Entra
hoje, dia 26 de janeiro, em discussão pública, por dez dias úteis, o Plano Estratégico para as Migrações (2015-2020),
abreviadamente denominado PEM, que tem uma vertente de incentivo e apoio ao
empreendedorismo, capaz de atrair quem emigrou. Por outro lado, faz a gestão da
atribuição / distribuição de verbas comunitárias que financiam medidas para
emigrantes, imigrantes e “novos portugueses”.
O
PEM consta de anexo a um projeto de resolução do Conselho de Ministros, cujo conteúdo
vem articulado com outros programas de inclusão, como o Programa Escolhas, já em desenvolvimento e, depois de entrar em
vigor, será sustentado pelo “financiamento comunitário 2014-2020, sem onerar de
forma acrescida o orçamento nacional”.
O
documento em discussão pública estará disponível no portal na Internet do governo.
Partindo
da evolução do fluxo migratório português – forte surto emigratório nas décadas
de 60 e de 70, do século passado, numerosa entrada de imigrantes na década de noventa
do mesmo século, naturalização de muitos descendentes de imigrantes no início
do século XXI e abandono do país por muitos nos últimos quatro anos, sob a
troika – o Governo entendeu lançar um programa abrangente e polifacetado.
Andreia
Sanches, em peça jornalística específica no Público
de hoje, salienta que deverão ser aprovadas, até ao final deste ano, as regras
e os procedimentos de atribuição de “vistos-talento”, para estudantes, investigadores,
artistas e outros migrantes talentosos que efetivamente possam ser
especialmente úteis ao país. Afirma, ainda, que esta é uma das 102 medidas do PEM,
já antes avançada pelo Governo, vindo agora a estabelecer-se um prazo para a
sua concretização.
A
novidade que o aludido projeto de resolução, que pode ser consultado desde já
no portal do governo, é a inclusão de um programa de “Empreendedorismo para Emigrantes”, a lançar também este ano, ou
seja, o Governo vai também “apoiar a criação de empresas por nacionais não residentes
em território nacional”. Porém, ao contrário do que acontece em relação a outras
medidas deste PEM, que vêm devidamente quantificadas e calendarizadas, não se
compromete com metas sobre quantas empresas a criar. No entanto explicita:
“Dispondo
Portugal de uma vasta e muito qualificada diáspora, hoje enriquecida por novos
perfis migratórios de jovens que têm procurado outros destinos, estará aí a
primeira fonte de migrantes que nos interessa enquanto nação captar.”
Com
este programa, o governo pretende: a atração de cidadãos portugueses muito
qualificados; “a promoção de políticas de apoio à reintegração de emigrantes
economicamente vulneráveis, não residentes em território nacional há mais de um
ano” (um
dos compromissos não quantificado é “apoiar despesas de deslocação e estabelecimento
em território nacional”);
e a “capacitação dos imigrantes empreendedores”, com programas de incentivo à
criação do próprio emprego.
O
PEM (2015-2020)” – note-se que a nota de “estratégico” é fundamental – é
concebido e preparado num país “em défice demográfico” e a enfrentar “uma
emergência social, económica e política nacional”. Por isso, o Governo, tendo em conta que também
outros países tradicionalmente sujeitos a significativos fluxos de imigração e
de emigração têm procurado gradualmente articular e integrar as políticas
migratórias, quer as relativas às entradas, quer as relativas às saídas,
internalizando uma visão integrada do fenómeno imigratório e emigratório, quis –
quiçá demasiado tarde – agir de forma similar, tomando em consideração a
especificidade da nossa realidade. Assim, reconhecendo que as migrações têm um
impacto positivo na sociedade em muitas e diferentes dimensões, Portugal
posiciona-se hoje perante cinco desafios particularmente decisivos, que convocam
as migrações e a que urge responder:
(i) o combate
transversal ao défice demográfico e o equilíbrio do saldo migratório; (ii) a consolidação da integração e
capacitação das comunidades imigrantes residentes em Portugal, respeitando e aprofundando
a tradição humanista de Portugal; (iii)
a inclusão dos novos portugueses, em razão da aquisição de nacionalidade ou da
descendência de imigrantes; (iv) a
resposta à mobilidade internacional, através da internacionalização da economia
portuguesa, na perspetiva da captação de migrantes e da promoção das migrações
como o incentivo ao crescimento económico; e (v) o acompanhamento da nova emigração portuguesa, através do
reforço dos laços de vínculo e da criação de incentivos para o regresso e reintegração
de cidadãos nacionais emigrados.
A
estratégia do programa pauta-se pelo aprimoramento da absoluta garantia da
dignidade da pessoa humana e da promoção da igualdade entre homens e mulheres,
em estreita articulação com as políticas públicas de segurança interna e com as
políticas para a emigração.
Além
da aprovação do PEM, o projeto de Resolução do Conselho de Ministros, contempla,
designadamente: a criação da Rede de Pontos Focais de Acompanhamento do PEM,
constituída por dois representantes de cada um dos ministérios, um efetivo e um
suplente, para o seu acompanhamento e execução; a elaboração de um relatório
anual de execução do PEM pelo Alto Comissariado para as Migrações, I.P. (ACM,
I.P.) a apresentar ao Conselho para as Migrações; e a determinação de que a
assunção de compromissos para a execução das medidas do PEM, incluindo os
inerentes à ação das suas estruturas de operacionalização, depende de fundos
disponíveis por parte das entidades públicas competentes.
