Passa
hoje, dia 22 de março, o Dia Mundial da
Água, destinado à discussão sobre os diversos temas relacionados com este
importante bem natural.
Este
dia mundial foi criado pela ONU (Organização das Nações
Unidas) no dia 22 de
março de 1992. Porém, alguns perguntam-se sobre o motivo por que a ONU se
interessou por esta matéria se, como sabemos, dois terços do Planeta são
ocupados por este precioso líquido.
Mas
os factos são factos. E apenas uma pequena quantidade da água do nosso planeta
é potável (cerca de 0,008% do total). Depois, muitos dos lençóis
freáticos estão rarefeitos e grande parte das reservas desta água à superfície
(rios,
lagos, represas…)
vem sofrendo a contaminação, a poluição e a degradação por via da ação
predatória do homem. Depois, vêm as secas severas, que afetam diversos lugares
do Globo. Vários núcleos populacionais andam quilómetros para acharem um pouco
de água potável. Há uns meses a esta parte, a mui populosa cidade de São Paulo,
no Brasil, que está dotada de convenientes estruturas de abastecimento, vê-se a
braços com a grave falta de água para consumo: bebida, cozinha e necessidades
básicas de higiene.
A
situação por que passa o mundo é preocupante, pois, num futuro próximo, poderá
vir a faltar água para o consumo de grande parte da população mundial. Foi com
base nesta preocupação, resultante da verificação dos factos, que foi
instituído o Dia Mundial da Água, cujo objetivo principal é criar um espaço de
reflexão, análise, conscientização e elaboração de propostas de medidas a tomar
com vista à resolução do problema.
No
dia 22 de março de 1992, acima referido, a ONU divulgou também um importante
documento: a Declaração Universal dos
Direitos da Água, que apresenta uma série de informações, sugestões e medidas,
que servem para despertar a consciência ecológica da população e dos
governantes para a problemática da água.
O
tema tornou-se tão candente que a UNESCO elegeu o ano de 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água,
como forma de incentivar o uso racional dos recursos hídricos do planeta ao
longo de cada dia de cada ano, tomando atitudes que no dia a dia contribuam
para a preservação e economia deste bem não é inesgotável. A título de exemplo,
indicam-se: não lançamento de lixos nos rios, represas e lagos; poupança de
água nas atividades quotidianas (banhos, escovação de
dentes, lavagem de louças…);
reutilização da água em diversas situações; respeito pelas regiões onde há manancial
aquífero; e divulgação de ideias de saber ecológico por amigos, parentes,
colegas e outras pessoas.
***
Ao Dia Mundial da Água fez referência hoje, após a recitação
do Angelus, o Papa Francisco nas
palavras que dirigiu aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. Acentuou a
essencialidade deste elemento natural para a vida e frisou a premissa de que “da
nossa capacidade de o guardar e compartilhá-lo depende o futuro da humanidade”.
Produziu assim um enunciado de tese (a essencialidade vital da água) e um enunciado ético (a nossa responsabilidade solidária de
a proteger para o futuro da humanidade). Ademais, o Pontífice deixou um encorajamento à Comunidade
internacional para que tenha uma atitude de vigilância em ordem a que “as águas
do Planeta sejam adequadamente protegidas e ninguém seja excluído ou
discriminado no uso deste bem, que é um bem comum por excelência”.
Depois, o Santo Padre Francisco, tomando o exemplo do irmão
universal São Francisco de Assis, no Cântico do irmão Sol, assume a irmã água
como pretexto e via para o Louvor a Deus, pelas caraterísticas de serviço,
humildade e castidade que adornam este elemento de vida: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil, humilde e
casta”.
Ao ler um outro apontamento que o Papa dirigiu aos peregrinos
e pensando na castidade ou pureza e ação purificadora da água, lembrei-me da
função teológico-litúrgica da água.
Com efeito, Francisco situando-se no dinamismo da Quaresma,
decidiu repetir um gesto que fez no ano passado (a 6 de abril), explicando:
“Segundo
a antiga tradição da Igreja, durante a Quaresma, entrega-se o Evangelho aos que
se preparam para o Batismo; do mesmo modo, hoje ofereço-vos a vós que estais na
Praça um Evangelho de bolso. Vai ser-vos distribuído gratuitamente por algumas
pessoas sem-abrigo que vivem em Roma. Tomai-o e levai-o convosco, para o lerdes
muitas vezes, todos os dias. A Palavra de Deus é luz para o nosso caminho”.
