terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Em memória de São Sebastião, jovem mártir

Sebastião era um jovem celibatário conhecido pela sua alta posição social e militar, pelo que integrava a corte imperial. Porém, apesar do ambiente pagão do Império Romano e do trabalho deste oficial no topo do poder político, a sua vida tornou-se em breve um insigne exemplo para a crescente comunidade cristã, que estava prestes a tomar conta do Império, o qual, tendo estatuído o culto dos diversos deuses, tornava imperativa a prestação de culto ao Divino Imperador – o que os cristãos recusavam liminarmente.
Inúmeros são os indivíduos do sexo masculino que, em terras de cristandade, ostentam como nome próprio o de Sebastião, o que remete para a disseminação da devoção popular e do culto público em toda a parte ocidental do Orbe. Além disso, festejam-no como padroeiro ou, ao menos, como santo de grande nomeada capelas, igrejas, bairros, paróquias, cidades e dioceses (em Portugal; é o padroeiro principal da diocese de Lamego; e, no Brasil, preside como padroeiro à cidade e à diocese do Rio de Janeiro) e outros equipamentos de utilização coletiva. Também o adotam como padroeiro e protetor os soldados, os arquitetos e os atletas; e é geralmente invocado contra os flagelos da peste, da fome e da guerra (andam presentemente bem longe da sua devoção os que decretam a guerra e os seus conselheiros e assessores).
Portugal regista no seu catálogo de reis o nome do tão desastrado como esperançoso rei Dom Sebastião a quem Luís de Camões dedicou a sua epopeia e a quem foi posto o nome de Sebastião por ter nascido a 20 de janeiro, o da celebração da memória litúrgica do santo mártir.
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Sobre a biografia de São Sebastião os registos oficiais são escassos. Todavia, tal escassez não obsta a que dele se possam ter muitas informações que emanam da virtuosa e indissociável aliança entre a história e a piedade popular e que permitem caraterizar a realidade, embora não com a exatidão desejável, mas sobretudo (o que é o mais importante) no atinente ao espírito que enforma a realidade com que um militar cristão, servindo no exército de um dos mais sanguinários imperadores romanos, ajudou numerosas pessoas a não esmorecerem na fé, confortando-as e levando-as a trilhar de cabeça erguida a via do Paraíso. Ademais, ele próprio não deixou, no momento oportuno, de explicitamente se declarar cristão, dando testemunho e servindo de paradigma a numerosos outros discípulos de Jesus que enfrentavam as perseguições da Era dos Mártires, como foi chamado o período de busca e morte dos fiéis conforme ordenado pelo crudelíssimo imperador Diocleciano.
Sebastião veio à luz do dia numa região costeira da província da Gália, mais propriamente na cidade que atualmente corresponde à de Narbonne, em França. Porém, a sua família era natural de Milão, hoje uma grande metrópole italiana, onde passou a viver com os pais a puerícia e a adolescência (alguns dão-lhe aqui a naturalidade). Nasceu no contexto político e geográfico da hegemonia imperial de Roma, cujos cônsules e, mais tarde, os imperadores consideravam seu todo o Mediterrâneo (assim denominado por se situar no meio da terra então conhecida), a que chamavam Mare Nostrum (nosso mar). Por consequência, os Romanos dominavam política e militarmente todos os territórios que confinassem com aquele mar considerado central.
É hoje ponto assente que o jovem de origem gaulesa (ou milanesa, segundo alguns) não tinha uma imperativa vocação militar. No entanto, enveredou pela carreira das armas, impelido pelo desejo de servir e animar os irmãos na fé, que sofriam as perseguições.
Assim, Sebastião desempenhou corretamente e com aprumo os seus deveres de oficial, mas sob as suas vestes de militar latejava o coração de um verdadeiro discípulo de Cristo; e o seu desejo e o seu escopo eram apoiar os perseguidos e ajudá-los a seguir, no meio dos diversos obstáculos, o Divino Mestre, não só durante esta vida, mas também e sobretudo quando se encontravam prestes a partir para o Além. Guardava em segredo a sua fé, como era usual e comum entre os cristãos nas épocas de perseguição (seria tentar a Deus exporem-se sem necessidade ao holocausto da vida). E, deste modo, podia ajudar os que dele precisavam, mas não tinha qualquer temor de perder os seus bens terrenos ou a sua própria vida.
Exemplo do seu denodado labor apostólico é a ação que desenvolveu junto dos irmãos gémeos Marcos e Marceliano, que haviam sido aprisionados em Roma e que Sebastião visitava diariamente. Depois de submetidos à flagelação, apesar de serem membros de família de senadores, foram condenados à morte por decapitação, tendo os seus familiares obtido do administrador romano, chamado Cromácio, um prazo razoável para tentarem dissuadi-los da religião cristã. Mantidos acorrentados na casa de Nicóstrato, o escriba da prefeitura, foram submetidos a sucessivas tentativas de convencimento por parte dos pais, das esposas e dos filhos ainda pequenos. No entanto, quando estavam em risco de claudicar, Sebastião reanimava-os com uma eloquência tal que impressionou todos os que o ouviram.
