Foi
notícia o facto de o Papa Francisco ter recebido, no passado dia 1 de setembro,
na Casa de Santa Marta e por 45 minutos, Mons. Jacques Gaillhot, o francês bispo de Parténia. Na ausência de fotógrafo oficial, a
audiência foi concluída com uma sessão de selfie.
A informação foi publicada por Jean-Marie Guénois no portal do jornal Le Figaro, naquele mesmo dia. E Daniel Duigou, pároco de Saint-Merri, em Paris, que acompanhou o
bispo na audiência privada, testemunha que, na sua carreira de jornalismo
político, nunca vira “uma tal proximidade, autenticidade, simplicidade”.
Face à clara afirmação do Papa de que os dois (Francisco e Gaillot) são irmãos e que o prelado recebido
em audiência é bispo de Parténia, Mons.
Gaillot declarou que já estão passados 20 anos sobre a sua
situação de excluído e que os excluídos se reconhecem no bispo. Porém, afirma
que o facto de o Papa o ter recebido significa que os excluídos são
reconhecidos pelo Papa e agradece a felicidade que o Pontífice dá aos
excluídos. Francisco, anuindo, assegurou:
“O Cristo bate à porte da Igreja mas não do exterior…
do interior para que abramos a porta para o mundo, para a humanidade. Ele quer
sair!”.
Falaram – Duigou, Gaillot e Francisco – sobre o
acolhimento aos divorciados novamente casados e aos migrantes, em Saint-Merri.
E o Papa encorajou o acolhimento a todos, relevando o dos migrantes: “Os migrantes são a carne da
Igreja” – disse o Papa.
O
colóquio não versou as querelas passadas do L' affaire Gaillot,
mas evocou uma possível visita do Papa a França, tendo o Pontífice
reiterado a sua preferência em ir aos “países pequenos que necessitam
de ajuda”.
Mons. Gaillot narrou como, recentemente, abençoou
um casal de divorciados e como igualmente abençoou um casal de homossexuais
salientando que estava em trajes civis, que não se tratou de casamentos, mas de
bênçãos, tal como outras bênçãos a pessoas, objetos e mesmo casas. Recorda o
bispo a escuta e abertura de Francisco a isto, o qual terá lembrado que abençoar
é dizer o bem de Deus sobre as pessoas”. E, quando o Bispo de Parténia
disse que não era convidado a participar na conferência episcopal, o Bispo de
Roma não comentou a relação com aquela estrutura local, mas incitou o prelado a
ir em frente continuando a fazer o que vem fazendo pelos excluídos.
+++
O que é
Parténia e como é que Mons Jacques Gaillot se tormou seu bispo?
No tempo de Santo Agostinho (séc. IV), Parténia
figurava na Mauritânia Setifiena ou região de Setif, nos planaltos da Argélia atual.
Sabe-se muito pouco desta diocese: nem a data da criação nem a localização
exata. É uma diocese desaparecida como muitas outras, de que são exemplos:
Mitilene (na ilha grega de Lesbos), Tácia Montana (na Tunísia), Tagári (na
província de Bizancena, no norte de África) e, na Península Ibérica, Caliábria,
Meinedo, Dume, Elvas e Pinhel.
No ano de 484, o país foi invadido por Hunéric,
rei dos Vândalos, que chamou os bispos ao seu palácio de Cartago. Rogatus,
bispo de Parténia, foi perseguido e exilado.
Como Parténia já não existe nem como diocese
nem como território ocupado em termos populacionais, torna-se o símbolo dos
que, na sociedade e na Igreja, têm a sensação psicossocial de não existir. É
uma extensa diocese sem fronteiras onde o sol não se levanta nem se põe.
Hoje os bispos auxiliares são nomeados como
titulares dessas dioceses antigas, extintas por motivos históricos, e bem assim
aqueles que foram bispos diocesanos e, por motivos diversos, deixaram o governo
da diocese e, não resignando nem sendo destituídos, passaram a auxiliares de
outra diocese. Tal foi o caso de D. Manuel Ferreira Cabral, que de Bispo da
Beira, em Moçambique, passou a bispo de Dume e auxiliar de Braga.