Por outro lado, é enaltecida, na transcrição de Francisco de
Assis, a utilidade, a humildade e a castidade da água. A água é essencial para
a vida. Com ela germinam as sementes, crescem e vicejam as plantas, se saciam
os animais, se revigora o ser humano. Com ela se confecionam os alimentos, se
refrescam os corpos. Mas ela é útil para a purificação do corpo e para a
limpeza e asseio dos objetos e dos espaços.
Ao mesmo tempo, ela é casta em dois sentidos:
- Se não contaminada, é pura e cristalina, inodora e
insípida. Porém, quando delicadamente doseada de sais minerais, o seu gosto
torna-se agradável. E também é certo que, uma vez caída do céu, na forma de
chuva ou de neve, não regressa à sua origem (não se evapora) sem ter cumprido a sua missão, isto é, sem ter fecundado e
irrigado a terra. Neste, sentido se lhe assemelha a Palavra de Deus, que não
voltará para o Senhor vazia, sem ter cumprido a sua missão, sem ter realizado a
vontade de Deus (cf Is
55,10-11).
- Se necessário, para a evolução do Planeta ou para mostrar a
revolta da Natureza contra os maus tratos que lhe dão os homens ou quando estes
se descuidam na tomada de precauções, ela pode cast(ig)ar afogando, levando
tudo à sua frente. A Bíblia recorda o seu poder ambivalente: submergiu a
geração perversa e salvou os que se introduziram na Arca de Noé (Gn, cap 6-9).
Pela Palavra de Deus – e o Papa, como recurso à Esmolaria
Apostólica, fez distribuir um repositório da Palavra pelos peregrinos (Evangelhos e Atos dos Apóstolos) – sabemos do valor espiritual
vivificante da água.
Com João Batista era ministrado na água um batismo de
penitência e purificação, ao qual se
sujeitou o Messias e no qual se realizou a teofania trinitária: os céus abriram-se,
o Espírito Santo pousou sob a forma de pomba sobre a cabeça de Jesus e ouviu-se
a voz do Pai, Este é o meu filho muito
amado em quem pus o meu enlevo (cf Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 1,29-34).
O batismo de Cristo é efetivamente no Espírito. Porém, de
acordo com a vontade de Cristo, os apóstolos perceberam que, pelas suas
caraterísticas naturais, a água se tomou útil para significar a ação
purificadora do Espírito e fecundante de vida divina. O Espírito pairou sobre
as águas do Jordão como pairava sobre as águas no princípio (cf Gn 1,2). E o batismo em nome de Cristo, que
perdoa os pecados e assinala a entrada na comunidade dos discípulos é feito com
a água que simboliza do Espírito vivificante. Veja-se por exemplo o cap. 10 do
Livro dos Atos dos apóstolos: “Pedro então declarou: Poderá alguém recusar a água do batismo aos que receberam o Espírito
santo como nós? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo” (At 10,46-48). A água é sinal do Espírito Santo
que os circunstantes tinham recebido segundo o que reza o v. 44.
Tal como a água faz germinar o grão de trigo que se lançou à
terra (se não se
lançasse seria inútil, nunca se multiplicaria para dar fruto), também a água do Espírito faz
germinar em vida pujante aquele que aceita sepultar-se com Cristo para depois ressuscitar
e fazer discípulos, frutificando em apostolado do Reino (cf Jo 12,24).
A água, por outro lado, serve de material a partir do qual
Jesus opera, a instâncias de Sua Mãe, o primeiro sinal em Caná da Galileia, a
transformação da água, de seis talhas de pedra cheias, em vinho de grande
qualidade, que foi servido aos convivas (cf Jo 2,1-11), mostrando assim o apreço que tinha pelas bodas nupciais. A água da
humanidade foi transformada em vinho da divindade, que alegra o coração do
homem.
Do lado aberto de Jesus adormecido na cruz jorrou sangue e
água por ação da lança do soldado (cf Jo 19,34-35). João vê neste fenómeno fisiologicamente natural o selo da
confirmação da morte de Cristo em conformidade com as Escrituras e por
consequência a glorificação do Mestre feita pelo Pai no Espírito.