Em face do sucedido, Zoé, a esposa de Nicóstrato, vendo em Sebastião um homem de Deus, lançou-se-lhe aos pés e por gestos indicou-lhe a doença de que padecia – uma doença que lhe fizera perder a capacidade de falar, a alalia. O jovem cristão traçou o sinal da cruz sobre a boca de Zoé e rogou em voz alta a Nosso Senhor Jesus Cristo que a curasse. De imediato, ela recuperou a dicção e pôs-se a louvar aquele homem, acrescentando que acreditava em tudo o que ele acabara de dizer. Ante a cura da esposa, o próprio Nicóstrato lançou-se aos pés do taumaturgo a quem pediu perdão por ter mantido os dois cristãos aprisionados e acorrentados, soltando-os em seguida e confessando que se sentiria feliz se viesse a ser aprisionado e morto em vez deles. Contudo, os dois irmãos, libertados naquele momento, declararam recusar-se a abandonar a luta para a ela expor outra pessoa e reafirmaram e reforçaram a fé cristã ao verem a ação de Deus, que gorou todas as tentativas feitas para os levar ao abandono da Igreja, conseguindo fazer ingressar nela também os donos da mansão em que os gémeos estiveram aprisionados e acorrentados.
Nas subsequentes horas, outras pessoas também abraçaram a fé cristã. Foi de 68 o número de pessoas convertidas e batizadas por São Policarpo, ali chamado por Sebastião, entre as quais: Nicóstrato e sua esposa Zoé; toda a família de Nicóstrato, incluindo o seu irmão Castor; o carcereiro Cláudio com os dois filhos e a sua esposa Sinforosa; o pai dos gémeos, chamado Tranquilino, com a sua esposa Márcia e seis amigos; as esposas dos gémeos; e dezasseis outros encarcerados.
Ao ter conhecimento destes factos, Cromácio, o prefeito de Roma, sentindo-se enganado, chamou o pai dos gémeos determinando que todos oferecessem incenso aos deuses. Foi então que Tranquilino, confessando clara e publicamente a sua fé de cristão, declarou que, por ela, fora curado de uma enfermidade da qual o prefeito também padecia. Cromácio disponibilizou então dinheiro para conseguir a cura da enfermidade, provocando em Tranquilino evidentes risos, o qual lhe assegurou que para ser curado bastaria recorrer a Jesus Cristo.
Também, depois de percorrido um intenso e instrutivo catecumenato, no qual foi explanada a superioridade da fé sobre a simples cura das doenças, Cromácio e o filho tornaram-se cristãos, levando a que fossem quebradas mais de duzentas estátuas de ídolos a quem eles vinham prestando culto, bem como a que fossem destruídos os instrumentos da astrologia e de outras práticas de adivinhação. E, com aquele pai e aquele filho, aderiram ao cristianismo 1.400 pessoas, incluindo escravos a quem o prefeito deu a carta de alforria, no pressuposto de que aqueles que passaram a ter Deus por pai não mais podiam ser escravos de um homem, pois afinal eram todos irmãos.
Por seu turno, Diocleciano, tendo assumido cargo de imperador, manteve Sebastião no seu posto e deu-lhe o cargo de capitão da primeira companhia de guardas pretorianos em Roma, depositando nele inteira confiança.
Foi então que Sebastião discerniu que era chegado o momento de se declarar cristão, depois de ter trabalhado arduamente para que muitos enveredassem pela rota do Paraíso. Inconformado com tão explícita profissão de fé cristã, em tudo contrária ao culto dos deuses nacionais e do próprio imperador, Diocleciano condenou-o à morte. Na sequência de tal veredicto imperial, foi preso a um tronco de árvore e o seu corpo perfurado por diversas flechas. Julgando-o morto, os que o supliciaram abandonaram-no. Entretanto, uma piedosa viúva, Irene de seu nome, que pretendia sepultá-lo com honras cristãs, tendo-o encontrado vivo, tratou dele para que se restabelecesse.
Não obstante, passado algum tempo, Sebastião foi-se apresentar a Diocleciano, que ficou surpreendido ao vê-lo vivo. E teve a santa ousadia de censurar o imperador pela injustiça com que perseguia os cristãos e neles a pessoa de Cristo, pois os discípulos daquele indizível Mestre rezavam pelo império e pelos seus exércitos e como recompensa recebiam o suplício como se fossem inimigos do Estado.
Porém, o sanguinário imperador, contumaz em seus erros, mandou que Sebastião fosse imediatamente levado a um local próximo, no monte Palatino, onde foi martirizado até à morte efetiva pelo sistema de bordoadas. Teve sepultura, por ação dos cristãos, na catacumba que atualmente é designada pelo seu nome e sobre a qual se erigiu uma das 7 principais igrejas de Roma, a Basílica de S. Sebastião, na Via Appia. É celebrada a sua memória a 20 de janeiro. 
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Sabendo que em Milão ou não haveria luta pela fé ou ela seria insignificante, partiu para Roma, onde grassavam as perseguições mais severas contra os crentes em Cristo. Aí foi martirizado (coroado de glória eterna). Desta maneira, ali aonde tinha chegado como hóspede, encontrou a morada definitiva. É o resultado da obra dos perseguidores.
Mas perseguidores – diz Santo Ambrósio – não são apenas os que se veem. Os que se não veem são muito mais numerosos. Por conseguinte, quantos há hoje que sofrem em cada dia que passa o martírio (testemunham) de forma violenta e ostensiva ou no segredo da discrição diária!

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