***
Quanto
a Mons. Jacques Gaillot, a história é outra.
Nascido a 11 de setembro de 1935, fez o serviço militar
na Argélia, o que o levou a interessar-se pela não violência. Ordenado
presbítero em março de 1961, trabalhou em várias estruturas de formação até ser
nomeado bispo de Évreux, no noroeste
de França, em maio de 1982.
Entretanto, em janeiro de 1995, foi forçado pelo Vaticano
a sair da diocese de Évreux, no
cumprimento de ordem, nesse sentido, do cardeal africano Bernardin Gantin, prefeito da Congregação para os Bispos.
Subsequentemente, foi nomeado como responsável de Parténia, diocese extinta no
século VII. Essa inexistência física levou-a a abrir uma página na internet, na
qual escreve um catecismo “alternativo”, troca correspondência e facilita o
acesso a páginas de outras instituições e associações. No âmbito desta ação
pastoral virtual esteve no nosso país em 1997 e 2007.
Tudo leva a crer que foi uma razão política que levou
o Vaticano a destituí-lo de Évreux.
Como um homem livre que é, Gaillot
aponta o dedo ao então ministro do Interior francês, Charles Pasqua, acusando-o de estar por detrás do ato do Vaticano.
O prelado era conhecido pelas suas posições polémicas sobre temas controversos como
o preservativo, a homossexualidade, a pobreza, a exclusão, a falta de habitação
ou o desarmamento – postura que o guindou a presença constante na comunicação
social, o que não agradaria aos poderes – da Igreja e do Estado.
Contestando, em livro fortemente crítico, as políticas
restritivas do ministro no âmbito da imigração, Gaillot assinou a própria destituição. Porém, não desistiu: abrindo
a sua página na internet, dali fala com toda a gente. Com esta nova diocese
“sem fronteiras”, voltar à sua diocese seria dar um passo atrás. E assim,
continuando no ativo como bispo, sente-se parte da Igreja, ao contrário do que
alguns possam imaginar, não ambicionando mais nada. É um não alinhado, mas não
se apresenta como contestatário sistemático da Igreja.
Tanto antes como depois de
ter sido forçado a deixar a sua diocese, o combativo prelado nunca abdicou do
seu papel de bispo, de pastor, junto dos mais desfavorecidos: os sem-abrigo, os
refugiados, os pobres, os desempregados, as vítimas de tráfico humano – todas
pessoas que ele apoia desde há muito, quer pessoalmente quer na sua diocese
virtual de Parténia.
***
O conteúdo
das entrevistas
António Marujo, no
livro Deus vem a Público (ed. Pedra
Angular: 2011) publicou uma síntese de duas entrevistas feitas em maio de 2007 e setembro
de 1997, esta realizada em conjunto com Manuel Vilas Boas.
Da síntese se respigam as
ideias principais, pelo que revelam de lucidez, equilíbrio e ousadia.
-
Sonha com uma Igreja
metida na massa humana – do terreno,
da base, de homens e mulheres abertos aos outros, que acolhem e trabalham com
os outros, de cristãos que são o rosto de pessoas que não suportam a injustiça,
que se batem pela paz – uma Igreja que leva a mensagem, o fermento do
evangelho.
-
Trata-se dum sonho reforçado com a experiência de bispo de Parténia.
Há muita gente que se sente
excluída da sociedade e da Igreja, mas que continua viva e a bater-se no
interior de diversos organismos – eclesiais ou não – e que transporta a
esperança do evangelho.
- Acaba por agradecer a Roma a sua vivência de “desligado de tudo o
que é institucional”, mas “decididamente com as pessoas” e mais
facilmente do que se fosse bispo de uma diocese real.
- As pessoas, segundo ele, veem-no como um
bispo que sente a exclusão. Acham que um bispo que é como elas e como elas
foi arredado – que perderam o trabalho, são desconsideradas – é um homem da
Igreja capaz de as compreender. Assim, o prelado destituído é um sinal para
muitos excluídos, o que não aconteceria se estivesse integrado, como bispo,
numa diocese real.
