sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

No quadro do V Centenário da Primeira Evangelização das Filipinas

A República das Filipinas é um país localizado no sudeste asiático, na zona intertropical do Globo. Fisicamente é um arquipélago de 7107 ilhas e a população, estimada em cerca de 100 milhões de habitantes, está distribuída por um território de 300 mil Km² de extensão.
As ilhas que constituem o arquipélago são de origem vulcânica e apresentam um relevo acidentado, encontrando-se o ponto mais elevado no monte Apo, com 29 545 metros de altitude. Existem vulcões ativos, como por exemplo, o Pinatubo.
Por via da sua localização na zona intertropical da Terra, o país possui um clima do tipo tropical húmido e de temperaturas são elevadas, com uma média de 26,5°C ao ano.
O arquipélago conhece anualmente três estações: uma quente (de março a maio), uma chuvosa (de junho a novembro) e uma fria (de dezembro a fevereiro).
Demais, a situação do país no chamado Círculo de fogo do Pacífico ou rota dos tufões do Pacífico, perto da linha do equador, torna-o propenso a terramotos e tufões (por ano ocorrem no país cerca de dezanove), ao mesmo tempo que o dota de abundantes recursos naturais, que fazem dele o 72.º maior país do mundo e o colocam entre os países megadiversos.
Entre as atividades económicas relevantes no país, a principal é a industrialização de alimentos, destacando-se, em termos agrícolas, a produção de copra, milho, cânhamo, arroz, cana-de-açúcar e tabaco. O subsolo aloja importantes jazidas de cromo, cobre, ouro, ferro, chumbo, manganês e prata.
O elevado número de habitantes de habitantes faz das Filipinas o sétimo país mais populoso da Ásia (uma das potências do sudeste asiático) e o 12.º mais populoso do mundo, devendo ainda considerar-se um adicional de 12 milhões de filipinos que vivem no exterior, o que representa uma das maiores diásporas do mundo. Por outro lado, no arquipélago coexistem várias etnias e culturas.
A ocupação humana do território vem dos tempos pré-históricos, situando-a uns no Paleolítico, com a travessia de “negritos” de origem asiática através de pontes de madeira, enquanto outros, baseados em descoberta mais recentes, a localizam na era pleitocénica.
A primeira grande corrente migratória chegou à região vinda do sul, sendo estes imigrantes de origem indonésio-caucasiana e possuidores de um grau de civilização mais evoluído que o das tribos aborígenes.
Cada uma das sucessivas correntes migratórias de povos austronésios impeliu os habitantes originários para o norte. Vários reinos e nações se estabeleceram no território governados por datus, rajás e sultões ou lakans, passando a estabelecer-se e a desenvolver-se o comércio com a China e com povos malaios, indianos e islâmicos. Assim, a corrente migratória nos tempos pré-modernos ocorreu no século XIV e proveio do reino madjapahit, que trouxe consigo a religião muçulmana.
Com a chegada, em 1521, do português Fernão de Magalhães ao serviço do rei de Espanha Carlos I, inicia-se a colonização europeia, que trazia consigo a evangelização cristã. Em 1543,o arquipélago recebeu do explorador espanhol Ruy López de Villalobos a denominação de Las Islas Filipinas, em honra de Filipe II de Espanha, o sucessor de Carlos I.
Foi, no entanto, com a chegada, em 1565, de Milguel López de Legazpi que se estabeleceu o primeiro assentamento espanhol e o território se tornou parte do Império Colonial de Espanha durante mais de 300 anos, tornando-se o catolicismo a religião predominante das Ilhas. Foram, pois, os espanhóis que, desde 1571, fizeram de Manila a capital da colónia, a qual se tornou o centro asiático do Galeão de Manila, que partia daqui com destino a Acapulco, no México, consolidando a rota da prata.
Em finais do século XIX, ocorreu a revolução filipina, de que resultou a Primeira República das Filipinas, sendo a independência proclamada a 12 de junho de 1898 pelo general Emílio Aguinaldo. Porém, a Espanha recusou-se a reconhecer a independência e cedeu o território aos Estados Unidos pelo Tratado de Paris, o que resultou num domínio norte-americano por 48 anos, até que se dá nova revolução filipina.
Entretanto, as Filipinas lutaram sob a bandeira americana contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. A batalha de Bataan, revestida de alta heroicidade, impediu o avanço das tropas nipónicas rumo à Austrália.
E os americanos, embora a custo, acabaram por reconhecer a independência do país em 1946.
Apesar de classificada como uma das potências regionais do sudeste asiático, esta nação asiática enfrenta notáveis problemas sociais, a par do baixo PIB per capita e da alta dívida pública. No entanto, é membro fundador da ONU (Organização das Nações Unidas), da OMC (Organização Mundial do Comércio), da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e da CLA (Cúpula do Leste asiático).
A República das Filipinas é um dos dois países de predominância cristã na Ásia, sendo o outro Timor-Leste. São ambos de maioria católica. Mais de 90% dos habitantes são cristãos. Cerca de 80% seguem o catolicismo. 10% dos habitantes professam outras confissões de denominação cristã, como a Igreja Ortodoxa, a Igreja Filipina Independente, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Igreja Unida de Cristo e a Igreja de Deus Internacional. Por seu turno, entre 5 a 10 por cento da população é constituída por muçulmanos, a maioria dos quais pratica a forma de islamismo sunita e vive em Mindanao, Palawan e, do arquipélago de Sulu, a área denominada Bangsamoro ou região de Moro. Restam alguns grupos tribais, que praticam uma forma islamita à mistura com o animismo.