No poço de Jacob, Jesus desafiou a samaritana a que lhe desse
de beber. Perante a relutância da mulher, o interlocutor interpelou-a, “Se tu soubesses o dom de Deus…”. E, a
partir da água do poço, falou da água que Ele dará e que serve para a vida
eterna. E a mulher logo se entusiasmou e lançou o repto: “Senhor, dá-me dessa
água para eu não ter sede nem ter de vir aqui tirá-la!”. Não percebera que se
tratava da água viva do Espírito Santo, que faz adorar o Pai em espírito e
verdade. Mas Jesus revelou-Se-lhe como o Messias e ela levou outros a acreditar
(cf Jo 4,1-26).
A água viva que Jesus apresenta no cap 7 de João é o Espírito
Santo. Jesus, no último dia, o mais solene da festa, bradou: “Quem tem sede
venha a Mim e beba. E quem crê em Mim que sacie a sua sede. Como diz a
Escritura, hão de correr rios de água viva” (cf Jo 7,37-38). E João explica que Ele disse isto, referindo-se ao
Espírito Santo que iam receber os que n’ Ele cressem (cf Jo 7,39). Um rio de água viva, resplendente
como cristal e a sair do trono de Deus e do Cordeiro, é mostrado ao vidente
apocalíptico (cf Ap 22,1).
A água de que bebiam do rochedo no deserto os hebreus era a
prefiguração da água viva em Cristo, a bebida espiritual; agora os crentes
bebem de um só Espírito (cf
1 Cor 10,3-4; 12,13).
Finalmente, a água viva do Espírito é fonte e marca de
liberdade: “Ora o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está
a liberdade. E todos nós que, com o rosto descoberto, refletimos a glória do
Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo
Senhor que é Espírito” (2
Cor 3,17-18).
***
Só é pena que nem sempre a Igreja se configure como pátria da
liberdade dos filhos de Deus, bem como as sociedades que se dizem herdeiras e
depositárias da herança do Espírito que liberta. E é indigno que os chamados
filhos da liberdade, movidos pela mesquinhez dos interesses, tantas vezes
enveredem por caminhos de libertinagem, vandalização dos recursos disponíveis,
espezinhamento do próximo, opressão dos humildes.
***
Pela sintonia ecológica entre a preocupação da ONU e a
inquietação das Igrejas, aqui se deixa, em formato de decálogo, para que todos
nos sintamos motivados, sensibilizados, atentos e solidariamente corresponsáveis
A Declaração Universal dos
Direitos da Água (da ONU)
Art.º 1.º – A água faz parte do património do Planeta. Cada
continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é
plenamente responsável aos olhos de todos.
Art.º 2.º – A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a
condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não
poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a
agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o
direito à vida, tal qual é estipulado no art.º 3.º da Declaração dos Direitos
do Homem.
Art.º 3.º – Os recursos naturais de transformação da água em
água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve
ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimónia.
Art.º 4.º – O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem
da preservação da água e dos seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e a
funcionar normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este
equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde
os ciclos começam.
Art.º 5.º – A água não é somente uma herança dos nossos
predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. A sua
proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do
homem para com as gerações presentes e futuras.
Art.º 6.º – A água não é uma doação gratuita da natureza; ela
tem um valor económico: precisa de se saber que ela é, algumas vezes, rara e
dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
Art.º 7.º – A água não deve ser desperdiçada, nem poluída,
nem envenenada. De maneira geral, a sua utilização deve ser feita com
consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de
esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente
disponíveis.
Art.º 8.º – A utilização da água implica o respeito pela lei.
A sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo o homem ou grupo social
que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo
Estado.
Art.º 9.º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os
imperativos da sua proteção e as necessidades de ordem económica, sanitária e
social.
Art.º 10.º – O planeamento da gestão da água deve levar em
conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre
a Terra.
Parabéns.Poucas pessoas tem a água como presente de Deus.Infelizmente hoje vista com mercadoria.Existe poucas reflexões sobre a importância MISTICA da água.Divulgações sobre a importância da água do ponto de vista do SAGRADO,podem ser úteis para despertar a consciência e minimizar a poluição
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