Aconteceu hoje,
dia 18 de janeiro, na cidade de Manila, capital da República das Filipinas,
mais propriamente no Rizal Park, em
torno da celebração eucarística em que participaram mais de seis milhões de
católicos filipinos, ou seja, cerca de 3,2% da população nacional.
Considerando que
“as Filipinas são o país líder da Ásia”, o Papa entende o caso como “um dom de
Deus, uma bênção, mas também uma vocação” imperativa. Uma vez que assim é, os
filipinos são chamados a ser missionários na Ásia.
A partir da
homilia, o catolicismo desta grande nação sente-se convocado para a missão. Valeu,
por isso, a pena a persistência de Francisco em não abdicar da celebração com
todos e à vista de todos, apesar da chuva copiosa que atingiu a cidade. A pari, acedeu a envergar, por cima dos
paramentos litúrgicos, um preservante (escolhi de propósito o termo, que não deve ser
confundido com outro de sentido bem diferente) de cor amarela,
uma das cores do Vaticano, à semelhança de cada um dos milhões de circunstantes
que participaram na supermagna reunião fraterna dos filhos de Deus, com a
escuta da Palavra divina, a grande ação de graças, a oferta do Sacrifício da
Cruz, o banquete eucarístico – cume, fonte e centro de irradiação da vida
cristã.
***
Este segundo domingo do tempo
comum da Liturgia comporta, nas Filipinas, a celebração do domingo do “Santo
Niño, cuja imagem acompanhou, desde o início, a difusão do Evangelho no país. Ia
caraterizado com trajes de rei, coroa e cetro, cruz e globo. Tal caraterização
do Menino Jesus testemunha continuamente, segundo o Papa, a íntima conexão “entre
o Reino de Deus e o mistério da infância espiritual”. Assim, o Menino Deus
prossegue, entre os homens, o anúncio de que “a luz
da graça de Deus brilhou sobre um mundo que habitava nas trevas, trazendo a
Boa-Nova da nossa libertação da escravidão e guiando-nos pela senda da paz, do
direito e da justiça”. Por consequência, os cristãos, devotos do Santo Menino (através
do qual podemos clamar: “todos somos filhos
de Deus”), sentem-se “chamados para espalhar o Reino de Cristo no mundo”.
Crê Francisco que foi
esta irmandade, radicada na filiação divina, que tem juntado os filipinos em
ação de solidariedade em torno dos atingidos pelo grande tufão. E não deixou de
mencionar, ante o maior país católico do mundo asiático, o núcleo do plano da
Salvação: “no alto do Céu [Ele] nos abençoou com toda a espécie de bênçãos
espirituais em Cristo” (Ef 1,3). E insiste:
“Deus escolheu-nos e abençoou-nos com uma finalidade: ser santos e
irrepreensíveis na sua presença (cf. Ef 1,4).
Escolheu cada um de nós para ser testemunha, neste mundo, da sua verdade e da
sua justiça. Criou o mundo como um jardim esplêndido e pediu-nos para cuidar
dele”.
E aqui, neste dom,
nesta bênção, radica a convocação para a missão. Porém, o Pontífice não deixa
de denunciar o maior óbice à realização do desígnio humanista e missionário:
“Todavia, com o pecado, o homem desfigurou aquela beleza natural;
pelo pecado, o homem destruiu também a unidade e a beleza da nossa família
humana, criando estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção”.
Por consequência, ante os problemas, dificuldades e injustiças, os cristãos sofrem
a tentação da desistência e da formulação da convicção de que “as promessas do
Evangelho não são realizáveis, são irreais”. Tal tentação resulta da obra
diabólica – a mentira, de que o diabo é o pai – que “esconde as suas insídias
por detrás da aparência, da sofisticação, do fascínio de ser moderno, de ser como todos os outros”; e que nos distrai com “a vista de
prazeres efémeros e passatempos superficiais”.
Daqui
resulta, segundo Francisco, que “desperdiçamos os dons recebidos de Deus,
entretendo-nos com apetrechos fúteis; gastamos o nosso dinheiro em jogos de
azar e na bebida; fechamo-nos em nós mesmos; esquecemo-nos de nos centrar nas
coisas que realmente contam e de permanecer interiormente como crianças”, das
quais é o reino de Deus.
Por
outro lado, o facto de o próprio Menino Jesus se ter visto na necessidade de
ser protegido (por São José) numa família aqui na terra “recorda-nos a
importância de proteger as nossas famílias e a família mais ampla que é a
Igreja, a família de Deus, e o mundo, a nossa família humana”, contra os “ataques
insidiosos e programas contrários a tudo o que nós consideramos de mais
verdadeiro e sagrado, tudo o que há de mais nobre e belo na nossa cultura”.
O
acolhimento de Jesus às crianças, no Evangelho, incita-nos ao dever de “proteger,
guiar e encorajar os nossos jovens, ajudando-os a construir uma sociedade digna
do seu grande património espiritual e cultural” e de “cuidar dos jovens, não
permitindo que lhes seja roubada a esperança e sejam condenados a viver pela
estrada”.
O
Menino Jesus – a cuja guarda o Papa entregou os filipinos para que Ele torne
este povo “capaz de trabalhar unido, de se proteger mutuamente a começar pelas
vossas famílias e comunidades, na construção dum mundo de justiça, integridade
e paz” – trouxe ao mundo, na sua visível fragilidade, “a bondade de Deus, a misericórdia e a justiça”. E, ao mesmo tempo, “resistiu
à desonestidade e à corrupção, que são a herança do pecado, e triunfou sobre
elas com o poder da cruz”.
***
Enfim,
nesta magna reunião eucarística e missionária – inesquecível para o Papa e para
a Igreja – que ultrapassou em número de participantes a assembleia similar a
que presidiu São João Paulo II, há vinte anos (a 15 de janeiro de 1995), o Papa
Francisco salientou alguns pontos nevrálgicos de doutrina e ação:
–
O valor da evangelização em torno do mistério da infância espiritual, pela fragilidade
de que se reveste e pela sabedoria que testemunha;
–
A consideração da proteção do Santo Niño como dom, como bênção e como
incitamento à missão;
–
A convocação dos filipinos para a evangelização da Ásia, que se espera que
tenha (e há de ter) um eco maior que a convocação que São João Paulo II fez ao
povo português para a missão, em 10 de maio de 1991, no Estádio do Restelo em
Lisboa, por ocasião da segunda visita a Portugal;
–
A evidência da bondade, justiça e misericórdia de Deus;
–
A Preservação da família com relação aos ataques e programas contrário são desígnio
divino e vocação das famílias;
–
A necessidade de orientação dos jovens (com quem se encontrou pela manhã, no Campo Desportivo da Universidade de São Tomás) na esperança e na
construção da sociedade mais justa, fraterna, íntegra e pacífica;
–
A denúncia, por um lado, da desonestidade e da corrupção e, por outro, do conformismo, do desperdício
e das ameaças contra o meio ambiente – fatores de que são aliadas
a pobreza e a ignorância – frutos do pecado do homem; e
–
O triunfo de Cristo na cruz sobre os malefícios que o demónio instalou no mundo,
de que todos nós somos testemunhas e apóstolos.
Que as palavras e os gestos de Francisco se tornem um significativo contributo para transformação do mundo!
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