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É a um pais com estas caraterísticas e ainda em fase de reconstrução física face às sequelas do tufão Yollanda (que deixou mais de 10.000 mortos e dezenas de milhar de desabrigados, bem como a destruição de muitas infraestruturas), do mês de dezembro de 2013, que Francisco chega em visita de reconforto e de evocação dos quinhentos anos de evangelização daquela faixa do sudeste asiático, provindo do Sry Lanka, em que os católicos são uma pequena minoria.
O Papa argentino respondeu ao apelo dos bispos filipinos para que manifeste a solidariedade da Mãe Igreja ante aquele desastre natural. Deixará, por isso, a mensagem da compaixão e misericórdia a milhares de filipinos pobres, incluindo os atingidos por um dos mais fortes tufões ali registados.
Esta é a nação católica mais populosa da Ásia. Para receber o Papa montou uma enorme operação de segurança, a de todas a que envolve mais agentes, destacando-se o número de cerca de 50 mil soldados e policiais na capital, bem como em Tacloban, na ilha de Leyte (a 650 Km de Manila), onde que o Pontífice estará em visita no fim de semana.
A razão de ser de tais medidas de segurança prende-se com a possibilidade do risco de avalanches humanas e de eventuais atentados islamitas. “Neste ano, isso representa o nosso maior pesadelo” – revelou o general Gregorio Catapang, comandante em chefe do exército, enquanto adestrava as tropas. Esperam-se perto de seis milhões de pessoas, vindas por terra e mar, para a missa no Rizal Park, em Manila, no domingo, dia 18.
Os sinos das igrejas repicaram nas Filipinas quando Francisco aterrou no aeroporto internacional de Manila. Pela janela da aeronave era possível ver um líder sorridente enquanto centenas de crianças entoavam na pista do aeroporto uma composição musical de boas-vindas. E centenas de milhares de pessoas ladeavam a estrada que o visitante percorreu até à Nunciatura.
Este segundo périplo de Bergoglio pela Ásia, após a visita à Coreia do Sul, está fadado a estimular uma região do Orbe encarada como “terra do futuro” para o catolicismo. É no encontro com as autoridades e com o corpo diplomático que o Papa revela os seus objetivos.
Trata-se de uma iniciativa “primariamente pastoral” num momento em que a Igreja nas Filipinas “se prepara para celebrar o V centenário do primeiro anúncio do Evangelho de Jesus Cristo”.
Declarando que “a mensagem cristã teve uma influência enorme sobre a cultura filipina”, Francisco espera que “tão importante efeméride faça ressaltar a sua constante fecundidade e a sua capacidade de inspirar uma sociedade digna da bondade, dignidade e aspirações do povo filipino”. Por outro lado, pretende exprimir solidariedade aos irmãos e irmãs “que sofreram a tribulação, as perdas e a devastação causadas pelo tufão Yolanda”. Entende que “a força heroica, a fé e a resistência” filipinas, alicerçadas em grande parte na esperança e solidariedade decorrentes da fé cristã, suscitaram uma onda de profusão de “bondade e generosidade” que reverteu numa abnegada oferta significativa de tempo e recursos, “criando uma rede de apoio mútuo e compromisso em prol do bem comum”.
Tendo em atenção as profundas desigualdades também existentes no povo filipino, o Pontífice reconhece que o país tem pela frente “a necessidade de construir uma sociedade moderna, fundada em bases sólidas” que configure os parâmetros da “sociedade respeitadora dos valores humanos autênticos” – ou seja, “uma sociedade verdadeiramente justa, solidária e pacífica” – que garanta a dignidade e os direitos humanos com referência a Deus e que “esteja pronta a enfrentar novos e complexos desafios éticos e políticos”, sendo necessário que “os dirigentes políticos se distingam pela honestidade, integridade e responsabilidade quanto ao bem comum”.
Para a consecução dos grandes objetivos nacionais, torna-se essencial o “imperativo moral de assegurar a justiça social e o respeito pela dignidade humana”. E, com base na tradição bíblica, é claro que todos os povos têm o “dever de ouvir a voz dos pobres” e de “quebrar as cadeias da injustiça e da opressão, que originam óbvias e verdadeiramente escandalosas desigualdades sociais”, para o que, além da reforma das estruturas sociais “que perpetuam a pobreza e a exclusão dos pobres”, se exige a mudança ou “conversão da mente e do coração”.
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Também no voo de Colombo para Manila, o Papa referiu-se à preparação da encíclica sobre o meio ambiente, cuja publicação se prevê para junho ou julho e em que denuncia os prejuízos que a corrupção e o enriquecimento excessivo de uma pequena, mas poderosa minoria provocam no ambiente natural, tanto como nas relações sociais. Adianta que as catástrofes naturais resultam, na sua maior parte, da desordenada e egoísta intervenção humana na natureza, pondo em evidência o tríplice aforismo de que “Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, mas a natureza nunca perdoa.
Por isso, devem ser redobrados os esforços de todos em torno da guarda do Planeta, das sociedades, das pessoas e dos interesses de Deus.

A mensagem do Papa às Filipinas é, pois, um recado a todo o mundo – um recado religioso, um recado político, um recado social, um recado económico, um recado ecológico.

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