percurso que se procurou coeso, de modo a salientar as ideias unificadoras entre eles, a distinguir os aspetos centrais dos mais secundários e a encontrar uma perspetiva de abordagem e as indispensáveis chaves de leitura”.
Foram incluídas várias e diversificadas propostas no âmbito do que é “próprio da missão dum santuário cristão”. Nesta ordem de ideias foi dito que, “em muitos casos”, foi o Santuário a assumir a organização e realização dos projetos”, mas, noutros, recorreu ao estabelecimento de “parcerias com outras entidades”.
De todo o esforço do Santuários e das parcerias estabelecidas resultam iniciativas que tendem a melhorar “as condições de acolhimento dos peregrinos” e que passam “a fazer parte das ofertas habituais do santuário”; haverá atividades “efémeras” e criação de património “que permanecerá como herança para as gerações futuras”.
Na reta final do programa do centenário das Aparições, até outubro de 2017, o plano de atividades apresenta uma “forte componente cultural”, com a preocupação de atingir todos os públicos, uma vez que “a fé cristã é sempre uma fé incarnada, que assume, transforma e produz cultura”, evidentemente sem a ela se circunscrever, mas incorporando-a no seu dinamismo.
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A propósito da fé incarnada na cultura, o Padre Cabecinhas enquadra o fenómeno de Fátima na economia da antropologia teológica. Com efeito, dada a sua matriz cristã, o dado fatimita não escapa à lei da incarnação. Ao invés, desde há quase um século, o dinamismo fatimita exprime-se “nas formas culturais do ambiente em que nasceu e se desenvolveu; mas, ao mesmo tempo, marca a cultura envolvente e dá origem a novas expressões culturais”.
Logo a partir deste mês de fevereiro, centena e meia de projetos insuflam vida a uma celebração “aberta ao público em geral”, que ousa “celebrar, evocar, fazer festa, refletir, contemplar e orar”.
A agenda de eventos atempadamente delineada pelo Santuário de Fátima abrange várias expressões e géneros,  como exposições, congressos, colóquios e concertos, entre outros.
O reitor declarou aos jornalistas que a visita do Papa Francisco, em maio de 2017 será, segundo se espera, a “iniciativa mais marcante de toda a vivência do centenário”, mas assegurou que seria “injusto ignorar o conjunto abrangente de iniciativas que se dirigem ao público em geral para chegar ao maior número de pessoas possível”.
Uma das novidades será uma exposição no Vaticano, em 2018, cujos objetivos serão patentear a relação entre “Fátima e a Santa Sé” e constituir uma forma de “balanço” de todo o período celebrativo do Centenário das Aparições.
Sendo expectável um significativo “aumento de peregrinos” em todas as celebrações deste 100.º aniversário, o reitor assegurou que esta instituição “tem procurado colaborar com as diversas entidades e instituições” para alcançar a “maior segurança possível em todos os eventos”. Porém, não deixou de advertir que é preciso recusar toda a “linguagem alarmista” para não “fazer o jogo dos grupos terroristas”, pois qualquer alarmismo significaria confessar e aceitar a vitória do terrorismo. Por isso, apelou a que não se embarque “nesse tipo de linguagem alarmista em relação aos perigos que possa haver”. Tomam-se as precauções e continua-se a “achar que Fátima é um lugar seguro”.
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Entre as cerca de 150 iniciativas previstas e acima mencionadas, conta-se uma projeção na fachada da Basílica de Nossa Senhora do Rosário sobre Fátima como “fonte de luz”.
Por seu turno, Carla Abreu Vaz, assessora do Serviço Executivo do Centenário das Aparições de Fátima, reforçou a intenção de “ir ao encontro de um público diversificado”. Neste sentido, serão oferecidas “novas propostas de oração”, cursos de formação e de aprofundamento teológico para a divulgação da Mensagem de Fátima e uma ampla “reflexão artística”.
Concluir-se-ão, de 21 a 24 de junho de 2017, as jornadas de estudo com um congresso internacional “Pensar Fátima, Leituras Interdisciplinares”.
Além disso, o Santuário promoverá um concurso de escolas católicas, prémios de fotografias, concertos, novas obras de arte e um programa musical, cultura e artístico, “desafiando vários artistas a olhar para Fátima”. A este propósito, Carla Vaz acentuou:
“O Santuário de Fátima continuará a usar linguagens contemporâneas para comunicar e refletir sobre a Mensagem de Fátima e para dar a conhecer o seu património, que tem já 100 anos”.
Em maio deste ano de 2016, será apresentada pela Vortice Dance Company a dança contemporânea evocativa da Mensagem de Fátima. E, em outubro de 2017, serão interpretadas pelo Coro e Orquestra Gulbenkian, sob a batuta da Maestrina Joana Carneiro, as obras musicais encomendadas a James MacMillan e Eurico Carrapatoso. Estas duas iniciativas são exemplos particularmente relevantes de uma aproximação a linguagens da atualidade.
Mas haverá mais: um Centenário de Vozes (100 spots na rádio); um mural on line de testemunhos; os ciclos de conferências (um em cada ano temático com a realização de cinco conferências em cada ano); o simpósio de 2016 Eu Vim para que tenham Vida; o Congresso Mariano-Mariológico, da Pontifícia Academia Mariana; a produção de diversos vídeos e filmes; várias publicações; a Revista Cultural Fátima XXI; exposições e concertos. Neste setor, é de relevar o Ciclo de Órgão, para além do Grande Concerto inaugural de Olivier Latry, interpretando uma obra de João Pedro Oliveira, que integra seis concertos com a execução obras que representam períodos de 100 anos de música alemã, francesa, música sacra, contemporânea e hinos marianos. Além deste, haverá o Ciclo de Música Sacra e o Ciclo Musical Ouvir Fátima.
Serão ainda outros destaques desta vasta programação cultural “Tropário para uma pastora de ovelhas mansas”, uma peça para coro, piano e acordeão sobre fragmentos das Memórias da Irmã Lúcia e os concertos evocativos dos Pastorinhos.
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O Santuário pretende ainda o lançamento de um novo site e de uma aplicação para dispositivos móveis que tem em vista facilitar a visita dos peregrinos e do público em geral.
Relativamente aos custos do programa das celebrações, o reitor do Santuário de Fátima não abriu o jogo, mas adiantou que a reitoria virá, “oportunamente, dar informações sobre o custo de todas estas iniciativas”.
Será um centenário digno do país ou serão o país e a Igreja Católica em Portugal dignos do centenário? Certamente que não serão os verdadeiros peregrinos que se escandalizarão com tantas coisas novas!

2016.02.03 – Louro de Carvalho

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