-
Falando da sua proximidade como os sem-abrigo, os marginalizados,
diz:
“Estou com
os sem-papéis, com os que não têm alojamento, com os presos políticos, com quem
vive angustiado, que sobrevive na sociedade. Depois de Évreux, é uma segunda vida, um segundo povo.”.
- A respeito da hipotética imagem de contestatários
da Igreja oficial, aplicada aos grupos que o apoiam, o
prelado entende que é bom haver grupos, na Igreja, que estejam preocupados com a
reforma da Igreja: a democracia, o lugar das mulheres... Para isso, é preciso
estar ligado ao mundo da exclusão.
-
Sobre as questões internas – como o celibato, a ordenação das
mulheres, a moral sexual – colocadas por muitos grupos, esclarece:
“É bom que
haja grupos para isso, mas não são as minhas questões. As minhas são as
questões da sociedade: a injustiça, a paz, a ecologia. Mas é legítimo que haja
cristãos que queiram a reforma da Igreja e continuem a contestar. Sobretudo, se
são cristãos inteligentes e muito comprometidos, os bispos devem contar com
eles.”.
-
E justifica-se:
“A Igreja
é relativa à sociedade. Se não houvesse sociedade, não haveria Igreja.
A evolução profunda da sociedade faz com que a Igreja deva mudar. A dificuldade
para a Igreja de hoje é a modernidade. Tudo está centrado no indivíduo, que é
autónomo e que deve fazer o seu caminho, que deve encontrar os seus valores, o seu
sentido, que é responsável pela sua vida. E se lhe dizem que há uma lei
natural, que diz isto e aquilo, ele não aceita numa lei que vem de fora. O
indivíduo conduz a sua vida, isso é a modernidade. Essa é uma das dificuldades
da Igreja e da sociedade de hoje, em Espanha, em Itália, etc., porque na
modernidade o indivíduo tem direito à felicidade, à realização de si mesmo, ser
verdadeiro consigo mesmo.”.
-
Faz assentar a santidade de
uma Igreja – católica
ou protestante – na sua íntima ligação com os oprimidos, com os que são excluídos,
sendo que “a Igreja nunca é ela mesma sem os pobres”. Não lhe importa ser considerada
pelos poderosos, por gente importante, mas ser acolhida pelos pobres, pelos
pequenos. É esta a saúde, a força da Igreja – sublinha.
- Não tem pejo em dizer que, como bispo, foi libertado
pelo evangelho e seduzido pela liberdade de Cristo; que não está
sobretudo “por causa da doutrina, para chamar à lei, para defender a
instituição”, mas para despertar as pessoas para quem está à beira do caminho,
para quem sofre. “São os seres humanos que estão em primeiro lugar”.
- Rejeita em absoluto considerar-se um desempregado da
Igreja. Ao invés, ousa dizer que os seus dias estão bem ocupados,
sobretudo com os excluídos: “famílias sem alojamento, jovens sem trabalho,
estrangeiros sem documentação...”.
- Julga que “o trabalho de um bispo é estar onde o povo
sofre, onde o futuro do homem está em perigo”. Assim, pensa que é bom
estar “perto de outros, junto dos excluídos”.
-
Sobre o preservativo, questão que supostamente também estaria por
detrás da sua destituição, diz que se trata de questão secundária ante o problema da SIDA. Afirma ser necessário que
cada um se sinta responsável e tome os seus meios para não semear a morte e
respeitar a vida. De todo, o preservativo, segundo Gaillot, não deve ser utilizado como um meio de contraceção, mas
como respeito pelo outro e pela vida. Depois, acha esquisito que a Igreja se
fixe nesse aspeto. Entende que esse deve ser um problema que deve ser simplesmente
gerido, colocando as pessoas perante a sua responsabilidade.
- Quanto
ao aborto, pensando que
é matar a vida, declara-se inequivocamente contra. Não valorizando a questão da
criminalização, acentua que “é um mal, é uma desgraça”. Admite, no entanto, que
há situações de angústia, sobretudo de jovens mães, que as induzem ao recurso
ao aborto. Em todo o caso, não deve fazer-se um juízo sobre elas e, além disso,
pensa que qualquer país possa tentar fazer uma lei para resolver este quadro de
miséria.