***
As
102 medidas inscritas no PEM atingem as várias áreas e com as diversas
especificações. De acordo com o exemplo apresentado por Andreia Sanches, no
capítulo “Políticas de coordenação dos fluxos migratórios”, diz-se que, até ao
final do ano, o país deverá dispor de “um plano de contingência” que permita a
disponibilização de meios e a cabal resposta humanitária perante eventuais “afluxos
maciços de imigrantes”.
Por
outro lado, a coerência do PEM na resposta aos desafios acima enunciados leva a
integrar as mencionadas medidas em cinco eixos políticos prioritários:
i)
Eixo I – Políticas de integração de imigrantes, cujos
objetivos visam a consolidação da atividade de integração, capacitação e
combate à discriminação dos imigrantes e grupos étnicos na sociedade portuguesa
(combate
a todas as formas de racismo e xenofobia),
tendo em vista uma melhor mobilização do seu talento e competências, a
valorização da diversidade cultural, o reforço da mobilidade social, da
descentralização das políticas de integração e uma melhor articulação com a
política de emprego e o acesso a uma cidadania comum.
ii)
Eixo II – Políticas de promoção da inclusão dos novos
portugueses, cujos objetivos perspetivam o reforço de medidas de promoção
da integração e inclusão dos novos portugueses (em articulação
com o Programa Escolhas, já em desenvolvimento), nomeadamente dos descendentes de imigrantes e de
todos aqueles que, entretanto, acederam à nacionalidade portuguesa, através de
ações nos domínios da educação, formação profissional, transição para o mercado
de trabalho, participação cívica e política, inclusão digital, empreendedorismo
e capacitação.
iii)
Eixo III – Políticas de coordenação dos fluxos migratórios,
cujos objetivos dizem respeito à valorização e promoção internacional de Portugal
enquanto destino de migrações, através de ações nacionais e internacionais de
identificação, captação e fixação de migrantes, contribuindo para uma gestão
mais adequada e inteligente dos fluxos migratórios e para o reforço da atração
e circulação de talento e capital humano.
iv)
Eixo IV – Políticas de reforço da legalidade
migratória e da qualidade dos serviços migratórios, cujos objetivos se
prendem com o reforço da capacidade de intervenção transversal na execução da política
migratória, através do aprofundamento da rede de parcerias com entidades públicas
e privadas, do enquadramento e acompanhamento dos potenciais migrantes, do
recurso a ferramentas eletrónicas, da flexibilização dos procedimentos de
entrada e da afirmação de uma cultura reforçada de qualidade e de boas práticas
na prestação dos serviços migratórios.
v)
Eixo V – Políticas de incentivo, acompanhamento e
apoio ao regresso dos cidadãos nacionais emigrantes, cujos objetivos visam
ações e programas, em coordenação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros,
que promovam, acompanhem e apoiem o regresso de cidadãos nacionais emigrados ou
o reforço dos seus laços de vínculo a Portugal, contribuindo por essa via para
a reversão do movimento emigratório de cidadãos portugueses.
***
Vai
outrossim proceder-se à criação de um “novo portal com potencialidades ao nível
da gestão dos serviços migratórios, de forma desmaterializada”, para concretizar
o “Simplex Migrante”, bem como ao estabelecimento de uma nova plataforma online,
que permita que em qualquer parte do mundo se possa formular um pedido de
visto.
Também
vem especificamente mencionada no documento a agilização dos procedimentos de inscrição
dos estudantes internacionais nos estabelecimentos de ensino superior e dos
procedimentos de reagrupamento familiar – sendo, neste último caso, o
público-alvo referido o que tem Autorização de Residência para Atividade de
Investimento (ARI), ou seja, os detentores dos chamados vistos dourados (os
ditos vistos Gold), mas também outros,
como professores e investigadores estrangeiros.
A
estratégia traçada passa ainda por mudar, ainda este ano, o quadro legislativo
referente às punições de atos discriminatórios em função da nacionalidade ou
origem étnica e, em todo o tempo, intensificar o combate à utilização ilegal de
mão-de-obra (nomeadamente o trabalho não declarado) e ao tráfico de seres humanos,
bem como promover a melhoria das condições do trabalho. E, no atinente à
Educação e Cultura, pretende-se “promover o ensino da língua portuguesa aos
migrantes, crianças e adultos”, com o envolvimento das escolas, do Instituto de
Emprego, entre outras entidades, e “valorizar talentos desconhecidos, provenientes
de bairros desfavorecidos”.
Por
fim, no capítulo do “Apoio à transição dos descendentes para o mercado de trabalho”
prevê-se a concretização de “medidas de fomento da responsabilidade social das
empresas, no sentido de acolher em estágio e/ou emprego jovens descendentes
qualificados”. E, para apoiar “a criação de soluções de empreendedorismo
económico e social pelos descendentes de imigrantes” haverá um concurso anual
de ideias para jovens.
***
Oxalá
que o PEM passe efetivamente do papel e não sirva de aproveitamentos indevidos!
Sem comentários:
Enviar um comentário