-
É de parecer que, em geral, a
Igreja está demasiado presente nas questões da sexualidade, sendo melhor
que estivesse mais no terreno da justiça. Releva o papel dos responsáveis da
Igreja de esclarecer as consciências das pessoas, de as orientar um pouco nas
suas decisões.
-
No atinente à posição da Igreja sobre a homossexualidade, diz o
seguinte:
“Há pessoas
que são homossexuais. Existem e sofrem de discriminação – na família, no
trabalho, na religião. Isso deve interrogar a Igreja, para que não os
excluamos. Já há muitos excluídos na sociedade, é preciso que a Igreja não faça
o mesmo. Eu sempre defendi para que essas pessoas sejam acolhidas na Igreja, sejam
escutadas na Igreja, que tenham também o seu lugar na Igreja.”
- Sobre o pretenso casamento de homossexuais, acha lamentável
que se utilize a palavra “casamento” para eles. Declara que “o casamento tem
por base um homem e uma mulher, é o casamento da diferença, não é preciso
utilizar este termo em relação aos homossexuais”. Isso até não é favorável nem
a uns nem a outros.
- Quanto
ao acolhimento aos homossexuais em Igreja, também se pronuncia:
“Tento nunca
julgar as pessoas, temos o dever de as acolher. E se não as acolhemos, não
podemos reclamar-nos do evangelho. É preciso compreender o sofrimento, as suas
dificuldades. É preciso que essas pessoas possam viver e, também na Igreja, ter
responsabilidades. Dizer que alguém é homossexual é eximir-se a
responsabilidades.”.
- Sobre a temática da ordenação de mulheres, é
clarividente na sua posição, embora não preveja o momento em que isso venha a
suceder:
“O que se
passa na sociedade, hoje em dia, repercute-se na Igreja. Há uma exigência feita
por todos, pelas mulheres, para que haja uma parceria homens-mulheres, tanto na
sociedade como na Igreja. Estamos numa Igreja onde os responsáveis são homens,
celibatários e, muitas vezes, idosos. E é uma batalha a ganhar, que haja
mulheres investidas de responsabilidade. É uma complementaridade, uma riqueza.
Temos um ministério de modelo masculino, é necessário inovar, é preciso
procurar, mas isso acontecerá.”.
- No atinente
ao celibato
eclesiástico, enaltece-o como escolha pessoal. Reconhece nele um sinal
importante para si próprio dado por Jesus e pelo evangelho. Porém, é de opinião
que, para os padres, deve ser concedida a liberdade de escolha, na convicção de
que hoje, na cultura, na evolução do mundo, é uma coisa que deve estar na
liberdade de decisão.
- Em
relação à guerra e à violência, entende não poder juntar a palavra ‘justa’ à palavra ‘guerra’.
Seria aplaudir o fogo. Recusando-se a falar de guerra justa, declara sempre ter
estado contra a guerra. Defende em absoluto a não violência, que descobriu na
guerra da Argélia e o que o levou a tornar-se “um militante não violento”.
- Em
contraponto à dúvida de que a não violência ser um princípio
ainda praticável ou de se tratar de uma utopia que acabou com Gandhi e Luther
King, explicita:
“A não violência
não é alternativa à violência, que tudo regulamenta. A não-violência é uma
opção, não se decreta. É uma atitude, é um espírito, é preciso que a maior
parte possível das pessoas seja não-violenta, para que se possa oferecer
resistência. Dito isto, existem na sociedade estruturas de violência que fazem
com que estruturas injustas suscitem reações de violência. A miséria suscita
situações de violência, mas a violência do Estado e da sociedade existe
primeiro. Se se suprimir esta violência, talvez se suprima a outra.”
Depois, refere que “a violência gera a violência,
não tem solução e é um impasse”. E, dando o exemplo da Argélia, diz:
“É claro que
é o governo militar que está relacionado com aquela violência. Não é possível
que, em Argel, onde há tantos quartéis, não se faça esta relação. A França
apoia o governo argelino, vendendo material militar. Temos coisas aqui a fazer:
ao nível diplomático, comercial ou da venda de armas. É assim que se começa.”
- Sobre a sua página na Internet, nega que seja
qualquer modo de vingança do silêncio que lhe foi imposto. Revela que foi aconselhado por
amigos, que lhe diziam que era importante este meio. Acha-o um modo de
comunicar, para si muito interessante, porque assim pode franquear todas as
fronteiras. Quando lhe ironizam como sendo um meio de pregar no deserto,
responde que “o deserto está prestes a florir, porque por todo o lado há
comunicações que se estabelecem e comunicar é viver”. E diz, com a inocência
que lhe é peculiar, que tenta fazer florir o deserto.
Diz que são aos milhares as pessoas que lhe escrevem
via internet, sobretudo jovens. Primeiro, manifestam-se felizes por comunicar (As pessoas
estão muitas vezes sozinhas) e, se são
cristãos, falam da Igreja (e estão ali, em rede...); depois, sobretudo, põem questões sobre o futuro, sobre a humanidade, a
injustiça do mundo, o sentido da vida, uma busca religiosa – “há tantas
religiões, as pessoas procuram...” – confessa.
- No concernente ao reconhecimento do direito
de opinião na Igreja, acentua que “há uma opinião pública na Igreja”, mas
“é preciso que todos os cristãos tenham oportunidade de manifestar a sua
opinião”.
-
Não considera o seu catecismo na internet como uma alternativa ao
Catecismo da Igreja Católica, mas uma outra abordagem e explica tanto o motivo
da obrigação que teve de o fazer como a metodologia da sua génese:
“Um bispo,
normalmente, na sua diocese, é convidado a fazer o seu catecismo. O Concílio de
Trento pediu, aliás, que cada bispo fizesse o seu catecismo. Então fiz o meu.
Mas fi-lo, partindo das perguntas das pessoas, não de categorias religiosas,
dizendo ‘é isto, imponho-vos aquilo’, mas construindo isso em conjunto, a
partir da experiência dos grupos, das comunidades, perguntando: ‘como fazeis?’
Portanto, são pessoas de culturas diferentes, de países diferentes, que
constroem em conjunto. Depois se verá...”.
- Finalmente, quanto ao futuro da Igreja,
entende que está em ela se voltar para a humanidade, para a sociedade. As questões
prioritárias têm de ser as questões da humanidade: as questões da injustiça, do
combate pela paz, da salvaguarda da criação. Este é o grande objetivo: “que as
igrejas, na sua ação ecuménica, se voltem nessa direção”.
***
Contudo, não é somente a internet. As suas principais
publicações são:
Avance et tu seras libre, Editions Payot, 2010;
Un Catéchisme au goût de liberte, Editions L`Harmattan, 2010;
Carnets de vie, Éditeur J.C. Gawsewitch, 2010;
Carnets de route, Éditeur J.C. Gawsewitch, 2004;
Un Catéchisme au goût de liberte, Éditions Ramsay, mai 2003;
Eglise virtuelle, Editions Albin Michel 2000;
Ce que je crois, Editions Grasset Desclée de Brouwer 1996;
Dialogue sur le parvis, Editions Desclée de Brouwer 1996;
Dialogue et
liberté dans l'Eglise, avec
Gabriel Ringlet, Editions Ramsay
1995;
Coup de gueule contre les essais nucléaires, les
risques de l'escalade, Editions
Ramsay 1995;
Chers amis de Partenia, Editions Albin Michel 1995;
Je prends la liberté, Editions Flammarion 1995;
L'année de tous les dangers – Coup de gueule contre
l'exclusion, Editions Ramsay 1994;
Paroles sans fronteires, Editions Desclée de Brouwer 1993;
Lettre ouverte à ceux qui prêchent la guerre et la
font faire aux autres, Editions
Albin Michel 1991;
Chemin de croix, Editions Desclée de Brouwer 1991;
Monseigneur des autres, Editions du Seuil 1989;
Foi sans fronteires, Editions Desclée de Brouwer 1988;
Ils m'ont donné tant de bonheur, Editions Desclée de Brouwer 1987.
2015.09.06 – Louro de Carvalho
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